domingo, 8 de maio de 2011

Cinema: Ao Mestre, com carinho

Gervásio Castro


No dia 20 de fevereiro de 1927 o agricultor Reginald James Poitier, em companhia de sua esposa Evelyn, saiu de Cat Island, nas Bahamas, onde vivia, com destino à Flórida, para vender tomates e outros produtos de sua fazenda, como fazia habitualmente. Um parto prematuro tornou aquela viagem bem diferente das demais. Ainda em alto mar Mrs. Evelyn deu à luz um garoto. Apostando nas poucas chances que o bebê tinha de sobreviver, permaneceram por três meses em Miami, cuidando da  saúde daquele que viria a ser o primeiro negro a ganhar um Oscar de melhor ator.

 Sidney Poitier teve uma infância marcada pela pobreza. Aos 15 anos, foi enviado para Miami, para morar com seu irmão mais velho e evitar que acabasse trilhando o caminho da delinqüência. Nos states comeu o pão que o branco amassou, vítima do preconceito racial. Por outro lado, isso fez com que ele se entregasse à luta para criar oportunidades para os negros.

Aos 18 anos foi para Nova York, onde teve que viver de biscates e dormir em terminais rodoviários. Entrou para o Exército, mas não ficou muito tempo e passou a realizar trabalhos domésticos no Harlem. Sonhava ser ator e, depois de seis meses de batalha, conseguiu uma pequena ponta numa produção da Broadway, "Lysistrata". Sua atuação recebeu vários elogios da crítica especializada.

Em 1949 recusou o papel principal de uma peça teatral preferindo atuar como coadjuvante no filme "O Ódio é Cego", vivendo um médico que tratava de racistas brancos. Era o começo de sua longa carreira, mas apenas sete anos depois começou a receber convites para trabalhar em papeis principais. Em 1958 foi indicado para o premio de melhor ator, mas foi em 1963 que faturou a famosa estatueta, por sua atuação em "Lírios do Campo”.

Em 1966 estrelou “Ao Mestre, com Carinho”, um filme britânico que narra as desventuras de um jovem professor tendo que enfrentar alunos indisciplinados, neste filme que refletiu alguns dos problemas e medos dos adolescentes dos anos 60.

Poitier interpreta Mark Thackeray que aceita lecionar na tal escola, já que estava tentando emprego de engenheiro há oito meses, sem consegui-lo. Embora isso não seja colocado de maneira explícita, fica evidente que o fato dele ser negro é a razão desse insucesso. São feitas referências claras, durante o filme, sobre a questão racial na sociedade britânica.

Os encapetados alunos estão determinados a destruir o novo mestre, como fizeram com seu predecessor, mas Thackeray, acostumado à hostilidade, enfrenta o desafio tratando-os como jovens adultos que breve estarão se sustentando por conta própria. Quando recebe um convite para voltar à engenharia, Thackeray deve decidir se pretende continuar.

A canção tema, interpretada por Marie McDonald McLaughlin Lawrie, mais conhecida como Lulu, fez tanto sucesso quanto o filme.

Poitier tem dirigido uma série de filmes populares e em 2002, 38 anos após ter recebido o prêmio de melhor ator foi escolhido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para receber um Oscar honorário em reconhecimento por seu trabalho notável como artista e como ser humano. Além de suas atividades nos palcos e no cinema, Poitier sempre marcou presença nos movimentos pela defesa dos direitos civis.

Foi nomeado Cavaleiro Comandante do Império Britânico em 1974, e em 12 de agosto de 2009 foi agraciado com a Medalha Presidencial da Liberdade , a mais alta honra civil nos Estados Unidos da América.

Sidney Poitier casou-se em 1950 com Juanita Hardy, de quem se divorciou em 1965. Em janeiro de 1976 voltou a se casar, desta vez com Joanna Shimkus, sua atua esposa. Tem seis filhas: quatro do primeiro casamento e duas do segundo.

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