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Geralmente ao concluirmos a leitura de um livro nos perguntamos: foi bom?
Quando cheguei ao final de Teorias selvagens acrescentei outra questão: pra quê?
O livro de Pola Olaixarac, ainda não consegui definir se texto de humor ou maneirismo oportunista; suporta uma miscelânea: teorias beligerantes de Clausewitz e Sun Tzu , passa por uma análise da sexualidade de portadores da síndrome de Down, culminando com performances de nefastos hackers. Mas ainda tem o recheio, farto, é necessário o alerta, vai de uma extensa camada de teorias antropológicas centradas em tribos da Nova Guiné, ironias acerca da luta contra a ditadura, não podia faltar pitadas de pornografia e as conseqüências que abalam a autoestima.
O leitor se vê frente a famosa/atual/confusa narrativa fragmentada, logo tal estilhaçamento narrativo busca justificativas nas referências, sejam eruditas, pops, imaginadas, pouco importa. Fugir da linearidade é objetivo. História, enredo, quem diz que isso é necessário.
A leitura de Teorias selvagens exige como pré-requisito uma certa intimidade com os meandros da filosofia.Citações e mais citações, mudanças de narrador e uma ironia cinco estrelas atuam como vilões cuja missão é de atrapalhar a leitura.Resumo da ópera, ou melhor, um dos resumos cabíveis: casal de estudantes nerds muito feios ,K, ou Kamtchowsky, gorda, inteligente, namora Pabst, as “mesmas qualidades”porém magro, ambos filhos de ex-guerrilheiros argentinos.Pola aproveita e desanca a esquerda que combateu a ditadura. Cabe tudo nessa história, eu avisei.Resta espaço para a autora atacar a Faculdade de Filosofia de Buenos Aires, nesse momento quem entra em cena é uma estudante de Filosofia decidida a conquistar um antigo professor. O motor dessa empreitada é uma teoria filosófica que pretende recriar.A narradora alimenta uma obsessão pelo professor Augustus García Roxler, ficou conhecido, ou foi reconhecido, por renovar (ou roubar) as teorias psicoantropológicas do holandês Van Vliet,que deixa a cena no início do século 20.Com o objetivo da conquista, a estudante busca orientação nas teses marciais de Clausewitz e também nas tais teorias selvagens de Augustus.Antes, para aquecer, ela faz um refém, um refém sexual: professor, meio século de invernos, esquerdista que conheceu os porões da ditadura. A indecisão entre teoria e prática leva a estudante de filosofia a se aconselhar com Montaigne, seu gato.
Isso não é tudo, tudo do possível resumo, paciente leitor. É óbvio que não ficaria de fora do balaio,( Célan, Althusser, South Park também estão lá) de jeito nenhum, o nosso momento big brother, nosso talento incansável para os exageros narcisistas. Ele acompanha os nerds de Pola que tem por hábito filmar suas orgias e depois "jogar no you tube. Viciados em teconologia ou cabeças vazias?
Esqueci de dizer que Pabst conheceu K graças a um blog. O que tem no blog? Lulas gigantes, zumbis,nudistas e uma gama imensa de bobagens, a dita cultura inútil.
Pola, ifelizmente, vem engrossar essas fileiras. Diz o dito, tripudia sobre várias maneiras de sofrer e, ao que parece, se diverte com isso.
Vale lembrar que a autora estará por aqui brevemente e, é claro, será incensada, tratada como futura ganhadora do Nobel, merecerá textos e mais textos sobre sua beleza, aparecerá em todos programas de tv, e...venderá...venderá...venderá...
Confesso, minhas melhores expectativas foram frustradas, mas nem tudo está perdido; Paula Parisot não está só. Mas por que nos rendemos assim tão fácil ao que vem de fora se temos aqui, em nosso torrão, produção tão precária, por quê?
Enquanto isso paira nosso silêncio e nossa cegueira sobre Cintia Moscovich, Adriana Lunardi, Fal Azevedo. Uma pena!
Enfim, arguto leitor, caso você venha a classificar com bom esse Teorias selvagens, responda, por favor, bom pra quê?
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