quinta-feira, 26 de junho de 2008

O Piauinauta em Fortaleza


O Piauinauta sobrevoa a Praia de Iracema em Fortaleza. Verificou que a "Virgem dos Lábios de Mel" foi pra Praia do Futuro atrás dos gringos e que as Velas de Mucuripe não se movem mais embaladas nos versos de Raimundo...

CHORO DA VIOLA (martelo cearense)

Edmar Oliveira

Sereno, serenata a alma canta
Na viola um martelo agalopado
E o mar bate firme em Iracema
Lá dentro a memória é meu cinema
Canto o choro da viola atordoado

As velas entristecidas em Mucuripe
Já não vibram nos versos do Raimundo
Cai a tarde e o dia moribundo
Lamenta que o sexo se antecipe
Nas meninas iludidas se dissipe
O futuro de Iracema abominado
De um sonho feito brisa abortado
Lábios de mel que amargam nesta aurora
A Praça do Ferreira marca a hora
Que a Praia do Futuro é sem passado

Sereno, serenata a alma canta
Na viola um martelo agalopado
E o mar bate firme em Iracema
Lá dentro a memória é meu cinema
Canto o choro da viola atordoado


Me entristeço na minha Fortaleza
Que ao sonho de outrora não retorna
A poesia do meu tempo não adorna
E rompe em fúria a minha natureza
Lembrando um passado de beleza
Recordo Aldeota emocionado
Quero espantar turistas do mercado
O que fizeram a ti? – minh’alma chora!
A praça do Ferreira marca a hora
Que a praia do Futuro é sem passado

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Da última vez que estive em Fortaleza me entristeci. Não era a que conheci no passado. E este martelo martelou na minha cabeça...

Uma História de Amor sem Ponto Final

Cinéas Santos

2 de maio de 65. Fazia uma manhã de cristal, dessas que só acontecem em Teresina, quando me despejaram na Praça Saraiva. Como ninguém me convidara, ninguém esperava por mim. Com 17 anos de idade, eu jamais me afastara um quilômetro do olhar severo e protetor de d. Purcina. Agora, só e desamparado, pude aferir a espessura do medo. A cidade acesa lançou-me um desafio: conquista-me ou te devoro.



Aos olhos do garoto assustado, desfilavam as surpresas. A primeira delas: o tráfego dos automóveis nas ruas. Carecia de tomar tento para não voltar para minha aldeia convertido em notícia ruim. A segunda: o verde dos quintais. Para quem vinha de uma terrinha cinza-abandono, Teresina era um oásis sem deserto, na feliz expressão do Millôr. A terceira: o Parnaíba. Em minha aldeia não havia rio nem notícia de rios. Aquele mundão d’água fluindo rumo ao desconhecido me pareceu um desperdício. Eu não sabia que é da natureza dos rios fluir e renovar-se. A quarta: as mulheres. Eu nunca tinha visto tantas em minha vida, nem em dia de procissão de São Raimundo Nonato. Por elas, decidi que aqui sentaria praça, fincaria fundas raízes no chão da chapada.


É escusado dizer que a cidade não se entrega aos náufragos sem cobrar-lhes a alma. Aqui, aprendi que solidão é a mais dolorosa rima para coração; que fome é algo mais que o lapso de tempo entre uma refeição e outra. Durante cinco anos de privações e provações, perambulei por becos, ruas e praças como um sonâmbulos invisível. Paradoxalmente, a cidade que me hostilizava não me via. Ásperos tempos...


No início da década de 70, premido pelas dificuldades, entrei numa sala de aula para ensinar o que não sabia. Era a senha para chegar ao coração da “cidade amada”. O magistério abriu-me portas, braços, corações... A partir de então, o que era indiferença se fez atenção; o que era recusa, acolhimento e até as mais ásperas tardes de outubro converteram-se em manhãs de maio. A cidade, com a cumplicidade dos meus sentidos, adonou-se de mim a ponto de me fazer esquecer de que um dia vivi em outro lugar. Ao longo desses 43 anos de convivência, nunca me ausentei de Teresina por mais de uma semana. Como tenho afirmado tantas vezes, em Timon já me sinto um tantinho no estrangeiro. Sou um animal perfeitamente integrado à realidade física, humana e, principalmente, cultural da cidade. Aqui estou inteiro, sem que me “arda o desespero de ser dono de nada”, como diria nosso Poeta maior. Viver em Teresina me basta.
E como se fossem poucos os afagos, paparicos e carinhos, a Câmara Municipal de Teresina, por iniciativa do vereador Fernando Said, decidiu conceder-me o título de Cidadão Teresinense, honraria que ( me perdoem a imodéstia) fiz por merecer. Nesta cidade, investi o que de mais caro possuo: meu tempo, meu trabalho, meu amor. É certo que sou cidadão teresinense desde que aqui cheguei: o meu domicílio eleitoral é aqui. Mas esse título me dá a certeza de que combati o bom combate.



Meus irmãos e minhas irmãs teresinenses, que este título não me obrigue a fazer a única coisa de eu não seria capaz: a amar esta cidade mais do que sempre amei. Meu coração, cansado de tantos embates, não suportaria. Tenho certeza.

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Recebi a crônica e este convite: "Num gesto impensado, a Câmara de Teresina, concedeu-me, há oito anos, o título de Cidadão Piauiense. Resolvi recebê-lo antes que caduque. A solenidade será na Oficina da Palavara, a partir da 19 horas no dia 4 de julho do ano em curso. Aproveitarei a oportunidade para lançar Nada Além, livrinho de poemas ciurcunstanciais. Eu ficaria muito feliz com a sua apresença. Acredite. Velho Ancião."

Mestre Cinéas merece. Como não posso ir, divulgo.

Pátria Amada

Geraldo Borges


Brasil minha pátria amada
Cantei menino na escola
Soldado baioneta escalada
Me faltou pão na sacola.



Brasil minha mãe gentil
Teu filho não foge à luta
Mas no primeiro de Abril
Trataram-me pior que puta.



Hoje quero uma pensão
Não dá para mordomia
Mas é manteiga no pão.



Mãe gentil é um consolo
Bendita a democracia
Ela vai me botar no colo.

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Depois deste poema do Geraldinho, com toda pompa, elegância e escracho, quem se atreve a opinar sobre a tal "bolsa-ditadura"?

O Sucesso do Salão do Livro do Piauí ou Adeus, Salipi?

Paulo José Cunha*

Primeiro, Ignácio me fez rir. Depois, Thiago me fez chorar. Soube que Frei Beto havia ensinado na véspera que, se não há o que dizer, é melhor não escrever. Edmar Oliveira mostrou a genialidade escondida nos delírios dos doidos do Instituto Nise da Silveira, no Rio de Janeiro. Washington Novaes e sua voz de caverna me fez temer pelos destinos do planetinha azul que nos acolhe. E eu me diverti botando o espelho, ou melhor, o piauiês, na frente de todos, e todos se viram refletidos no espelho de suas palavras e expressões, e riram de si mesmos, e se orgulharam de ser piauienses, e de ter uma linguagem especial que os define.

Todos os palestrantes, de Ignácio de Loyola Brandão, Domício Proença, Thiago de Melo, Alberto da Costa e Silva a Sérgio Natureza, Salgado Maranhão, Márcio Souza; do cubano López Sacha ao norte-americano Stephen Bockskay, passando pela ginga do violão de Guinga e pelos dós, rés e mis de Rosinha Amorim e Vavá Ribeiro, de todos eles ficou um pouco. E o Salão do Livro do Piauí colocou mais um tijolo em nossa auto-estima. Foi muito, muito bacana! Porque, convenhamos, realizar um Salão do Livro em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul ou em Paraty, no Rio de Janeiro, com verba gorda e cachês generosos, é uma coisa. Outra, bem diferente, é fazer um Salão do Livro no Piauí, contando apenas com a capacidade de multiplicar um real por mil sorrisos, um gordo cachê pelo “muito obrigado” dos ilustres palestrantes que se jogaram de suas terras pelo prazer da convivência com pessoas ávidas por ouvir, e por isso aproveitam com atenção cada vírgula que escutam.

Já é o terceiro ano que participo, e a cada edição mais me emociona ver nos olhos da moçada que aflui em massa ao auditório do Centro de Convenções de Teresina essa vontade inexplicável de ver, sentir, participar, conhecer – saber. Tietagem? Claro que tem. Ora, se tem em Passo Fundo e Paraty, por que não teria em Teresina? Holofotes sobre os famosos? Autógrafos? Frescuras em geral? Óbvio badalante. Na sociedade do espetáculo, onde existir fama existirá tietagem. E veja que isso não chega a ser ruim: prova apenas o apreço do povo aos artistas e escritores, e o agradecimento pelo trabalho de quem cria e produz. Sim, irritei-me um pouco com uma certa banalização das palmas, que surgem do nada, a cada pausa do palestrante. Cópia do que ocorre nos programas de auditório da tv, onde a manada de espectadores é adestrada a plantar uma mão na outra toda vez que um letreiro luminoso, acima de suas cabeças (que os de casa não vêem), se acende e determina: PALMAS!

Mas, e daí? Como diria Paulinho da Viola, “as coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”. Que batam palmas e pequem por excesso. Pior seria não baterem, inibindo os oradores. Nesse pique, o Salão do Livro do Piauí já não aprende – ensina a arte de transformar penúria em riqueza cultural, converter dificuldade em força, adversidade em alegria. O Salip ensina, sim senhor, como fazer um milagre. Ou vários. Como é que eles fazem isso? Respondo em bom piauiês: dois cu véi que não sabe.

Os maestros do espetáculo, Wellington, Cineas, Nilson e Romero, mereciam estátuas pelo que vêm fazendo em prol da educação e da cultura do Piauí. Melhor esquecer: não aceitariam. Sabem que os pombos sempre cagam nas estátuas, como também sabia o querido H. Dobal, que este ano cometeu a descortesia de não comparecer, alegando motivos superiores. Fez uma falta danada.

Agora, gostoso mesmo era observar o carinho e a curiosidade com que a molecada das escolas que compareceu em peso ao Salip se relacionava com as obras expostas pelas livrarias. Logo eu, que me acuso de ser fotógrafo, fui esquecer da máquina fotográfica justo no dia em que, ao passar por entre os stands, vi uma cena inesquecível: cinco meninas aí por volta de seus 10 anos, espremidas num único banco, alheias ao alarido m volta, cada uma lendo atenciosamente um livro. Pareciam ensaiadas para uma foto-síntese do Salão, boa pra virar out-door. Deve ter sido coisa encomendada por esse diabo branco que além de diabo é doido, brabo e malcriado, e atende (quando atende) pela alcunha de Cineas Santos.

De volta a Brasília, só me resta um agradecimento pelo convite e pela oportunidade de mais uma vez me deixarem ir a Teresina (como bem ressaltou Edmar Oliveira, voltar a Teresina é fundamental para o reabastecimento das baterias de piauienses exilados, como é o nosso caso). E uma reclamação aos poderes constituídos. Considerando que o Salip tornou-se um dos mais importantes cartões-de-visitas do estado, é bom tomar algumas providências, todas urgentes. A primeira é destinar o dobro, o triplo, quem sabe o quádruplo (e ainda será pouco) de recursos para sua realização, a fim de melhorar a infra-estrutura, a divulgação, as atrações, tudo. A segunda é mandar realizar uma ampla reforma – quem sabe uma ampliação – do Centro de Convenções, onde o Salão acontece – ou melhor: se espreme. Não foram poucas as reclamações que ouvi, em razão das poltronas estragadas, dos equipamentos obsoletos, da precariedade do som, do aspecto geral de abandono. Um Salão do Livro que recebe figuras da estatura intelectual como as citadas, precisa cuidar para que essas pessoas saiam de lá com uma boa impressão da gente. Até hoje, que eu saiba, ninguém reclamou das condições precárias do Centro de Convenções. Nem tocam no assunto, só escrevem elogios. Agem assim, com certeza por educação, ou extasiados por terem assistido ao vivo a alguns milagres.

Advertência: Cineas, Nilson, Romero e Wellington já provaram que conhecem o segredo de Fátima. Como não estão atrás de canonização, um dia podem encher o saco de tanto fazer milagre.

E aí, adeus Salip.


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*Paulo José Cunha é jornalista, poeta, escritor. É o autor da “Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês”.

Carlos Zéfiro

Lembram dos desenhos de sacanagem de nossa meninice? Na internet tem um site sobre o gênio:

http://www.carloszefiro.com/capas3.cfm





À Beira do Atlântico

Gegaldo Borges


Dois pescadores no fim da tarde, à beira do Atlântico, se encontraram por acaso. Uma delas diz, olhando um navio que se aproxima do porto, aquém da linha do horizonte.
- Aquele navio de bandeira chinesa é meu. Comprei-o da um mandarim. Saiu daqui abarrotado de minério, e está voltando com zíper, alfinete, tesoura. isqueiro, sobrinha, e outros artigos de pouca monta para os camelôs da cidade. Aquele outro acolá, coreano, que começa a sair da neblina, é meu também. O mar está cheio de navios que me pertencem, sou um grande armador, tenho até uma ilha grega, e uma gringa artista de cinema..
O outra pescador respondeu.
- Pois já que você não sabe este mar que está ai, este mundão de água salgada, rugindo aos nossos pés, com suas baleias, seus golfinhos, seus lulas e polvos, tudo me pertence.
Falava muito sério ajeitando as pontas do bigode que lhe caiam pela face como dois braços de uma âncora. Assim como quem quisesse dizer: - estes navios estão aí porque eu quero.
- Todo este mar tenebroso, cheio de onda e tubarões, é teu meu camarada?.Pois eu não sabia.
- Pois fique sabendo.
- Que tal nos sermos sócio. Já que eu sou dono dos navios e o senhor é dono do mar.
- È tem sentido. Mas para isso temos de ir a um cartório, assinar um documento, com as respectivas testemunhas.
Uma das criaturas olhou para um lado e para o outro para ver se via alguém por perto; só viu areia, água e céu. E escutava apenas o marulhar das ondas cuspindo conchas na praia
- Vamos fazer o contrato de boca, com o fio de nossas barbas. Ninguém precisa saber.
- Por quê?
- Senão vão pensar que a gente está louco.
- Então negocio fechado. Somos ambos donos destes navios e destes mar salgado.
- Vamos ter de embarcar para conhecermos a extensão de nossos horizontes.
- Claro. Só nossos navios chegar entraremos a bordo.
Enquanto isso as duas criaturas ficaram olhando o mar e os navios que se aproximavam.


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Geraldo Borges, das águas do Pantanal, faz um conto à beira do Atlântico.

Casa Lima Barreto


A Casa de Lima Barreto se reúne todo segundo sábado do mês no Armazém do Senado, botequim centenário que fica no cruzamento da rua Gomes Freire com rua do Senado, no coração do Rio. Rola uma comidinha 0-800 e uma roda de samba de raiz, mantida pelo excelente conjunto "Feiras & Mafuás" comandado pelo grande (literal) Flávio Oliveira. Simão Curuca recebe a rapaziada na rua do Senado que foi fechada para o evento. Quem comparece sempre é surpreendido pela qualidade de poetas e músicos que se apresentam pelo prazer de participar da Casa. No último encontro Monarco chegou e cantou forte em homenagem a Jamelão que morreu na manhã do evento. Visite o site da Casa Lima Barreto ali no nosso pé de página. E confira as músicas selecionadas no Festival Temático "O Homem que Falava Javanês".

Tecnologia Inútil

Edmar Oliveira

Salão do Automóvel de Detroit: a GM apresenta um carro que não precisa de motorista. Ainda falta aprimorar o invento para que ele circule nas ruas. Mas funciona mais ou menos assim: o dono pega um aparelho GPS, monta um percurso válido (em obediência aos trajetos com mãos e contramãos viáveis, sensor para sinais vermelhos), e espera sentado o carrão ir buscar as crianças na escola ou uma encomenda no escritório. Eu não duvido mais de nada. Quando o conhecimento técnico era analógico apostei com um colega de ginásio que nunca uma máquina aceitaria um comando de voz. Eu tinha noção dos mecanismos analógicos: impulsos sonoros não se transformariam em mecânicos. Além de que meu competidor era tido e havido como um sujeito bronco. Pois bem, veio o conhecimento digital e o cara ganhou a aposta. Não paguei porque acho que ele nem lembra mais desta história. Mas eu me lembro. Perdi e foi doloroso. Hoje você fala um nome e o celular faz a ligação. Mas se não duvido mais de nada, ainda me espanto e me pergunto qual a serventia de tais inventos...



Digamos que o garotão do futuro mande o carrão buscar a namorada na casa dela. Imaginemos que no percurso de volta ela queira ver um filme que ele já viu. Ele pede (via celular digital implantado na língua e na orelha) que ela ligue o DVD ou similar tridimensional futurista. Vamos imaginar que ele pode programar sensações e palavras sensuais pré-gravadas durante a sessão. Pra que diabos serve o garotão do futuro? Fica na Internet, que já obedece ao seu pensamento, enquanto as máquinas fazem suas funções?


Mas se estas conjecturas são coisas de ficção científica, vamos imaginar situações mais reais à nossa cidade. Como diabos um carro desses vai circular no Rio de Janeiro? Jornal Nacional: “um dirigível sem motorista foi interceptado na Linha Vermelha e metralhado. A máquina levou uma saraivada de tiros e, apesar de avariada, continuou seu percurso como se nata tivesse acontecido. Não houve vítimas”. Pensando bem, é um bom carro para a violência do Rio. Mas pra quê? Desconfio deste excesso de tecnologia. Às vezes é possível, mas não serve pra nada.


Segundo os entendidos, um jato moderno é capaz de decolar sozinho, fazer uma rota por controle remoto e pousar. Mas quem vai querer ser passageiro de um avião sem piloto? Alguém responsável tem de estar correndo risco também. E em algum momento controlar a máquina de seus caprichos. Não ando nem neste avião nem naquele carro. Chega de tecnologias inúteis...

O Boi do Piauí

Geraldo Borges


Meu boi nunca morreu
Nunca saiu do Piauí
Está vivo e todo dia
Pasta e rumina capim.
Meu boi de faiança
Berra e baba no sertão
Em cima do homem dança
Navega em vela e timão
Meu boi é encantado
Vira vaqueiro e gibão
Na serra e no descampado
O seu cavalo é alazão
Meu boi vai a São Luis
Faz veredas no Brasil
Deixa monjolo matriz
Debaixo do céu de anil
Meu boi esta na mesa
Com panelada e farinha
No brasão da realeza
O meu boi não sai da linha
Passarinho no seu dorso
Vai bicando carrapato
Seu chifre pente de osso
Sabe enfeitar um retrato
Careta em cima de cerca
Couro bainha de faca
Do meu boi não existe perca
Se extrai pedra cor de laca
O meu boi está no livro
Ruminando sua leitura
Nas malhas roxas do crivo
Na pirotécnica gravura
Meu boi está na vacina
No sangue de minhas veias
No relho que bate ensina
Na luz da minha candeia.
Meu boi está no sapato
Na botina do patrão
Mata cobre entra no mato
Meu boi é esfinge no chão
Meu boi é um minotauro
Dentro de meu labirinto
E eu sou o seu toureiro
Com minha espada no cinto
Meu boi é cruz no meu peito
DENOCS SUDENE a peste
Osso duro com rejeito
Pra sobejo do Nordeste.
Meu boi está no espeto
No osso de meu paletó
Come sal na minha mão
Depois levita no pó
Meu boi nunca morreu
Roda engenho por aí
Minha boiada comeu
Os sertões do Piauí
O meu boi esquartejado
No matadouro sem fim
É um boi ressuscitado
Que berra dentro de mim

Indignação

Luciano Elia

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Recebi esta indignação, por e-mail, de Luciano Elia. Luciano é amigo, companheiro de luta Antimanicomial, psicanalista e professor da UERJ. Reproduzo por compartilhar do seu pensamento. (Edmar)
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Caríssimos destinatários (amigos, conhecidos e não conhecidos, mas certamente co-habitantes do mesmo mundo)

Se ainda restava em alguém alguma dúvida, alguma divisão, alguma equivocada esperança de segurança nessa história de "exército nas ruas", combatendo o crime com a mesma lógica e truculência do crime, tudo isso caiu de vez por terra nesta final de semana.

Chegamos ao fundo do poço, no caroço da azeitona. Todo mundo viu, todo mundo leu, todo mundo acompanhou, mas é preciso repetir, nem que seja prá gente acreditar no que vê, lê e acompanha:

O exército brasileiro, a "força nacional", agrediu, seqüestrou, traficou, vendeu e entregou para a morte bárbara e combinada três jovens que, em princípio, apenas chegavam em casa de táxi, vindos de um baile funk. Seriam cinco, mas dois fugiram, com o auxílio de senhoras da comunidade.

Repitamos, para ver se entendemos bem ou se ainda não conseguimos processar: o exército brasileiro, chamado a dar um suporte bélico e moral às polícias locais, civis e militares, inundadas de corrupção e precariedade em todos os níveis, conseguiu superar em ação criminosa os próprios criminosos e a polícia que ele veio ajudar: seqüestrou, vendeu ao tráfico rival da facção da comunidade das vítimas - ou seja, traficou pessoas - e mandou matar três jovens até segunda ordem não criminosos (e que o fossem, isso em nada reduziria o franco, decidido e irrefreável crime do exército).

E agora? Será que nada disso, nem isso, produz a conseqüência de fazer os que têm algum poder político sobre a situação (será que há quem tenha?) entender que não é pela reprodução do que se quer combater que se combate? Não se vê que estamos todos no crime, na lógica do crime, que é essa a palavra-mestra, que comanda essa coisa toda? Não se consegue perceber que, ao apoiarmos essas intervenções "da polícia" (as que entram matando, ou seqüestrando e traficando, como o rápido requinte que nosso exército ostentou), somos iguais aos traficantes, policiais corruptos, milicianos e, agora também, "soldados" criminosos? Quando introduziremos alguma diferença nisso tudo?

Nem queria assinar: gostaria de falar em nome do povo do Rio, do Brasil, do planeta. Mas meu nome é Luciano Elia, que não dá prá não assinar uma manifestação de perplexidade e indignação.

O Humor do Piauiense Castelinho

Edmilson Caminha



Quando morreu, em 1993, Carlos Castello Branco era, sem dúvida, o mais influente e prestigiado nome do jornalismo político brasileiro. A crônica diária que por trinta anos assinou no Jornal do Brasil, a famosa "Coluna do Castello", tinha entre os seus milhares de leitores não apenas o cidadão comum, a quem informava com segurança e clareza, mas também deputados, senadores e figuras importantes do governo, que começavam o dia orientando-se pelo comentário do articulista. Porque Castellinho, como todos o chamavam, ia além da simples exposição dos fatos, da apresentação objetiva dos acontecimentos: antecipava-os, sob a luz da experiência, da agudeza ou da mera intuição. Assim, reportava a cena política ao mesmo tempo em que participava dela, tal a força com que a sua opinião ressoava no âmbito dos três poderes.



Chegou ao máximo de discorrer sobre o vazio, quando não deixou de escrever um só dia durante os dez meses de 1969 em que a ditadura amordaçou a Câmara e o Senado. "Naquele período, o Congresso só existiu na minha coluna", reconheceria depois, contrariando a modéstia que lhe era própria. Em 30 minutos, batia as 75 linhas de um texto que primava pela substância, pelo rigor e pela concisão. "Vou ficar com aquele que escreve como quem manda bilhetes para a lavadeira" — foram as palavras de Orlando Bonfim, de O Estado de Minas, quando resolveu contratar o piauiense feio, sem pescoço, que se tornaria o maior entre os grandes jornalistas da sua geração. "Meu projeto de vida era ser escritor", revelaria mais tarde, desejo que o levaria a publicar Continhos brasileiros, em 1952, e o romance Arco de triunfo, em 1958. Se não se realizou como o bom ficcionista que poderia ser, satisfez a vocação no território da política, onde certamente encontrou personagens mais estranhos do que os inventados na literatura...



Muitos já depuseram sobre Carlos Castello Branco, reconhecendo-lhe a inteireza moral, a isenção profissional, os princípios éticos que lhe nortearam a carreira. Poucos, no entanto, destacaram o seu fino senso de humor, o talento de grande causeur, o gosto pela observação irônica, a verve com que enriquecia as histórias que contava. Meio casmurro, expressão pouco amistosa, Castello divertia o pessoal com a lembrança dos episódios que vivera, como testemunha e como protagonista. Também, pudera: por 54 anos freqüentou os bastidores do poder, que conhecia como ninguém; passou por onze presidentes da república — na verdade, os onze passaram por ele; era lido por ditadores e democratas, ouvido por militares e civis, e encontrou assunto para escrever mais de dez mil artigos. Companheiros de redação nunca o viram telefonar para presidentes e ministros — eles é que o procuravam. Diferentemente da maioria dos colegas, não vivia à cata de notícias porque as notícias iam até ele. Como aquelas comadres do interior, sabia da vida de Deus e o mundo sem arredar o pé de casa...



Em 1945, cada um dos nossos grandes jornais tinha um censor particular. Era ele a diferença entre o que se apurava e o que se divulgava, entre o que se descobria e o que se dizia. Secretário-geral de O Estado de Minas, Castello não agüentava mais aquele intruso, a vetar e riscar o que bem quisesse. Decidira corrê-lo dali, só não sabia como: apelar ao interventor? oficiar ao presidente? Mais fácil cortar caminho e mandá-lo embora de vez. Certa manhã, mal deixou que o sujeito entrasse: "Olhe aqui, Ataliba: se você quiser ler o jornal, a partir de hoje vai ter de comprá-lo na banca. Não queremos mais os seus serviços, não precisa nem tirar o paletó". E Ataliba nunca mais apareceu, definitivamente enxotado pela indignação do repórter que enchera as medidas com a censura do Estado Novo.



Eleito presidente, Jânio convidou Castellinho para que ocupasse a secretaria de imprensa do governo. "Vou pedir-lhe emprestado por seis meses", ouviu daquele que já parecia disposto à renúncia. A experiência foi rápida, mas bastante para que o jornalista percorresse os labirintos daquela natureza tão complexa: "Jânio governava voltado para a opinião pública. Transformava todos os despachos em bilhetinhos. Depois, o Zé Aparecido e eu percebemos que também podíamos escrever alguns, que ele assinava... Fiz um que deu bode. Recebi um pedido do Piauí pleiteando que se acelerasse a obra de um novo aeroporto. Isso foi no começo de junho de 1961, e em julho o Jânio iria a uma reunião em Teresina. Redigi um bilhetinho ao Ministro da Aeronáutica, assim: "Senhor Ministro: quando pousar, em julho, no aeroporto do Piauí, quero descer na nova pista." O ministro apresentou o pedido de demissão, porque não daria para inaugurá-la a tempo. O Jânio era curioso: como a obra não poderia mesmo estar pronta, simplesmente transferiu a reunião para São Luís — só para não contrariar o bilhetinho... Ele era muito atento à palavra das suas determinações".



E o 25 de agosto, dia seguinte ao do soldado, que tanto problema nos causou? Nem Castello, que sabia de tudo, entendeu a confusão: "Pouco depois da renúncia, dei uma entrevista em que dizia não saber por que Jânio renunciara. Ele então me mandou um bilhetinho estranhando que eu, como antigo secretário de imprensa, tivesse declarado aquilo. Estava certo de que eu sabia a razão. Mas como poderia saber, se ele nunca me disse?" Era assim o ex-presidente, que bem compreendeu a eficácia com que escrevia o colaborador: "a sua pena é uma flecha que muitas vezes provoca dores agudas".



Veio Jango, os militares deram o golpe e o jornalista pagou por exercer o seu papel: "Na noite de 13 de dezembro de 1968, comemorávamos em casa o aniversário de minha mulher. Quando ouvi a notícia do AI-5, pensei: vão me prender; mas como estou muito cansado, vou dormir. Não deu outra: às seis horas do dia seguinte, um agente do Dops prendeu a mim e ao Otacílio Lopes, um jornalista da Última Hora. Fomos os primeiros a ser presos em Brasília. No quartel da Polícia do Exército, um tal coronel Epitácio, comandante da unidade, me viu e disse: a que devo a honra da sua visita? Eu respondi: coronel, deve haver um engano; não costumo visitar ninguém a essa hora. Ele ficou desapontado. Então espere aí que eu vou ver o que é que há, disse. Foi e não voltou mais".



Em 1972, Castello sofreria o primeiro infarto. Na UTI, à enfermeira que o consultou sobre o que desejava para comer, pediu "um suquinho de liberdade". E perguntou se os fios que o ligavam aos aparelhos haviam sido instalados pelo SNI... No dia 20 de maio de 1993 soube, na maca em que era conduzido para o centro cirúrgico, que Itamar Franco demitira Eliseu Resende do Ministério da Fazenda. Passado o efeito anestésico e sem condições de falar, pegou um pedaço de papel e rabiscou a pergunta: "quem mais caiu?" Morreria onze dias depois — muito a contragosto, supõe-se, por ter de afastar-se da profissão que desempenhara durante 54 anos.



Na dimensão do infinito para que passou, estava à sua espera um comitê de notáveis em que se distinguiam Getúlio, Juscelino, Jango, Jânio, as quatro estrelas do primo Castello, Teotônio, Afonso Arinos, Tancredo, Ulysses... Ao vê-los reunidos, a primeira idéia foi esclarecer se havia mesmo chegado ao céu. Lembrou-se, porém, de que acima de tudo era um repórter político, e foi logo perguntando: "tem eleições aqui?"

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Edmilson autorizou a reprodução de:

http://www.piaui.com.br/txt.asp?ID=1624

Ainda Castelinho



Era louco por um bom uísque. Uma vez, durante almoço em homenagem ao jornalista piauiense João Emílio Falcão, que aniversariava, sentou-se ao lado do conterrâneo Petrônio Portela, e grudou nele. Bebeu várias doses do old scotch, e o Petrônio idem. Só que ele tinha uma resistência ótima, e Petrônio não, tanto que abriu o bico e falou até. Era um tal de "pacote de abril" - ainda não tinha este nome - que vinha aí, e Petrônio dava detalhes. No dia seguinte, um Petrônio completamente estupefato abriu o JB e a conversa estava toda lá, na famosa Coluna do Castello... O "bêbado" havia "anotado" tudo mentalmente. Fazia muito isso: dava um porre no "adversário" pra sugar o que pudesse dele, fingindo-se de embriagado.Adorava picadinho de carne seca com abóbora, e todas as comidas do Piauí.Ah, e tinha uma voz engrolada e difícil de entender como diabo!Carlos Castello Branco (Castelinho) nasceu no dia 25 de junho de 1920 em Teresina, Piauí. Filho de Cristino Castello Branco e Dulcila Santanna Castello Branco. Viveu a infância e adolescência em Teresina. Estudou no Grupo Escolar Teodoro Pacheco e no Liceu Piauiense onde foi colega do maranhense Neiva Moreira e do também piauiense de Campo Maior, Abdias Silva, que depois viria a ser seu colega de trabalho e interino na Coluna do Castello, no Jornal do Brasil.


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Tirado de João de Deus Neto, piauiense de Campo Maior, em Picinez

terça-feira, 10 de junho de 2008

SaLiPi


O Piauinauta foi visitar o Salão do Livro do Piauí (SaLiPi), que aconteceu na semana passada (01 a 07 de junho). A Fundação Don Quixote, capitaneada pelo Vaqueiro Quixotesco Cinéas Santos, organizou um evento de grande qualidade, tanto dos convidados como da platéia. Thiago de Mello, Ignácio Loyloa Brandão, Geraldo Carneiro, Salgado Maranhão, Caufe Rodrigues, Sérgio Natureza, Márcio Souza, Washington Novaes, Frei Beto, Stephen Bocskay, Francisco López Sacha, Assis Brasil, entre outros, fizeram a parte do palco com fabulosas conferências. A platéia de mais de mil almas sedentas de informação foi um espetáculo à parte no interesse, na participação. Alunos pequenos e maiores fizeram a festa escolar. E no ano que vem tem mais. Êta Piauí danado de bom...

Foi com medo de avião...








Da janela do avião vejo o Velho Monge feito serpente lá em baixo. O Maranhão à margem esquerda. O Piauí do outro lado. E o sol se põe aos dez mil metros de altura: a beleza é muito maior que o medo...
(fotos: Edmar)

Mistério

Nesta viagem a Teresina encontrei esta foto guardada no Espaço Cultural São Francisco, no Mercado do Mafuá. É uma foto antiga, envelhecida pelo tempo, da contra capa do Jornal "O Gramma". E aí podemos ver os meninos que, naquele tempo, faziam um movimento na Teresina de então ( lá se vão quase quarenta anos). Da esquerda para a direita, todos sentados: Carlos Galvão, Haroldo Barradas, Arnaldo Albuquerque, José Wellington, Marcos Igreja, Durvalino Couto, Xico Pereira e Edmar Oliveira. Depois, já em Brasília, na impressão do jornal, Paulo José Cunha se coloca, em pé, numa montagem da tecnologia da época. Mas o Piauinauta já estava lá, amarelado pela ação do tempo como a fotografia. Mistério...

1000ton

Marina Silva em seu casco de tartaruga protege a floresta...

A Solução Final

Edmar Oliveira


Uma série de notícias neste mundo sem fronteiras me assustou ultimamente. A crise da escassez dos alimentos é alarmante. Se cada chinês, que atualmente consome muito menos que os ocidentais, comer mais um frango e oito quilos de carne suína por ano (note bem, nada espantoso, apenas um frango e um quarto de porco por ano), uma catástrofe em dominó se espalhará pelo planeta adentro, com uma inflação sem precedentes no custo dos alimentos e falta de comida nas prateleiras dos supermercados. O efeito da vibração das asas da borboleta é muito pequeno se comparado a cada mastigação extra de um chinês. É conseqüência da tal da globalização. Quando bem inda agorinha a mesa posta no interior do Piauí não tinha nada a ver com o hábito alimentar dos chineses, japoneses ou quem quer que seja. O milho da ração da galinha era plantado no quintal, o fertilizante da plantação vinha do galinheiro, o leite da vaca era tirado da boca do bezerro amarrado e amordaçado ao pé da mãe, a omelete feita dos ovos da galinha enganada que continuava botando ovos sem parar quando deixávamos o indez. (Para quem chegou agora no planeta, o ovo que chamávamos de indez era aquele ovo que ficava no ninho quando tirávamos todos os outros, para manter a galinha pondo – ela só ia chocar os ovos quando tivesse uma ninhada, que naquela situação nunca era completada).


Neste mundo globalizado não é mais assim. Tudo está em relação, menos com a verdadeira causa. Os meninos de hoje pensam que frango de supermercado é um produto fabricado. (Outro dia, quando falei pra minha filha que um frango de leite, que saboreávamos num restaurante, era um pinto de dezesseis dias, ela parou de comer em protesto pela matança dos frangos – por certo que enquanto comia não ligava o nome à ave). Coisas do mundo de hoje.


Outra notícia espantosa foi sobre a provável extinção dos ursos polares. O aquecimento global diminuiu seu habitat, em conseqüência sua alimentação e estamos a assistir, pela primeira vez na história, ferozes batalhas entre os membros da espécie com aparecimento de hábitos canibais entre os ursos.


Lembrei de “Brazil – o filme” do Terry Gillian, do grupo Monty Python. O filme é de 1985 e, apesar da origem do diretor, não é uma comédia. Sombrio, mostra a sociedade do planeta num futuro absolutamente decadente, onde a poluição e o saneamento são problemas cotidianos, e a pobreza da maioria das pessoas chega a incomodar. Nada como até então o cinema mostrava o futuro. Mas muito próximo para aonde parece que estamos indo. O sistema político era uma ditadura e a polícia caçava pessoas de 35 anos para que conhecessem o mundo como era no passado: o sorteado via um filme onde as florestas, cachoeiras e outras belezas do passado eram mostradas enquanto era anestesiado e morria para ser processado como alimentos distribuídos nos mercados para os que estavam vivos. E Brazil é apenas porque a trilha sonora é “Aquarela do Brasil” de Ari Barroso, um verdadeiro achado.


Se você pegar o filme numa locadora (ainda existe isso?) pode entender a solução final anunciada pelo urso polar e a escassez de alimentos...

Encontro das Águas







Encontro das Águas. Quando, em Teresina, os rios Poty e Parnaíba vão dormir enquanto o sol é posto no Maranhão. (fotos de um telefone celular)

Poetas e Soldados

Geraldo Borges


Na história da literatura existem muitos poetas que foram soldados. Camões, Cervantes. Muitos poetas se meteram em revoluções. No Brasil tivemos os inconfidentes. Lord Byron morreu na Grécia lutando pela independência do povo grego. Durante a Guerra Civil Espanhola, muitos poetas combateram o fascismo, um deles foi fuzilado, chamava-se Garcia Lorca. Hemingway lutou na Itália durante a Primeira Guerra mundial. Trabalhou como motorista de ambulância e foi ferido por estilhaços de granada. Em Adeus as Armas ele conta a sua aventura. Também esteve na Guerra Civil da Espanha, como correspondente de guerra.



Escreveram muitos romances sobre a Guerra Civil Espanhola. Entre eles destacarei dois: Por Quem os Sinos Dobram? De Hemingway que foi filmado com Garry Cooper e Ingrid Bergman. Em suas páginas o autor disseca os sentimentos dos personagens em frente à luta, os seus atos de coragem e desprendimento. Mostra as manobras da guerrilha e a explosão de uma ponte no final da história.


Outro romance sobre a Guerra Civil Espanhola que me impressionou foi Fiesta de Louis Vila–Longa. É um romance curto, um biscoito em relação ao tijolo de Hemingway. Mas de uma substancia humana à flor da pele. Nele se respira a morte do começo ao fim. O alto do livro são as cenas de fuzilamento. O paredon sujo de sangue onde os inimigos de Franco são executados: comunistas, camponeses, padres, mulheres. É uma verdadeira festa, um espetáculo para a aristocracia que está assistindo a matança. A palavra fatal é fogo. A guerra pode até ser uma provocação. Mas faz parte do organismo social de uma nação, pode acontecer por causa de uma diplomacia mal conduzida. Uma guerra civil é sempre uma idéia para que uma nação se conheça melhor, arrume a casa, bote as coisas em seus devidos lugares. O resto é lamentação para quem perdeu as batatas.


No Brasil o príncipe dos poetas brasileiros, parnasiano, fez propaganda para o serviço militar obrigatório. Naquele tempo o Brasil era um país em formação. E precisava aumentar o seu contingente de soldados para defender as suas fronteiras. Ainda hoje precisa. É urgente que mais soldados sejam mobilizados para o exército. Muitos soldados. Cada soldado detrás de uma arvore no Amazonas para que o poeta Thiago de Mello não morra de tristeza.


Heróis recebem medalhas por atos de bravura, poetas recebem louros. Mao era um poeta e um soldado. A sua longa marcha foi um grande poema, uma das últimas epopéias da história. Durante a sua caminhada muita gente aprendeu a ler.


Das fileiras do nosso exército saíram alguns poetas. Martinho da Vila saiu de lá. Se fossemos fazer uma lista muitos seriam esquecidos. Existe o túmulo do soldado desconhecido e milhões de túmulos de poetas anônimos.



Antoine de Saint Exupéry, o famoso autor do Pequeno Príncipe, também era soldado, participou como piloto na Segunda Guerra Mundial e desapareceu para sempre entre as nuvens do planeta terra. Como era um poeta deve ter virado uma estrela integrando-se em alguma constelação. Poetas e soldados. Um dia quem sabe os soldados esquecerão as armas, as baionetas caladas e ficarão exclusivamente com a pena. Bom. Este é um dia distante. Mas valerá a pena. Muita bomba ainda vai explodir debaixo da ponte daqui para lá...

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Geraldo, o Borges do pantanal, arma-se com letras e idéias para ser nosso soldado no front...

3 caras de Teresina



Assaí Campelo



Durvalino Couto



Albert Piauí


Garrincha





Entrevista com Deusdeth Nunes, o Garrincha, figura popular de Teresina, escritor e jornalista. Manteve, por vários anos, a "Folha da Mãe Ana" e "Um prego na Chuteira" nos jornais da cidade, páginas que divertiram toda nossa geração. Tem vários livros escritos sobre as caras e os causos da cidade. Nosso cronista "rodrigueano" nesta entrevista fala sobre seu último livro: "Teresina, seus amores" foi lançado durante o SaLiPi. A entrevista foi no tumultuado "Conciliábulo", confraria que se reúne nos fins de semana no Bar do Chicão. Estavam presentes Paulo José Cunha, George Mendes, Durvalino Couto, Albert Piauí, Assaí Campelo, figuras que frequentam as estórias do Garrincha. Fomos recebidos pelo presidente do Conciliábulo, Chico Wilson Araújo, toda diretoria e demais confrades a quem agradecemos a acolhida e o barulho...

H Dobal

Geraldo Borges


A morte é tão banal
Sempre cheia de vida
Rainha do festival
Eternamente florida.


Hoje leva fulano de tal
Amanhã leva mais um
A morte não é desigual
É um lindo lugar comum.


Levou o poeta H Dobal
Tocou no seu coração
Mas não o levou por mal.


É que ela é soberana
Sempre fiel a sua missão
Pois adora a vida humana


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O poeta Geraldo Borges ainda lamentando a morte do poeta das terras de campos da carnaúba...

Minha Teresina







Tirei esta foto em Teresina, por trás do Morro do Urubú. Casa humilde, de taipa (de como era a casa em que nasci em Palmeirais), mas muito harmoniosa e bem cuidada. Estampava na parede este cartaz de um carro importado, 4 por 4, direção hidráulica e ar condicionado. Mais quatro motos Honda 125. É como se dissesse: "a casa é pobre, mas o sonho é rico. A casa é pequena, mas a garagem da imaginação é enorme". De sonho nos fazemos...

Teresina Mal Tratada

Edivan Batista


Recentemente, retornei à mesopotâmica, quente e querida Teresina, a outrora cidade verde.
Tive a agradável surpresa da revitalização da bonita e aprazível FREI SERAFIM, avenida central e crucial, digna de cartão postal, que merece ser visitada e bem freqüentada.
Apesar de não constarem da lista oficial da PIEMTUR, distribuída em hotéis, os melhores locais onde comi foram: Carne de Sol (João Cabral 1472-n, em frente à Uespi), Casa Grande (Ininga), VTS (João Cabral 30-s) e Miguel Buchada (7 de setembro 2336-s), dentre outros não tão famosos e não tão caros como os divulgados pelo trading turístico.

O primeiro desapontamento foi com os motoristas de táxi: quase nenhum sabe exatamente onde se localizam hotéis, bares, restaurantes, pontos turísticos e outros locais que o passageiro deseja visitar.

Logo no aeroporto, pedi ao motorista para me levar ao METRO HOTEL, na 13 de maio, de frente pro Clube dos Diários, onde funciona o Clube do Vinil, sob o comando do Esdras. Qual não foi minha surpresa, o táxi parou na Frei Serafim, em frente ao METROPOLITAN. Erro primário e inadmissível.

É necessário que se tenha mais cuidado na renovação das licenças desses verdadeiros agentes do turismo. Da mesma forma, os sindicatos e cooperativas que congregam a categoria também devem se esforçar para melhorar a qualidade do atendimento, instruir seus associados, fornecer-lhes mapas e listas dos locais mais procurados.

As maiores tristezas ficaram por conta da sujeira e do comércio ambulante, principalmente na área central, que desconfiguraram totalmente a bucólica capital piauiense.

A falta de rede de esgoto é questão antiga. Só agora a CODEVASF começa algumas obras de revitalização da bacia do Rio Parnaíba, incluindo o saneamento básico em várias cidades ribeirinhas do “velho monge”. O descaso de comerciantes e a falta de educação de parte do povo devem ser objeto de permanente ação fiscalizatória em relação ao lixo: acondicionamento, depósito, horário, coleta e reciclagem.

Já o comércio ambulante, em que pese as questões da disputa do “espaço urbano” e as razões socioeconômicas, é inadmissível manter-se a irregular ocupação do espaço público destinado a comércio ambulante, limitando a quantidade de barracas em cada rua e permitindo a livre passagem de pedestres, principalmente nas ruas Teodoro Pacheco, Álvaro Mendes e Simplício Mendes, bem como nas praças Rio Branco e Bandeira. O shopping em construção tem capacidade para abrigar apenas 800 camelôs, mas o centro da cidade está tomado por milhares desses informais, comercializando produtos sem nenhuma condição de higiene e sob suspeita de contrabando e sonegação, dentre outras mazelas.

É o caos!.

A minha Teresina, cantada pelo Maestro Aurélio Mello, não troco jamais.

Mas, as condições de gestão da cidade verde, para termos limpeza pública, comércio ambulante regularizado e bom atendimento ao visitante, merecem imediatas, rápidas e eficazes alterações.

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Não conheço o missivista. Mora em Brasília e deu permissão ao Paulo José para a publicação. Não tenho a dureza de seus comentários (pela paixão recente da visita). Mas no geral ele tem razão...

Ainda o SaLiPi
























Da Existência do Inexistente

Cinéas Santos


Paradoxo? Isso mesmo. Mas o que seria da existência sem os paradoxos? Um pouco de paciência, e tudo se explicará. Diz que havia um cidadão que não acreditava em Deus. Ia um pouco além: negava peremptoriamente a existência do Criador. A despeito disso, sempre que lhe acontecia uma desgraça, um infortúnio, ele bradava: “Só pode ser castigo de Deus”. Para aquele pobre infeliz, Deus só existia quando o trem da vida descarrilava. A lembrança dessa história boba me ocorreu durante a realização do SALIPI. Terça-feira, o jornal Meio Norte publicou uma notinha capciosa sobre um incidente ocorrido no dia da abertura do Salão. Um dos seguranças do evento e um oficial da Polícia Militar do Piauí desentenderam-se. Por absoluta falha na comunicação, o que poderia ter sido resolvido em cinco minutos arrastou-se por dez horas consecutivas numa delegacia de polícia. Incidentes envolvendo seguranças ocorrem aqui e alhures. O jornal cumpriu a sua função ao noticiar o fato. A questão é outro: no dia seguinte, no caderno Arte&Fest, o mesmo jornal publica uma página inteira com o frei Beto, um dos convidados do Salão do Livro do Piauí.Veja como a matéria é apresentada: “Em sua passagem por Teresina, Frei Beto diz...”. Curioso, para dizer o mínimo. O incidente que foi parar numa delegacia de polícia ocorreu no SALIPI, já a presença do frei Beto em Teresina foi fruto do acaso, digamos. O Frei ia passando por Teresina e um repórter do JMN o entrevistou. Perceberam o paradoxo? Notícias ruins acontecem no SALIPI, já os autores famosos que enriquecem o evento simplesmente caem de pára-quedas nas páginas do Jornal Meio Norte. Qual é o critério utilizado pelos editores do Jornal? Isso é um desrespeito aos leitores, aos organizadores do evento, ao povo do Piauí. Se o jornal, por idiossincrasia dos proprietários, resolve ignorar o SALIPI, o problema é dele, mas tirar proveito do evento, negando-lhe a existência, é lição de mau jornalismo, para dizer o mínimo.



Curiosamente, eu, um dos coordenadores do SALIPI, durante uns cinco anos colaborei, graciosamente, no citado jornal, assinando uma coluna às quintas-feiras. Wellington Soares, outro coordenador do Salão, publica uma coluna no JMN aos domingos, ou seja, de alguma forma, fomos ou somos integrantes da “família” Meio Norte. Estranha forma de tratar os “irmãos”...


No ano passado, JMN foi um pouco além: publicou duas vezes uma matéria irresponsável sobre um livro lançado durante o 3º SLIPI, se não me trai a memória. Um infeliz, cujo nome não quero lembrar, escreveu um amontoado de sandices sobre o Piauí e, a convite de um dos livreiros que participava do evento, lançou a tal porcaria durante o Salão. Um irresponsável qualquer publicou, num dos portais da cidade, uma matéria sobre o assunto na qual afirmava, com todas as letras, que o autor fora “convidado e homenageado” pelos organizadores do SALIPI. O jornal reproduziu a matéria sem ao menos dignar-se a nos ouvir. Isso, em qualquer lugar do mundo, é prática reprovável. Não nos cabe, aqui, ministrar aulas de ética a profissionais da imprensa. O que não podemos tolerar é a política de dois pesos e duas medidas que desserve a todos, principalmente a verdade.