terça-feira, 10 de junho de 2008

Poetas e Soldados

Geraldo Borges


Na história da literatura existem muitos poetas que foram soldados. Camões, Cervantes. Muitos poetas se meteram em revoluções. No Brasil tivemos os inconfidentes. Lord Byron morreu na Grécia lutando pela independência do povo grego. Durante a Guerra Civil Espanhola, muitos poetas combateram o fascismo, um deles foi fuzilado, chamava-se Garcia Lorca. Hemingway lutou na Itália durante a Primeira Guerra mundial. Trabalhou como motorista de ambulância e foi ferido por estilhaços de granada. Em Adeus as Armas ele conta a sua aventura. Também esteve na Guerra Civil da Espanha, como correspondente de guerra.



Escreveram muitos romances sobre a Guerra Civil Espanhola. Entre eles destacarei dois: Por Quem os Sinos Dobram? De Hemingway que foi filmado com Garry Cooper e Ingrid Bergman. Em suas páginas o autor disseca os sentimentos dos personagens em frente à luta, os seus atos de coragem e desprendimento. Mostra as manobras da guerrilha e a explosão de uma ponte no final da história.


Outro romance sobre a Guerra Civil Espanhola que me impressionou foi Fiesta de Louis Vila–Longa. É um romance curto, um biscoito em relação ao tijolo de Hemingway. Mas de uma substancia humana à flor da pele. Nele se respira a morte do começo ao fim. O alto do livro são as cenas de fuzilamento. O paredon sujo de sangue onde os inimigos de Franco são executados: comunistas, camponeses, padres, mulheres. É uma verdadeira festa, um espetáculo para a aristocracia que está assistindo a matança. A palavra fatal é fogo. A guerra pode até ser uma provocação. Mas faz parte do organismo social de uma nação, pode acontecer por causa de uma diplomacia mal conduzida. Uma guerra civil é sempre uma idéia para que uma nação se conheça melhor, arrume a casa, bote as coisas em seus devidos lugares. O resto é lamentação para quem perdeu as batatas.


No Brasil o príncipe dos poetas brasileiros, parnasiano, fez propaganda para o serviço militar obrigatório. Naquele tempo o Brasil era um país em formação. E precisava aumentar o seu contingente de soldados para defender as suas fronteiras. Ainda hoje precisa. É urgente que mais soldados sejam mobilizados para o exército. Muitos soldados. Cada soldado detrás de uma arvore no Amazonas para que o poeta Thiago de Mello não morra de tristeza.


Heróis recebem medalhas por atos de bravura, poetas recebem louros. Mao era um poeta e um soldado. A sua longa marcha foi um grande poema, uma das últimas epopéias da história. Durante a sua caminhada muita gente aprendeu a ler.


Das fileiras do nosso exército saíram alguns poetas. Martinho da Vila saiu de lá. Se fossemos fazer uma lista muitos seriam esquecidos. Existe o túmulo do soldado desconhecido e milhões de túmulos de poetas anônimos.



Antoine de Saint Exupéry, o famoso autor do Pequeno Príncipe, também era soldado, participou como piloto na Segunda Guerra Mundial e desapareceu para sempre entre as nuvens do planeta terra. Como era um poeta deve ter virado uma estrela integrando-se em alguma constelação. Poetas e soldados. Um dia quem sabe os soldados esquecerão as armas, as baionetas caladas e ficarão exclusivamente com a pena. Bom. Este é um dia distante. Mas valerá a pena. Muita bomba ainda vai explodir debaixo da ponte daqui para lá...

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Geraldo, o Borges do pantanal, arma-se com letras e idéias para ser nosso soldado no front...

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