domingo, 19 de junho de 2011

Provisão de Sonhos


Edmar Oliveira           

Outra vez, já a nona semana de maratona literária na terra Filha do Sol do Equador. No ano que vem serão dez anos nos quais uma semana é dedicada às letras, numa terra onde antes era conhecida pelo índice de analfabetos. Em três anos fui convidado a testemunhar o fervilhar das gentes, por entre tendas, buscado o procurado livro, confraternização dos escritores da terra, homens das letras que lá tanto há. Procura nervosas pelas palestras mais importantes, lotações esgotadas, escolares de pé. Atenção cerimoniosa as palavras do orador. Pela terceira vez assisto espantado a este sucesso de público por shows não usuais.

            Nas tendas, onde se discute lançamentos do ano dos escritores da terra, a procura é dividida entre jovens, velhos, moças bonitas e rapazes feios. Ali, quando fui chamado para fazer uma pré-apresentação de “von Meduna”, conheci Keula, uma grade poeta da terra, que comandava as rodas de conversa. E eu, que já era amigo desta grande escritora por sua participação no Piauinauta, mas nunca a vira pessoalmente, fiquei encantado.

(Aqui uma confissão: com os seus primeiros poemas, saiu no Piauinauta uma foto da moça, a quem eu fui apresentado, literariamente, pelo Cinéas. Deslumbrante! A poeta, além dos lindos versos era a bela da foto ao entardecer! Quis conhecê-la por várias vezes que lá estive. Perguntava por ela ao Cinéas e ele dava uma desculpa esfarrapada e eu não a conhecia. Cheguei a pensar que a poeta era uma invenção feminina do Cinéas, como a daquele dentista do interior que enganou o Lamartine Babo(*). A história está reproduzida lá em baixo porque é digna de nota. É que pra quem conhece o Cinéas, ele é bem capaz disso – perguntem ao Salgado Maranhão, ao Climério ou ao Paulo José Cunha. Pois bem, quando fui apresentado a Keula real, quase que despenco do palco. A loura de nome árabe é mais bonita que na foto que eu tinha!)

Mas voltando ao SALIPI. Cheguei no meio da semana e não vi o Laurentino, o Noll, o Fiúza ou o Marcelo Ribeiro, que tem um belo trabalho sobre a Tropicália. Mas na manhã cedinho da sexta-feira, já estava disputando um lugar para ver a palestra do Assis Brasil. Autor da belíssima “Tetralogia Piauiense” que inclui “Beira Rio, Beira Vida”, “A Filha do Meio Quilo”, “O Salto do Cavalo Cobridor” e “Pacamão”, algumas de suas expressivas obras, que o leitor pode encontrar num só volume. Não posso deixar de mencionar o pequeno (mas denso) romance “Os que Bebem como os Cães”, que tanto me impressionou. Além de extensa critica literária em mais de cem publicações desse autor da terra. Assis tem mais de oitenta anos, mas parece um tagarela juvenil quando começa a falar. Contou-nos uma preciosidade: seu pai, descendente de portugueses, trazia o sobrenome Almeida Portugal. Portanto, quando o escritor nasceu deveria ser batizado por Francisco de Assis de Almeida Portugal, mas seu pai, apaixonado pela terra adotiva de sua família, substituiu o Portugal por Brasil e assim ganhamos o “Assis Brasil”. No meio de tanta informação ainda nos brindou com uma análise da obra dos artistas plásticos Hélio Oiticica e Lígia Clack. Fiquei babando e saboreando aquela conferência sobre a vida.

No sábado à noite foi a vez de José Carlos Capinam fazer sua conferência: “A Tropicália Revisitada”. Foi uma conversa descontraída entre os poetas Salgado Maranhão, o anfitrião, e Capinam, lendo, cantando, se (e nos) emocionando. Ao final subiu também ao palco o poeta cubano Alpídio Alonso-Grau e então a récita ficou animada. Depois, Fifi e Wellington (dois dos três mosqueteiros do SALIPI, que também são quatro: mais o Romero e o Cinéas) levaram um grupo animado para um jantar com macaxeira e carde de sol. O poeta cubano foi fotografado tomando coca-cola e se esbaldando na carne generosa. Capinam nos contava mais histórias e o Geraldo Brito (grande músico e compositor piauiense) lembrava dos acordes das histórias. O casal George e Eliane nos contou mais aventuras do Dr. Clidenor que não estão no “von Meduna”. Acho que se houver segunda edição o personagem vai crescer. Ou quem sabe um novo trabalho sobre o primeiro psiquiatra do Piauí. O poeta de Caxias (falo do Salgado Maranhão) se atracou num queijo de coalho com macarrão, na nossa mistura piauseira à qual não falta a farinha.

No dia seguinte acordei nervoso na tarefa de fechar o Salão. O Clube dos Diários estava lotado para uma tarde de domingo. Meu compadre Cinéas fez as honras da casa e eu falei as besteiras de sempre. Mas o “von Meduna” parece que agradou. O Gisleno Feitosa fez uma participação luxuosa declamando os sintomas do povo nordestino. Destaque da presença de Graça Vilhena, a poeta número um do Piauinauta. Depois, fomos todos ver o show do “Validoaté”, que encerrou o evento. No ano que vem faz dez anos de maratona. Nota de digna: no mesmo momento em que eu autografava meu livro, minha sobrinha Clara Mello (filha de Patricia Mellodi, prima querida, a mais talentosa da família) estava com o pai, João Claudio Moreno, autogravando seu livro "Casa de Isabel" (extraordinária obra para a pequena escritora, declara o tio leitor e babão).  E fiquei me perguntando o que faz essa multidão de famintos do saber, procurar um conhecimento não mensurável, diferente dos apetrechos tecnológicos. Acho que é como diz Saramago: “Um homem precisa de fazer a sua provisão de sonhos”. 



(*) A HISTÓRIA DO LAMARTINE BABO CITADA ACIMA: Conforme informa Áurea Netto Pinto, no princípio da década de 30, do século XX, seu irmão, o dentista Carlos Alves Netto (chamado “Caro”, pelos amigos) colecionava fotos de celebridades do rádio. Ele mesmo era um artista, compunha e cantava suas próprias composições, tocava vários instrumentos, escrevia peças teatrais, pintava cenários e interpretava. Para obter as fotos dos artistas, lançava mão de todos os recursos. Inicialmente, escrevia a eles e, por vezes, para maior êxito, adotava um pseudônimo feminino. Lamartine Babo, que estava no auge do prestígio, era o artista do momento e acabara de compor a música “O teu cabelo não nega, mulata”, que lhe gerou problemas autorais. Assim, Carlos Netto escreveu a Lamartine Babo, fazendo se passar por uma certa “Nair Oliveira Pimenta”, mineira de Dores da Boa Esperança. Com o tempo, Lalá (apelido de Lamartine) e Nair passaram a se corresponder com freqüência. Se Lamartine escrevia em prosa, Nair respondia em prosa, sem ele escrevia em versos, “ela” respondia em versos. Lamartine se admirou com a inteligência da sua correspondente, enviou as fotos e, por um ano, manteve esta correspondência; até que Nair interrompeu as cartas, alegando que iria se casar com um primo e que “tudo não se passava de um sonho impossível”. Lalá, ansioso e preocupado, no ano de 1937, resolve ir a Boa Esperança para conhecer Nair. As crônicas do lugar descrevem Lamartine, ao chegar na cidade, como “magro, feio e desdentado; porém, um sultão orgulhoso de seu harém”. Apresentaram-lhe a única Nair do lugar, que era uma menina de 6 anos de idade. Decepcionado, não desistiu e continuou sua busca pela cidade, até que alguém lhe revelou: “Nair era um ‘marmanjo’ que o ludibriara para conseguir sua foto”! Apesar do receio da verdade, o dentista Carlos Alves Netto, irmão de Nair, assumiu: era ele quem mandava as cartas. Ao saber de tudo, Lalá capitulou, silenciosamente, sem comentários. Ficou na cidade e conheceu melhor Carlos Netto, de quem se tornou grande amigo. A juventude e os músicos do lugar passaram a se reunir, diariamente, com Lalá, que à luz de lampião, em volta da mesa, a todos encantava com sua inteligência privilegiada. Assim, marcado um piquenique para a despedida de Lamartine, este, olhando a Serra da Boa Esperança que emoldurava a paisagem, começou a solfejar as notas, que Carlos Netto ia escrevendo na pauta improvisada num pedaço de jornal. E com as notas, foi saindo a letra.
Quando da reinauguração do Clube Dorense, foi prevista uma homenagem a Lamartine Babo, porém ele faleceu antes. Assim, em sua homenagem, a municipalidade ergueu um monumento, numa das principais vias públicas da cidade, a Avenida Marechal Floriano Peixoto. ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_da_Boa_Esperan%C3%A7a_(can%C3%A7%C3%A3o )


9º Salão do Livro do Piauí



Momentos do 9º SALIPI: (de cima pra baixo): Salgado Maranhão entrevista Capinam; Assis Brasil em prosa proveitosa; o Piauinauta é recebido por Cinéas.

Bíblia, um livro de auto-ajuda

Geraldo Borges
.
Tirando a carta de ABC e a Tabuada, o primeiro livro que eu conheci foi a Bíblia Sagrada, protestante, por que existe também a católica, que os protestantes chamam de apócrifa, briga de comadres. O certo é que o livro, o rolo, foi o primeiro a ser impresso pelos tipos moveis de Gutenberg. Podemos considerar a Bíblia como o primeiro  livro de auto- ajuda do Ocidente. Na verdade a Bíblia é uma biblioteca, e  dentro de suas páginas têm receitas e portas para tudo.Buscai e acharei. Poderia falar de muitos outros livros de auto- ajuda, mas não acho necessário. Pois a Bíblia é a fonte de todos eles. Nesse caso vamos aos donos dos porcos. Os salmos são uma grande panacéia, um emplastro para botar para cima pessoas deprimidas, pecadoras, que andam pelos vales das sombras da morte.
            Mas os cristãos não se aquietam. Talvez por que não sabem ler a palavra direito. Lá em algum lugar, no canto de alguma página um apóstolo diz, ficai quietos. As muitas letras nos fazem delirar E nessa inquietude lá vai o cristão bater em outras portas, atraídos pelo Oriente. Não se conformam com o seu Evangelho, as boas notícias, que os judeus lhes deram de presente, em nome de seu filho crucificado. O Messias. E sem sossego vão bater em outras portas. Isso me recorda um filosofo que disse, mais ou menos assim,  por que mudar de religião, por que mudar de dúvida?
            É a eterna inquietação do homem. A filosofia. Procuram uma nova embalagem. Mas o conteúdo é sempre o mesmo, apenas as metáforas mudam, e a forma de introduzir o discurso. Pois nada existe de novo debaixo do sol.
            A Bíblia, repito, é o livro dos livros. È a maior fonte literária do Ocidente, com os seus mitos e verdades camufladas. Todos os grandes escritores, os clássicos e modernos foram beber nas chamadas escrituras as suas fontes de inspiração.
            Comecei a ler a Bíblia desde menino, ainda soletrando, em voz alta, na escola dominical, em principio por iniciativa de minhas irmãs mais velhas, que se converteram ao protestantismo. E como toda religião é catequista, elas queriam me converter também. E de fato me converteram. Sim. Num apaixonado leitor da Bíblia. Mas não em um protestante, como se costuma chamar os adeptos do protestantismo.
            Criança, livre do pecado, e sem a preocupação de salvar a minha alma eu fui folheando  a Bíblia desde o Gêneses ao Apocalipse passando por  Sanção, jovem, de cabelos compridos, pronto pata desafiar os Filisteus, com seus enigmas, suas adivinhações, e, de repente, cai nas mãos de Dalila, e torna-se um ser desprezível, cego, a girar em torno de um moinho até que seus cabelos crescem de novo, E as forças lhe voltam. E ele se vinga derrubando o templo do rei Dagom. Um conto perfeito. E a mula de Balaão falando, me lembrou as histórias de fada dos tempos em que os bichos falavam. Agora em que língua ela falou, eu não sei. Talvez em hebraico. Hoje elas falam em nome de Deus em vários idiomas.  A história de David e Bate-Seba, a traição de David, tomando a mulher de Urias, o seu general, e mandando - o para o Front mais acirrado da batalha a fim de que ele morresse, e deixasse o caminho livre para  que ficasse com sua mulher, a cordeira do homem pobre.
José do Egito e seus Irmãos, considerado por Tolstoi, o maior conto da literatura ocidental, e transformado em um grande romance pelo escritor Thomas Mann, A pequena história do profeta Jonas atirado para o ventre de uma baleia e depois cuspido em uma praia, todo isso por que estava recalcitrando às ordens de Jeová para pregar em Ninive. A parábola de Marta e Maria, um conto, curto, modernismo. A história de Labão e Jacob envolvendo Raquel e Lia tão bem sintetizada em um soneto de Camões é uma obra prima.
São tantas as narrativas que a Bíblia contem com seu realismo mágico que temos que admitir que Jesus Cristo é o personagem mais vivo da cultura literária ocidental.  E como estou falando em auto - ajuda, volto a repetir, a Bíblia me ajudou muito. Uma das técnicas narrativas da Bíblia é a repetição. E o leitor atento pode notar.
Logo me convenci que a Bíblia é tão magnífica e épica como a Odisséia e a Ilíada, com a diferença que a Bíblia admitia apena um Deus como verdadeiro, e esse é o eixo de todas as suas funções narrativas, desde a saída do Éden até a ressurreição do Messias, e finalmente o Apocalipse. Muitos estudiosos, filósofos, tem se dedicado ao estudo da Bíblia, enquanto muito leitores leigos apreciam apenas as suas belas e edificantes histórias e lendas.
Pois bem, caro leitor, a leitura do rolo sagrado não meu converteu ao protestantismo. Embora eu seja cristão por batismo, e assimilação cultural, é mais cômodo; as igrejas estão sempre de portas abertas para as ovelhas que, voltam como filhos pródigos, depois de tremendas peripécias pelo mundo,  prontas para levantar a sua auto-estima. Não é o meu caso. Prefiro a duvida da filosofia.
A Bíblia não é apenas uma biblioteca que, ocupa lugar, em quase todas as casas de pessoas alfabetizadas. Às vezes, ao lado de um pequeno busto de Buda. Ela também é folclore. Pois existem muito analfabetos que citam a Bíblia, e contam velhas anedotas de são Pedro com Jesus Cristo quando andavam pelo mundo. De modo que, a Bíblia é muito fértil, tanto no campo da literatura como da pintura, da escultura e da musica. Antes de ser lida através do alfabeto impresso foi lida na mensagem dos vitrais nas igrejas.
Mesmo assim a Bíblia, às vezes, é olhada com indiferença por muita gente. Talvez por causa do preconceito religioso, que só a filosofia desfaz. Muitos trocam a Bíblia pelas novas promessas que vem do Oriente, New Age, Budismo, Taoísmo, caminho do meio. A procura da porta da auto – ajuda
 E para terminar estas divagações sobre o livro, dou um exemplo de como a Bíblia também liberta, No filme – Um Sonho de Liberdade. O prisioneiro esconde dentro de uma Bíblia oca sua pequena ferramenta, a qual, ele usa para abrir um túnel a fim de escapar para o mundo livre. Um dia o diretor da prisão faz – lhe uma visita e vê o prisioneiro sobraçando o livro, e diz–lhe, a sua salvação está aí dentro. Estava mesmo. O seu sonho de liberdade e auto-estima foi realizado.

MWERDAL PEREIRA


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...(*)


    1968.

    Com a decretação do AI-5 em dezembro muitos artistas brasileiros tiveram que partir para o exílio, perseguidos que foram pela ditadura militar.

    Nesse mesmo ano em que Chico, Caetano e Gil, eram forçados a deixar Pindorama,  começava a brilhante carreira de um estagiário nas Empresas de Roberto Velhaco Marinho.

    Esse pródigo jornalista, obteve um desempenho es-pe-ta-cu-lar, tendo exercido naquela augusta Casa destacados cargos, tais como: editor nacional, editor-chefe, diretor da sucursal de Brasília, diretor de redação e diretor executivo do Infoglobo. É mole ou quer mais? Para encerrar foi Diretor de Jornalismo de Mídia Impressa e Rádio das Organizações Globo.

     Estou falando de, nem mais, nem menos, de uma figura do porte de MERVAL PEREIRA !

   Conviveu na época com outros eminentes biltres como o Armando “Nogeira” e Alice “Maria vai com as outras” Reiniger, seus parceiros de convivência alinhada com os anos de chumbo, abrigados na Vênus Platinada Plim-Plim.

   Pior do que a censura era a autocensura, comportamento esse rigorosamente seguido pelos vilões do jornalismo, engajados no acobertamento de todas as truculências cometidas pelo cruel regime militarista que se manteve por mais de 20 anos no poder.

    O Dotô Merdal Pereira vai ocupar a vaga de um gaúcho, o Doutor Moacyr Scliar, na Academia Brasileira de Letras...  Que barbaridade, tchê!

    O jornalista “É Fan-táás-ti-cô...” tomou posse no lugar do escritor que se destacou no gênero imaginário fantástico. Scliar publicou nada menos do que 67 livros, Pereira publicou apenas, pasmem, 2 livros, sendo que um deles é uma reles compilação dos seus brilhantes artigos cometidos no Gloebbels.

      É bem verdade que a Casa de Machado de Assis, a tal “Academia”,  teve seus bons momentos de “Casa de Tolerância”, como por exemplo ao receber o  Ministro do Exército General Aurélio de Lyra Tavares,  fato ocorrido em plena vigência da “Redentora”.  Esse  milicão de alta patente, compos uma junta de bois, com dois outros colegas de farda, empossados pelo AI-12, que impediu a posse do nosso vice civil, o Pedro Aleixo, com a morte do Costa e Silva, estão lembrados?

     Isso sem contar que pelo “Country Club das Letras”  lá passou inclusive nomes como Getúlio Vargas (ignora-se seus literários dotes), Assis Chateaubriand, Zé Sarney, Ivo Pitangui, Paulo Coelho, dentre outras celebridades...

    Aliás, Merval ficaria muito à vontade na ABL se o seu tempo de “imortal” coincidisse com o do garboso General Lyra Tavares, sabem por quê? Porque o Mervalzinho adora palestrar com milicos.

    Sim, caro leitor. Você ficaria maravilhado se pudesse presenciar a sua desenvoltura  no Clube Militar, metendo o pau no nosso Lula Molusco nas eleições e sendo ovacionado por uma seleta platéia de militares da reserva.      

    Quantos deles não teriam atuado ou gozariam da amizade de altos figurões que passaram pelo comando do sanguinário DOI-Codi? Só o coronel Brilhante Ustra, que atuava em São Paulo, recebeu até o momento, 502 denúncias de tortura, maus tratos e morte de “subversivos”.

    Quem o conhece bem, quem acompanhou a sua trajetória, sabe:   

Merval Pereira não é independente, ele não tem absolutamente opinião própria.  A opinião dele é a do Sultão, quero dizer, do Patrão. E a opinião do Patrão é a opinião do atraso, do conservadorismo decadente, do preconceito, de quem pensa o Brasil a partir do próprio umbigo.

     Assim como aquele famoso intelectual que reside em Higienópolis: Alô! Alô! FHC! As portas da “Academia” estão mais escancaradas para V. Sra. do que “nunca dantes”. O seu dia chegará, bem mais depressa do que o Senhor imagina!

    Agora, como explicar o fato de Antonio Torres, este sim, o verdadeiro escritor, conhecido dentro e fora do Brasil pelas suas obras, ter conseguido apenas 13 votos? Com a palavra os Iluminados e Imortais Acadêmicos.

 


 


(*) OLAVO BILAC


 


                                                                                                                                         


                                                                                                                            1000TON

Segredo

                                             Graça Vilhena
.
                                             do nosso segredo
                                             sabe a flor que vigia a noite
                                             e o luar da varanda
                                             quente no meu corpo
 .
                                             sabem nossas bocas
                                             travadas pelo medo
                                             e nossas mãos vazias
                                             de nossas próprias mãos
 .
                                             sabem nossos olhos
                                             quando se encavilham
                                             sabe meu verso cheio de falta
                                             nessa saudade teorizada
                                             que se põe sobre as coisas

_______________________
desenho Gabriel Archanjo

Fim



Ana Cecilia Salis

.
Queda o pulso...
Desbota o fogo...
.
Empalidece o dia
Das cores, uma só...
.
Fecha-se uma porta...
.
Mais uma porta...
.
Divisa... 
.
Entre os males do mundo,
E um travesseiro de plumas...
.
Entre a crueza armada da vida,
e o justo descanso
.
Entre mim,
E nem tanto...
.
Entre o voo certeiro
E os derrubados engano
De uma aterrisagem segura 
.
Nos teus e nos meus planos...
________________________________
desenho Gabriel Archanjo

Gervásio Castro

Verso Lívido

*OS DO PIAUÍ*
.

 O querer piauiense às vezes é seco
A fala é lenta, arrastada, preguiçosa
A rua em que moram é quase um beco
E a frase, quando dita, é amorosa

A mansidão por um nada vira guerra
As amizades são verdadeiros pactos
A paixão maior deles é pela terra
Essas almas têm espinhos feito cactos



(*Climério Ferreira*)

Liz nua...


       A única foto de Liz Taylor nua! Linda!!!!!

       Naquele tempo não havia photoshop e nem lipoaspiração. A mulher
era perfeita assim mesmo.
      Esta foto é única e também acaba de ser mostrada ao público
pela primeira  vez. Trata-se da única foto conhecida da estrela
Elizabeth Taylor, então com 24 anos, posando nua. O dono é um
colecionador privado...
      Esta foto foi um presente de noivado de Liz ao produtor Michael
Todd, então seu terceiro marido.  Ela foi feita por um de seus amigos
mais íntimos, o ator e fotógrafo Roddy McDowall, que a convenceu a
posar nua, prometendo que seria algo de muito bom gosto...  
     Ela presenteou Todd com a foto em 1956, quando ele a pediu em
casamento, uma  relação de curta duração, encerrada tragicamente,
13 meses depois do casamento,  quando o avião particular de Todd
sofreu um acidente durante uma tempestade  sobre o Novo México...
___________________
garimpo de Cândido Espinheira
   

Luz Triste

Luiz Horácio

Armando conservava o hábito de correr todas as manhãs. Cedo. Geralmente saía de casa antes do sol. Naquela manhã fria de julho, o termômetro acusava seis graus centígrados, ele também não se intimidou com as idosincraias da natureza. Assim como aos pássaros, o frio não o perturbava. O ar mais frio cabia sempre aos pássaros em vôo óbvio. O itinerário daquele dia incluía a região do Shopping Iguatemi. Proximidades de um parque percebeu dois quero-queros, esses bichos nunca andam só, tentando encontrar algo, algum nseto, sobrevivente a geada.

Uma das aves, ao vê-lo, afastou-se lentamente, andando. A outra permaneceu onde estava, Armando se abaixou, tocou as penas daquele quero-quero , com cuidado pois os quero-queros guardam um dolorido ferrão  defensivo. Ativado, a dor é quase insuportável.

Logo estava com a ave em seus braços. Olhar atento, mas sem demonstrar susto, encostou o pescoço no peito do homem que a abraçou com mais energia, sem machucar. O outro quero-quero logo ganhou outra companhia. Será que eles se sentem extremamente solitários? pensou Armando.

Um carro, faróis ligados para enfrentar a névoa, passou em marcha lenta.

Armando devolveu a ave ao chão. Assim que encostou seus pés no asfalto o quero-quero saltou de volta para os braços que lhe emprestaram tamanho calor.

Um carro, faróis ligados para enfrentar a névoa, estacionou.

-Bom dia.

-Bom dia.

-Recebemos uma denuncia, o senhor está capturando uma ave nativa e isso é crime. Tenho que levá-lo à delegacia.

-Deve haver um mal entendido, não estou capturando, estou conversando com esse quero-quero. Disse-lhe de meus medos e de minha inveja em não poder voar. Ele, por sua vez, me falava de sua angústia por não poder ir onde bem entende, viver apenas como pássaro, livre de ambições. Ao pegá-lo em meus braços, mostrei-lhe o calor que até então não precisava, e ele gostou. Ao soltá-lo, sentiu frio e voltou a mim. Não pretendo aprisioná-lo, creio que estabelecemos uma cumplicidade, uma amizade, e os cúmplices e os amigos são livres. É isso.

-Você está me chamando de idiota? Quer que eu acredite que estava conversando com esse bicho?

-Não o chamei de idiota e também não pretendo fazê-lo acreditar que conversávamos. Mas o senhor não acha que podemos acreditar no que bem entendermos?

-Você está sob efeito de drogas ou então é doido, algo está errado aqui, muito errado.

-Como é seu nome?

-Victor Hugo.

-Pois bem, seu Victor Hugo, eu estava correndo conforme o senhor pode comprovar pelos meus trajes; e tenho intenção continuar, se o senhor me permitir.

-E o bicho? Pretendo correr abraçado ao quero-quero?

-Vou soltá-lo.

-Então solte.

Armando abaixou-se, devolveu a ave ao chão. Onde a deixou ela permaneceu. Olhou ao redor e percebeu a presença de oito pares de quero-queros. Enquanto um outro, solitário porém altivo como apenas os quero-queros conseguem ser, se aproximava.

Victor Hugo dirigiu-se ao seu carro e retornou com um colega.

-Fotografa.

O homem fotografava de tudo quanto era ângulo.

-Tem pouca luz, Victor.

-Deixe de bobagem, essas máquinas modernas não se importam com isso. Fotografa o cara, depois fotografa os bichos.

-Peça a ele para pegar o quero-quero?

-Como é que vou pedir pra pegar se mandei largar?

-Só pra Foto… só pra foto, vai.

Os homens discutiam, Armando conversava com o quero-quero, os demais permaneciam estáticos. Aquele que se aproximava, chegara.

Aramando puxou assunto.

-Estão fotografando.

-Não conseguirão, a essa hora a luz é triste. Antes que ele volte permita lhe agradecer.

-Agradecer?

-Sim. Por ter me dado o frio e o calor.

-Não lhe dei, você está enganado, else já estavam aqui bem antes de mim, antes de nós, de todos nós.

-Peço que você me permita recompensá-lo.

-Não precisa, que bobagem…mas  como me recompensaria?

-Ensinando-o a voar.

-E o que posso dar-lhe em troca?

-Ensine-me a ter medo?

-Não é bom viver sem sentir medo?

-Não. Superar o medo pode gerar prazer, não pode?

-Pode.

-Você sabe qual é o grande prazer dos pássaros?

-Voar?

-Não. Isso é obrigação.

-Então, o que é?

-Conversar.

-Mas vocês conversam entre vocês.

-Sim, mas isso, assim como entre os seres humanos, também é obrigação.

-A que tipo de conversa você se refere?

-A conversa com gente.

-Não valeria a pena, temos muitos medos, somos muito ambiciosos, desrespeitamos a tudo e a todos, inclusive os pássaros.

-Você não desrespeita. Faz mais de ano que olhamos você, sempre que passa aqui escutamos seus pensamentos, tem sempre criança neles, e uma mulher, a mesma mulher todos os dias.

-Está bem, digamos que eu concorde com tudo isso, mas pra que o medo? Quando estiver lá no alto, sentirá medo?

-Tem medos que jamais os pássaros sentirão, afinal de contas voar é nossa obrigação, eu também quero aprender a sonhar. Sonhar tem a ver com imaginar?

-Pode ter, e… aí vem eles.

O colega de Victor Hugo não parava de fotografar e praguejar.

-Não vai sair nada, eu tô dizendo…não vai sair nada, tá muito escuro…mas….Victor, que horas são?

-Sete e vinte.

-Não lhe parece que está demorando a clarear? Tem coisa errada aqui, isso tá me parecendo coisa do diabo, aquele cara no meio dos quero-queros tem parte com o chifrudo, só pode. Eu vou me mandar, você fica?

-Olha pra lá, lá prós lados do shopping, lá tem sol, só aqui está escuro.Vamos embora, mas antes preciso falar com o cara.

O motor do carro já fazia seu rumor quando Victor chamou Armando. Dois quero-queros o acompanharam junto aos seus passos.

-Pois não, Victor.

-É o seguinte, pegue o que é seu e caia fora.

-Não tenho nada para pegar, eu estava correndo não lembra?

-Tá…tá…tá….e para com essa frescura de falar com bicho, um dia você acorda num hospício.

-Com os quero-queros?

-Não brinca…não brinca que é sério. Vai.

-Calma, ainda tenho um assunto a concluir.

-Puta que pariu.

Victor deu partida e desapareceu na névoa. Assim que o barulho do motor também desapareceu o sol se juntou a Armando e os pássaros. Algazarra de quero-queros que voaram em direção aos gramados em busca de insetos.

Armando não conseguia identificar o quero-quero que conversava com ele pois quero-quero é bicho de muita parecença. Recomeçou a correr. Poucos passos adiante pousou a sua frente seu interlocutor.

-Ia embora sem se despedir?

-Não consegui identificá-lo.

-Saberá.

-Como?

-Logo que se sentir pássaro.

-Não tenho penas, não sei voar.

-Saberá.

-Como.

-Sonhando ou imaginando, ainda estou em dúvida, mas o caminho é esse. Agora vá.

-Até amanhã

-Até. Com luz triste.


Baitola


Reza a lenda quando da construção de uma importante linha férrea na cidade de Fortaleza.
O responsável pela construção dessa estrada de ferro foi o engenheiro inglês Mr. Hall (hoje nome de avenida na referida cidade). 
Pois bem, conta-se que Mr. Hall, além de ter um jeito um tanto quanto "afemininado", era também muito responsável com seu trabalho. Assim sendo, sempre quando chegava de manhã na obra, dirigia-se aos trabalhadores e pedia para que os mesmos tivessem muito cuidado com a bitola, que
é a largura determinada pela distância medida entre as faces interiores das cabeças de dois trilhos em uma via férrea.
Entretanto, Mr. Hall, devido seu sotaque inglês,  pronunciava a letra "i" , com o som de "ai", assim, a palavra bitola sai com som de " baitola".
Certo dia, os trabalhadores já cansados de tanto escutar as exigências de Mr.Hall com a bitola, quando avistavam Mr. Hall se aproximar, falavam uns para os outros, imitando a voz de Mr. Hall:
"LÁ SE VEM O BAITOLA... LÁ SE VEM O BAITOLA"
A partir de então, associaram a palavra "baitola" ao jeito feminino de certos marmanjos procederem.


Antonio Carlos Novaes Machado




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Sensual



Raimundo Santana


Se tu me estreitas no febril regaço
E dá-me beijos com teu lábio ardente,
Sinto no peito a sede de outro abraço,
A sede de outro beijo o lábio sente.

Se no teu corpo a mão nervosa passo
Buscando o níveo róseo seio quente,
Prender-me junto a ti sinto o teu braço
Que me entrelaça como uma serpente.

E assim ficamos, um ao outro presos,
Mas de repente, trêmulos de medo,
Nos separamos quase indignados,

Tu, branca e pálida, os cabelos soltos,
Nos ombros teus caídos e revoltos
E os lábios meus de beijos perfumados.
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Este ano, o Salão do Livro do Piauí homenageia o professor Raimundo Santana, lembra ainda o centenário de nascimento de Dinah Silveira de Queiroz, o centenário de nascimento de Nelson Cavaquinho e o escritor Moacir Scliar (in memoriam).

aridez

Juarez Montenegro


Estou quase improdutivo...

Se não me sinto inspirado,

Mais pareço um morto-vivo

vivendo do meu passado.


.

Como um disco musical

reprisando melodias,

nessa aridez crucial

não inovo poesias...

.

nem pratico  plagiatos

corriqueiros, infecundos

como certos celibatos

que campeiam pelo mundo.

.

Espero ver-me distante

dos arremedos diversos,

cada vez mais relutante

aos artifícios perversos.


.


Mas, meu pendor, não me queiras

um menestrel compulsivo,

um contador de besteiras,

um falastrão inventivo.


.

dispensa tais afazeres

nesses saraus adversos;

retornarei aos deveres

quando fluírem meus versos!


fotografia


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VALIDUATÉ

Validudoaté encerou o 9º Salão do Livro do Piauí. Um pouco dessa banda da Terra Filha do Sol do Equador:

domingo, 5 de junho de 2011

contrastes



No céu azul de arder nos olhos, entre nuvens de algodão enxutas d'água, o Piauinauta observa a velha São Benedito e o modernoso hotel Metropolitano. Contrastes em Teresina...

Mamãe faz cem anos

Edmar Oliveira
.
O Hospital do Engenho de Dentro faz cem anos no dia 11 de junho. Nem o Hospital de Pedro II,na praia Vermelha, que o precedeu, conseguiu tal façanha. Foi transferido para o Engenho de Dentro, já velhinho, aos noventa e um anos. Mas o seu sucessor é mais resistente. Me chamaram para participar dos festejos de seu aniversário. Não estou no Rio. Estarei em Teresina lançando o “von Meduna”, que fala dos cem anos do Hospital Areolino de Abreu de Teresina. Que é lamentado, não comemorado. Portanto, não iria.
É que o lema “por uma sociedade sem manicômios”, da Reforma Psiquiátrica, não pode festejar a longevidade de um deles. Seríamos incoerentes. Dediquei quase trinta anos da minha vida para que ele não comemorasse essa horrível data. Perdi toda uma luta, relatada no meu livro “Ouvindo Vozes”. Mas tem os que não querem ouvir vozes, as vozes dos deserdados da razão, e, surdos, comemoram os porões; os que louvam os manicômios que soterram vidas, que o projeto anterior tentou libertar. Quando me despedi dos meus amigos marcados pela loucura, chorei porque fracassei na missão que arduamente empreendi com a equipe a que me orgulho de ter pertencido. E os que entenderam essa luta também saíram, tristes e chorosos, como são os perdedores. Sei que há companheiros de jornada que não compreenderam minha saída. Mas, eu afirmei, naquele triste dia, que ou o projeto avançava ou haveria recuos que eu não suportaria assistir. Não se podia segurar o ponto alcançado. Ele era instável. Ou ia à frente, e tentamos propondo uma mudança de rumos que a burocracia de um Estado conservador não aceitou; ou recuaria, como tristemente, não só eu, estamos testemunhando. 

Alguns desses monstros que fizeram cem anos (São Pedro, em Porto Alegre; Tamarineira, em Recife; Barbacena, em Minas), renovaram sua roupagem e pararam de ampliar a prática manicomial. O de Engenho de Dentro mantém os espectros do passado. Pavilhões a ruir como se a própria idade do velho manicômio fosse construída das carnes podres de vidas que foram devoradas nas suas entranhas. O monstro vive e faz cem anos. E pior, nominado de Nise da Silveira, que lutou contra sua força coercitiva. E eu me culpo. Quando propus a mudança de nome, propunha também a quebra do manicômio. Ele foi mais forte. E aprisionou a Dra. Nise no seu passado. E faz cem anos apagando velas com força do seu vigor. Não em nome de um natimorto Instituto Municipal Nise da Silveira, mas na vitória da psiquiatria tradicional em nome do Centro Psiquiátrico Pedro II. É ele, filho do Hospício Nacional republicano, ressuscitando o Hospício de Pedro II da Praia Vermelha, quem faz cem anos no vigor da tradição. Como poderia o Instituto Nise da Silveira fazer cem anos, se ela acabou de comemorar seu centenário? Triste sina.
Para os que só sabem viver dentro do manicômio, a dada deve ser comemorada. Há funcionários também prisioneiros do manicômio e que podem morrer na sua extinção. Para esses, Mamãe faz cem anos. Eles mesmos, se pudessem, fariam cem anos dentro do manicômio.