Edmar Oliveira
Uma série de notícias neste mundo sem fronteiras me assustou ultimamente. A crise da escassez dos alimentos é alarmante. Se cada chinês, que atualmente consome muito menos que os ocidentais, comer mais um frango e oito quilos de carne suína por ano (note bem, nada espantoso, apenas um frango e um quarto de porco por ano), uma catástrofe em dominó se espalhará pelo planeta adentro, com uma inflação sem precedentes no custo dos alimentos e falta de comida nas prateleiras dos supermercados. O efeito da vibração das asas da borboleta é muito pequeno se comparado a cada mastigação extra de um chinês. É conseqüência da tal da globalização. Quando bem inda agorinha a mesa posta no interior do Piauí não tinha nada a ver com o hábito alimentar dos chineses, japoneses ou quem quer que seja. O milho da ração da galinha era plantado no quintal, o fertilizante da plantação vinha do galinheiro, o leite da vaca era tirado da boca do bezerro amarrado e amordaçado ao pé da mãe, a omelete feita dos ovos da galinha enganada que continuava botando ovos sem parar quando deixávamos o indez. (Para quem chegou agora no planeta, o ovo que chamávamos de indez era aquele ovo que ficava no ninho quando tirávamos todos os outros, para manter a galinha pondo – ela só ia chocar os ovos quando tivesse uma ninhada, que naquela situação nunca era completada).
Neste mundo globalizado não é mais assim. Tudo está em relação, menos com a verdadeira causa. Os meninos de hoje pensam que frango de supermercado é um produto fabricado. (Outro dia, quando falei pra minha filha que um frango de leite, que saboreávamos num restaurante, era um pinto de dezesseis dias, ela parou de comer em protesto pela matança dos frangos – por certo que enquanto comia não ligava o nome à ave). Coisas do mundo de hoje.
Outra notícia espantosa foi sobre a provável extinção dos ursos polares. O aquecimento global diminuiu seu habitat, em conseqüência sua alimentação e estamos a assistir, pela primeira vez na história, ferozes batalhas entre os membros da espécie com aparecimento de hábitos canibais entre os ursos.
Lembrei de “Brazil – o filme” do Terry Gillian, do grupo Monty Python. O filme é de 1985 e, apesar da origem do diretor, não é uma comédia. Sombrio, mostra a sociedade do planeta num futuro absolutamente decadente, onde a poluição e o saneamento são problemas cotidianos, e a pobreza da maioria das pessoas chega a incomodar. Nada como até então o cinema mostrava o futuro. Mas muito próximo para aonde parece que estamos indo. O sistema político era uma ditadura e a polícia caçava pessoas de 35 anos para que conhecessem o mundo como era no passado: o sorteado via um filme onde as florestas, cachoeiras e outras belezas do passado eram mostradas enquanto era anestesiado e morria para ser processado como alimentos distribuídos nos mercados para os que estavam vivos. E Brazil é apenas porque a trilha sonora é “Aquarela do Brasil” de Ari Barroso, um verdadeiro achado.
Se você pegar o filme numa locadora (ainda existe isso?) pode entender a solução final anunciada pelo urso polar e a escassez de alimentos...
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