quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Minha Redação

Edmar Oliveira

Sempre tive inveja desses meninos rebeldes que bem faziam o que queriam. Usava duma esperteza para me sair bem. Só fazia o que queria, enviesado. Estudado. Quando a professora pedia uma redação, lá ia eu resolver como ela queria. Coisas de duas laudas sobre as férias, viagem de trem ou coisa quase igual, qualquer tema assim e me atrevia a fazer um poema. Não que fosse mais trabalhoso. Pelo contrário, duas rimas em ão, duas em dor, davam um soneto quatro, quatro, três, três, que nem escalação de pelada com muita gente. Fiquei tão metido nesta tal de composição, que me viciei. Foi duro partir pruns pés quadrados quando conheci o modernismo.

Sétimas, decassílabos, eram de uma facilidade que passei a falar cantando. Aliás, descobri, logo depois, que nordestino fala em sétimas. Por isso canta. Conte ai: "nordestino fala em sétimas". Quantas as sílabas métricas? Contam sete. E quantas sílabas métricas. Sete de novo. Sete de novo, rapaz. Mais sete! Se houver acordes de viola, é cantoria. Juro que me esforçarei para deixar vocês livres do falar cantado das sétimas.

Mas volto à minha composição. Fazia dos sonetos quase uma filosofia. Tanto, que minhas idéias passaram a ter quatro partes de argumentos: duas exposições de quatro versos e duas conclusões de três versos com rimas entre eles. Quase como se o conteúdo ficasse preso à forma. Pior, para minha mania; melhor, para minhas notas. É que me davam a nota máxima. Achei até que era poeta, por puro equivoco da professora. Logo depois vi a mediocridade em que estava metido! Invejava as pedras de Drummond, os poemas longos de João Cabral. Nunca passei nem perto.

Vida que segue. Deixei disto. Desisti dos versos e desaprendi. Nem sei mais fazer poemas. E hoje, na idade de quem criticou tudo, sinto uma terrível inveja do Olavo Bilac. Ora, direis, quantas bobagens! Nem bobo fui...

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