domingo, 18 de abril de 2010

PONTAL DO PILAR

Luíz Horácio

Um romance com cor de poema, com cheiro da melhor poesia, um romance com ritmo.Ritmo das palavras, ritmo da história, um ritmo de sensualidade, um cheiro de vida, um gosto de sonho.Pontal do Pilar , um romance a ser declamado.

O autor combinou erudição e coloquialismo, resultado; a emoção na medida exata, e essa emoção invade o leitor durante a leitura, perdura, deixa um gosto de quero mais. Doce feitiço de mestre Paulo César Pinheiro. Pelas ruas de Pontal do Pilar o aspecto sensorial guiará o leitor. Tudo tem cor, perfume, textura, nessa narrativa onde o autor parece mais decidido a apresentar alguns moradores do lugar, do que narrar uma história convencional.

Seriam personagens comuns, não fosse a sutileza, o lirismo, o carinho, a inocência que o autor lhes empresta. Mesmo as cenas amargas são pintadas com as cores da poesia. Emocionantes as precisas 128 páginas desse Pontal do Pilar.

Impressiona também pela quantidade de personagens e mesmo assim a emoção, o sentimentalismo, aqui no melhor dos sentidos, não perder a força ou exagerar na doçura da calda. Receita, não sugiro a ser copiada, mas a merecer reflexão desse vasto mundo de escritores. São mais de cinqüenta personagens, e este aprendiz é fascinado por histórias com grande número de personagens, quase um vaudeville regional.Um elegante vaudeville regional. As personagens aparecem e desaparecem sem maiores aprofundamentos psicológicos, no entanto essa característica não implica em prejuízos a essa brilhante obra de Paulo César. A subjetividade, o material é elemento de segunda ordem em Pontal do Pilar, é o grande motor da história, de uma história com tantas personagens e que não se torna prolixa em instante algum. O que está em Pontal do Pilar, é fundamental. Sim, paciente leitor, é um entra e sai de personagens quase que interminável, mas a forma como eles são apresentados não é de forma alguma lugar comum, reparem:
Branca mesmo no Pilar, de raça ariana, só havia Ninda. O que tinha de alvura tinha de sem-vergonhice.De algodão-doce a pele, de paina o lábio.Loura de milho, mas o pelo de baixo preto como amora madura.

Arrisco afirmar que o poeta guia o romancista, vem daí a concisão dessa obra. Não há originalidade nessa história quase sem enredo, a não ser a linguagem, e isso basta. Cabe ressaltar, no entanto, que o autor trabalha com clichês dos mais batidos, que vão do erotismo destruidor ao artista conquistador.Em Pontal do Pilar representado por um músico. Não estará completamente equivocado quem interpretar a história de Paulo César como uma grande sátira. Entre as várias abordagens, temos o aspecto erótico, a exagerada valorização das questões espirituais, esotéricas,ocultas e etc... O mistério como razão ou justificativa de determinadas atitudes.

Messino era paranormal.

Desde sua alfabetização com a professora-mãe, já entortava os garfos da casa.Predizia. Adivinhava o futuro. Via a vida da pessoa de outras encarnações.

E concluí o capítulo no momento da mais alta ironia de Pontal do Pilar.

Messino, sem saber fazer nada sem o clínico europeu manifestado, sem empregou no 10 OFÍCIO DE NOTAS do velho Candorê, mexendo com escrituras, registros e títulos da papelada cotidiana do Pilar.Deixou a paranormalidade como hora extra pra ajudar nas férias e no décimo terceiro.

A dúvida era se isso contava pra aposentadoria...

Pontal do Pilar é um vilarejo à beira-mar, tem um cais do porto, ali chegam os navios cargueiros. A vila fascina um bom número de estrangeiros, europeus a maioria. O fascínio exercido pelas riquezas naturais e as características de um povo, fruto da mistura de negros e índios. Nesse cenário o autor, a partir de um triângulo amoroso, numa alegoria à democracia, permite que todos os habitantes do lugar metam sua colher na vida desses personagens. Como é comum às democracias, e mais particularmente às democracias acéfalas, sobre espaço para tudo; tragédia, humor, drama, poesia e música, de tudo “um muito”. de forma caótica, ou misteriosa, mais afeita à arte, mais adequado ao clima de Pontal do Pilar.

Um triângulo amoroso. Drama, erotismo e exotismo. Seriam essas as personagens principais? Não. Pode ser até que muitos leitores lhes concedam esse status. Fruto da pressa, tão somente, pois a personagem principal deste impecável romance é a linguagem. Em vários aspectos, quer na erudição, quer no mais singelo coloquialismo, quer na forma de poema, quer no ritmo, onde o autor dá pistas de sua intimidade com a língua, ora aparece uma rima nos moldes de um poema, ora a rima aparece no meio da frase. Percebe-se em frases beirando o sublime, o talento de um dos maiores letristas da música popular brasileira. A forma popular de se expressar que a letra de música exige, aliada ao conhecimento da língua que um poeta/letrista/romancista do quilate de Paulo César sabe utilizar.

Pontal do Pilar é um livro diferente. O diferente aqui não é o esconderijo buscado pelo critico quando não consegue ou não quer dizer se tal obra é boa ou ruim. Diferente aqui é para dizer que Pontal do Pilar é sensacional! Dá vontade de voar para lá, conhecer aquela gente, agradecer a Paulo César Pinheiro.

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