domingo, 18 de julho de 2010

O Bom José


Meu bom José,

A tua modéstia te pôs em retirada até antes de ouvir o quanto este amigo reconhece em ti. O imbecil sou eu de não te falar isto em vida.


Porque o bom José cuidava de todos. Nós exagerávamos no uso de sua bondade. Fosse uma mãe doente de um amigo distante, José era eleito o cuidador da mãe do outro. E cuidava dela como se fosse a sua. Mas aí a gente já pedia uma atenção para a irmã, o cunhado, aquele conhecido e o bom José atendia com presteza. Preocupava-se com nossos filhos, como se fossem os seus. Fazia-se amigo com uma naturalidade que passou a ser característica pessoal. Parecia turrão, falava pouco. Era pragmático, não sabia colocar nas palavras a bondade que tinha por dentro. Mas era um coração maior que seu tamanho desengonçado. Eu o chamava Zé. Apenas Zé. Pra que mais? É que gostava de ser seu amigo. E Zé é a intimidade de amigos.



Lembro do carinho com que ele tratava a tia Jovem. Nas exigências de Ruth comentava um baixinho – “mas eu sofro!” – e ria da brincadeira que fazia. Com a Bobó brigava como brigava um filho e não um genro. Juntou toda a família ao seu redor, parentes todos e aderentes. E ainda tinha tempo para cuidar das famílias dos outros, do professor Galvão, do seu Caquim, do Gordo, do Josimar, do Zé Henrique, da do Chicão, de muitos outros e da minha também.



Quando fui a Teresina, devo a ele e a meu irmão a organização do lançamento de meu livro. Uma festa das mais bonitas que já tive me foi dada por Zé e seu poder de juntar pessoas, de conseguir organizar eventos. O entusiasmo com que se dedicou a esta festa revelava toda a bondade que derramava a um amigo. Simplesmente traduzindo o gostar, o que não sabia dizer com palavras.



Os colegas o respeitavam pelo espírito de liderança. Venceu na vida, como se diz por aqui. Colheu o que plantou na construção da família, do seu sonho. Com Ruth construiu Débora, Diego e Diana. Gostava dos amigos antigos. Sua casa era sempre aberta aos colegas de sua infância pobre. E estampava o prazer no rosto de servir um churrasco, um arroz de capote, uma Maria Izabel feitos por ele ou por dona Ruth. Era tão bom que reformou o bar do Quedade com a desculpa que era para seu uso pessoal e para fazer uma festa nos cinqüenta anos de sua amada.



Mas o Zé adoeceu, como acontece muito comumente aos homens bons. Parece que Deus gosta de os matar cedo. E José escondeu sua doença de todos, com o argumento, que sempre teve, de que estava tudo sob controle, era um linfomazinho. Um tumor que a minha irmã teve, que o Wilsinho teve e que, até a Dilma que quer ser presidente, ficou curada. Convenceu a todos de que era uma bobagem e se escondeu em São Paulo. Para não dar trabalho a ninguém. Para que ninguém se preocupasse com ele. Não era ele quem se preocupava com todos?



E sozinho o meu bom José se foi. Conversei com ele várias vezes. Tinha uma pulga atrás da orelha: para que tanto arsenal terapêutico para matar um tomorzinho? Mas ele dizia que era a última moda do Hospital Sírio-Libanês, que ele ia ficar bom. Da última vez que falei com José sua voz não estava mais firme, mesmo querendo me esconder que estava bem. Estava já indo embora.



Nós não soubemos cuidar do bom José. E quem vai cuidar de nós agora? O homem bom foi embora. Parece que Deus quis tirá-lo do nosso meio para ele não ficar muito cansado nessa tarefa de cuidar dos outros.



Mas eu não gostei do que Deus fez não!


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na foto, eu, Patricia e bom José (em pé, lendo, a dona da pousada Josevita Tapety). Quando estivemos em Oeiras, na nossa última viagem juntos. Foto de Moisés.

Esgalamida

Lília Diniz



Da tua boca quero
uma cuia
de beijos maduros
como quebra-jejum
dessa saudade
roedeira.

(Lília Diniz - Miolo de Pote da Cacimba de Beber - Ed. da Autora) Presente no SALIPI deste ano

o nome da bola




Chico Salles





No ano dois mil e quatorze
Acontecerá no Brasil
Mais uma Copa do Mundo
Com bola de nome sutil
A pesquisa foi profunda
E se chamará Raimunda
Um apelido gentil.

Raimunda é bem brasileira
Graciosa e redondinha
Foi chamada de pelota
Na pelada é a rainha
No gramado é a figura
Jabaculê, Tanajura
Chulipa ou Juaninha.

Raimunda é uma beleza
Um nome original
Representa a sutileza
Uma idéia genial
É popular e granfina
Alem de ser feminina
Faz o maior carnaval.

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desenho de Gervásio Castro

espiritismo





Tinha tanto símbolo bonito para escolher o da Copa 2014 no Brasil e escolheram esse. Não se parece com a posição que o Chico Xavier fazia pra baixar o santo e psicografar seus livros?

O sábio ou o sádico?

Ana Cecília Salis



Para os loucos,
e nem tanto...


Para os torturados
e também aos covardes...

Para os Heróis,
sublimes...
e a todos os bandidos

para todos nós

Diz-nos o imperativo de lugar nenhum:

Primeiro viva!
Depois descubra as razões...

Uma Janela na Procissão

Geraldo Borges



A procissão estava começando. O povo levava o Senhor Morto para a catedral. Entardecia. Nuvens no céu metamorfoseavam-se em estranhas imagens. Velhos casarões provinciais, com amplas janelas abertas, ladeavam a rua. A multidão em couro cantava Ave Maria cheia de graça. Um seminarista, alto, de perfil romano, rosto imberbe olhando para o céu avistou em uma das janelas uma mulher nua que debruçada no peitoril olhava a procissão passar. As pálpebras do seminarista tremeram, seu rosto ficou vermelho. Baixou os olhos. Viu apenas um busto da mulher com dois peitos dadivosos de bicos rosados. O resto o balcão da janela o impedia de contemplá-la inteira. Começou a imaginar a mulher. Ai ela apareceu completa. Seus olhos desceram em toda a sua totalidade. Começaram pelo umbigo, os quadris, as coxas, as pernas.



A procissão continuava. Sentia-se sufocado no meio da multidão. E com medo de ser atropelado. Parou. Criou coragem e fitou a mulher diretamente em seus olhos verdes. Ela notou a sua presença e lhe fez um sinal, quer dizer, fez o pelo sinal, desenhando uma cruz rapidamente sobre os peitos enormes. O seminarista resolveu continuar andando. Ninguém notou a sua emoção. Era como se fosse uma nuvem que estivesse se transfigurando.



De súbito saiu do meio do povo. E deixou a procissão passar. Fazer o seu caminho. Ficou só. Olhou o casarão em sua frente. E resolveu subir as escadas do velho sobrado rente à calçada. Pensou. Todo mundo está na procissão. Com certeza a mulher está sozinha, Todo mundo nesta cidade é católico. Vou conferir se isto é uma verdade absoluta, ou apenas um devaneio.



Subiu as escadas correndo. A janela era no terceiro andar. Quando chegou lá, entrou por um corredor. E num rasgo de intuição acertou o quarto. Lá estava a mulher. Nua, Rezando ao pé de um oratório. Quando ela se virou e viu o seminarista, estava terminando de dizer livrai - nos do mal Amem. Não demonstrou nenhum gesto de pudor ou surpresa. O seminarista lhe perguntou;



- Por que você não acompanhou a procissão.



O que ela respondeu com uma pergunta:



- E você por que está aqui?



- Você me chamou.



- Eu não. É engano. Eu apenas fiz o pelo sinal quando o avistei perdido no meio da multidão.



- Verdade?



- Absoluta.



- Então vou descer. Ainda dá tempo de retornar a procissão. Você não quer ir também?



- Só se for nua, despida. Assim como estou. Você me leva?



- Assim não pode. Vai destoar de todo mundo.



- A única pessoa que poderia se incomodar seria Nosso Senhor Morto. Ele não se incomoda. Também está despido.



- Mas o povo se incomoda.



- Por quê?



- Por que o povo é incomodo. Se você se vestir a gente desce junto e alcançará o Senhor Morto antes dele entrar na Catedral.





- Não. Não me vestirei. É melhor você ir embora imediatamente para a sua procissão, de onde você desertou. Tenho certeza que se você me levasse nua para lá ninguém iria notar. Apenas você notaria como de fato notou, pois não tira os olhos de meu corpo. Foi por isso que você subiu até aqui.



- Sendo assim. Adeus. Estou descendo.



- Não vá. Vamos rezar aqui mesmo na presença dos santos do oratório. Eles não vão notar nada. Tire a sua roupa.



Dito isso ouviram o toque do sino na catedral, ajoelharam-se, abraçaram – se. E na paz do espírito santo conceberam um filho.





.

A Cor da Palavra

para Salgado Maranhão

.

a palavra tem a cor da alma
misturada aos babaçuais
numa caatinga cor de tristeza
da seca
.
mas a palavra enche-se
em cores
das lembranças
manchadas pela saudade
da lágrima
de um menino se fazendo sertão
no doce e salgado Maranhão
.


(Edmar)

o encantamento de Clésio





Na madrugada da quarta feira, dia 07 de junho, Clésio se encantou. Nos fica as imagens nas fotos dos velhos discos de vinil e as músicas que não nos sai da cabeça. Poucos brasileiros sabem que o sucesso Revelação é de Clesio e seus irmãos Climério e Clodo. Para quem não sabe é só tentar cantarolar a letra abaixo:



um dia vestido

de saudade viva

faz ressucitar

casas mal vividas

camas repartidas

faz se revelar



quando a gente tenta

de toda maneira

dele se guardar

sentimento ilhado

morto, amordaçado

volta a incomodar



O Piauinauta se faz solidário na dor aos irmão Climério e Clodo.




____________________
Climério manda eu consertar. Reveelação é música de Clésio, letra de Clodo. Climério não tem nada com isso, manda me dizer...

Aquele Menino Bom

Paulo José Cunha

"...Quando a gente tenta
de toda maneira
dele se guardar
sentimento ilhado,
morto e amordaçado
volta a incomodar" -




Trecho de "Revelação", de Clodo e Clésio

Lá nos anos 70, quando nós ainda sabíamos caminhar sobre as nuvens, toda
vez que os meninos do Piauí iam lançar um disco levavam a fita demo pra
gente ouvir em primeira mão lá em casa. Fatinha fazia uns tira-gostos, a
gente bebia uma cachacinha e o bolachão estava batizado. Uma vez,
embriagados até o deslimite da embriaguez, vimos o fantasma de Torquato
Neto passando da sala pra cozinha. Outra vez a americana Ellen, que
morava no apartamento de cima e havia chegado, atraída pela algazarra,
resolveu provar cachaça e plantou banaeira no meio da sala até vir
abaixo, num estrondo que acordou metade da Asa Norte, enquanto ríamos de
sua falta de jeito com a bebida mais nacional do Brasil. Foi assim com
"São Piauí", o primeiro bolachão deles. E o "batismo" regado a cachaça
Mangueira e boa conversa se repetiu pelos demais discos, virou uma
espécie de ritual, uma simpatia pra que tudo desse certo. E dava. Até que
me separei da Fatinha. Até que eles se separaram, cada um com sua
carreira solo. Até que nos reencontramos, todos, na Fac-UnB, dando aulas,
tomando café nos intervalos, rindo de nós mesmos. Naquela época, num
artigo escrito sobre "São Piauí" para o Correio Braziliense eu me referia
ao Clésio como "aquele menino bom".


E assim foi que ele se guardou em mim: um menino bom, de riso franco,
eternamente com aquele cigarrinho no canto da boca, a barba rala, os
olhos miúdos, sagazes, atrás dos óculos. E uma sensibilidade destamanho,
expressa nas letras de simplicidade marcante. E a voz do Clésio? Pequena
e claudicante, mas ele não forçava nada, mantinha-se nos limites de suas
possibilidades (como Nara Leão).


A cada encontro ou reencontro, a efusão de alegria, a festa do abraço, a
explosão do bem-querer.


É.


O planeta ficou um tantinho menor, sem aquele menino bom.

Envelhecer

Graça Vilhena



não se envelhece

com o passar dos dias

e sim pela descoberta

de que as noites

só servem para dormir

passarinhos



poemicro

SEM PRESSA

Ando devagar
Para que as tentações possam me alcançar

(Climério Ferreira)

Quebrangulo


Juarez Montenegro


Agora que ti foste, amor primeiro,
não posso reaver o meu mundinho,
zelar por nosso afeto prazenteiro,
ter-te as mãos nas quebradas do caminho...

Se dormisse ao abrigo do escaninho,
ao sonhar, num anseio aventureiro,
ter-te-ia empacada num cantinho
como aquele do aprisco derradeiro.

Ó Quebrangulo, ó gleba que pranteio,
meu choro é da penumbra um bruxuleio
ao incêndio – saudade conflagrada...

deixei-te na lonjura incandescida...
mando-te a dor, embora repartida –
perdemos, eu e tu, a mesma amada!...


____________________________

Juarez chorando a cidade onde morou na rua da Estação...




A PERDA DA IMAGEM OU ATRAVÉS DA SIERRA DE GREDOS

Luis Horácio



“Evite a palavra ‘verdade”’, ditou ela ao autor, “substitua-a por ‘abrangente’”.



A mulher dita sua história ao escritor e faz a advertência que estimulará a criação, que abrirá caminho a uma subjetividade incomum.



A perda da imagem ou através da sierra de Gredos -575 páginas é um híbrido, novela e libelo contra a fragmentação, contra o ritmo alucinado capitalista que nos subjuga e desestimula a reflexão. Handke não é refém da trama, da história, não cria sob o conforto maniqueísta, dessa forma oxigena a literatura e foge da concepção ultrapassada de Literatura, a que exige enredo, começo, meio e fim.



Um livro na contramão das tendências literárias e culturais. Adorno, provavelmente, aplaudiria. Ao incentivar a discussão acerca do poder da imaginação e da verdade dentro da obra literária, faz lembrar de William James em O pragmatismo, 1981 - ao dizer que o verdadeiro é somente um expediente de nossa maneira de pensar . Ao falarmos de imaginação cabe acrescentar pitadas de emoção e pensamento crítico.



O autor: o austríaco Peter Handke que não prima pela coerência ao longo de sua obra literária, apesar da exaustiva repetição, e coerência e repetição estão separadas por um fio frágil ao excesso, a exigir exame minucioso a fim de evitar que a confusão se estabeleça. Já se disse várias vezes que Peter Handke escreve e reescreve o mesmo livro. Não é bem isso, mas é quase isso.Em Don Juan narrado por ele mesmo (título anterior também lançado pela editora Estação Liberdade), o personagem título aparece no jardim de um hotel e conta ao caseiro a história dos seus últimos sete dias, vividos em sete países e com sete mulheres diferentes.



Nesse A perda da imagem uma executiva, “a princesa das finanças” percorre a Sierra de Gredos, na Espanha, na narrativa uma Espanha irreal sob condições beirando o surreal; em busca de um escritor a quem contará sua história, futuro redator de sua biografia. Em Don Juan a atenção não está voltada para os fatos e sim para o tempo que eles ocupam, em A perda da imagem o importante é a cena,é o que se vê, é “a duração”, acompanhada sempre da melancolia das lembranças.



A mulher representa o poder, poder do dinheiro, do capitalismo e da tecnologia. Ela sai da sua cidade portuária do noroeste da Europa e chega a Espanha onde encontra o escritor que vive no povoado da Mancha.



Durante a travessia da Sierra de Gredos “a princesa das finanças” é levada a uma reflexão que a transformará, a executiva, agora fora do seu mundo de números, encontrará apenas pessoas que não têm dinheiro..Num determinado momento ocorrerá a perda de imagens, mas é justamente a consciência dessa perda de imagens que permitirá sua renovação.



Há um desejo de permanecer, de imortalidade.



A perda da imagem se aproxima da novela dostoiévskiana , do aspecto mais corriqueiro da obra do russo onde não se percebe aprofundamento psicológico, embora a tensão seja permanente e sutil. O texto apesar de ideologizado do início ao fim, não carrega o ranço panfletário e consegue ser lírico, consistente, a ausência de humor também merece registro, percebemos sua aversão à mimesis realista, quando esta não representa a realidade, mas dá a luz uma realidade lingüística desvinculada da real. A perda da imagem ou através da sierra de Gredos, não se alinha à literatura b.o. -boletim de ocorrência- que, infelizmente, o excesso de realismo está a produzir. E o leitor, evidentemente, a consumir.



Deixa a suspeita de uma leve inspiração em Dom Quixote, não que esta esteja restrita a região espanhola onde a história é ambientada, quem leu e, infelizmente são poucos, conhece o começo de Dom Quixote. En un lugar de la Mancha , de cuyo nombre no quiero acordarme, no há mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza em astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor.



Assim como Quixote o tema de A perda da imagem também é a literatura, em ambos pode ser entendida como sinônimo de liberdade.



Martin Fierro/ Contos Gauchescos, Dom Quixote/ A perda da imagem... Influência ou imitação? Quem sabe, crise criativa? Em ambos os casos, influência apenas. Belas influências, mas convém permanecer alerta, derivar para as outras duas possibilidades e questão de um adjetivo, uma exclamação. Se tanto.



Cervantes com Quixote e Handke com A perda da imagem apresentam personagens que se atrevem, se arriscam para buscar sentido às suas vidas, mesmo que essas atitudes permitam suspeitar de simplória idealização. A “princesa das finanças” de repente é invadida por esse idealismo, talvez por isso, por não ser algo de seu, não seja caricatural como são os idealistas, Policarpo Quaresma e Dom Quixote.



A travessia da sierra de Gredos, lugar pedregoso e serpenteante, implica na vivência de uma gama de episódios a trazer coadjuvantes estranhíssimos à executiva em busca incansável de um lugar que lhe permita imagens suaves. Conhece a Lei fundamental da imagem:criar paz.



A perda da imagem...permite vislumbrar do alto da serra de alienação onde os meios de comunicação conduzem o ser humano comprometido com a boçalidade, um precipício enorme que o aguarda. O homem vazio não flutua, as perdas pesam.



“E a coisa de que eles mais sentiriam falta no mundo, nesse mundo, uma falta dolorosa, seria a contemplação. E justamente para reconquistar a contemplação é que teriam vindo para cá, para este - a palavra assentava como uma luva - “Istmo do Entretempo”, Manso Remanso ou Barreira Funda, Mojada Honda, não por causa desta ou daquela imagem, mas somente para contemplar, pela contemplação que aparava arestas, justificava a existência, ‘mondava’, dignificava, renovava e unia. ‘Nascido para mirar, para olhar bem lá no fundo... é assim que eu quero o mundo’, é assim que surge o mundo, é assim que ele se torna mundo para mim, ou algo assim.”



Um dos pressupostos da arte, qualquer forma de arte, é o de lutar e defender a liberdade e se em Quixote essa liberdade é defendida por um suposto louco,e em A perda da imagem se dá na subversão de uma executiva do mundo das finanças; nada mais sintomático a denunciar a pasmaceira, a paralisia em que o homem urbano vive, dócil a acreditar que quanto mais eletrodomésticos, quanto mais aparelhos de última geração acumular, mais livre ele será. Ledo engano, a liberdade não é da ordem dos produtos que se pode comprar, mas daqueles que se tem a obrigação de defender.



A perda da imagem ou através da sierra de Gredos - nem velocidade tampouco lentidão, no ritmo do escrever, do ler, do caminhar. É essa a identidade, a característica,da Literatura de Peter Handke. Criemos,pois, as nossas imagens. As mais abrangentes.



Sérgio Sampaio




um dos maiores artistas brasileiros, cantor, compositor, sua vida se confunde com a sua arte, aqui já próximo a se retirar e levar seu Bloco na Rua para o além...

domingo, 4 de julho de 2010

O Piauinauta na Corôa


O Parnaíba está morrendo. O Piauinauta observa entristecido!

O Ficha Limpa Sujou


Edmar Oliveira

O chamado Projeto Ficha Limpa que propunha impedir os políticos condenados pela justiça a pleitearem nova eleição, após um intenso clamor popular, campanha pela Internet, destaque na mídia, finalmente exigiu uma resposta dos políticos. Passou na Câmara, mas empacou no Senado. Sujou! Os políticos, em causa própria, mudaram o tempo do verbo para escaparem da inelegibilidade. Onde se lia “os que tenham sido condenados”, foi aprovado, pelos ilustres senadores, na redação definitiva de “os que forem condenados”, tentando levar para o futuro o conteúdo do projeto que tiveram a obrigação de apreciar por exigência da opinião pública.

Suas Excelências, Digníssimos Filhos da Puta, usaram o velho e bom português para, no puteiro de suas falcatruas, iludir a pobre e ignara opinião pública, que no seu clamor os obrigaram a examinar a questão. Mas só aceitaram pensar na idéia no “futuramente”, nunca no “pratrásmente”, que os nobres e espertos senadores, acham que podem fazer o que querem com os eleitores, já que a memória destes é muito curta.

Eu, por mim, acho que nem precisava dessa lei, bastava aplicar a lei do mercado: tenta arranjar um emprego, mesmo que público, com a ficha suja: Necas de pitibiriba! Por que num emprego no qual o concurso é “lábia de enganar trouxa” pode? Eleito aqui tem relação com eleitos de Deus, povo eleito ou coisa assim? Não pode, não pode! Qualquer Zé Mané não pode ter emprego com ficha suja, porque qualquer Jorge Babu pode?

Entretanto parece que a esperança ainda resta na lei que rege os eleitos. É verdade que a maioria de Suas Excelências Trambiqueiros não terá sido bom aluno na escola, o que já é um motivo de tentar uma eleição para ficar bem de vida. Sendo assim, os entendidos na gramática da nossa difícil língua estão alegando que na sentença “são inelegíveis os que forem condenados” o “condenados” da frase tem função de adjetivo e o “forem” é um verbo de ligação que anuncia a ação no passado e/ou no futuro. Se assim for, os Digníssimos Canalhas podem ter caído numa armadilha da nossa língua traiçoeira, para nossa sorte.

Eu, por mim, não tenho dúvidas. Não por entender dos subterfúgios lingüísticos, mas por vivência da minha meninice lá no nordeste. Num bando de meninos que estava à toa sem fazer nada, quando um ia mijar provocava a tropa com um – “Sigam-me os que forem brasileiros”, parafraseando uma convocação atribuída a Osório na Guerra do Paraguai. E o “forem” aqui valia pra quem já era, no passado. Não se estava convocando ninguém no futuro. Embora valesse também ao pé da letra do verbo para o futuro se nascesse naquele momento mais um brasileiro.

Meus Nobres e Digníssimos Senadores:

- Concordam com o argumento os que não forem filhos da puta? Pratrásmente e prafrentemente. Falei!

Empregada Doméstica

Geraldo Borges

De repente, se eu ficasse desempregada, não me custaria arranjar um emprego. Logo iria trabalhar na cozinha de uma madame do Jóquei Clube. Sou nordestina da gema. Sei preparar pratos regionais, e outras iguarias, com todo capricho e requinte. E para falar a verdade, botando o preconceito de lado, o emprego doméstico é um bom negócio.

A classe média alta paga bem. Claro que eu vou apenas cozinhar, seria o meu ofício. Copeira, passadeira, arrumadeira, seria mão de obra para outras pessoas. Eu entendo muito bem da divisão do trabalho. A minha tarefa seria apenas dirigir um fogão. Já pensou, eu num belo uniforme, com o brasão da patroa, toca, avental. Linda. Uma tentação para o dono da casa. Seria como eles dizem, com seu eufemismo politicamente correto; uma secretária.

Tentaria o máximo possível resguardar a minha privacidade. Teria meu quarto, minha cama, meu banheiro, minha televisão. Espaço pequeno, quase uma cela. Mas tudo bem. Eu seria uma espécie de monja. Trataria o patrão e a patroa, com todo o respeito. E esperaria reciprocidade.

Vejamos algumas vantagens de ser empregada doméstica: ter onde dormir, nesses tempos em que as criaturas de Deus dormem debaixo dos viadutos, em cima dos jornais; café, almoço, janta, merenda, não pagar luz, nem água. E, no final do mês, receber o seu salário líquido, já descontado os encargos sociais.

Cozinhar não é tarefa para qualquer um. Não é só botar uma panela de feijão, com água e sal, no fogo, fritar um ovo, assar um bife. Muita gente desvalida sai do interior, não sabe fazer nada, não acerta um molho. Não tem gosto para apreciar um tempero, tem a mão pesada para salgar. Vive de mau humor, quebra prato, copo, queima o arroz, um fiasco. São pessoas que desclassificam a confraria dos cozinheiros. Pensam que só porque são mulheres sabem cozinhar, como se cozinhar fosse ter filhos. Engano. Os melhores cozinheiros são homens, finos cavalheiros. E como a culinária está cada vez mais sofisticada, já tem até Faculdades para formar bons cozinheiros. E não é fácil encontrar uma vaga.

Mas, como eu estava dizendo, se eu ficar desempregada, logo estarei trabalhando. Pois não tenho preconceito em descer de minha posição de recepcionista. O que é uma recepcionista? Não é também uma criada, dentro de seu uniforme. Eu já fui aeromoça. Já estive lá em cima, no alto. E o que é uma aeromoça senão uma criatura que trabalha na cozinha de um avião, e serve aos passageiros, com as mãos delicadas; um sorriso de seja bem vindo a bordo. E ainda por cima a maioria fala inglês. Eu também sei falar inglês. E não é porque vou trabalhar em uma cozinha que uma madame vai me rebaixar. Todo trabalho é dignificante. Mesmo sendo uma relação de servo e senhor.

Existem muitas cozinheiras que se deram bem com os patrões. Mas isto é outra literatura, segredo de família. Promiscuidade. Estou aqui para reconhecer que apesar da falta de emprego na praça, é uma boa saída trabalhar como empregada doméstica, seja em casa de branco, de pardo ou de negro, nesse país. Garanto que uma cozinheira competente não vai passar necessidade.

A cozinha é um grande laboratório. Na arquitetura das casas modernas, ganhou o lugar da frente. A culinária é uma arte maior, com ela começamos o nosso dia, sem ela não há festa, nem confraternização. O mundo está repleto de revistas tratando da saúde e do alimento, receitas de dar água na boca. O bom cozinheiro tem que possuir precisão no corte da carne, para não estragar as fibras, atenção na escolha das verduras, conhecer o segredo do cru e do cozido, ter perícia e delicadeza para tratar os temperos, muito coragem para cortar um pescoço de uma galinha, caso seja preciso, ou embebedar e sangrar um peru para o Natal.

Eu estou pronta para isso, casa seja necessário. Pois a vida é cruel. Bom. Ainda bem que meu emprego, por enquanto, está garantido. Mas se eu tiver, de encarar profissionalmente uma cozinha, qualquer dia desses, vou encarar com tranqüilidade.

Quando

Ana Cecília Salis


Quando, e...

Sempre que um riso quieto
e maroto...
me denuncia o canto da boca,

É que estou pensando em você...

VOCÊ É UM HOMEM OU UM RATO?

1000TON

Sabem quem, pela primeira vez, dirigiu essa pergunta aos seus pares? Sim, muitos acertaram. Foi ele mesmo, o rato.

Os roedores, de há muito, sacaram que o homem, além de covarde, não é nada confiável. E de tão crápula que é, subjuga o próprio homem.

Observando o comportamento humano, fizeram questão absoluta de não se misturar com essa gentalha e considerá-los a pior espécie de mamífero existente na face da terra.





Rato é solidário com rato, é leal, vive em perfeita harmonia com a sua comunidade. Fica escondido, sim, nos becos, nas sarjetas, é verdade, mas isso foi condição imposta pelos humanos.

Rato não gosta de esgoto não, rato é inimigo da sujeira. Se pudesse viveria em ambientes limpos, tomaria sol e banho todo dia, sua alimentação seria sadia, à base de frutas, vegetais, legumes, cereais e tudo de bom que a natureza oferecesse. Mas o ser humano não permite.

A exclusão do rato deveu-se à preferência dos humanos pelas ratazanas, essas sim, as verdadeiras parceiras no mundo da troca que o homem inventou.

Nesse mundo deles, quem tem muito para trocar se dá bem, quem só tem o trabalho para oferecer, e nada para trocar, se estrepa, vive sendo explorado.





Nosso sistema de trocas é bem honesto: trocamos um pedaço de queijo por fios de barbante, para melhorar nosso ninho. Um pouco de palha macia, para servir de cama, por um pedaço de toucinho, e assim por diante.

Os nossos algozes criaram o tal de dinheiro e outros “papéis” de igual ou mais valor, e aí entram as ratazanas que sabem, como ninguém, fazê-lo multiplicar-se e armazenar riquezas incalculáveis.

Na outra ponta da bandidagem estão os políticos, ratazanas, que se alimentam daquele dinheiro sujo, utilizando-se das artimanhas mais sórdidas para ludibriar a maioria, que não têm dinheiro.





Nós, roedores, furtamos para sobreviver, trabalhamos na calada da noite para buscar nosso sustento. E vocês sabiam? Encontramos muitos humanos nos lixos, figuras maltrapilhas que disputam restos de comida conosco, é sim!

Famílias inteiras às vezes; mulher, velho, criança, muita gente mesmo, chafurda na imundície para não morrer de fome... E tem mais. Esses miseráveis moram tão mal quanto os nossos irmãos, em barracos, palafitas, casebres insalubres, onde só tem sujeira e podridão em volta.

Se o humano tem dinheiro, domina a tecnologia, como pode tratar assim outros humanos iguais a eles?!...

Nossos sábios ratocientistas e rantropólogos já fizeram uma fantástica descoberta na cadeia da evolução das espécies: o homem é o rato que não deu certo. É estarrecedor não é? Mas é a pura verdade!

E vai chegar um dia em que nós, ratos, mostraremos ao mundo e a todos os homens de bem deste planeta, quem realmente somos:

Fazemos parte, com muito orgulho, de uma comunidade de seres muito honrados, quero dizer, honratos.

momento lírico

POEMA ÁRABE - MUITO LINDO!
(Autor Desconhecido)

سب الدستور المعدل عام أصبحت إسبانيا دولة قانون إجتماعية و ديمقراطية
تح نظام ملكي برلماني. الملك منصبه فخري و رن و واحدئيس الوزراء ه
الحاكم الفعلي للبلاد. البرلمان الإسباني مقسم الى مجلسين واحد للأعيا
عدد أعضاء يبل عين و واحد للنواب و عدد نتائج الانتخابات نائب. نتائج

الانتخابات الأخير مباشرة من أصبحت الشعبسنوات، بينما كل سنوات، بينما
يعين عنتخاباتضو من مجلس ا الشعب أيضاً. رئيس الوزراء و الوزراءيتم ماعية

و تعيينهمللأعيان

Quase chorei
no trecho que diz: قبل البرلمان اعتماداً على نتائج

__________________________
garimpado por Netto de Deus (todo mundo diz que é filho, como ele é de Campo Maior é neto...)

Notre Dame



Sou Quasímodo
Alijado e corcunda
Do teu olhar de esmeralda
.
Mas tenho quase um modo
de te fazer feliz
.
(edmar)




DA PRÓXIMA VEZ QUE EU FOR AO PIAUÍ (CIDADES QUE ME GUARDAM)

Aos velhos amigos Guilherme e Inácio

Ao Edmar, piauinauta, ouvidor de vozes

Aos novos amigos da Academia Onírica – poesia tarja preta

*

Da próxima vez que eu for ao Piauí, quero ver o Guilherme

pra falar do pão de queijo do seu Cornélio

pra falar de política, All Star e Hang Ten

*

Da próxima vez que eu for ao Piauí, quero ver o Inácio

pra falar de sorvete de bacuri, Gelatti, Sorvetão e Maguary

pra falar do Setembro Rock, Cerol na Linha, Nós & Elis

*

Da próxima vez que eu for ao Piauí, quero deitar poemas ácidos

do Cine Rex até Timon

(me desculpem aquele trambolho, que é o pendurado metrô!)

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Lembrete: Joca, tem outros lugares, becos e bares que carecem de memória

na tristeresina, bandeirosamente pendurados no ar.

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Da próxima vez que eu for ao Piauí, não posso trazer flores do cerrado:

cerrado não há.

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Marcos Freitas

http://emversoeprosa.blogspot.com/

durmo sobre o poema





Keula Araújo





Durmo sobre o poema



palavra jovem e



semovente



que acabo de parir.



Descanso sobre a terra



que recolho,



sobre o tempo



que enterro



com os escombros



de meu altar.





Durmo sobre o túmulo



de minha fé



e não sei se acordo.

OBESIDADE E DESNUTRIÇÃO

Edmar Oliveira
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A lógica alimentar de nossos tempos atende à demanda das grandes corporações econômicas de produtos alimentícios e não as reais necessidades nutricionais dos habitantes do planeta. Como mercadoria os alimentos atendem a uma demanda alem das necessidades de consumidores atingidos pela propaganda, que comem muito mais que o necessário, enquanto os excluídos passam fome e são atingidos pela desnutrição endêmica.

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Os incluídos, por outro lado, são vítimas do próprio consumo desnecessário gerando uma obesidade também endêmica. A humanidade vive a “síndrome do gordo e o magro”, consequência da distribuição desigual dos alimentos. Os povos desenvolvidos são vítimas da obesidade, os subdesenvolvidos sofrem de desnutrição. E o pior, a medida do desenvolvimento é dada pelo índice de obesos como problema de saúde. E os programas de prevenção estimulam os exercícios para a perda de calorias, a ingesta de alimentos saudáveis (mais caros e roubados de todas as calorias que vão para outros produtos comerciais. Por exemplo, a gordura do leite desnatado vai para a manteiga, o queijo, que você, sendo um consumidor incluído, vai comer do mesmo jeito, gastando mais e consumindo o desnecessário). Não se fazem programas preventivos apenas sugerindo que se coma o necessário, deixando o excesso ao alcance de quem não pode consumir.

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Mercadorias são para a venda. As bananas e papaias de onde moram os desnutridos são proibidos de amadurecerem quimicamente e são viajados para o apetite dos consumidores lá do outro lado do mundo. Já repararam que são bonitos e não têm gosto da fruta real? Mangas enormes, pela força da genética, não têm o sabor apetitoso da manguita do fundo do quintal da minha infância.

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Os sucrilhos de milho do café da manhã não se parecem em nada ao saboroso cuscuz de milho das manhãs nordestinas. O cuscuz era a necessidade saborosa. O sucrilho, atolado no açúcar para colocar um sabor onde já não tem no milho velho e processado e encarecido com vitaminas e sais minerais que custam mais, o desnecessário que engorda. A falta do cuzcuz, por conta do sucrilho, a desnutrição...

Climério Ferreira

GALO NA CABEÇA
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O galo amanheceu

quando a manhã mineira

acordou suas montanhas
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(Climério Ferreira)

QUE VENHA A SECA


Autor: Marcos Airton de Sousa Freitas

ISBN: 8578106601 ISBN-13: 9788578106607
Brochura, 1ª Edição – 2010, 413 pág. Preço R$ 80,00

O autor não se propõe a lutar quixotescamente contra a seca e derrotá-la, mas sim compreender os fenômenos envolvidos nos diversos tipos de seca, conjeturar sua ocorrência, sua duração e sua intensidade, e estabelecer critérios para que sejam tomadas decisões realistas. Trata-se de um livro complementar à cadeira de Hidrologia, para ser utilizado principalmente pelos cursos que têm em vista a formação de hidrólogos que vivem e trabalham nas regiões assoladas pelas secas, constituindo-se em uma fonte segura de pesquisa sobre o tema. Embora haja interdependência entre os capítulos, eles podem, até certo ponto, ser lidos independentemente uns dos outros, fazendo com que o livro possa ser também usado como manual de procedimentos por gestores, administradores públicos e demais tomadores de decisão, uma vez que cada capítulo possui sua própria lista bibliográfica.

Onde adquirir o livro:

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=9044208&sid=97511819712322634963904325&k5=D11FF6E&uid=

FREITAS, MARCOS

Marcos Freitas tem Pós-graduação em Engenharia Civil - Dipl. Ing. - Universität Hannover (1995). Mestrado em Engenharia Civil (UFC, 1991). Graduação em Engenharia Civil (UFPI, 1985). Especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas - ANA, desde 2001. Professor Universitário, desde 1990 (atualmente licenciado). Engenheiro Civil/Consultor (1985-2000). Coordenador e professor de diversos cursos de Pós-graduação (Engenharia de Software; Gestão de Recursos Hídricos; Gestão Ambiental). Mais de 100 publicações técnico-científicas em periódicos e anais de simpósios nacionais e internacionais e mais de 40 livros e capítulos de livros, técnicos e de literatura, em autoria e co-autoria, em 6 idiomas. Aprovado em 2º lugar para o cargo de Especialista em Infraestrutura Sênior – Recursos Hídricos, do MPOG. Participou da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos - PNRH, do Plano da Bacia do rio São Francisco - PDRHSF, do GEO Brasil Recursos Hídricos (PNUD), GEF São Francisco, Outorga do Sistema Cantareira (SP), dentre outros. Fundador e Ex-Diretor Técnico-Científico da Associação dos Servidores da Agência Nacional de Águas - ASÁGUAS. Fundador e Ex-Conselheiro da Associação Nacional dos Especialistas em Regulação - ANER. Autor da ideia da criação da Escola Nacional de Regulação. Sócio da Associação Brasileira de Recursos Hídricos - ABRH. Fundador da Associação Piauiense de Astronomia – APA (1982). Militante estudantil e sindical no início da década de 80. Poeta. Contista. Letrista. Músico amador. Diretor do Sindicato de Escritores do DF. Filiado à Associação Nacional de Escritores - ANE e à União Brasileira de Escritores - UBE.

Á mesa com Saramago



Paulo José Cunha


Quando o jornalista Lustosa da Costa me ligou com o convite para ir jantar em sua casa na companhia de José Saramago, não acreditei que era verdade. Mas como já conheço esse cearense há algumas dezenas de anos e sei de seu atrevimento, terminei por acreditar que ele iria mesmo receber o português que havia me impressionado fortemente quando concluí a leitura de Jangada de Pedra.

Com a ironia afiada, sua marca registrada, Lustosa provocou: - Preciso de gente inteligente para entreter o homem, Bozó. E tu és metido a sabido, bicho. Trata de vir, não vai falhar, heim?

Que enrascada. Apesar da tentação dos camarões e dos líquidos preciosos que Lustosa e Verônica não economizam quando recebem amigos, objetei que, de Saramago, só havia lido a Jangada. E gostara (apesar das frases compriiiidas e da ousadia da falta de pontuação). - Pois olha, Bozó, trata de ler e logo O Ano da Morte de Ricardo Reis e o que mais encontrar por aí, porque vou te colocar na mesa do homem. E vais ter de arrumar assunto pra conversar com ele, ordenou.

Cá comigo, pensei: Saramago é comunista, logo há de gostar de falar sobre a obra de outro comunista, o colombiano Gabriel García Márquez. E essa eu conheço bem, li tudo dele. Se o problema é papo, pode deixar que eu resolvo.

Lustosa havia conhecido Saramago numa de suas viagens à Europa, não me lembro mais em que circunstância, acho que num evento na embaixada do Brasil em Portugal. Atrevido como é, convidara o português para jantar, quando voltasse a Brasília, onde já havia estado algumas vezes. Saramago não se fez de rogado. Ao vir receber o prêmio Luís de Camões, cobrou de Lustosa e o jantar foi agendado. Naquela noite, acomodaram-no entre mim e a Verônica (foto). Lustosa, agitado como sempre, pulava de mesa em mesa.

Noite inesquecível. Até porque o receio inicial de conversar com um intelectual do porte de Saramago (que alguns anos depois conquistaria o Nobel) e cometer alguma gafe logo se desvaneceu diante de sua simpatia e franqueza. Franqueza que quase nos mata de rir quando contou, entre generosas taças de vinho, da overdose de Juscelino que havia tido ao se hospedar no Kubitscheck Plaza, em Brasília, onde a figura do construtor da Capital é reverenciada em todos os ambientes. “Pois nunca na vida convivi tanto com um homem como tenho convivido com vosso Juscelino. Durmo com ele e acordo com ele. Encontro-o à entrada, no hall, no desjejum, em toda parte. Até quando estou nu já me deparei com ele, em plena casa de banhos”, dizia, às gargalhadas. Uma senhora que se sentava à nossa mesa não gostou. Quando ele saiu para ir à “casa de banhos”, mostrou-se incomodada ao vê-lo “zombando” da figura de Juscelino. Deu-me pena de ela não perceber que Saramago queria apenas um motivo pra deixar mais descontraída a conversa com quem provavelmente nunca lera uma página de suas obras. Pedi-lhe que relevasse, não havia zombaria, só brincadeira pra descontrair o ambiente. Não adiantou. Retirou-se antes que ele retornasse. A conversa correu. Revelou que o que desejava mesmo era ser um andarilho, pra espiar em detalhes todas as bibocas do mundo. E depois contar tudo o que visse (nosso jantar foi terminar num de seus livros de viagens). Paradoxalmente, disse ter preguiça de viajar. Confessou-se fã da arquitetura de Brasília. Mas, novamente às gargalhadas, perguntou se quando Brasília havia sido construída não haviam inventado tintas de outras cores. “Ora, pois! Tudo é branco por aqui! Quando encontrar Oscar (Niemeyer) vou indagar-lhe se não gosta de cores”.

Não sei se indagou. Certo é que tivemos uma noite memorável. E nem precisei citar o nome de Gabriel García Márquez...

o santo nome em vão escondido



garimpado no espaço livre da internet por Paulo José Cunha. Há controvérsias: nessa prece eu creio...

Túnel do Tempo









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Edmar, essa foto é do tempo em que estudei com Edna, sua irmã, lá no Engenheiro Sampaio. a ditadura es´tava comendo, mas a gente não percebia tanto, éramos muito jovens; apesar do medo que tinhamos ao ouvir que não se podia cuspir na bandeira brasileira, senão seríamos - já pensou, aquilo nas cabeças das crianças!. e o fundo musical era a música de Dom e Ravel...'Eu te amo meu Brasil... Ninguém segura a juventude do Brasil" o lanche era um tal de "pau de índio" e na embalagem tinha um desenho de duas mãos se comprimentando: uma a ameriacana e a outra a tupiniquim. abraços transneoliberais.

(Paulo Tabatinga)

e o único masculino da foto acho que é o pe. Raimundo José...