domingo, 18 de abril de 2010

Piauinauta mergulhando no Gargalheiros
















Da última vez que foi no sertão o Piauinauta conheceu o Gargalheiros, açudão no município de Acarí, Rio Grande do Norte. Um aguaceiro daqueles de matar a sede de quem se farta de carne-de-sol salgada com pirão de farinha com leite e queiJo de coalho.

Ô vidão bom que foi sumir um pouco dessas página, sô!

EFEITO DO GÊNIO, DEFEITO DO HUMANO

Edmar Oliveira

Escrito e dirigido por Lírio Ferreira (o co-autor de “Baile Perfumado”), “O Homem que Engarrafava Nuvens” tem a produção e intromissão necessária de Denise Drummont, filha de Humberto Teixeira, o Inventor do Baião. Denise avisa, logo no começo do documentário, que não conheceu o Humberto direito e alguns entrevistados opinam que ele se escondeu para que a obra ressoasse pela trombeta de Luiz Gonzaga. Gil diz mesmo que ele gostava era de ver o Lua cantar. E eu também não o conhecia na dimensão revelada pelo documentário.

O obstinado cearense veio ao Rio de Janeiro trazer o baião tido e ouvido nas feiras nordestinas, nas cantigas de cego, no dedilhar dos cantadores. Antes de achar o parceiro necessário compôs outras loas, mas não esquecia a obstinação por um ritmo que embalou seus sonhos infantis. Num depoimento emocionante diz ter chegado a duvidar “se esse ritmo prestava” tanta foram as recusas encontradas pelos artistas da época. Com diz em seu depoimento o músico Otto, a pólvora que trazia Teixeira precisava do canhão de Gonzaga e o encontro foi a explosão para o Brasil e para o mundo.

A intromissão de Denise, na tentativa de conhecer o pai, expõe feridas familiares, um pai repressor, um político conservador, um conquistador de moças ingênuas e de olhos verdes (Kalu). Os defeitos encontrados nos mais comuns dos mortais. Mas nada disso, tão necessário ao conhecimento do documentado, são capazes de ofuscar os efeitos do gênio, que inventou uma música (uma dinastia, prefere Gil comparando a outra dinastia, a do samba) que marcou para sempre a cultura popular brasileira.

E ultrapassando fronteiras, encontramos David Byrne cantando uma versão em inglês de Asa Branca, que ele diz ter feito quando entendeu a letra. Ele diz que buscou inspiração no sul desértico americano, marcado pela seca nos anos vinte, com intensa migração para a Califórnia, a São Paulo dos nordestinos de lá. E aí a música ganha em letra a tristeza e emoções da canção nordestina. Foi Miguel Torga quem disse: “o universal é o local sem paredes”. E é este universal do sertão de Teixeira que o torna gênio. Com os defeitos do humano.

Em Tempo (para os que o opõe ao Zé Dantas): ele elogia o sucessor de forma muito elegante, parecendo não conter nenhuma mágoa, como se propagam os efeitos dos gênios contra os defeitos do humano.

Em Tempo II: curiosamente tem também uma versão de Asa Branca em japonês. O desfile de artistas na trilha sonora é muito bom, com um certo exagero na participação dos baianos.

Mandos

Ana Cecília Salis

As vozes, ordenam o louco
Ao silêncio, obedece o poeta...

Vamos comer farinha?



Geraldo Borges

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Conheço farinha de mandioca desde criança. Um tio meu me levou para sua fazenda, no interior do Maranhão, onde ele tinha uma casa de farinha, local onde se fabrica a farinha. A mandioca crescia na roça depois de plantada. Fazer farinha era um trabalho duro. Depois dos homens trazerem a mandioca da roça nos carros de bois, nos jacás atrelados aos jumentos. Apareciam as mulheres para descascar a mandioca. Depois os homens passavam a mandioca descasada no caititu. A massa vai caído nas gamelas, vai prensada para tirar o liquido e depois vai para o forno que já está bastante quente a custa de muita lenha. Para se fazer a farinha os homens têm que mexer a massa no forno a noite toda. Os melhores experimentadores aprovam o ponto, se estar bem se está boa, é hora de botar outra fornada. Na casa de farinha se pode fazer outros derivados da mandioca: beiju de goma, puba, tapioca. O serviço não para, são várias noites, enquanto tiver mandioca na capoeira a casa de farinha funciona.




Enfim a farinhada termina, a farinha está pronta. Guarda-se em surrões de palha de carnaúba bem fornidos, traçados com firmeza. E assim está pronta e armazenada a mais substanciosa e tradicional alimentação sertaneja, a nossa aveia. E tem mais, temos a farinha dagua que e a mesma farinha de puba, pode ser morena ou loura, esta e feita depois que a mandioca e colocada dentro dágua para pubar, fazer fermentar.




Umas das características da farinha é que ela mantém o seu calor. Durante os invernos de meu tempo de menino, que começava em novembro e terminava em abril meu pai botava rapadura dentro de caixões cheios de farinha para que o doce não melasse.E assim, graças a farinha, tínhamos rapadura com farinha em bom estado durante todo o ano.







Agora vamos comer farinha. Para começar come-se farinha com banana, come-se farinha com manga, come-se farinha com capitão de feijão, capitão de feijão e arroz com feijão amassado e misturado com farinha, comido de preferência com a mão. Come-se farinha com carne seca, carne de sol, come-se farinha feito frito com um bom frango caipira, come-se farinha com suco de buriti. Comer farinha é uma mania para o paladar que tem bom gosto no nordeste. Farinha dar certo com tudo. Dom João VI comia frango com farinha, dizem os cronistas de sua época. Comia ou não comia? Come-se farinha com rapadura, com mel de abelha, com abacate. Come-se pirão de farinha feito com caldo de peixe, come-se caldo ralo de farinha com ovos quebrados dentro. Come-se mal assada de farinha com ovos, come-se ovos estrelados com farinha, e ovos cozido com sal e pimenta do reino. Farinha está em todo lugar, em todo prato. Principalmente no Piauí. Farinha com pequi é uma delicia. Toma-se café com farinha, leite quente com farinha. A farinha é tão importante em nossa culinária que já tivemos uma Constituição da Mandioca. E quem não conhece as pessoas que são farinhas do mesmo saco.




A vantagem da farinha de mandioca é que já a encontramos por aqui, o índio fazia farinha e continua fazendo e em torno da mandioca, há tradição e lenda. Um punhado de farinha não faz mal a ninguém, às vezes ate desengasga quem está com uma espinha de peixe na garganta, e seu emplastro pode arrancar carnegão e curar feridas. Come-se farinha, paçoca no pilão, e, também, como paçoca de amendoim, e como farofa nas praias do nordeste brasileiro, e porque não usar confete de farinha. Usa-se farinha para fazer engodo para pescar. Come-se charuto de farinha. Come-se farinha com peixe seco e açaí. Come-se laranja com farinha. Haja farinha!, o que se pode dizer mais sobre ela?.. Bem. O que posso dizer mais da farinha é que, em qualquer feira que se preze por este Brasil de meu Deus, se eu encontro um saco de farinha aberto daqueles antigos do tempo de meu pai meto logo a mão. Pego um punhado de farinha e jogo no céu da boca, como se fosse um moleque morto de fome. Não resisto.




A farinha é tão importante quanto o milho. Pena não se fazer pipoca com ela. Mas isto não quer dizer nada. A farinha explode por toda parte, explode em minha crônica. Já vi gente comendo macarrão com farinha. E como diz a história a farinha esfria o quente, engrossa o ralo e aumenta o pouco. É isso aí. Vamos comer farinha. Mas, antes não esqueçam: farinha pouca, meu pirão primeiro.







poemicro 2

POEMINHA CARDIOLÓGICO
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Meu cardiologista morreu
E eu ando com o coração na mão

(Climério Ferreira)

Paulo Tabatinga

Bonnie e Clyde, os de verdade


Aderval Borges
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Nosso tempinho pós-moderno é de total inclusão: nada se cria, de tudo se apropria. O MST que o diga.


Apocalípticos e integrados. Em Paris (França), o exilado Cortazar da velha esquerda que não existe mais, lavrou seuApocalípticos e integrados, aqui versado pela falta de Perspectiva. Ele próprio era do primeiro grupo, desintegrado que foi pela doença que o fez crescer indefinidamente, até que não lhe sobrou osso sobre osso.


O cinema de entretenimento da gringolândia nos legou Bonnie (Faye Dunaway) e Clyde (Warren Beatty) fashions, lindões, grandões como todos os americanos têm de ser pro integrado imaginário pós-romântico do Terceiro Mundo. Bonnie e Clyde de verdade, conforme o bom trabalho investigativo de Paul Schnider na biografia recém-lançada no Brasil pela Larousse, eram duas figurinhas magrinhas. Ela tinha menos de 1,50 m e ele em torno de 1,60 m.


A vida dos dois não teve nada de fashion. Comecemos por Clyde: depois do primeiro crime num presídio – matou um carcereiro fortão que o estuprou –, onde estava por roubos miúdos, decepou parte do próprio pé para sair da cana como inválido.


Mas daí por diante, o que fazer no Sul dos isteitis em plena recessão? De família pobre, como Bonnie, só restou a ele – como a todos os outros jovens miseráveis de sua geração – encarar a vida dos não-integrados.


Seu azar foi, durante um assalto, ter matado um auxiliar de xerife. Daí fodeu de vez. Matar um homem da lei na época, com os presídios superlotados e juízes afinados à direita das antigas, só reservava um destino: a cadeira elétrica. Aos criminosos negros – qualquer que fosse o crime –, nem isso: os carcereiros simplesmente abriam as celas pra KKK entrar e arrastar o negrão pra malhação pública.


Forçado à clandestinidade, Bonnie apenas acompanhou Clyde e se embandidou por amor, roubando bancos, lojas, postos de gasolina e quaisquer biroscas que encontrassem pela frente. Mas havia tantos bandos como o deles que em mais de uma ocasião entraram em bancos que não tinham um centavo, porque já haviam sido visitados antes deles.


Viveram uma vida de merda, fugindo pra baixo e pra cima, de estado pra estado. Estavam sempre famintos, imundos, sonolentos, doentes, feridos e com a adrenalina a mil, com medo de serem delatados e pegos de surpresa. Mesmo com toda atenção e tensão, foram crivados por balas em cerca de 10 emboscadas, às quais sobreviveram não se sabe como. Embora com montanhas de dinheiro nos carros roubados, passavam fome por não terem como ir às cidades comprar rango.


A coisa piorou quando a mídia decidiu investir na imagem dos dois, transformando-os em mito. Tudo quanto é tiroteio ou roubo era atribuído a eles. Não saíam dos noticiários. Daí virou questão de honra pra segurança pública da gringolândia: era preciso matá-los o quanto antes, pra servir de exemplo. E assim foi feito. Morreram traídos por tudo e por todos - especialmente por ex-companheiros de bando e familiares -, mediante o farto fornecimento de propinas aos delatores fornecidas pelo Estado.


Leiam a biografia. Evidente que não tem o glamour romanceado de outras biografias sobre os dois. Schneider entrevistou todos as figuras vivas que os conheceram – incluindo os remanescentes do bando –, familiares, delatores, policiais, repórteres e levantou todos os documentos possíveis sobre os dois.

A verdade é que Bonnie e Clyde foram bem mais interessantes que os personagens mitológicos. Pela estatura física, Pedrinho e Soninha dos idos anos 70, – do então Grupo Pedra, em Brasília –, ambos pequenos e magrinhos, seriam os atores ideais para interpretá-los.

Meu Diadorim


Tu és tentação do Coiso

Demônio que se assossega em minh’alma

Grande Senões: vereis

(edmar oliveira)

desenho do blog do Liberati


A Esfinge do Cerrado


Paulo José Cunha

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A cidade é de vidro e de luz, de régua e de compasso, mas sobretudo, de amplidão e espaço. Em Brasília o olhar nunca chega ao fim, e quando parece que chega, outro horizonte se abre, e depois dele mais outro, e assim a cidade de mil horizontes, em todos os sentidos, vai misteriosamente multiplicando seus espaços. Para onde se olha, a cidade não acaba. Marcada pelos horizontes sem fim, a cidade é um convite permanente à reflexão. Talvez por isso todo mundo é meio filósofo em Brasília, porque todo mundo é obrigado a parar de vez em quando, diante da ousadia dos traços do arquiteto, diante da ousadia do por do sol, diante da ousadia dos homens que um dia arrancaram da imaginação uma cidade que dormia no centro do Brasil profundo. Aqui, o que se conhece como modernidade, começou. Aqui, o Brasil entendeu que futuro é apenas o que ainda não foi tentado. Aqui, o espaço é uma interrogação permanente, testando os limites da liberdade e do sonho.

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Dizem que a cidade é fria. Dizem que a cidade é exata. Dizem que a cidade é burocrática. Dizem que a cidade é atrevida. Dizem que a cidade é monótona. Dizem que a cidade não tem alma. Dizem isso. E dizem mais. E vão continuar a dizer, porque Brasília é principalmente um enigma em permanente busca de tradução. Vão continuar a dizer coisas de Brasília. E nunca conseguirão traduzi-la. Brasília, a esfinge plantada no meio do Planalto Central, foi criada para provocar o espanto dos filósofos. Porque a cidade dos espaços, do vidro e da luz, da amplidão que o olhar não consegue abarcar, foi condenada em sua origem a ser eterna, e mesmo que um dia se transforme em ruínas, provavelmente serão as mais belas ruínas da história do homem. Ruínas de curvas e retas e horizontes, esfinge de concreto e aço propondo e repropondo um enigma que ninguém sabe qual é, embora saiba que existe. O que atordoa os críticos e os estudiosos é que daqui a alguns milênios, mesmo se ela tomar a forma das ruínas, permanecerá moderna. E assim, por dentro dos milênios, entre seus planos de vidro e de luz, a cidade feita de régua e compasso descobre, espantada, que guarda o mistério de uma esfinge, entre seus espaços infinitos, que os olhos não conseguem abarcar.


José Expedito Rego

Mauro Sampaio


Acabo de ler o romance "Malhadinha", do médico e escritor oeirense José Expedito Rêgo (1928-2000). Não sou nenhum crítico literário. Minhas impressões sobre uma obra dão mal para o meu gasto e algumas conversas entre amigos. Mas, arrisco uma comparação: José Expedito Rêgo é o Jorge Amado do Piauí.

"Malhadinha" poderá consagrá-lo se houver um esforço da família, que detém os direitos autorais do escritor, para dar conhecimento do talento desse piauiense a uma grande editora nacional. Trata-se de uma história universal passada numa fazenda e em Oeiras no fim do século XIX.

O romance proibido de Nelson e Raquel (ele, casado com a louca Rosa, confinada na fazenda Malhadinha; ela, uma prima solterona morando em Oeiras, aceitando o amor carnal de Nelson) e o amor não concretizado do padre Sérgio e Nair são formidáveis. "Malhadinha", a cada capítulo, aborda preconceito racial, a submissão da mulher, escravidão, a intromissão da Igreja Católica na vida cotidiana, o medo, a loucura, o pecado e as hipocrisias sociais. José Expedito Rêgo é um imortal.

Segue um trecho da obra, publicada em 1990 pela Academia Piauiense de Letras. Nele, o autor descreve a semiescravidão dos negros, que continuavam sujeitos à Casa Grande, libertos, mas sem opção de uma vida digna:

"Era o porco o serviço de que a negra Sabina desgostava. Toda manhã, o pessoal se retirava para conversar na varanda de fora ou cuidar de obrigações. Sabina recolhia os penicos, usados de noite e os despejava nas moitas de mofumbo, atrás do morro, lugar do cagadouro dos negros. Gozava a vantagem de conhecer as fezes das pessoas da casa, compensação do trabalho sujo. Via nenhuma diferença entre a bosta de negro e o excremento de branco. Nair fazia bostinha roliça, fininha e amarela, boiando no vaso com urina pouca. A obra de Sinhá eram bolinhas pretas como estrume de cabra. Nem todo dia evacuava. Passava até quatro dias sem nada botar fora. Noé sofria de ventre preso, quando defecava era jatobá grosso, às vezes com sangue. Hélio não despejava o serviço grosso no penico, só mijava. Devia limpar as tripas debaixo das moitas, atrás dos currais. Rufina tirava o penico da Rosa, a doida não queria outra.”

"Sabina custou a conhecer as fezes do padre. Três dias se passaram e só aparecia o mijo amarelo no urinol de louça fina com tampa enfeitada de flores azuis. O mistério desencantou: uma pasta escura no fundo do vaso, por baixa da urina, parecendo resultado de purgativo.”

"Despejados os penicos, a preta os lavava com sabão, esfregando-os munida de escovinha de palha de carnaúba. Secavam ao sol.”

"Sabina lavava ainda as bacias de louça dos lavatórios e reabastecia as jarras de água fresca, ajudada por Beú.”

"D. Maria Ferreira queria as criadas no trabalho. 'Negro - dizia - tinha que estar com as mãos ocupadas, para não malinar ou furtar comida sem precisão'. Sem forças para tecer as redes de antigamente, punha a Beú a tecê-las e fiscalizava o serviço da sua cadeira larga e baixa, fazendo crochê. Sentia a vista cansada, dificuldade para acertar os pontos. Pediria a Nelson um bom par de lentes."
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Postado originalmente na coluna “Brasília” do Portal Acessepiauí em 21/02/2010

Enviado por Joca Oeiras

Simão Indignado


Para reflexão, com um comentário. A consciência de cada um que faça o reparo
que quiser. São dois textos da 1ª página de O Globo de 09/04/10.

Primeiro texto (fragmento)

"*Acostumados a responsabilizar os pobres* *pelos desabamentos nas encostas*,
nos últimos 17 anos os sucessivos prefeitos de Niterói - além de
governadores do estado - *incentivaram,* por meio de projetos urbanísticos,
a ocupação irregular no Morro do Bumba, cujas casas construídas sobre um
lixão reíram, provocando a maior tragédia do estado."

Segundo texto (logo abaixo)
"Remoção vai ser obrigatória
O prefeito Eduardo Paes publicou decreto que vai permitir ao município *remover
os moradores de áreas de risco, à revelia deles."*
**
*Observem: ATO l : autoridades incentivam ocupação.*
* ATO II: autoridades removem moradores na porrada.*
**
E antes que me digam que um é em Niterói, outro no Rio de Janeiro, eu já
replico: essa política de insanidade é comum a todo estado, a todo país. Em
épocas pré-eleitorais eles liberam a ocupação, com um "plano urbanístico"
meia-sola, sobre entulhos de lixo e sem nenhuma preocupação com análises
ambientais e geológicas. Ganha a eleição, adeus viola, que se fodam os
pobres. Na ocorrência da tragédia, além de culparem a mulambada, baixam o
pau nos renitentes moradores e os deixam entregues à própria sorte.
As eleições estão aí . E não esqueçam, as eleições vem aí. PQP!

Simão

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Simão Curuca é o Presidente da Casa Lima Barreto, lançou um recente CD (Raiz do Bem) de sambas da sua lavras de qualidade excelente. O texto foi enviado por e-mail no dia que "O Globo" publicou as matérias.

Tem coisas que não mudam no Rio de Janeiro...




As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de
Janeiro, inundações desastrosas. Além da suspensão total do tráfego, com uma
prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade,
essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de
haveres e destruição de imóveis.

De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do
dever de evitar tais acidentes urbanos. Uma arte tão ousada e quase tão
perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples
problema.

O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares, dos freios elétricos, não pode
estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida
integral.

Como está acontecendo atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha! Não
sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não
é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os engenheiros
municipais, procrastinando a solução da questão.

O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade,
descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio. Cidade
cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe violentamente grandes
precipitações atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse
acidente das inundações. Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os
aspectos externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos
problemas da nossa vida urbana, econômica, financeira e social.

*LIMA BARRETO - Correio da Noite, Rio, 19-1-1915.*


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Garimpado por Isa da Casa Lima Barreto. E o Prefeito Passos podia muito bem chamar-se Paes...

As Enchentes de que Lima Barreto falou





Se considerarmos que nesses últimos 30 anos aqui "choveu" algumas centenas
de bilhões ( sim, bilhões) de reais por conta dos royalties do petróleo e
nada foi feito, é possível que na enchente de 2080 "tudo continue como
dantes, no quartel de Abrantes". Quem viver(?) verá!


(Henrique Lira)

PONTAL DO PILAR

Luíz Horácio

Um romance com cor de poema, com cheiro da melhor poesia, um romance com ritmo.Ritmo das palavras, ritmo da história, um ritmo de sensualidade, um cheiro de vida, um gosto de sonho.Pontal do Pilar , um romance a ser declamado.

O autor combinou erudição e coloquialismo, resultado; a emoção na medida exata, e essa emoção invade o leitor durante a leitura, perdura, deixa um gosto de quero mais. Doce feitiço de mestre Paulo César Pinheiro. Pelas ruas de Pontal do Pilar o aspecto sensorial guiará o leitor. Tudo tem cor, perfume, textura, nessa narrativa onde o autor parece mais decidido a apresentar alguns moradores do lugar, do que narrar uma história convencional.

Seriam personagens comuns, não fosse a sutileza, o lirismo, o carinho, a inocência que o autor lhes empresta. Mesmo as cenas amargas são pintadas com as cores da poesia. Emocionantes as precisas 128 páginas desse Pontal do Pilar.

Impressiona também pela quantidade de personagens e mesmo assim a emoção, o sentimentalismo, aqui no melhor dos sentidos, não perder a força ou exagerar na doçura da calda. Receita, não sugiro a ser copiada, mas a merecer reflexão desse vasto mundo de escritores. São mais de cinqüenta personagens, e este aprendiz é fascinado por histórias com grande número de personagens, quase um vaudeville regional.Um elegante vaudeville regional. As personagens aparecem e desaparecem sem maiores aprofundamentos psicológicos, no entanto essa característica não implica em prejuízos a essa brilhante obra de Paulo César. A subjetividade, o material é elemento de segunda ordem em Pontal do Pilar, é o grande motor da história, de uma história com tantas personagens e que não se torna prolixa em instante algum. O que está em Pontal do Pilar, é fundamental. Sim, paciente leitor, é um entra e sai de personagens quase que interminável, mas a forma como eles são apresentados não é de forma alguma lugar comum, reparem:
Branca mesmo no Pilar, de raça ariana, só havia Ninda. O que tinha de alvura tinha de sem-vergonhice.De algodão-doce a pele, de paina o lábio.Loura de milho, mas o pelo de baixo preto como amora madura.

Arrisco afirmar que o poeta guia o romancista, vem daí a concisão dessa obra. Não há originalidade nessa história quase sem enredo, a não ser a linguagem, e isso basta. Cabe ressaltar, no entanto, que o autor trabalha com clichês dos mais batidos, que vão do erotismo destruidor ao artista conquistador.Em Pontal do Pilar representado por um músico. Não estará completamente equivocado quem interpretar a história de Paulo César como uma grande sátira. Entre as várias abordagens, temos o aspecto erótico, a exagerada valorização das questões espirituais, esotéricas,ocultas e etc... O mistério como razão ou justificativa de determinadas atitudes.

Messino era paranormal.

Desde sua alfabetização com a professora-mãe, já entortava os garfos da casa.Predizia. Adivinhava o futuro. Via a vida da pessoa de outras encarnações.

E concluí o capítulo no momento da mais alta ironia de Pontal do Pilar.

Messino, sem saber fazer nada sem o clínico europeu manifestado, sem empregou no 10 OFÍCIO DE NOTAS do velho Candorê, mexendo com escrituras, registros e títulos da papelada cotidiana do Pilar.Deixou a paranormalidade como hora extra pra ajudar nas férias e no décimo terceiro.

A dúvida era se isso contava pra aposentadoria...

Pontal do Pilar é um vilarejo à beira-mar, tem um cais do porto, ali chegam os navios cargueiros. A vila fascina um bom número de estrangeiros, europeus a maioria. O fascínio exercido pelas riquezas naturais e as características de um povo, fruto da mistura de negros e índios. Nesse cenário o autor, a partir de um triângulo amoroso, numa alegoria à democracia, permite que todos os habitantes do lugar metam sua colher na vida desses personagens. Como é comum às democracias, e mais particularmente às democracias acéfalas, sobre espaço para tudo; tragédia, humor, drama, poesia e música, de tudo “um muito”. de forma caótica, ou misteriosa, mais afeita à arte, mais adequado ao clima de Pontal do Pilar.

Um triângulo amoroso. Drama, erotismo e exotismo. Seriam essas as personagens principais? Não. Pode ser até que muitos leitores lhes concedam esse status. Fruto da pressa, tão somente, pois a personagem principal deste impecável romance é a linguagem. Em vários aspectos, quer na erudição, quer no mais singelo coloquialismo, quer na forma de poema, quer no ritmo, onde o autor dá pistas de sua intimidade com a língua, ora aparece uma rima nos moldes de um poema, ora a rima aparece no meio da frase. Percebe-se em frases beirando o sublime, o talento de um dos maiores letristas da música popular brasileira. A forma popular de se expressar que a letra de música exige, aliada ao conhecimento da língua que um poeta/letrista/romancista do quilate de Paulo César sabe utilizar.

Pontal do Pilar é um livro diferente. O diferente aqui não é o esconderijo buscado pelo critico quando não consegue ou não quer dizer se tal obra é boa ou ruim. Diferente aqui é para dizer que Pontal do Pilar é sensacional! Dá vontade de voar para lá, conhecer aquela gente, agradecer a Paulo César Pinheiro.

Artista de Rua

Andando pelo Largo do Machado no Rio de Janeiro me deparei com esta preciosidade. O nome da fera é Ruski. É de Amsterdã e percorre o mundo mostrando sua arte. Vale uma olhada até o fim para entender o truque. O vídeo é caseiro e feito num celular.