domingo, 19 de agosto de 2012

Nós, os mafrenses


Edmar Oliveira

Domingos Afonso Mafrense, o Domingos do Sertão, foi um dos pais da nação Piauí. O outro foi Domingos Jorge Velho, matador de índios e comedor de carne humana, hábito que aprendeu com os seus inimigos e o tinha para mostrar a valentia daquele branco embrenhado nas matas, já esquecido do português por falar um nheengatu, tronco linguístico entre caboclos e diversas tribos tupi-guarani.

Mas notem, se conhecemos nossos pais pelo nome, nossas mães foram todas as irmãs, primas e esposas do Mandu Ladino, herói indígena só agora redescoberto pelo belíssimo romance de Anfrísio Lobão Castelo Branco, filho dos Domingos, e que vai às telas do cinema num filme de Paulo Betti. 

Mafrense nos nomeia filhos da terra porque o português de Mafra fundou a fazenda Cabobró, depois vila do Mocha, atual Oeiras, a primeira capital do Estado. Ele foi o colonizador organizado que plantava fazendas com uma igreja, e sempre em torno da qual uma vila se formava dando origem as nossas cidades. Parnaguá, Jerumenha, Campo Maior (a Bitorocara dos Carvalho e Aguiar), São João da Parnaíba, Marvão (atual Castelo) e Valença assim começaram. 

Domingos do Sertão tinha, durante sua vida de colonizador e matador dos gentios, grilado grande quantidade de terras no nosso Estado. Conta Esmaragdo de Freitas, um dos nossos grandes contistas, que quando Mafrense morreu, sem deixar herdeiros, suas terras ficaram com os jesuítas em inominável episódio. 

Já muito doente e sob os cuidados de padres jesuítas, estes mandaram buscar um tabelião para que fizesse um testamento de herança. Quando o tabelião chegou encontrou o moribundo com a cabeça no colo de um dos padres. Perguntou se as terras ficariam para os jesuítas, já que não tinha herdeiros. A cabeça de Mafrense, no colo do padre, acenou afirmativamente. Espertamente o tabelião perguntou se uma fazenda do seu interesse ficaria para ele, tabelião. O moribundo não respondeu. O homem do cartório fez novamente a pergunta, enfatizando que era para saber se o moribundo já não estava morto, o que invalidaria a primeira afirmação que ele dizia não ter percebido muito bem. Desta vez o moribundo respondeu afirmativamente e o tabelião ficou com sua fazenda, fazendo a passagem das demais aos padres jesuítas. Ele tinha percebido que Mafrense já estava morto e o padre que lhe segurava a cabeça no colo fazia um sim manipulando a cabeça do morto.

Foi assim que tiramos de um de nossos pais a nossa aldeia, e agradecidos nos denominamos mafrenses por ele ter concordado conosco, mesmo depois de morto. Éramos ladinos, antes mesmo do Mandu.

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Lázaro José de Paula

MEIA  DÚZIA  TRES  VEZES
É  UM   NUMERO  BESTA
MAS,  TORNADO  TURBILHÃO
VIRA  TUDO VIRAMUNDO   VAGALHÃO 
 MEIA     DUZIA   TRES   VEZES
VOCE   ME FEZ  PROVAR  DESSE  FRUTO  VERMELHO
TÔ  TURBINADO POR  UMA  DOR  TEMPORà 
CORAÇÃO  DE LÃ
NUM  LABIRINTO VORAZ
NEM  QUE EU  TIRE  UM  DA MANGA  UM  ÁS
MEU  IRMÃO,  MINHA  IRMÃ
NÃO  ME  RECONHECERIAM
NEM  SE  EU  CANTAR  " LUAR   DO SERTÃO "
NEM SE EU  JURAR  SEU SANTO  NOME  EM  VÃO
MAS      QUE   ME  INTERESSA  A  MODIFICAÇÃO
SE  EU  PUDER  ENCARNAR TUA PELE 
AQUECER    TEU  CORAÇÃO
VESTINDO  EU  & TU  O  TEU  BLUSÃO

Influência da economia grega


Geraldo Borges

Não há duvida, herdamos dos gregos todo um legado cultural, que, até hoje, predomina em nossa civilização ocidental: na arte, na literatura, na filosofia, na matemática, quem não conhece a Venus de Milo que mesmo não tendo os seus braços, que foram perdidos, é uma das obras de arte de escultura mais conhecia do planeta, com cópias no mundo inteiro? E quem não conhece Ulisses de Homero, e todo um repertório de tragédias gregas, e sua mitologia? E quem não conhece a Republica de Platão, Sócrates, Aristóteles? Quem não conheça o Teorema de Pitagoras, o Eureka de Arquimedes?

            Claro que não tudo é grego, na história do Ocidente. Os romanos também estão metidos nisso, se converteram ao Cristianismo, fundaram a Igreja Católica Apostólica Romana, e, tentaram conquistar o mundo, com a bíblia e a cruz na mão. Fizeram o possível. As línguas neolatinas estão aí para dar testemunha disso. Claro, também, que os judeus estão metidos nesta história, desde o Velho Testamento.

            Mas estou falando na influencia grega porque os economistas estão dizendo que o problema financeiro da Grécia, que é um problema também da União Européia está  preocupando o Brasil, Quer dizer, a mal gestão da economia na Grécia, a falta de entendimento entre os políticos está repercutindo negativamente no mercado brasileiro, o dólar começou a subir. Bem. Olha aí, os gregos influenciando também em nossa economia. Pois é. A palavra economia vem do grego. Quer dizer, administração da casa. O que não está acontecendo na Grécia. Muito menos no Brasil, embora os políticos queiram tapar o sol com a peneira, a custa de muita propaganda ufanista. Li em algum lugar, em - Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister, romance alemão, de Goethe - ,  que ser rico é saber administrar os  seus recursos, o Brasil não está sabendo fazer isto. A Alemanha sabe. Pobre Brasil transfere as suas culpas para o bode expiatório da Grécia, a grande civilização criadora da tragédia.

            A loucura que o Brasil tem pelos esportes pode ser também outra grande influencia grega. Só que nos tempos das Olimpíadas Gregas havia uma trégua durantes as guerras, um período de paz, enquanto os atletas de entretinham  nos jogos. Hoje, as guerras modernas não dão trégua  ao chamado jogo econômico. Este sim, estão influenciando tudo. E os deuses lá do Olimpo, estão rindo, e lançando enigmas: decifra-me ou devoro-te.  

           

Cantiga do sem-fim

Keula Araujo

São as filhas dormindo
sozinhas,
na minha solidão-relento,
sem casinha de sonho-sonhado.

Uma cama-largueza
Encosto-tristeza molhado.

É um tempo que trava,
gelado,
um jeito desarrumado
do peito respirar.

É um nó-cego apertado,
um lampejo-ciúme, um pecado.
Um amor cru, mal-passado
Que não foi, nunca será.
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a poeta voltou com um recado:
"Meu querido Edmar,
que estava me fazendo muita falta, é desnecessário dizer. Mas acredito que a poesia tem seu tempo e sua hora.
A seca durou, mas está decretado inverno em meu coração! (sendo eu nordestina, fica claro que isso é sinal de fartura).
Claro: você sempre estará entre os primeiros a quem mandarei novos poemas".


E o Piauinauta, orgulhoso, publica um inédito de Keula.

klöZ por 1000TON


O garoto-toco: digressões sobre felicidade e miséria

Leo Almeida

Recebi de uma grande amiga uma mensagem que dizia: Ele começa o dia com um sorriso. E você? A mensagem trazia uma sequência de fotos com um lindo garoto branco, num local limpíssimo, e sorriso também branco estampado na cara bem alimentada. O Detalhe trágico da foto era que lhe faltavam as pernas. O menino caucasiano de sorriso meigo aparecia exibindo suas próteses e se divertindo, dentro de sua limitação, com esportes telúricos e aquáticos. Ora, é evidente que essa minha amiga queria me dizer algo como: Não seja mal-humorado, pois você tem tudo e alguns que não têm nada são tão mais receptivos. OU, pior ainda, talvez quisesse me dizer: Não reclame da vida, tem gente em muito pior estado do que o seu.
E aí me vêm duas perguntinhas cabais: Que estado é o meu? O que ando fazendo para merecer a culpa de não querer começar o dia sorrindo?
Peguei-me a pensar nisso e cheguei a algumas crenças fundamentais que vão pautar a minha vida:
1.       1. Eu não sou obrigado a ser feliz. Não sou obrigado a procurar a felicidade. Não sou obrigado a ser sempre meigo e doce com quem quer que seja. Felicidade é invenção da literatura burguesa. Além do amor, os escritores e artistas burgueses, especialmente os românticos, inventaram esse negócio de ser feliz e sorrir toda manhã. Schopenhauer, e muito antes dele Sidharta e todos os budistas, já tinha desconfiado de que essa tentativa esquisita de ser feliz a qualquer preço é o princípio trágico da infelicidade. Ora, se gasto meu tempo tentando ser feliz e – cá pra nós – são raros os momentos de felicidade, é óbvio que na maior parte do tempo estarei frustrado e... triste. Portanto, não me submeto a ser feliz para agradar ninguém.
2.       2. Porque o fato de um pobre sem pernas sorrir pelas manhãs deve servir de paradigma para toda a raça humana e fonte de obrigação? Ora, se o garoto-toco sorri nas fotos ( que nem sei se realmente é sintoma de felicidade) é porque ele tem seus motivos que não são os meus. Se a nova prótese lhe causa menos dor, isso é sim um motivo para que ele sorria, né mesmo? O fato de ser um garoto-toco, por outro lado, não é condição primeira para ser triste. Claro que não. Ser triste também não é obrigação de ninguém.
3.       3. Mensagens desse tipo sempre trazem como princípio lógico – ou que se quer lógica – o fato de que a miséria do mundo é sempre maior do que a minha e, portanto, eu devo agradecer aos céus por ser menos miserável. Ora, que desgraceira é essa? Se milhões morrem na Etiópia eu devo ficar feliz por ter comida em minha mesa? Se o garoto-toco é um toquinho caucasiano, eu devo regozijar-me por ter, intactos, meus cambitos? Claro que não, lamento muito a ausência de pernas nos homens-toco do mundo. A miséria de qualquer um no mundo me diminui. Sei que não resolverei nunca os problemas do mundo, até porque a única coisa de que disponho é a minha literatura pobre, tosca, mas nem isso me dá o direito de achar que estou confortável porque tenho pernas e comidas, coisas que outros não têm.E quero deixar registrado que ninguem no mundo sabe a incompletude dos seus semelhantes. Somos todos, mesmo que organicamente íntegros, homens-tocos sobre a terra.
4.       4. Ser feliz é, ainda, uma invenção do diabo para nos provocar a gula, a ambição, a guerra. Ser triste, por sua vez, é coisa de um Deus que nos quer temerosos do fim do mundo e passemos a encher igrejas para garantirmos a felicidade...no céu. Nao quero ofender a crença de ninguem, meus amigos, apenas quero pacificamente expor minha descrença. NO fundo, lá no fundinho, eu bem que gostaria de crer como vocês crêem, pois assim a vida seria muito mais suportável. Mas, como Drummond, creio que nasci gauche. Talvez mais gauche que qualquer gauche, do avesso.
5.       5. Na paz!
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         desenho: Boris, o homem-tronco de Jaguar, que saía no Pasquim 

Poemínimo


BELEZA É ISSO

Calma de um lago sereno
Luar ameno
O calor de um lar pequeno


(Climério Ferreira)
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Climério inícia outra séria, que o Piauinauta honradamente acompanha (algumas, o homem escreve mais do que se edita Piauinauta).

DIL-MÁ por Gervásio Castro


Talvez fosse melhor recorrer a palmatória... (Gervásio Castro)

TERESINA EM CHAMAS


Afonso Lima prestigia o leitor com o poema trágico de um crime impune

Menezes y Morais *

Cerca de sessenta e oito anos depois de ocorridos, os crimes que transformaram Teresina (PI) numa capital em chamas, na década de 1940, continuam impunes. Não é por falta de literatura sobre os atos criminosos, mas sim pela omissão do Estado. A esta literatura, soma-se o poema épico A Cidade em Chamas – Poema trágico de um crime impune (2010), do poeta, ator, músico, diretor, dramaturgo, escritor e advogado Afonso Lima.
Teresina foi fundada em 1852 pelo Conselheiro Saraiva, quando transferiu (de Oeiras) a Capital do Estado. Localizada entre os rios Poti e Parnaíba, planejada, antropônimo inventado (fusão de Teresa Cristina, nome da mulher do Imperador D. Pedro I, Conselheiro Saraiva fez isso para puxar o saco).

Apelidos
Teresina ganhou posteriormente os apelidos de “Chapada do Corisco” – devido a grande incidência de raios – e de “Cidade Verde”, este último pelo escritor Coelho Neto, e com certeza ameaçado pelo desmatamento sistemático imposto pelo progresso. Ao contrário da coriscada, que continua caindo. Outro dia mesmo vi um documentário na TV do sul sobre o fenômeno, comum em Teresina e São Paulo.
Quanto aos incêndios criminosos, na década de 1940 – o Mundo vivia a II Guerra Mundial e o Brasil a ditadura do Estado Novo (1937-45) – Teresina foi vítima de uma onda de incêndios criminosos, “com as características de mistério e devastação,” conforme testemunhos contemporâneos, entre eles o deputado José Cândido Ferraz, que denunciou os crimes ao Brasil, em discurso de 1946.

Crime de Estado
Os incêndios aconteciam há pelos menos desde 44. Há quem diga 42. Consenso, os crimes duraram até 46. Em 45, Humberto Teles afirmou:
“Vitor do Espírito Santo acusa o Sr. Interventor (Leônidas Melo) por tudo. (...) Será isto uma campanha de extermínio às palhoças que enfeiam a cidade, ou alguma campanha contra o mocambo? Nem assim estão com a razão as autoridades, pois se na verdade querem elas uma Teresina bonita, que a transformem segundo os métodos do urbanismo, contanto que não destruam o que o povo com sacrifício constrói”.
Vitor do Espírito Santo estava certo, sua denúncia não foi em vão. As autoridades – não resta dúvida, depois de tanta literatura sobre o tema – continuaram patrocinando os incêndios das residências populares, para impedir o povo de habitar nas chamadas zonas nobres da cidade. De um lado, os sem-teto erguiam suas casas de palha, em busca da dignidade; do outro, os abastados, que, não vendo os casebres no centro da cidade com bons olhos, mandavam incendiar.

“Vítimas da gestapo”
Assim, numa luta desigual, fosse à noite ou sob a luz do sol, as choupanas ardiam em chamas. Um texto datado de 31 de julho de 1946, publicado no Jornal do “O Piauí”. Informa: “Na tarde do domingo último, a zona beira-rio denominada Palha de Arroz foi o ponto visado pelos criminosos. Mais de cem pessoas ficaram sem teto, muitas das quais no mais absoluto desamparo. (...)... a polícia não consentia que os objetos e mercadorias (do interior das choupas) fossem removidos para a rua ou outros locais”. Este incêndio durou cinco dias, monitorado pela PM.
Ora, se a PM não permitia que as vítimas retirassem seus utensílios dos casebres em chamas, é porque tinha ordens superiores. Afinal, o papel da PM não é defender a vida da sociedade? É a sociedade quem paga o salário da PM. Em agosto de 46 o jornal “O Piauí” informava: as investigações prosseguem para identificar os criminosos: “as vítimas da gestapo evilasianas foram novamente presas. (...) Como se explica que a zona denominada Palha de Arroz tivesse sido queimada cinco dias consecutivos quando desde o primeiro se achava interditada e vigiada pela polícia?”

Sensibilidade estética
A Cidade em Chamas trata desse crime histórico. É um poema épico dividido em 10 movimentos, nos quais poesia e história se fundem em valor estético, se intercruzam, configurando o painel da agonia popular, retrato da tragédia social. É claro que o Estado brasileiro estava envolvido com os crimes, vários de seus dirigentes – interventores da ditadura do Estado Novo – são citados pelo povo.

O que Afonso Lima fez foi debruçar-se sobre os fatos históricos, fundindo pesquisa e sensibilidade estética, na construção de um poema épico, com personagens reais, oriundos do povo (os “filhos de ninguém”) e da elite dirigente. As vítimas não podiam denunciar. Quem ousava era preso “sem mandados sem flagrantes (...). O crime é político com hora marcada”, diz Afonso Lima. As vítimas, aliás, eram inclusive proibidas de pronunciar a palavra incêndio.

Comissão da Verdade?
Hoje, cerca de sessenta e oito anos depois, as vítimas dos incêndios nem seus descentes foram indenizados, sequer receberam um pedido de desculpas do Estado, pela atitude criminosa dos seus então dirigentes. Não seria de bom tom provocar a Comissão da Verdade?
Afonso Lima filia-se aos escritores, pesquisadores, historiadores, poetas que se empenharam em passar essa história a limpo, a exemplo de H. Dobal, Victor Gonçalves Neto, Fontes Ibiapina, Francisco Alcides do Nascimento.

Poema histórico
Com A Cidade em Chamas, Afonso Lima também resgata a tradição do poema histórico, iniciada pelo poeta e tradutor latino Nevio (fl.c.235 – 204 a. C), com Guerra Púnicas. No Brasil, podemos incluir nessa linhagem Navio Negreiros, de Castro Alves, certamente tão caro à textura de A Cidade em Chamas.
O poema épico de AL foi composto e publicado na “musa tórrida advir”. O livro tem apresentação do professor e documentarista João de Lima e prefácio de Ací Campelo, dramaturgo e escritor.

Paulo Moura
A Cidade em Chamas agrega ainda a arte de Paulo Moura, autor do projeto gráfico e ilustrações, que dão mais poesia visual e plasticidade ao livro.
Pelo que representa, pelo fôlego poético, pela linguagem dosada entre poesia e prosa, com A Cidade em Chamas Afonso Lima lega à Literatura brasileira uma obra de rara beleza dramática e estética.
        
Serviço
Contato com Afonso Lima: zafonsolima@hotmail.com
*Menezes y Morais, poeta, escritor, jornalista, professor e historiador. Autor, entre outros, do romance A Íris do Olho da Noite (Thesaurus, 2011). www.thesaurus.com.br

Hino de Teresina

Como nesta semana (16, quinta feira) Teresina completou 160 anos. Em homenagem, o hino, composição de Cinéas e Erisvaldo:


domingo, 5 de agosto de 2012

Arrocha, Sarah!


Edmar Oliveira

Esmirradinha, magrelinha como baby no coração do Brasil da música do Melodia. Metro e meio de altura em quarenta e oito quilos. Peso de um bode, diria meu avô, especialista no sacrifício da criação e magarefe do mercado de Palmeirais.

Sarah Menezes saiu do Piauí para ganhar uma medalha de ouro em Londres, segunda medalha feminina para o Brasil na história das Olimpíadas. Primeira feminina do Judô. Não é pouca coisa para nosso ufanismo e deve aumentar a autoestima de um povo rejeitado em seu próprio país. A nossa bandeira de couro de bode tremula no pavilhão da glória. Sarah, cara de palestina com nome de judia é filha do sol do equador. Ela desceu da nave mãe pousando no planeta terra mostrando que os filhos do sertão também têm lugar nessa corrida de visibilidade no mundo da globalização.

E ela não precisou sair do Piauí para chegar aonde chegou. O seu treinador, Expedito Falcão, compôs a equipe de treinadores da COB. A bichinha mora na Piçarra o seu tatame é ali por perto. Prometeu a família e conciliou o esporte com os estudos. Termina agora a faculdade de educação física. E foi no calor de Teresina que aprendeu os golpes de entortar os japoneses. Depois que ganhou o ouro declarou que vai se dedicar a formar novos atletas, entre meninos pobres, no seu espaço em Teresina, o que merece ser destacado tanto quanto a medalha ganhada.

Já tinha nome na praça, por esforço e persistência. Apesar de eliminada nas Olimpíadas do Japão, foi bicampeã de Juniores (2008, Amsterdã; 2009, Paris), no Campeonato Mundial de Judô teve bronze em 2010 (Tókio) e prata em 2011 (Paris). Mas a glória maior aconteceu em Londres.


Imagino uma transmissão da luta na qual ganhou a medalha, derrotando a romena Alina Dimitru, no idioma piauiês:

“Sarah avança, parece um frango querendo ser galo. Uma rudopia em vorta da outra. A miúda empurra a gringa não querendo intimidade, nem mais-mais-mais. Ataca a lourona, que ficou meio desprevenida. Dá uma imprensada “decumforça” no braço da fogoió, que a loura réia quaje desiste. Mas não. Parece que era fuleragem da oxigenada. Volta pra luta. Sarah tá doida pra sapecar um bufete na fuça da curica, mas se contém pra num ser desclassificada. Fica ar duas estudando umas zazoutra. A esmirradinha vai pra cima da loura giganta. Arruma outra chave de braço na fogoió que sentiu o braço réi já estrumbicado. Sarah sapeca um contrapedá. A loura disguia e nossa atleta cai no chão. Mesmo caída, a esmirrada joga as pernas no rumo das cadeiras da lourona e atraca com os cambitos o mucumbu da fogoió. Que qui tu acha Zezim? ‘Isso é só fogoió de água doce, dá um peido, se acabou-se’ – Brigago Zezim, pelos comentários. Sarah continua arrochando. Arrocha e a  loura parece sentir a passarinha.Sentiu a passarinha! Vai se arriando que nem gai réi pôde. A piá acocha uma chave de perna na cunhã, que vem de riba pra baixo encostando o cucuruto no chão.  A fogoió estibucha, faz munganga, mas o nó de pernas da piçarrenta é pra botar a gata pra miá. A foigoió tá pedindo penico. Sarah sem dó nem piedade acocha o buriti. Mesmo de cabeça pra baixo a baixinha aperta mais o mói de vara. A fogoió já tá esverdeada e azeda réia. Nem se bule mais. Arrocha, Sarah! Segura a cunhã! Gãiemos! Gãiemos! Sarah de ouro nos estrangeiros!  O mundo todo de ‘juei’ respeita nóis! O mundo todo se ajueia! O mundo todim: Oropa, França e Bahia!” 

Mas isso é quando não havia ainda a globalização e nós falávamos esta língua. Agora tá tudo globalizado e igualizado. Mas lá no fundo a “rente” ainda grita: Arrocha, Sarah!

    

PASSARIM


Lázaro José de Paula


SENDO    PASSARO,  NAVEGO  ,   NATURALMENTE,   SOBRE  A   LINHA  DO  HORIZONTE
DEIXEI   , POR  UM  TRIZ,  NUM  GESTO  DE  PRAZER,  PARA  TRAS  O NINHO
DO   ONTEM,  DO  AGORA,  DO   AMANHà
CO M   UM   VOO  CEGO  DESCREVI   MEU   MENU   DO  PROPRIO   DESTINO
AFAGANDO   A  PÉTALA    AZUL   DA    FLOR  MAIS    PERFUMADA
ENCARNANDO    A  PARTE  ACIMA     DOS  OCEANOS  
A  ESPUMA    BRANCA    DOS   MARES 
E  CANTO  ( E )TERNAMENTE   A  CANÇÃO
QUE    ME  FAZ  HABITUÉ  DA  AURORA  BOREAL
QUE  CONTEM  MILHÕES   DE    PISCAR   DE   RETINAS
ATÉ     DEIXAR   O  TEMPO 

P  A  S  S  A  R  A  I  O    DE   SOL 
P  A  S  S  A  R  E D O    DE  SUL
P  A  S  S  A  R O     DE    SAL 
P  A  S  S  A  R  I  M     DO    CEU       

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montagem do Piauinauta em foto de Isabel Esteves, Cascais, Portugal. Enviada por Paulo José                             

Onte está o retrato de Anísio Brito

                                                                                 
Geraldo Borges

            Tiraram o retrato de Anisio Brito da parede frente à escada que conduz ao primeiro andar do Arquivo Publico. Quem teve essa iniciativa e por quê? Desde menino visito e conheço a Casa Anisio Brito, também chamada de Arquivo Público. E ao subir para o primeiro andar, local onde ficava o Museu Histórico, logo ao passar alguns lances de escada deparava-me com a figura sorridente pendurada na parede dentro de uma moldura primorosa e bordada.
            Quem é o autor do quadro a óleo eu não sei. Nem sei também quem foi a criatura de Deus com espírito de porco,  que teve a coragem ou desfaçatez de destituir o ilustre cidadão Anisio Brito de seu pedestal. Tirá-lo de sua própria casa, quando ele já era uma marca registrada, um selo de identificação. Uma referência histórica.
O seu lugar, ali, em frente da escada, foi conquistado. Confesso que ao visitar o Arquivo Público tomei um susto, quase cai da escada, quando dei pela ausência da figura de Anisio Brito. Não posso  me esquecer  de Anisio Brito. Só o conheci de retrato. Bendito e ditoso  retrato ao pé da escada. Mas ouvi muitas vezes minha mãe, nascida em 1910, falar nele. Disse-me que ele foi seu professor, que era o homem inteligente, educado e muito bonito.
            Que mal o seu retrato estava fazendo pendurado na parede? Com certeza não incomodava ninguém. Ou a casa foi tomada por novos donos? Terão tirado para fazer uma limpeza? Boa pergunta. Nesse caso vai voltar. É só esperarmos. Que eu saiba não tinha inimigos. Era mais um intelectual do que um político. Terão mandado para o Museu Histórico? É bem possível. Não averiguei. Para algum sótão ou porão de velharias é que não foi. Nem pensar. Se bem que nesse país onde se queimam documentos, e não se tem nenhum respeito para com a história, tudo é possível.
            Agora, eu pergunto. Para onde levaram Anisio Brito? Algum hospede da Casa cismou com a cara dele?  O meu voto é que ele volte para o lugar onde sempre esteve. Caso ele fosse um político que estivesse caído do poder. Tudo bem. Havia explicação. Tirasse o retrato do velho, botasse o retrato do velho, como se dizia com o Getulio. Mas, torno a repetir, Anisio Brito era apenas um intelectual, incentivador da cultura piauiense. O seu retrato faz parte da decoração da Casa. Por que a pessoa responsável pela ausência do retrato de Anisio Brito não repõe o quadro na parede? Ou quem sabe essa tal pessoa ainda não se deu conta de que o retrato sumiu. Ou, eu estou delirando, e, por isso inventei esta crônica que não passa de pura ficção? Mesmo assim me arisco a perguntar: onde andará o retrato de Anisio Brito? O que diz sobre isso o Conselho de Cultura Piauiense? Simbolicamente era Anisio Brito, com o seu retrato,  na parede, à frente  da escada, quem recebia os estudantes e pesquisadores para a grande farra do conhecimento. Sinceramente o Arquivo Público ficou mais pobre sem o retrato de Anisio Brito. É como se recuasse alguns degraus escada abaixo.

                                                                                         

klöZ por 1000TON

Atirador de Facas


Arrancar as vendas
e acompanhar,
de olhos abertos,
a trajetória do punhal,
cravado em nosso corpo,

em nosso peito,
a cada amor desfeito


(Leila Miccolis)
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 Recebido de Cinéas: nada mais estimulante para iniciar a semana que um poema visceral de Leila Miccolis. Uma semana luminosa para todos.

Eleições em Parnaíba


Essa é daquelas histórias que passa de boca em boca, na modernidade melhor seria dizer de computador em computador, até ser encaminhada aqui pro Piauinauta. 

Quem nos mandou foi Etim, que recebeu do Frazão, que recebeu de quem já não posso alcançar para registrar os créditos. 

Mão Santa, nosso folclórico ex-Governador e ex-Senador, agora quer voltar à política lá pelo começo, na sua cidade Parnaíba. Há uma acirrada campanha com o prefeito Zé Hamilton, que tenta uma reeleição. Mão Santa persegue Hamilton nas valas negras da periferia, como se todo candidato já não tivesse pisado naquele lamaçal em tempo de eleição. 

Num encontro de cabos eleitorais de partidos opostos, um mãosantista virou-se para um cabo eleitoral do prefeito e provocou: 

- Esse teu prefeito gosta muito é de beber cachaça! 

No que o halmitista militante fez a sincera defesa do seu candidato: 

-        Gosta mesmo e quê que tem? Eu te asseguro que no dia que a cachaça atrapalhar a administração ele deixa a...  prefeitura! 

Simples, assim!

(Edmar)

LUX


Sem dispêndio de energia,
enquanto as luzes se apagam,
flores iluminam o dia.

(Cinéas Santos)
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foto: Edivaldo Nunes

Bar de Frente para o Futuro

Em Messejana, Ceará, tem um bar com esse nome.
O que está na frete é essa paissagem:

justificado

Versos Íntimos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

(Augusto dos Anjos)
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Desenho : Netto de Deus

Roque Moreira



Uma banda de meninos que homenageia o velho locutor de Teresina Roque Moreira, de "Seu Gosto na Berlinda". Alguem se lembra aí?