domingo, 21 de outubro de 2012

Viajando na literatura (Memória)


Já tinha fechado essa edição do Piauinauta quando me chegou a crônica do Geraldo Borges. O que ia escrever aqui fica para a próxima edição porque tenho que fazer essa “Viagem a Paris”  com o meu amigo Geraldo.

Impressionante como a literatura é capaz de nos transportar para outro país e conhecer uma cidade nunca vista. A viagem que o Geraldo faz na crônica a seguir é inteiramente dentro das páginas da literatura para descobrir uma Paris que me decepcionou por já ter feito essa viagem com meu amigo.

É, Geraldo, nós já tínhamos ido juntos a Paris nas páginas dos mestres da literatura que você aponta tão bem. Não precisamos pegar um avião, atravessar o Atlântico, estava tudo aqui nos livros que conservamos em casa.

Portanto considere a viagem, de fato, que eu fiz, como sua também. Como aquela vez em que fomos a Palmeirais e que redeu tantas crônicas. É que a nossa Palmeirais, ou qualquer outra aldeia, pode ser conhecida nas asas da literatura. Quando podemos transformar a aldeia no universo. Ou até uma aldeia imaginária, como a Macondo de Garcia Marquez, que conhecemos tão bem como se de fato ela tivesse existido e sabemos de cor: "uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos".

Ou ainda podemos nos embrenhar na selva peruana e ajudar Pantoja a organizar as “visitadoras”, criando um serviço de prostitutas para o Exército Peruano e ficamos apaixonados, os três, por uma das bonitas moças contratadas para servir à tropa na descrição viva de Vargas Llosa.

Quase todo ano eu calvago com Riobaldo e Diadorim dentro das páginas maravilhosas que me levam ao sertão das Minas Gerais para verificar sempre que vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só fazer outras maiores perguntas”.

Vocês também, se quiserem, podem ir a Paris comigo e com o Geraldinho. Leiam a crônica e bon voyage.

Viagem a Paris com o Edmar (Souvenir)



Geraldo Borges

Gostaria de ter ido a Paris com o Edmar, nós sempre fomos bons companheiros de viagem. Como isso não aconteceu, resolvi fazer a minha viagem imaginária, metaforicamente, ao seu lado.

Saímos do rio de Janeiro. Cruzamos o oceano atlântico. Não sei se foi esta a sua rota. Imagino. Chegamos ao aeroporto Charles de Gaulle.  Pegamos um táxi e fomos para um  hotel perto do  Le Café de la Paix. Acho que, o café, ainda existe. Se bem que, muitas coisas, estão desaparecendo de Paris, velhos espaços históricos estão dando lugar a boutiques famosas. Nem todos os monumentos históricos são respeitados.

  Alojamo-nos em quartos separados.  Vizinhos.  Com janelas que davam para ver os telhados de Paris. Como estávamos cansados esperamos o outro dia para começarmos  nosso passeio  pela cidade luz. Paris  é uma festa, ou melhor, já foi, na belle época, até o final da  Primeira  Grande Guerra quando começou a aparecer a geração perdida. Depois foi perdendo a sua hegemonia cultural  para  a metrópole New York.

Estamos em Paris. Fomos em direção ao Arc de Triomphe  pelos  Champs Elysées   Vimos a Torre Eiffel,  grande monumento construído pelo engenheiro   Gustavo Eiffel, também criador da estatua da liberdade, presente que os franceses deram aos americanos.

 Resolvemos entrar no Louvre, ali, ficamos  extasiado, diante das obras de pintores famosos; Paul Gauguin. Henri Matisse. Vincent Van Gogh, Pablo Picasso, Rembrandt,  a lista é grande. Na parte de escultura podemos ver a Venus de Milo, o Pensador. Quem vai a Paris e não comparece ao Louvre perdeu a viagem. Fomos também ao velho Quartier Latin, bairro boêmio de poetas e pintores Beiramos  Le Marché aux Puces, nome dado a Feira da Ladra, em Paris, ali, vimos objetos de artes  dos mais variados preços.

 Conheço Paris da Leitura da Comedia Humana de Balzac,  cujo o livro Illusions Perdues começa assim: "A’époque où commence cette histoire , la presse  de Stanhope  et les rouleaux  à distribuer l'encre ne  functionaient  pas encore dans les petites imprimeries  de province". Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, encontramos  pelas ruas rodando em cupês personagens  perdido: raparigas em flor, Albertine. Ouvi o sacolejo da asma de Proust, vi as oficinas de tipografia sujas de tinta das redações onde Balzac publicava seus livros. Passeamos pela margem do Rio Sena, garimpamos  velhos sebos,e encontramos  brochuras  valiosas. Vimos andando pela rua parecendo uma deusa, a figura insinuante de Brigite Bardot conduzindo um gato no colo. Não deixamos de visitar a Bastilha, aí me lembrei do marques de Sade, um gênio da literatura francesa. Como o  meu  texto se trata de uma viagem imaginária tudo está lá, na velha Paris de antigamente, que decapitou  reis, que criou a esquerda e a direita, mudou calendário,  estações do ano, tudo para entregar depois ao aventureiro Napoleão Bonaparte. Que depois se perdeu em  Waterloo,  se finou na ilha de  Santa Helena.. Não nos cansamos de ver Paris, somos os pobres de Paris, quer dizer em Paris, calangos nordestinos. Estivemos no cemitério  Pére Lachaise, onde estão enterrados os imortais da literatura francesa.

  Mon ami Edmar Oliveira me convida para  comermos  uma panelada. Mas o bom mesmo de Paris deve ser o vinho e o queijo, o pão francês, de casca crocante, a baguete.  Vergonhosamente o nosso pão Frances, aqui no Brasil, é uma lástima. Farinhento, desmancha em nossas mãos, sem nenhuma consistência. O croissant. Ia me esquecendo, uma delicia, esse  pãozinho, em forma de lua crescente.

 Eu não  morro sem ver Paris, estou vendo Paris. E os pombos de Paris? E a prefeitura de Paris? Vejam o que Camus fala de Paris na boca de  Meursault , personagem central de o Estrangeiro – C'est sale. Il y a dês  pigeons et des cours noires, Les gens ont la peau blanche.  

Nunca fui a Paris de verdade, por que, com certeza, perderia a cabeça, la Tetê. Prefiro mesmo viajar em torno de meu quarto, no meio das cadeiras, das mesas, batucando em meio computador. Mas, sabe como é, gostei tanto da crônica de mon ami Edmar Oliveira, o Ultimo calango em Paris, que, sem mais nem menos, mergulhei na imaginação. E, como já disse eis me aqui em Paris, sem cronologia, viajando fora do tempo. Navegando no Piauinauta  Flanando, pelas ruas  e becos da cidade, à margem do rio Sena.Lembrei –me das minhas leituras  dos Miserables de Victor Hugo, quando Jean Valgean era perseguido, sem tréguas, enquanto fugia, da policia,  pelos esgotos de Paris.

Rompendo a nevoa do tempo vejo figuras histórias desfilando pelos boulevards, vi Marat, Danton, uma galeria de vultos da Revolução Francesa; também vislumbrei personagens da Resistência, principalmente mulheres que se recusaram a manter relações sexuais com os alemães. Lobriguei  os estudantes do  1968 no auge de seus reivindicações políticas. Paris pegava fogo. Vi Santos Dumont,  voando em seu 14 Bis, vi a cabeça de Julian Sorel tombar do cadafalso. No meio da bruma que se descortinava apareceu na minha lembrança o vulto de Chateaubriand  ressuscitando  das  suas Memórias do além tumulo. Algumas páginas das Confissões de Rousseau esvoaçaram – se  diante de meus olhos. Por último ouvi a tosse sufocada da Dama das Camélias, e o seu lenço manchão de sangue. Ouvi tinir de espadas, os três mosquiteiros em ação.

Agora mesmo estamos  diante do átrio  da imponente catedral de Notre Dame. Acabamos de entrar em sua nave, chegamos à sacristia, a lá encontramos os personagem Quasimodo e Esmeralda.Se eu pudesse ficaria em Paris, nem que fosse como morador de rua. Sou baixinho, careca, moreno, pareço um imigrante árabe. Os nativos, gauleses, olham para nós desconfiados. Pensam que vamos tomar os seus empregos Deixamos de ver muita coisa, esquecemos de ir ao cabaré Moulin Rouge, cenário de Toulouse Lutrec. O tempo foi  pouco para tanto encantamento.  Quando menos esperamos nossa viagem tinha acabado. Conferimos as passagens de volta. Arrumamos as bagagens com as nossas lembranças Souvenir. Pagamos as contas.  Chamamos  um taxi para o aeroporto. Atravessamos o atlântico de novo. Não demorou muito estávamos em terra firme. São e salvos. Mais ilustrados  do que nunca.Velhos viajantes, com um pedaço glorioso da velha Europa em crise na memoria.  Au revoir.
____________________________
fotos de Paris na viagem com Geraldo: Edmar

MELHOR DE DOIS



Lázaro José de Paula


ELA  É  MEU  " PUZZLE "  PREDILETO
MAS  NUNCA  ME  FUNDE  A  CUCA
NÃO  PRECISO   DE  UCA  PRA  SOLTAR  O DIVINO  VERBO
SOU  CÃO  DE  ESTIMAÇÃO
ME PUXA  TODOS  SENTIMENTOS  PELA COLEIRA
" POODLE " ABANO  A  CAUDA  DE  SATISFAÇÃO
MAS  SOU EU  QUE  ENLAÇO
SEU  CORPO  CELESTE
LAMBENDO  AS  PONTAS  DA  QUINTA  ESTRELA
QUE  SOU  CABRA  DA  PESTE
DESTEMIDO  VAQUEIRO  LAÇO  SEU  CORAÇÃO VERMELHO
USO  A  SUA   FORÇA   PARA  SER MAIS   FORTE
MAIS  &  MAIS   MORE   &  MORE
ATÉ   O OITO   DEITADO  EM  BERÇO   ESPLENDIDO 
INFINITO QUE  NEM  ELE   SÓ
E  AMPLO   COMO  DEZ   SÓIS
BRADO   RETUMBANTE
SOZINHO   NUNCA  MAIS 
MAS   SEMPRE  JUNTINHOS 
NUMA  MELHOR DE  DOIS

1 VERSO




POEMA DE TI NAS HORAS

Tudo que amanhece em ti
Me acorda cedo
Faz saltar da cama os sonhos mais intensos
Tudo que entardece em ti
Faz o sol se pôr em mim
Deixando as horas amenas antes da noite
Tudo que anoitece em ti
Escurece em meus olhos as aflições do dia
Embrulha meu corpo na escuridão descansada
Todos os dias de ti
Aquecem em mim noites sem fim


(Climério Ferreira)

CANÇÃO DA CAATINGA




Tudo é seca no sertão,

e a flor do pau-pereira
se converte em coração...

(Cinéas Santos)
________________________________________
foto: Rosa Melo

1000TON

O SONHO DO VAMPIRO

Mário Faustino


Mário Faustino


O mundo que eu venci deu-me um amor,

Um troféu perigoso, este cavalo

Carregado de infantes couraçados.

O mundo que venci deu-me um amor

Alado galopando em céus irados,

Por cima de qualquer muro de credo.

Por cima de qualquer fosso de sexo.

O mundo que venci deu-me um amor

Amor feito de insulto e pranto e riso,

Amor que força as portas dos infernos,

Amor que galga o cume ao paraíso.

Amor que dorme e treme. Que desperta

E torna contra mim, e me devora

E me rumina em cantos de vitória...


TIGRES NO ESPELHO


Luiz Horácio
Tigres no espelho e outros textos da revista The New Yorker deixa ao leitor a suspeita de estar seu autor acuado entre dois aspectos das artes: um que acaricia e outro que castiga. Confere ao leitor o poder de decidir.


No momento em que os  "tons de cinza" alcançam, com facilidade, o topo das aspirações literárias, não é difícil acertar a escolha do leitor. Com exceções, felizmente. Raras, eu sei, mas a felicidade também é matéria rara.
George Steiner é o autor dos artigos jornalísticos, segundo a ficha do livro, quase ensaios, quase crônicas, segundo a indefinição deste aprendiz.
Em quatro partes, História e Política, Escritores e Literatura, Pensadores e Estudos ao Vivo, George Steiner apresenta um recorte da literatura com seus textos publicados no The New Yorker nos anos 70/80, Pequeno atraso nos contempla. Dito isso,curioso leitor, aquietai vossa curiosidade.
Steiner é um brilhante professor, escritor, critico, dono de incomum erudição, hideggeriano melancólico, judeu.
É exatamente a  questão judaica  que permite olhar para Tigres no espelho e perceber as raízes do autor e o intelectual, a caricia e o castigo, a análise e a condescência, o rigor e a delicadeza.
Como exemplo permitam discorrer brevemente  acerca  do ensaio/crônica sobre, a principio, Bébert, o gato de Céline. No começo havia um  gato, logo veio o homem, retorna o gato.
Semelhanças à parte, Céline era médico. Médicos  e gatos escondem seus erros, suas merdas, embaixo da terra, sigamos.
Homem gato faz alusão ao homem, ao escritor, Steiner faz a distinção, e a Bébert.
No texto fica bem clara a necessidade que temos de arte, arte capaz de atenuar inclassificáveis atrocidades. Louis Ferdinand Céline, é o exemplo.
De carinho, Viagem ao fim da noite, obra prima da literatura universal. De afronta, de crime, Bagatelles pour un massacre e L'École de cadavres, obras onde incita a humanidade a exterminar os judeus. 
Embora a tendência seja a de correr sempre para o lado mais tranqüilo, Steiner teria, e tem, elementos suficientes para elencar aspectos nefastos em Céline, homem e escritor. Homem gato é apenas um exemplo da delicadeza desse crítico, que jamais se coloca no centro de seus escritos, mesmo frente a autor e tema que o fustigam consegue extrair o melhor, da literatura e do homem.
Não condena, suspeita, deixa no ar,  divide a  responsabilidade com Bébert:
"Meu instinto me diz que Morte a crédito e Bagatelles deveriam embolorar nas prateleiras. As reedições recentes me parecem uma exploração imperdoável por razões comerciais ou políticas. Os grandes "romances verídicos" permanecem.
Sua canção desenfreada dá vida e traz renovação à linguagem.O indivíduo Destouches continua indesculpável.Mas mesmo neste ponto Bébert talvez pedisse licença para discordar."
O tom de Tigres no espelho é  dado pelo respeito a pluralidade dos sentidos e a quase obrigação de interpretar determinada obra pelo viés positivo, embora frágil, uma elegância que quase transforma os textos em elogios, em releases.
Quase. Dois textos fogem à regra, um sobre Cioran, aquele excesso de pessismo podia não ser tão natural assim; e o outro sobre o narcisista John Barth.
Mesmo ao discordar, ao criticar, Steiner não faz uso das ferramentas óbvias da vaidade e da mesquinharia. O crítico é óbvio, o crítico deve ser óbvio, se possível com erudição.
É justamente a erudição que faz de Tigres no espelho uma reunião de nuances. Frágeis nuances, mas sempre nuances.
Por falar em nuances,  Da nuance e da minúcia é o texto onde Steiner discorre sobre Samuel Beckett, melancolias comuns, mas sobretudo erudições incomuns.  “A guerra vem como uma interrupção banal. Ela cercou Beckett de um silêncio,  uma rotina de insânia e dor tão tangível quanto a que se adivinhava em sua arte. Com Molloy em 1951 e Esperando Godot no ano seguinte, Beckett preencheu a menos interessante e mais necessária de todas as condições: a atemporalidade. Superara o tempo; o grande artista é, justamente, quem “sonha à frente”.”
Tigres no espelho é o título de um dos textos, 20 de junho de 1970, dedicado a Jorge Luis Borges. “A estranheza concentrada do repertório de Borges explica certo preciosismo, uma elaboração rococó que pode ser fascinante, mas também asfixiante. Mais de uma vez, as luzes pálidas e as formas ebúrneas de sua invenção se distanciam da desordem ativa da vida.”
Em História e Política temos De profundis (sobre o gulag de Soljenítsin), em Escritores e Literatura é a vez de Sob os olhos do Oriente ( sobre Alexander Soljenítsin e outros russos), isso mesmo,atento leitor, Soljenítsin em dose dupla. Agora tripla. Razão para isso? Discordo. Talvez para merecer o momento constrangedor da obra:“Mais do que sermos nós a ler, é Soljenítsin quem nos lê”.
Delicado, até mesmo ao analisar certas contradições  de Soljenítin sobre o espírito do povo russo, é o texto mais datado da coletânea.
Este aprendiz foi grosseiro lá pela metade deste texto, tal comportamento jamais será enfrentado num texto de Steiner, são quase saudações, apresentações, ou homenagens. Excetuando os dois exemplos enumerados.
Concluído este texto recomeçarei a ler Steiner, Les Antigones é obrigatório, La culture contre l’homme todo mundo deve ler, padeço da falta de nuances...nuances... e erudição.
__________________________________________
George Steiner. Foto: Divulgação
GEORGE STEINER: Francis George Steiner nasceu em Paris, em 1929. É crítico literário, ensaísta, filósofo, tradutor e professor. Lecionou Literatura Comparada nas universidades de Genebra, Oxford e Harvard. Escreveu, entre outros livros, Linguagem e silêncio, No castelo do Barba Azul, A morte da tragédia e Tolstói ou Dostoiévski. Colabora com diversas publicações, como Times Literary Supplement e The Guardian, além de The New Yorker, revista para a qual trabalhou por mais de 30 anos.

hay kai do Elias Paz

ALGUMA COISA ACONTECE (Paulo Tabatinga)

domingo, 7 de outubro de 2012

o último calango em Paris



Edmar Oliveira
Perdi Paris. Não a Paris glamorosa dos anos vinte que conheci nos livros da geração perdida que se encontrava com Gertrude Stein. Tão pouco a Paris romântica das canções e dos filmes que a retrataram. Sinto uma saudade de não tê-la conhecido antes. Para ser surpreendido como tantos da minha geração que ficaram encantados. Não tive tal surpresa. De tanto sabê-la, lê-la, vê-la sem ir, de tanto me contarem, senti como se tivesse vendo um filme que eu já conhecia. Como ter que ver aquele filme, que tantos gostaram, para poder discutir em condições de igualdade.  

Le belle Paris estava lá. Uma cidade que se anda a pé para admirar a história que é contada por sua arquitetura, seus monumentos. Como se tudo de importante que existe no mundo tivesse que passar por Paris para existir. Ela nos transmite isso. Les grands boulevards, a Opéra de Paris, as ruas estreitas e cafés de Montmatre, a Pigalle boêmia, suas brasseries; le petit centre-ville encantador com Notre Dame. Os símbolos fortes: Louvre e d’Orsay impondo Paris como a capital cultural do mundo ocidental; a Sacré-Coeur, basílica feita pela direita reacionária para espiar a culpa das almas que tiveram que matar na Comuna de Paris;  o Arco do Triunfo lembrando o Império Napoleônico e suas guerras de conquista; a Torre Eiffel, treliça de ferro, feio monumento da linda cidade, que se tornou o símbolo mais conhecido do mundo. Guy de Maupassant fez um piquenique debaixo da torre, em protesto, pois só ali aquele trambolho não era visto na sua amada Paris. Mas com o tempo “quem ama o feio bonito lhe parece” e hoje a torre é unanimidade. Achei-a bonita num dia de chuva. Paris é bela sem defeitos.
Mas o francês, monsieur, está uma pilha de nervos, très en colère, com o espectro que ronda a Europa. Desta vez não é a ameaça de Marx no Manifesto Comunista. São os ciganos, os árabes, indianos, argelinos, a Africa Negra, os migrantes que ocupam Paris. E se culpam os migrantes pela crise em que estão atolados, o protofascismo justifica o comportamento de direita que elegeu um Sarcozy. A crise não resolvida trouxe Hollade da esquerda para a direita. Num mundo globalizado os governos se diferenciam no discurso, na prática o arrocho é igual. Hollande, obrigado a não fazer as reformas de esquerda que prometera, piorou tirando mais direitos de franceses com taxa de desemprego lá em cima. Saí na véspera em que Paris fez o primeiro protesto contra o governo eleito há pouco com as esperanças socialistas. Na “farinha é pouca, meu pirão primeiro” (farine peu, avant mon mush, s'il vous plaît) eu vi uma Paris nervosa e xenófoba, quase fascista.
Mesmo na crise o governo incentiva os casais a terem mais de um filho. Com subsídios oficiais do segundo rebento em diante. Segundo as estatísticas, continuando a taxa de natalidade atual e permanecendo a taxa de imigração (que tende a aumentar), em vinte e cinco anos teremos mais árabes e ciganos do que franceses. Um desespero de tirar o fôlego de quem habita o centro do mundo ocidental. Parece que os migrantes da África e do leste europeu invadiram Paris como os nordestinos invadiram São Paulo (se um descendente tentar a presidência, a Higienópolis gaulesa também não suportará).
Brasileiros tinham muitos visitando Paris, tantos que eu me encontrei com alguns conhecidos. E, legítimo representante filho do Piauí, me senti o último calango em Paris. Sem nenhum complexo de vira-lata (le pauvre chien le syndrome. Oui, oui?) 
____________________________
ilustração luxuosa de Gervásio Castro. Foto da torre Eiffel : Edmar

élegant trippe de Paris (panelada à francesa)

 

E por falar num calango em Paris, encontrei uma “panelada” sofisticada num fino restaurante francês, como vocês podem apreciar na foto. Para nós, nordestinos, tem dois defeitos: é rala e pouca. Mas digo-vos: délicieux!


São Luis


Geraldo Borges


São Luis   eu conheço os teus ratos e tuas ratazanas
Os teus azulejos  sobretudo sobrados e mirantes
Os  teus sacolejos debaixo do bumba meu boi
Tuas bibliotecas pontes torres e cais do porto
Os teus coretos  teus palácios e teus mercados
Tua prostituição tuas madames e tuas costureiras
O teu mar poluído cheio de lixo e de  merda
Eu te  conheço velho são Luis  com nome de rei
Que virou santo por que fez muita sacanagem
Eu te conheço cidade de poetas bêbados e caducos
Que adoram  te louvar  nas tuas festas cívicas
Como os  bobos da corte em plena procissão
Conheço São Luis tão bem como o meu prepúcio  
Símbolo decadente de uma velha dinastia.

OSSO DURO DE ROER (Deus tudo vê)


 
 
Lázaro José de Paula
.
EU VOU SALTAR DA TUA NUVEM
SERA O FIM? NÃO SEI
O SERAFIM SOU EU
EU VOU SAIR DO TEU CAMINHO
FAÇO OUTRO NINHO ? NÃO SEI
PODES PASSAR DESCABELADA
DE LIMOUSINE PRATEADA
TE PEGO NA CURVA DA ESTRADA
O ROBIN HOOD SOU EU
DOU AOS POBRES
EMPRESTO ADEUS ?
SOU OSSO DURO DE ROER
DEIXA SANGRAR , DEIXA VIVER
GUILHERME TELL SOU EU
PRA ACERTAR TUA MAÇÃ
NESSA MANHÃ ME SACIAR
AS AS TUAS TRANÇAS ME DÃO NÓ
DESEMBARAÇO ADUANEIRO
A CARAVANA PASSA O ANO INTEIRO
COM CÃES LATINDO DESDE JANEIRO
TEU TREM APITA E SAI DOS TRILHOS
TE ATROPELAR NUM TROCADILHO
SOU OSSO DURO DE ROER
DEIXA SANGRAR, DEIXA VIVER
DEIXA SANGRAR ; DEUS TUDO VÊ

_________________________
ilustração: Amaral

klöZ por 1000TON

Sou um rapaz bem informado


Oprah passou por aqui atrás de curandeiro
Big Brother estimula Bial intelectualmente
Loura que vira morena suspeita de matar o pai
Lindsay Lohan livre de condicional
Justin Bieber está obcecado por Kutcher?
Luana Piovani volta ao twitter
Candidata a panicat faz plástica no nariz
Clarice Falcão vira cantora
Tim Maia ligava para Lúcia Veríssimo de madrugada

Hoje aprendi tudo isso na internet

(Climério Ferreira)

Saudade da Gota

 
Lilia Diniz
 
Que nem faz com a juquira
quando por terra é arriada
Que nem faz com a maniva
depois de um ano plantada
 
Que nem faz com a urtiga
pra num queimar seu ninga
Que nem se esgota a lama
dos poço e das cacimba
 
nem a primeira chuva
bate no chão esturricado
Que nem bezerro mamando
depois de noite amarrado
 
Queria fazer com a saudade
que ta em mim arranchada
doendo que nem a gota
me deixando amufiada

Antiga capela de Tutóia ameaçada

Geraldo Borges
 
Não conheço a cidade de Tutóia. Mas gostaria.  Antes  que o padre danado, mande derrubar a igrejinha. Chegaria por lá incógnito, como um anjo vestido de branco, barbado, e entraria na humilde capela, claro se encontrasse a porta aberta e ainda de pé. Pois meus poderes de anjo são precários, do contrário o padre não derrubaria a igreja..

 Tenho ouvido dizer que quase não abrem mais as suas portas. Ou uma porta apenas. Pois estas velhas igrejas do passado colonial de nossas cidades, sempre foram muito pequenas, mas, uma referência importante, na cidade, com a sua velha torre, hasteando um galo de metal, um sino, que badala sempre aos domingos com o seu ar medieval, a sacristia, o confessionário. A nave, a altar, os bancos rústicos de madeira. Uma fisionomia ascética de um velho tempo em que ser padre era de fato um sacerdócio. Era ajudar a construir e manter de pé uma igreja.

Não sei não. Esse padre é danado mesmo. Derrubar uma igreja não é fácil, é coisa do capeta. cair de pau em cima dos fiéis. E como derrubar uma velha casa, cheia de história, habitada por fantasmas. Um desrespeito a cultura cristã. Mas, como diz um filosofo: tudo que é solido se desmancha do ar.

 Pelo que parece a igrejinha da cidade de Tutoia vai virar pó. Talvez a comunidade cristã atual nem ligue mais para ela. A não ser os mais velhos; aqueles que foram batizados em sua pia batismal. As velhas beatas que se confessavam com o padre danado. Senhora que se casaram no altar da capela. Muita gente vai se lembrar das velhas quermesses no pátio da igreja. E quem sabe algumas pessoas imaginativas, crédulas, não vau  levar para casa algum velho pedaço de adobe, tijolo,   como amuleto, souvenir de uma antiga ruína; assim como os turistas  que viajam à Jerusalém trazem coisa santas de lá. Mas falando em Jerusalém  veio – me  à  lembrança o estado do Vaticano que é o senhor de todas as igrejas e capelas espalhadas pelo mundo cristão.

 Por que não  recorrer ao Papa, nessa hora critica em  que o danado do padre  quer derrubar a igreja. Se o  Santo padre não quiser. Nada feito.

 Eu não sou cristão de coração, apenas de batismo, o que já é um grande sacrifício. Mas no meu modo de pensar, não acho justo esse negócio de derrubar igrejas. Derrubar igrejas é como derrubar o povo de Deus. Desgarrar as assembléias. Já pensou. E desqualificar o trabalho dos crentes que levantaram as humildes igrejas no confim de suas paróquias  para a pregação da palavra. Ninguém vai acreditar na palavra de um padre danado que derrubou a sua igreja. Já pensou se essa moda pegar Se começarem a derrubar as igrejas da Bahia, as igrejas de Minas Gerais, a Notre Dame de Paris,( todas se equivalem, a humilde capela  a imponente catedral.) a igreja de São Benedito, na praça da Liberdade, em Teresina para  desaguar melhor o transito, ou  para estacionamento. Vade retro Satanás.

Essas velhas igrejas são testemunhas de uma época, documentos de pedra, registro de uma antiga arquitetura, seus bancos, suas paredes, seus vitrais rústicos contam uma história que não pode ser apagada simplesmente, impiedosamente, com a fúria mecânica de uma escavadeira  guindada pela mão  de pessoas inocentes que de espontânea vontade jamais fariam isto. Quem derruba busto de políticos é vândalo. Quem derruba uma igreja  só pode ser um danado.Um herege.
INTERVALO DE TEMPO
Neste tempo do universo
Não me acho onde estou
Me acho no teu verso

LelêRosa vermelha

Os Brasinhas

Leitura obrigatória dos piauizeiros:

Meninos da juventude dourada do meu Piauí: Alexandre Carvalho está lançando "Os Brasinhas", a história do conjunto jovem guarda mais famoso do nosso passado e que nos legou o genial Renato Piau. Piau conta que faziam as excursões no interior em uma kombi e que ele só ia no lado que não tinham as portas.
Os meninos de "é uma brasa, mora"?"


Nessa foto o Piau é o mais "Matogrosso"! (Quááááá!!!!!!!!!!!)
_________________________________________________________________

E ATENÇÃO: se você deu uma olhada no Piauinauta no domingo, dia 7, não esqueça que hoje é dia de votar num prefeito para sua cidade.