domingo, 22 de maio de 2011

sessentinha

Edmar Oliveira
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Confesso: me fudi. Entrei no involuntário grupo da terceira idade, que só a ironia deslavada chama de melhor idade. E não há retorno possível. Portanto, relaxe e goza (se ainda for possível!)

Sabe quando os meninos começam a te chamar de tio? Aí você está entre os quarentas e cinqüentas primaveras. Foi doloroso, mas não imaginava nada pior. Veio “senhor”. Esse “senhor”, dito de forma imprópria, no teu perceber, soa alguma gozação, troça, pilheria de mau gosto. E você vai ficar com saudades de quando te chamavam de tio.

Outro dia encontrei com um amigo cineasta na anti-sala de exames de um laboratório. Não me contive: antes a gente se encontrava num bar, agora é aqui. E falamos, despudorozamente, de taxas de glicose, colesterol e do indefectível PSA, que nos lembra que tudo começou numa dedada há uma década.  

Se antes a gente separava uma quantia em dinheiro para ultrapassar, vez por outras, os chopes da rotina, hoje a reserva é para os medicamentos de uso contínuo, que só vão desaparecer do nosso convívio quando desaparecermos da face da terra. E eu compro tanto remédios, que já me deram, de brinde, uma caixinha com os dias da semana para guardar os remédios. Porque já com essa idade a gente costuma esquecer se já tomou o remédio de hoje. E corre o risco de não tomar o remédio, por esquecimento, fazendo a pressão subir e ficar exposto a um derrame; ou, tanto faz, tomar em dose dupla, também por esquecimento, e ter uma isquemia cerebral.

E, por essa idade, se você for a um médico, por qualquer bobagem, uma gripe, uma gastrite, recebe, como bônus pela a idade, uma bateria de exames em que vão aparecer problemas sérios. Isto é, aqui é possível você não sentindo nada descobrir que é um doente grave. Por isso eu corro de médicos como o diabo da cruz. Quem procura, acha, já nos dizia o dito popular.

Mas para tantas desgraças é preciso uma compensação. E tem? A gente pode fazer as contas de quanto já trabalhou e providenciar a aposentadoria. Confesso que fiz as minhas e já sobra tempo e ainda tenho meio ano de licença prêmio pra tirar. Isso é bom. Se a gente tiver o que fazer. Pois não fazer nada é meio insuportável. Portanto estou fazendo uns planos para ocupar o tempo de não fazer nada para entrar com o pedido de “basta, tô velho!”, em reconhecimento da situação que você pensava “nunca iria chegar”.

A minha passagem para a terceira idade foi no dia 11 de maio. Mas ela já tinha acontecido um pouco antes. Sabe quando caiu a ficha? A bonita recepcionista do banco sorriu pra mim e eu, todo prosa, também ensaiei  um sorriso re retribuição. A belezura me deu uma ficha de fila preferencial para que eu fosse atendido. Doeu.

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desenho luxuoso de Gervásio Castro

Crônica de um ex-assinante de jornal

Geraldo Borges


A nossa geração falou demais de tudo. Por isso mesmo resolvi eleger como assunto de hoje, dentro da órbita do Piauinauta, a minha experiência como leitor do jornal A Folha de São Paulo, pois fui assinante dele por mais de dez anos. Há leitores que lêem o seu jornal de cabo a rabo, comigo nunca aconteceu isso, sou seletivo. Leio pela sugestão dos títulos, das manchetes, que é de certo modo uma síntese do conteúdo. Às vezes, se tenho muito tempo disponível  me arrisco a fazer palavras cruzadas, que não deixa de ser um modo de exercitar os neurônios. Aprecio também as tiras de quadrinhos, principalmente Garfield e Hagar. Mas abri mão de tudo isso. Sou  um ex-assinante de jornal.

         Durante esses dez anos que li a Folha e vi passar por meus olhos textos de vários colunistas; alguns desapareceram, sem deixar rastro, outros continuam com a sua coluna. Nunca senti falta de nenhum deles, a não ser da colunista Marilene Felinto, escritora de talento e coragem, e que não demorou muito no jornal.

         Mas por que deixei de assinar a Folha? Não foi questão ideológica. Talvez tenha sido um pouco de questão geográfica; este Brasil é imenso e a cultura letrada não chega a todo lugar com pontualidade, nem mesmo a televisão. Pois a antena parabólica adianta os programas, e nossos fusos horários são variados.

          Aconteceu que me mudei de mala e cuia para a cidade de Rondonópolis, no interior do estado de Mato Grosso. Dei o meu novo endereço para a agência distribuidora do jornal em Campo Grande. E fiquei esperando o jornal chegar pontualmente; até me lembrei dos filmes americanos em que a gente via o jornal  juntamente com a garrafa de leite, que o mensageiro deixava na porta do apartamento de manhã cedo. Outros tempos. Quando o leitor acreditava no seu jornal. E a publicidade não o rebocava.

          O jornal começou a atrasar. Pensei que logo se regularizaria.  Nada. Continuou atrasando. E quando chegava vinha dois ou três de uma vez. Eu não ia ler três jornais em seguida. Seria uma redundância. Pois eles sempre dizem as mesmas coisas, em edições diferentes. Ainda bem que estava chegando o fim de minha assinatura. Duraria mais um mês, por aí. Passou o mês, o jornal sempre chegando atrasado. Desisti de fazer nova assinatura. A principio pensei que não fosse me acostumar sem leitura de jornal, mas me habituei. Troquei o jornal pelos livros. Aproveitei para reler alguns clássicos, para saborear melhor o seu conteúdo e me desintoxicar do estilo padrão das redações da imprensa. Na verdade, o jornal é um  outdoor volante que serve para você folhear, e que me irritava sinceramente. Eu via naquelas páginas e páginas e páginas de anúncios repletas de condomínios e de apartamentos, as florestas do Brasil sendo destruídas. Além de sujar as minhas mãos com a tinta grudenta, eu sentia o seu mal - cheiro exumado   das manchetes policias e os pavorosos desvios do dinheiro publico pelos políticos corruptos.

         Logo que cancelei a minha assinatura alegando do atraso contínuo, eles  prometeram colocar tudo em ordem, mas foi só conversa. Parece que não havia estrutura para o jornal chegar até aqui, diariamente. Um assinante para eles, a mais ou a menos, não abalaria o nível de suas assinaturas, até mesmo porque quem conta não são os assinantes, e sim os anunciantes, estes são os que pagam o funcionamento do jornal.

         O certo, é que, boa parte da nossa geração, fala demais de tudo, fala bem e fala mal, sem precisar ler os periódicos.  Eu já quase não leio mais jornal e vou continuar falando demais de tudo, bem e mal. Quando quero obter noções mais detalhadas dos acontecimentos políticos e sociais que se desenrolam pelo Brasil e pelo mundo entro nos jornais eletrônicos, acesso a internet. Localizo The New York Times. Le Monde diplomatique, este dois me bastam. E assim sem arredar pé de casa folheio dois grandes jornais na minha mesa, pontualmente.

          Mas não vou dizer que não tenho saudade da Folha. Ainda hoje tenho comigo recortes de seus textos. Coisas bizarras que aconteceram no cotidiano da vida brasileira, flagrantes inusitados de um realismo mágico digno de Gabriel Garcia Marques, os quais podem ser fontes de recriação literária.

         Hoje o jornal, a velha imprensa, está em uma encruzilhada, batendo de frente com o jornal eletrônico. Isto me faz lembrar uma velha charge em inglês do jornal  USA TODAY publicada na Folha de São Paulo,em sua antiga coluna multimídia. O texto está em inglês, em forma de diálogo. Para melhor esclarecimento, vou descrever um pouco a cena. O pai esta lendo um jornal, o menino está no computador. O pai diz: “Junior when you are my age, the price of a stamp will be over a dollar”. O filho perguntou plugado à  internet: “: What is a stamp?”

         Bom. Acho que já falei demais. Mas ainda tenho uma coisa para dizer. Depois de mais de dez anos de assinantes ganhei do jornal, como premio de consolação, um livro de Sergio Buarque de Holanda – Brasil, Visão do Paraíso, cá para mim, coincidência ou não, soou como uma grande ironia, pois hoje o que temos do Brasil é realmente uma visão assustadora. Mas dantesca do que paradisíaca.

Lendo jornal

Edmar Oliveira
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Também tentei, como o Geraldo, ser um ex-assinante de jornal. E, também, não foi por um motivo ideológico, que tentei e depois desisti.
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            Primeiro a tentativa de desistir. Aqui no Rio de Janeiro só existe um jornal, O Globo. O Extra é um Globo mais sangrento para chegar perto das populações mais expostas à violência. É também da família Marinho. O Dia, apesar de ter sido vendido pelos Marinhos mantém uma linha editorial para competir com o Extra e disputar seu público sedento por tragédias de aqui perto. O Jornal do Brasil, que assinei até o seu falecimento, foi assassinado pelos Tanures, que menos queriam um jornal, mas a marca. De fato, e isso é absolutamente trágico para uma cidade do porte do Rio, só existe um jornal na metrópole. Até Teresina tem mais opções que no Rio. Portanto, a falta de opção já era um motivo para deixar de ler o pensamento único. E tem a tradição de “O Globo”, como o jornal representante da elite zona sul carioca. Seus colunistas, nenhum escapa, tiveram que escrever conforme a linha dura. Merval, Mirian Leitão, Vidor, Elimar, são a coluna vertebral d’O Globo. Não se pode ler sem náuseas. Moreno mete-se a engraçado para fofocar, o que também é uma especialidade do Ancelmo. Substituem o Ibraim Sued, não o Zózimo, que era melhor do que eles. Ubaldo emburrou numa oposição sistemática ao Lula, o que agrada a linha editorial. Zuenir e Verísssimo ficam patinando em destoar, mas só patinando. Jabor, um militante do PSDB escrevendo pior do que o FHC que também é colunista. Gáspari herdou a informação dos milicos e as vezes fura. As notícias, como também diz o Geraldo, se repetem todo dia e mudam apenas como a cor do mapa do tempo. São razões de sobra para desassinar. Então porque voltei?
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            Descubro, não sem susto, que sou um viciado em jornal de papel. Gosto do cheiro, do desdobrar das folhas, da sujeira que fica nas mãos e, quando o tempo me sobra, me pego lendo até comerciais. Já percebi que as vezes nem sei o que acabei de ler. Mas tenho de.
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            Não gosto de jornais eletrônicos. Não suporto o brilho da tela do computador e não sei passar as páginas e ler da forma como leio (pra frente e pra trás, deixando o jornal pelo avesso). Não acho a menor graça.
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E é muito ruim levar um computador para o banheiro...

              

Climax

Graça Vilhena

nossos corpos
encanteiraram-se
no jardim sedento da noite

depois amanhecemos
homem e mulher
numa só asa abstraída
soprada pelo dia

Frio

Sei o que há do outro lado da solidão
é um frio... muito frio.
e onde ninguém te aguarda.

(Ana Cecília Salis)

O papa é POP




     Na última sexta-feira-13(maio), completaram-se 123 anos da abolição da escravatura no Brasil. No Censo Demográfico de 2010, IBGE,  a população negra superou a branca: 97 milhões de pessoas declararam-se negras, pretas ou pardas (na nomenclatura do IBGE). As pessoas brancas somaram 91 milhões.

     Um desses negros aí incluídos chamava-se Marco Aurélio Silva da Rosa, morava no Jacarezinho. Ele morreu, aos 34 anos, na madrugada de terça-feira, 10, três dias antes da sexta-feira-13.

     Era conhecido como LACRAIA, dançarina de funk que fez sucesso no ano de 2002,  destaque em dois números musicais, onde exibia um rebolado extravagante e gaiato: “Vai Lacraia” e  “Eguinha Pocotó”.

     O IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, baseado nos dados da Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira, divulgou: a população negra que predomina no Brasil, é jovem, tem mais filhos, é mais pobre e está mais exposta à mortalidade por causas externas, especialmente homicídios.



VAI LACRAIA, VAI LACRAIA... VAI CONTAR PRA TODO MUNDO:



    “A miséria no Brasil têm gênero e raça. Ela é feminina e negra”, declarou Iriny Lopes, Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

    “Portanto, há concretamente a necessidade de se fazer uma grande segunda abolição da escravatura, agora para incluir os negros na sociedade do bem-estar, através da promoção da igualdade, eliminação das teias racistas e diminuição, em rito processual, da violência contra as mulheres e os jovens” (Alexandre Braga, presidente da Unegro de Minas Gerais).



VAI LACRAIA, VAI LACRAIA... VAI REAVIVAR A MEMÓRIA DE TODO MUNDO:



    Quem não se lembra do assassinato do índio Galdino, queimado vivo por jovens, dentre eles filhos de juízes, em Brasília,  1997. Depois da bomba estourar no noticiário, a integridade dos mauricinhos foi preservada. As “autoridades” encarregaram-se, imediatamente, de proteger suas crias do linchamento moral da sociedade e do assédio da imprensa. Conseguiram, lógico.

    Já a GLOEBBELS não tratou assim os parentes das vítimas, nem seus colegas, nem os vizinhos no bárbaro atentado de Realengo. A exposição daquelas pessoas no jornal e na TV durou até mesmo duas semanas depois de ocorrido o fato. Execrável e macabra exploração do drama vivido pela modestas famílias. Nenhuma complacência à dor daqueles lares. Naquele momento não havia nenhuma “autoridade” para protegê-los.

  

VAI LACRAIA, VAI LACRAIA... VAI CONTAR PRA TODO MUNDO:



     A beatificação de KAROL WOJTYLA, O PAPA POP JOÃO PAULO II, está correndo aceleradamente no Vaticano. A pressa decorre de não se querer dar tempo de aparecerem todos os podres do Santo Papudo.

     Para começar, a sua hostilidade à homossexualidade e aos contraceptivos, era latente. Nisso ele era implacável, na perseguição aos gays e em jamais admitir o uso de camisinha.

     Ao optar pela extrema ortodoxia nas suas pregações, condenou e isolou os adeptos da Teologia da Libertação, guerreiros implacáveis das injustiças que o grande capital e o imperialismo espalhavam pelo mundo.



VAI LACRAIA, VAI LACRAIA... VAI CONTAR PRA TODO MUNDO:



     Wojtyla, amiguinho de Reagan e Thatcher, foi conivente com a desregulação ferrenha da economia, muitos direitos dos trabalhadores foram para o espaço e o mundo mergulhou numa crise sem precedentes.

     Enchendo a bola do Deus Mercado, deixou de lado a divindade suprema dos católicos, esquecendo-se que o amantíssimo Jesus tinha chutado, literalmente, o pau da barraca dos vendilhões do templo.   

     Isso sem contar que a corrupção e a lavagem de dinheiro correram à solta no Vaticano.



VAI LACRAIA, VAI LACRAIA... VAI CONTAR PRA TODO MUNDO:   



     O Papa-Tudo, numa clamorosa desfaçatez, fez vista grossa à pedofilia, que já rolava à pamparra, abafando vários escândalos dentro da santa madre igreja. A bomba veio estourar no colo do Bicho Papão Führer Ratzinger XVI, levando-o até a pedir socorro aO Coiso, tal era o tamanho da trolha, quero dizer, do troféu que foi passado às suas sacrossantas mãos...

    Viajando por todos os cantos do continente, a popularidade do Pop João Paulo II, além de sua rigidez e autoridade, contagiavam o mundo, enquanto ELE ia varrendo, para baixo das sagradas tapeçarias da Igreja, toda a sujeira acumulada na sua “austera” gestão.



 VAI LACRAIA, VAI LACRAIA, VAI... MINHA EGUINHA POCOTÓ, POCOTÓ, POCOTÓ, POCOTÓ!...



                                                                                  1000TON                                                                                                                                               

     

       

verso lívido 4

ASSUNTO BATIDO


quando se assunta o assunto
não vale a pena escutar
vai ver o tema é defunto
e não vai ressuscitar

pois conversa repetida
é igual piada velha
provoca uma graça falida
que o riso amarelo espelha

(Climério Ferreira)

haikai óbvio


Num coração de pedra,
seguramente,
nenhum amor  medra!

(Cinéas Santos)

chapada do corisco


um raio só cai em Teresina
quando rasga o véu da noite
trovejando os meus desejos
quando eu penso em ti

(edmar)

Camicases






polícia cor-de-rosa


A pressa do Governador Sérgio Cabral para ganhar uns votinhos do arco-iris o fez prometer, em cerimônia pública, que bombeiros e PMs poderiam ir às Paradas do Orgulho Gay fardados e em viaturas oficiais. A apressada declaração do Governador, ferindo o estatuto desses servidores, fez um Coronel de um Batalhão local negar a participação dos seus comandados, alegando a legislação, com uma frase estranha estampada nos jornais:

-          Meus homens não irão!



E agora, Cabral? Se sua Excelência punir o Coronel por desobediência, o homem (epa!) pode lhe acusar de homofobia, afinal o moço (hem?) disse que “os homens dele” não irão. Entenderam a confusão?

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as  algemas são da coluna do Tutty Vasques

panela de pressão e sexo


Garimpado por Henrique Lira com o comentário: "louvável a criatividade do comerciante". Texto sem os destaques do cartaz: "na compra de uma panela de pressão, não importa qual seja o seu sexo ganhe grátis uma maravilhosa caneca Mimo aqui no Hospital das panelas".

Campanha do Desarmamento

Entregando as armas do clã Espinheira
*
Resolvi entregar à Polícia Federal três armas há meio século na família. Na Justiça, os ministros são trocados mas persiste a crença de que os brasileiros são idiotas: o atual diz que não é necessário  identificar-se para entregar arma, mas omite que, para transportá-la, há que ser preenchida uma Guia de Trânsito de Arma de Fogo onde constam nome, endereço, RG, CPF e características da arma. Tudo via Internet e, no mesmo momento, você escolhe o local para a entrega. Como não sou bandido, tudo informei e, dentre as opções, escolhi a Polícia Federal do Aeroporto Tom Jobim. Linhas Amarela e Vermelha, engarrafamento, pagamento de pedágios e de estacionamento... No Aeroporto, ninguém da PF, em ambos os terminais, sabe algo a respeito do assunto e me orientaram a procurar a Superintendência na Praça Mauá. Perdi tempo e dinheiro mas o ministro tem conseguido grande espaço na mídia com o tema. E, daqui a de algum tempo voltará aos flashes para declarar que a campanha "reduziu a criminalidade em 11,74%" - ou algum número mais preciso.

(Candido Espinheira)

Conversa

Climério Ferreira
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Há frase não dita
Que grita o que cala
Há fato não feito
Que nega o que fala

Maranhão 66

Filme de sete minutos sobre a posse de José Sarney como governador do Maranhão em 1966. Direção de Glauber Rocha. Absolutamente fantástico! Financiado pelo governo. Glauber já tinha feito Deus e o Diabo e faria logo depois Terra em Transe. Alguma dúvida de que o falastrão José Sarney, então com 35 anos, inspirou a Glauber o personagem de José Lewgoy em Terra em Transe? E, por cima, a premonição de que Sarney perpetuaria a miséria. Assistam ao filme:







domingo, 8 de maio de 2011

OSAMA BIN LADEN X OBAMA NAS ALTURAS

Edmar Oliveira

           
A democracia é assassinada, humilhada. Os direitos humanos violados. O terrorismo de um Estado Todo Poderoso julga e executa seus inimigos de maneira cruel, desrespeita a soberania de um país como se fosse o xerife do quintal alheio. Em que se diferencia o terrorismo de Osama do de Obama? Os mais sintonizados com a mídia global do pensamento único vão argumentar a quantidade de inocentes mortos nas torres gêmeas. Ressalto então apenas a "qualidade" dos mortos nas torres gêmeas por se parecerem mais com os ocidentais de cultura dominante. Porque a quantidade de mortos de cultura dita inferior é bem maior. As caçadas a Osama e a Sadan não mataram mais inocentes? Contem, por favor! Já esqueceram aí do vídeo do Assenge em que os americanos brincam de videogame matando civis por diversão? E agora que a CIA reconhece que usou a tortura em Gualtánamo para obter informações sobre o paradeiro de Osama, vale menos? Menos hipocrisia, simpatizantes do Obama!

            E aqui confesso a minha simpatia por Gerônimo, perseguido ferozmente como um renegado por não aceitar viver nas "reservas" indígenas, reivindicando as terras que eram de seu povo. Mesmo tendo sido forçado a se render, acreditando num acordo com os brancos, morreu na prisão. Gerônimo simbolizou o extermínio dos peles vermelhas no território americano. Nomeando assim a operação da tropa de elite SEALs o Obama acha que exterminou os terroristas como seus antepassados fizeram com os peles vermelhas? Ou o Obama, com seu ato terrorista de matar Osama, não atiçou mais reações terroristas? Obama não igualou Osama? 

            O B matou o S ou o S aprisionou o B? Porque no resto das letras e nas ações são tão iguais, apesar da cara de bonzinho do Obama contra o barbudo Osama. Até a mídia e os políticos, em atos falhos, já trocaram os nomes dos dois.

            Mas uma ação americana eu não entendi. Quer dizer que depois de assassinar, seqüestrar o corpo, se redimiram fazendo um enterro mulçumano na lavagem do corpo envolto em lençóis brancos e rezas religiosas (em árabe?)? O Wellington de Realengo também  queria. A gente devia ter entregado o corpo dele para os SEALs. Especialistas em enterros de terroristas. Mas a tradição não foi respeitada de forma integral, pois esconderam o corpo de Osama no mar. Enterrem meu coração na curva do rio, pediu o pele vermelha lá atrás. Será por isso?

            E, por favor, não tenho nenhuma simpatia pelo islamismo político. Acho o maior atraso da humanidade. Política já é um troço complicado e se comandada pela religião, pior ainda. Portanto não me vejam defendendo Osama, mas acusando Obama.

CHESSBOARD (2011)

Geraldo Borges


Barack  Obama
Matou Osama
Bin Laden.

Ambos estão
Vivos redivivos
Pois têm a mesma
Marca de Caim
No rosto

Os (ama) & Ob(ama)
Roma Roma Roma.
É uma rima de amor
Mas não tem solução.

O coração também
É uma bomba
E chama a chama
De Obama & Osama.

    Para o meio do furacão.

        

        


Obama, Osama, OTAN

Cândido Espinheira

É mais fácil percepção correta dos fatos e processos históricos que se dão nas comunidades menores que nas maiores; em países do que em continentes e talvez nunca seja possível o entendimento pleno do que se passa em âmbito mundial.
No Rio de Janeiro o fenômeno das milícias, inicialmente saudado como uma solução para deter a criminalidade, só foi entendido em toda a sua extensão depois de duas décadas, quando seus líderes já quase dominavam a Assembléia Legislativa e a Câmara dos Vereadores, além de boa parte da cidade...
Em escala global, o papel que os EEUU vêm exercendo no mundo após a segunda guerra mundial não difere do de nossas milícias, inclusive nas consequências desta “proteção” (o que diferem suas halliburtons dos gatonets e comércio de botijões de gás das milícias?) pois como elas, enquanto enfatizam a necessidade de garantir a segurança, atropelam as leis, a ética e os direitos humanos, torturam e dão sumiço aos corpos. Recentemente refinaram-se e trocaram o truculento cowboy texano por um chefe de discurso mais sofisticado que tenta manter os ganhos enquanto terceirizam o serviço sujo através da OTAN, como agora na Líbia.

Osbama



O americano Wilmarx e o tupiniquim Piauinauta: na internet tudo se pode.

mágica

Graça Vilhena

em teu olhar
um lenço furta-cor
abracadrabamente
sobre mim

Crepuscular

Ana Cecília Salis



Minha história...
Já passa das 4 do dia...

E observo,
Com algum pudor

O sol se por
Na minha alegria...

verso lívido 3

POETAS & ACADÊMICOS



O poeta diz parábolas

Difíceis de decifrar

Algumas são carambolas

E outras papos de bar



O acadêmico desnuda

O que não sabe explicar

E fica plantando muda

Que nunca pode brotar

(*Climério Ferreira*) 

poente


Edmar Oliveira


A traça da saudade rói
Ao entardecer

Paixão dormente dói



(tb a foto edmar oliveira)






Rasante



Paulo Tabatinga

Meu olhar voa junto
À rasante leve do bem-te-vi

Cinema: Ao Mestre, com carinho

Gervásio Castro


No dia 20 de fevereiro de 1927 o agricultor Reginald James Poitier, em companhia de sua esposa Evelyn, saiu de Cat Island, nas Bahamas, onde vivia, com destino à Flórida, para vender tomates e outros produtos de sua fazenda, como fazia habitualmente. Um parto prematuro tornou aquela viagem bem diferente das demais. Ainda em alto mar Mrs. Evelyn deu à luz um garoto. Apostando nas poucas chances que o bebê tinha de sobreviver, permaneceram por três meses em Miami, cuidando da  saúde daquele que viria a ser o primeiro negro a ganhar um Oscar de melhor ator.

 Sidney Poitier teve uma infância marcada pela pobreza. Aos 15 anos, foi enviado para Miami, para morar com seu irmão mais velho e evitar que acabasse trilhando o caminho da delinqüência. Nos states comeu o pão que o branco amassou, vítima do preconceito racial. Por outro lado, isso fez com que ele se entregasse à luta para criar oportunidades para os negros.

Aos 18 anos foi para Nova York, onde teve que viver de biscates e dormir em terminais rodoviários. Entrou para o Exército, mas não ficou muito tempo e passou a realizar trabalhos domésticos no Harlem. Sonhava ser ator e, depois de seis meses de batalha, conseguiu uma pequena ponta numa produção da Broadway, "Lysistrata". Sua atuação recebeu vários elogios da crítica especializada.

Em 1949 recusou o papel principal de uma peça teatral preferindo atuar como coadjuvante no filme "O Ódio é Cego", vivendo um médico que tratava de racistas brancos. Era o começo de sua longa carreira, mas apenas sete anos depois começou a receber convites para trabalhar em papeis principais. Em 1958 foi indicado para o premio de melhor ator, mas foi em 1963 que faturou a famosa estatueta, por sua atuação em "Lírios do Campo”.

Em 1966 estrelou “Ao Mestre, com Carinho”, um filme britânico que narra as desventuras de um jovem professor tendo que enfrentar alunos indisciplinados, neste filme que refletiu alguns dos problemas e medos dos adolescentes dos anos 60.

Poitier interpreta Mark Thackeray que aceita lecionar na tal escola, já que estava tentando emprego de engenheiro há oito meses, sem consegui-lo. Embora isso não seja colocado de maneira explícita, fica evidente que o fato dele ser negro é a razão desse insucesso. São feitas referências claras, durante o filme, sobre a questão racial na sociedade britânica.

Os encapetados alunos estão determinados a destruir o novo mestre, como fizeram com seu predecessor, mas Thackeray, acostumado à hostilidade, enfrenta o desafio tratando-os como jovens adultos que breve estarão se sustentando por conta própria. Quando recebe um convite para voltar à engenharia, Thackeray deve decidir se pretende continuar.

A canção tema, interpretada por Marie McDonald McLaughlin Lawrie, mais conhecida como Lulu, fez tanto sucesso quanto o filme.

Poitier tem dirigido uma série de filmes populares e em 2002, 38 anos após ter recebido o prêmio de melhor ator foi escolhido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para receber um Oscar honorário em reconhecimento por seu trabalho notável como artista e como ser humano. Além de suas atividades nos palcos e no cinema, Poitier sempre marcou presença nos movimentos pela defesa dos direitos civis.

Foi nomeado Cavaleiro Comandante do Império Britânico em 1974, e em 12 de agosto de 2009 foi agraciado com a Medalha Presidencial da Liberdade , a mais alta honra civil nos Estados Unidos da América.

Sidney Poitier casou-se em 1950 com Juanita Hardy, de quem se divorciou em 1965. Em janeiro de 1976 voltou a se casar, desta vez com Joanna Shimkus, sua atua esposa. Tem seis filhas: quatro do primeiro casamento e duas do segundo.

verso lívido de Urgência

*NO QUINTAL DEPOIS QUE CHOVE*


Frutas maduras e vermelhas
Espalhadas pelo chão
Cacos de vidros e de telhas
Chumaços de algodão


Tem lagarta e labigó
Bicho-de-pé e frieira
Tem cansanção e cipó
Logo depois da aguaceira


(Climério Ferreira)

Fenomenologia da Obra Literária

Luiz Horácio

Fenomenologia da obra literária chega a sua quarta edição  com uma mudança de orientação. Onde antes tínhamos Roman Ingarden agora temos  Martin Heidegger. O livro é um clássico no que diz respeito à teoria literária. Nessa edição, a professora Maria Luiza Ramos apresenta a contribuição da filosofia, da fenomenologia para ser mais exato, aos estudos literários.


Acabo de alertar para a mudança de  rumo da versão atual, anteriormente guiada por Ingarden/Husserl, agora segundo a orientação de Heidegger, mas sob o mapa de Husserl.


Roman Ingarden em A obra de arte literária baseia seu estudo  acerca da análise da obra literária na fenomemologia de Husserl. Segundo essa fenomenologia tudo o que existe é reduzido a consciência pois esse é o único meio que nos permite  perceber e conhecer  o mundo. Desse modo, a consciência dá sentido a tudo o que existe.    No que diz respeito a análise literária olha-se exclusivamente para a obra, desconsidera-se  se tudo o mais;biografia do autor, aspectos psicológicos, subjetividade do leitor,etc… A análise se resume a estrutura do texto que é dividido em estratos; fônico,unidades de significação,objetividade, aspectos esquematizados. No entanto é impossível analisar esses aspectos individualmente sem prejuízo da unidade textual.


Heidegger,além de discípulo de  Husserl  era considerado por este como seu filho- substituto( perdera o filho mais moço na guerra em 1916)  trilhou caminho diferente. Imaginava uma fenomenologia que mostrasse o que se esconde. Heidegger entendia que fenomenologia não seria a construção do pensamento, e sim um trabalho de desconstrução de encobrimentos.

Maria Luiza segue a risca essa orientação e descobre, desvenda, obras representativas da literatra brasileira. Sim, apressado leitor, nada é definitivo, não implica você passar a ler, entender,interpretar conforme os ensinamentos da professora.

Se, grosso modo,  fenomenologia é consciência e segundo Heidegger   a fenomenologia deve mostrar o que está escondido, o resultado fiel é  este Fenomenologia da obra literária.
Maria Luiza consegue descobrir e mostrar aquilo que se esconde inclusive nos poemas de Haroldo de Campos e Décio Pignatari.
Mas não se resume a análise dos poemas da dupla, sempre levando em consideração o contexto histórico, o que não se percebe na fenomenologia de Ingarden. Maria Luiza traz Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e, você já deve ter percebido, embora priorize a poesia o espaço concedido a análise de obras de Machado de Assis e Guimarães Rosa vale o livro. Sobre Machado, breve exemplo:

Quando dizemos, porém, Capitu, não podemos atribuir a  esse obje to uma caracterização existencial, mas tão somente uma posição existencial. No entanto, é claro que podemos dizer Capitu referindo-nos expressamente à personagem de Machado, e neste caso o nome vai adquirir caracterização existencial através da obra do escritor.”

Sobre Guimarães Rosa.Peço sua atenção às próximas linhas, as citadas pela professora, bien sûr.

Ao se referir ao grupo semântico onde o surpreendente  é lugar comum. “No conto “Famigerado” sucede um fato “insolitissimo””:
Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça?
Pergunta semelhante se encontra no conto seguinte: E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo? Em “O espelho”o Narrador se reporta ao  transcendente:
Tudo, aliás, é a ponta de um mistério.
Por vezes, diz o Narrador: ninguém entende ninguém; e ninguém entenderá nada, jamais; esta é a pratica verdade.
E o ponto culminante dessa situação está no conto “A terceira margem do rio”. Quem não se lembra daquele Pai que se mete numa canoa ao sabor das águas para não ir a lugar nenhum? O Filho, que é também o Narrador da estória, não se afasta da margem, clamando pela sua volta, perplexo: “Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais.”

Para o senso comum o comportamento do pai é não senso, tanto assim que, em todas as bocas, diz o Narrador, havia o medo de se pronunciar a palavra doido: Ninguém é doido.Ou, então, todos.”

Caro leitor, se a princípio o termo fenomenologia causa estranheza não permita que também seja o causador de seu desânimo. A curiosidade não nos distingue da maioria dos animais, mas é capaz de nos proporcionar inesquecíveis sensações.Permita-se a curiosidade e leia esse magnífico trabalho de Maria Luiza Ramos.



Bronca

Latuff

Bin Laden não morreu

Vídeo da Oficina de Arte e Felipe Junq, recuperando uma marchinha de carnaval que é muito boa...
(se o som estiver baixo, aumenta no som do vídeo)
E a gente termina esse Piauinauta sem nem falar na mãe. Ô povo desalmado, sô!



se o som estiver baixo, aumenta o volume do vídeo...