domingo, 24 de agosto de 2014

DESLIzes da memória


(Edmar Oliveira)
 
O senso comum acredita que existem pessoas com uma boa memória, capazes de reproduzir fielmente fatos há muito acontecidos. Eu, garanto, não tenho o que chamam “boa memória” e não consigo gravar coisas nas que não tenho interesse, até que tenham me acontecido ainda agora. Minha memória é seletiva e afetiva ao extremo, confesso. Mas creio que as pessoas “de boa memória” sejam melhores que eu no trato com as lembranças, mas não lhes dou carta em branco. Tive até aborrecimentos por tentar separar lembranças de fatos em quem se achava poder retratar o passado tal como tivesse acontecido. O velho pensador alemão Karl Jaspers criou uma psicologia da memória para aprofundar o assunto. Mas juro que vou ficar nas abobrinhas para comentar um acontecimento de momento.

Um vídeo, que demorou ser encontrado por estar ainda rodando no horário de verão (o que confundiu os peritos), mostrou a queda do avião em Santos, que levava o candidato Eduardo Campos, embicando de cima pra baixo, desgovernado e rápido, passando por trás de dois prédios para provocar, na sequência, um clarão e uma nuvem de fumaça. Essa filmagem ocasional faz supor um erro do piloto no processo de arremeter a aeronave: ou provocando em alta velocidade – por retraimento dos flaps – um embicamento do avião e descontrole; ou não alcançando uma velocidade suficiente que evitasse uma queda por estol. Na primeira hipótese foi encontrada uma nota de pé de página no rodapé do manual alertando que se os flats fossem recolhidos com a velocidade acima de 200 nós, a aeronave podia perder a estabilidade e embicar. Na segunda hipótese, todos sabem que o que mantém o avião em voo é a velocidade: se for baixa, que não compense a força de gravidade o avião cai em estolagem (neologismo para perda de sustentação). De qualquer modo nossos pilotos estão muito bem preparados para voos normais. Em situações complicadas o raciocínio do treinamento é testado na velocidade do jato. Uma nota de pé de página pode ser esquecida e/ou a inversão dos movimentos entre tentativa de pouso e arremetimento pode ser demorada. Não os culpo, é do humano.

Pois bem, no vídeo encontrado o avião cai límpido, cortando o céu, sem explosões, sem qualquer tentativa (de pilotagem) para evitar os prédios. Em poucos segundos o impacto da explosão e da nuvem de fumaça. Como explicar o depoimento de tantas testemunhas oculares que juram ter visto uma explosão no ar e outras que supunham que o piloto desviou dos prédios para evitar um acidente de grandes proporções?

Memória seletiva seria juntar o nosso conhecimento anterior – de que avião explode – para ver uma bola de fogo no avião, que não existiu. Memória afetiva seria desconfiar anteriormente de uma conspiração para ver na bola de fogo o suposto atentado. Altruísmo seria atribuir ao piloto morto a intenção de desviar a aeronave para evitar uma tragédia maior. Note-se aqui que o altruísmo é muito mais atribuído aos mortos. E eu me admiro de quanto a memória humana deforma a realidade!

Por aceitar essas experiências coletivas, candidamente não confio na minha memória. E, vez por outra, desconfio de quem se vangloria de afirmar peremptoriamente que a história foi assim e não de outro jeito!

 

questão de preferência


Prefiro não saber de tudo
As palavras podem desnudar os segredos
Eu gosto dos mistérios contidos nas pedras
Dos sonhos naufragados nos riachos 
Do canto dos pássaros dizendo coisas sem decifração
Do apelo dos abismos aos suicídios
Há coisas que existem para o olvido
Tenhamos cuidado com as palavras do poema
Elas podem desmascarar o desespero
Que dorme sob a proteção das matas das campinas
Escondido pelas curvas dos caminhos
Prefiro as paixões violentas que repousam em minha calma
.
(Climério Ferreira)

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folha desenhada de Gabriel Archanjo
 

DE SANTOS E POLÍTICOS


(Edmar Oliveira)
 
Getúlio Vargas estava quase inviabilizado politicamente e desmoralizava-se frente a metralhadora giratória do Corvo Carlos Lacerda, um beletrista competente. A direita nunca espera eleição se não tem chance de ganhar. É golpista por natureza. Intriguenta, sempre bate na corrupção, essa praga que acompanha qualquer governo, o dela também – quase sempre muito mais. O pavio curto do Anjo Negro, Gregório Fortunato, contrata uns aloprados para matar o Corvo. O atentado da Tonelero, como ficou conhecido por ter ocorrido na Rua Tonelero em Copacabana, mata Rubens Vaz – guarda-costas de Lacerda – e fere o pé do Corvo. De muletas e com o pé usado para denunciar um “covarde atentado”[1], Lacerda ganha força na oposição a Getúlio. O presidente perde todo o apoio político e vai caindo em desgraça na opinião pública.

Sairia do Palácio como um cachorro vadio com o rabo entre as pernas. O suicídio o fez sair da vida para entrar na história, como diz a sua carta-testamento, se verdadeira for. Resumo da ópera: depois de morto Getúlio provoca uma comoção popular e o pai dos pobres se torna um verdadeiro santo para fazer milagres nas preces de cada brasileiro getulista daí pra frente; provoca o milagre de recuperar o prestígio político, entrando na história como mártir; e ainda consegue o milagre político de adiar o golpe da direita por dez anos.

Não tem como não fazer um paralelo atual: é inevitável dizer que um desconhecido político do nordeste se tornou um grande líder, capaz de redimir a nação, depois de sua trágica morte. Mas não é esse o paralelo que me interessa, mas a santidade. O paralelo que aqui me interessa é com os santos, quando é exigido algum milagre ainda em vida, mas reconhecido depois de morto. E virando santo – depois de morto – passa a fazer os milagres que lhe garantem o prestígio e a nobreza do título.

Um político, semelhante ao santo, pode ficar santificado como personagem histórico depois da morte. João Pessoa, que mesmo sabido agora foi vítima de um crime passional, provocou a Revolução de 30 e deu seu feio nome à bela capital da Paraíba. O algoz da guerra do Vietnã virou um santo homem depois de seu assassinato em Dallas. Guevara virou referência até para quem não sabe nada de sua história. JK foi misteriosamente acidentado como um desenvolvimentista. O Velho Ulisses Guimarães encantou-se na baia de Angra para virar o responsável pela Constituição de 1988. Tancredo faria o melhor governo do mundo se não morresse no Hospital de Base com a faixa presidencial no peito. E por aí vai a lista dos santificados que morreram tragicamente. Quanto mais trágico, melhor figura humana era o santo.

Triste é que tem uns que recusam a santidade terminantemente: Sarney é o representante máximo destes mortos-vivos. Pode procurar em volta que há semelhantes.

Agora, é impressionante como a tragédia faz os santos e os bons políticos.




[1] Alguns historiadores veem nas pistas evidentes deixadas no atentado o dedo da oposição na trama para acuar Getúlio.

Cidadão Peixoto por 1000TON


Tipos de Copacabana - O velhinho

(Leo Almeida)

Ele passa numa elegância antiga, orgulhoso. Sabe-se lá como armou-se de coragem e enfrentou as dores na coluna, no joelho direito e na bacia. Ainda posso e devo, deve ter pensado quando saiu de casa. Munido de toda a resistência e auto-estima, caminhou por Nossa Senhora de Copacabana sem o auxílio da bengala. Senhor de si, forçando a espinha contra o céu, o olhar no horizonte de carros e gente, desfilou como há muito não fazia. Empertigado, vi...ril. Assim ele se enxergou naquele passeio no finalzinho da tarde. De longe fiquei observando o que se passava dentro dele, a alegria quase infantil de sentir-se jovem e forte, apesar das oito décadas de uso. Por fora, não via o que todos constatávamos, mancava tristemente, passos trôpegos, lentos, arrastados. Por dentro, julgava-se, um homem ainda jovem. Por fora... Era evidente que se forçava a caminhar naquele passo sem escora, sem apoio, mas isso não importava, havia um grande descompasso entre sua visão das coisas e as próprias coisas. Ele se via imbatível. Nós o víamos tão frágil. Na certa, relembrava antigos passos numa noite morna de um dezembro, em fins de 1950, cigarro no bico, perfume no pescoço, uma bossa novíssima na vitrola de algum apartamento, e a imagem do Cristo, de braços abertos na esquina da Siqueira Campos com a Toneleiros, convidando para a vida. Hoje, passeando com meu cão, percebi sua presença orgulhosa. Passou claudicante, tentando conter a tosse, pulmões fracos e distantes da nicotina. Um vendedor de discos piratas tocava um funk escabroso na calçada. Ele não ouviu, pois o aparelho auditivo já não era de grande valia. Cruzou a Barata Ribeiro, no sinal em frente ao Pavão Azul, e sumiu lentamente num pequeno edifício na Hilário de Gouveia. Nessa noite, dormiu feliz como há muito não dormia e nem lembrou que o mesmo Cristo, de braços abertos, parecia convidá-lo para curtir a lua.

Teresina

 


 
sobre a ponte do Poti
a cidade vê de frente
seu retrato vertical
 
para trás ficaram praças
meninos de bicicletas
feiras, danças e cinemas
que ensinavam a namorar
 
para muito além da ponte
em um canto do futuro
os meninos que hoje crescem
também guardarão no peito
sua cidade esquecida
que dançou em outro tempo
com sua saia estaiada
sobre o rio que secou
 
(Graça Vilhena)
 

Eduardo


Mês de agosto
Morreu Eduardo Campos
Grande desgosto
Acendam-se os pirilampos. 
.
Mês de agosto
Sombra de um avejão
Um voo deposto
Explodiu no chão. 
.
Mês de agosto
O mês de Augusto
Eduardo está morto 
.
Os idos de agosto
Isso não é justo
Raios de um sol posto.
 
(Geraldo Borges)

"caiu na rede é peixe" por Gervásio


dois rios


há em minha terra dois rios
silenciosos

um
estendido em verde tapete de aguapé
onde não mais trafegam canoas
apenas diminutas criaturas buscando seu pasto

outro
árido tapete árabe
onde todos caminham acima de sua face

______________
Adriano Lobão Aragão em As cinzas as palavras (dEsEnrEdoS, 2014, Teresina)

paralelo


PARALELO
            para Paulo Tabatinga

Pra cada sonho, dona,
uma queda de vassoura.
Pra imagem se entregar,
minha senhora, um poeta.
____________
Ricardo Batista em passeio público (FMC, Teresina 2013)




domingo, 10 de agosto de 2014

um sonho de paz pode virar pesadelo...


(Edmar Oliveira)
 
Bem Gurion, principal fundador do Estado de Israel, certa vez comentou algo assim: “Não faz sentido que os palestinos deixem de brigar pela terra que tomamos deles. Quem nos deu esta terra foi Deus, mas os palestinos não acreditam no nosso Deus”.

Portanto é uma guerra difícil de ter fim, baseada numa fé monoteísta que exclui o deus do adversário. Alá e Jeová vão travar esta batalha pelos restos dos seus dias com uma política de ódio que dispensa qualquer tentativa de paz. E como os deuses monoteístas são eternos, criadores do céu e da terra, só a destruição de um povo pelo outro pode matar o seu deus. Israel vem provocando uma política de extermínio para destruir Alá. Jeová desistiu de Davi e sua atiradeira. Preferiu armar seu exército com mísseis capazes de destruir as populações palestinas na versão impiedosa de um Golias que tomou a estrela de Davi para expulsar os palestinos da terra que também é deles. Cada vez é mais difícil a Palestina existir. Duas pátrias num só país é uma tentativa fracassada de tentar a paz entre os dois povos.

Era bom relembrarmos o surgimento do Estado de Israel pela ONU, em 1948. O nosso embaixador Graça Aranha teve uma atuação importante na definição do Estado de Israel. Mesmo que o representante do governo israelita chame o Brasil de anão diplomático, esse anão participou lá na criação do Estado do povo hebreu na Palestina. Israel reivindicava o antes na história do livro sagrado. A terra que agora era dos árabes fora a terra dos ancestrais dos hebreus. Mas a solução salomônica, da qual Aranha participou como principal articulador, não deu certo.  

Há uma lenda, muito corrente no sertão, que a herança branca dos nordestinos veio dos cristãos novos, conversão obrigatória dos hebreus para escapar das fogueiras da inquisição. Esse parentesco poderia ter feito o maranhense Graça Aranha, numa malandragem meio sem graça, ter oferecido o nordeste para abrigar o povo hebreu. 

Vocês imaginam Israel no sertão? Seria uma festa: a irrigação do semiárido diminuiria a devastação da seca endêmica, os kibutz israelitas tornariam o sertão num País de São Saruê  do poeta de cordel. As terras improdutivas do cerrado viçariam nas mãos dos cientistas de Israel, o verde jamais abandonaria a caatinga e a flor do mandacaru seria mais um ornamento e não apenas anunciaria a salvação do gado comendo sua palma de espinhas. A Asa Branca não seria o agouro da seca e o sertanejo jamais mataria a Fogo-Pagô pra comer avoante. O calango não precisava bater a cabeça com medo de ser morto pela baladeira do menino. Os rios secos seriam perenes como o Jordão e era possível um Jardim Suspenso no Seridó. A barragem de Paulo Afonso alargaria a represa como o Mar da Galiléia.

O Estado de Israel tomaria o Ceará, Pernambuco e Paraíba como centro da pátria sionista, o sertão do Seridó seria um verde coberto de manás do Deus de Israel.

Mas a nova pátria abrigaria os sertanejos com cara de palestinos e nomes judaicos ou os expulsaria para uma faixa de Gaza no Piauí? Os Palestinos também não são irmãos dos hebreus, todos filhos de Noé?

Vamos parar com o sonho do Graça Aranha. Ben Gurion tinha razão quando disse que a terra de Israel foi dada por deus com a geografia que povoa o velho testamento. Eles que briguem por lá. E eu vou acabar com esse sonho maluco do Piauí ser a Faixa de Gaza com suas consequências...
___________
ilustração: montagem com um desenho de Gervásio e um tanque no deserto


 

MULHER



Depilo tuas vestes íntimas
obcecado pelo mergulho
em teu luminoso abismo. 
*
Há consenso e quietude em tudo. No
entanto há em mim
uma urgência atávica: 
*
febril, como urgência da vida
feroz, como o decreto da morte. 
*
E mergulho amparado
em minha certeza inútil; a mesma
do meu pai e de todos
os meus ancestres; a mesma
dos que morreram e morrerão em ti
- alegremente -
                            desde Adão
 
______________
Salgado Maranhão em Mapa da Tribo (7 letras, 2013, RJ), pg. 57
foto: Paulo Tabatinga



O homem que se espriguiçava


(Geraldo Borges)
 
Espreguiçou-se.  O dia vinha amanhecendo  lá fora caía  um dilúvio.  Gostaria de levantar-se. E tomar um banho. O que fazia sempre quando acordava. Mas achou tão bom  se esticar que resolveu se espreguiçar  de novo. O corpo estalou e ele começou a sentir-se flutuando,

Saiu pelo telhado, e se dissolveu na chuva. De repente tinha virado um pássaro e estava voando por céus desconhecidos. Logo depois já não era mais um pássaro e sim um peixe nas profundezas do oceano. Suas lembranças não existiam, havia só o momento. Virou  tubarão. Virou uma águia circulando no alto de uma montanha E assim de transformação em transformação passou por todos os reinos da natureza. Sentiu-se  fossilizado em águas vivas, sentiu-se  uma serpente rastejando e subindo nas árvores de uma floresta primitiva, sentiu o sabor das maças. Tudo isso ao som da chuva  que batia no telhado.

De repente encontrou-se na pele de um macaco peludo pulando das arvores e virando homem, lutando com feras, bebendo sangue. E se iluminando na tocha de uma fogueira.

Espreguiçou-se de novo e deu um urra. Gritou alto. Foi quando sua mulher ao lado da cama, preocupada com os seus gritos animalescos, o acordou. Havia parado de chover. Ele se aconchegou ao lado dela e adormeceu de novo. Novamente sonhou. Mais desta vez sentiu-se uma semente como  uma minúscula raiz encravada em uma gruta úmida e esponjosa.

 

Cidadão Peixôto por 1000TON


HOMENS INCAPAZES DE MATAR CACHORROS


(Edmar Oliveira)
 
Depois de devorar as quase 600 páginas de “O Homem Que Amava os Cachorros” do Leonardo Padula (Boitempo Editorial, SP, 2013) fiquei me perguntando o que fizera do livro um best seller político mundial.

Padura, autor de livros policiais, investiga o assassinado de Trotsky a partir da biografia de Isaac Deutscher (a trilogia: O profeta armado, o profeta desarmado, o profeta banido), mas ao mesmo tempo (com capítulos quase intercalados) nos faz conhecer os detalhes da preparação do assassino a partir da biografia “Ramón Mercader, mi Hermano” (Luiz Mercader, Germán Sánchez e Rafael Llanos, Editora Espasa Calpe, Espanha, 1990). O verdadeiro personagem fictício do romance, Ivan – um escritor cubano fracassado, quem encontra numa praia da ilha o homem que amava os cachorros, perde importância na trama. Apenas serve para destacar a ilusão da revolução dentro de Cuba depois que a União Soviética sucumbiu e o muro de Berlim selou a queda do comunismo como ideologia que se adaptou ao modo de produção capitalista nos novos (velhos) tempos.

A mim pareceu que a história real era mais instigante do que um romance. Tanto que Frei Betto, na orelha do livro, adverte que o que se vai ler é e não é uma ficção. Diria mais: que a trama real dispensa a fantasia, que com competência o autor inventa diálogos, gestos, sentimentos nos personagens reais (que se não aconteceram aparecem como possíveis). Na maneira ágil da escrita de Padura, no saber construir uma tensão de suspense reside o sucesso do romance que pode ser lido num fôlego, apesar do tamanho.

Pelo personagem de Trotsky conhecemos que o fracasso da Revolução estava no seu impiedoso executor, Stalin. Compreendemos a defesa da “revolução permanente” do profeta banido e desarmado. Acompanhando Mercader vemos as entranhas de uma Revolução sustentada por expurgos e perseguição aos seus críticos, para manter a revolução num só país. Esses dois personagens reais mantém a trama viva nas palavras e gestos romanescos inventados por Padula, não perdendo o fato real, apesar dos enfeites literários. Esperava mais do personagem fictício Ivan, que poderia ter ganho mais de “auto-ficção” do autor com os problemas da ilha.

Mas para mim, que fui um simpatizante de Trotsky e devorei toda sua literatura e as biografias e autobiografias, o romance de Padura não era tão suspense e não explicava ter se tornado um best seller. Só agora – livro digerido – posso tentar explicar o seu sucesso na esquerda.

Do meu ponto de vista o sucesso de Padura está no desconhecimento das esquerdas com a história de Trotsky. Num mundo já distante do comunismo real, mas que foi por nós vivido, só romanceando um personagem, como também foi feito com o seu assassino, pode deixar a história ser mais palatável para os que foram obrigados, na sua militância política, odiar Trotsky.

O autor confessa o seu desconhecimento da história que conta e que foi obrigado a desconhecer. Essa revelação, no esmaecer da história do socialismo que não conseguiu se tornar comunismo, explica o entusiasmo do autor pela trama, capaz de tratá-la como sendo um verdadeiro romance. E explicaria também o encantamento dos seus leitores. E eu gostei muito do livro por esse reconhecimento do profeta, que quando estava no poder cometeu crimes bárbaros (como o assassinato da família do czar). Mas que foi vítima do mesmo poder que criou quando decreta uma ditadura em nome do proletariado. Mas quando banido tentou mostrar os erros da concentração do poder na ditadura.

Aqueles homens só eram incapazes de matar cachorros...




 

Qualquer horas dessas


Eu ando assim:
Tirando estrelas do bolso
E as espalhando no chão dos bares
Para espanto dos bêbados
Qualquer hora dessas
Espalharei nuvens claras
Na mesa do gerente do banco
Para desespero dos investidores
Eu ando assim:
Cuspindo nas páginas de cultura
Que derramam desinformações
No juízo aflito dos leitores
Qualquer hora dessas
Inventarei umas palavras novas
Dessas que ninguém usa
Nas pichações dos muros
 
(Climério Ferreira)
_______________________________
desenho: Amaral

Gervásio


piauinauta

 
à edmar oliveira
 
latente
à espreita
adentra soturno
as veredas do céu
 
a cidade é plena
o mar absoluto
as luzes se derramam como estrelas
 
divaga maneiro
revoar de asa
na cidade maravilhosa
 
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João de Carvalho Fontes em Voz e Verso
 
 
 

Carlinhos Nascimento


Milonga do Mouro Judeu

Dica de Carlinhos Nascimento