domingo, 13 de dezembro de 2015

Mensagem de Natal

(Edmar Oliveira)

Natal: haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios, (…) mas é tudo falso. O mundo continua em guerra, fazendo guerras, não compreendeu o caminho da paz”. (Papa Francisco)

Até o papa não acredita mais no Natal. Um tempo de falsidades, hipocrisia, presentes e fingimento de bondade. Se aquele, em que no Natal comemora-se o nascimento, existiu de fato e morreu para salvar a humanidade, parece que cometeu um sacrifício em vão. Ou o pai não ouviu suas preces, ou se ouviu fez ouvido de mercador e abandonou a humanidade a sua própria sorte. Como não creio em castigos divinos, como o dilúvio, a humanidade só será detida, na sua incansável marcha de maldades, por um meteoro – tal qual aquele que extinguiu os dinossauros.

O quê se pode comemorar num dezembro aqui perto de nós? O mês nem bem tinha começado e uma chacina cometida por terroristas fardados, a soldo do Estado,  interrompeu o sonho de cinco jovens da periferia que comemoravam o primeiro salário por um deles. Mais de cem tiros perfuraram o carro onde estavam os cinco jovens. Um Natal de dor para estas famílias tira o gosto das festas e os votos de felicidade. A polícia de São Paulo espanca jovens alunos que não querem suas escolas fechadas. Não será um Natal de paz e harmonia que estes jovens comemorarão neste dezembro. Um mar de lama se arrasta por esse dezembro no pior desastre ambiental que se tem notícia. Pessoas soterradas estão desaparecidas. Novecentos campos de futebol foram devastados na flora e na fauna. Um rio foi envenenado com lama tóxica. A vida no rio morreu. A água não serve para uso. A lama chegou ao mar e destruiu o litoral e a vida marinha em mais de uma dezena de quilômetros. A contaminação continua. O Natal foi envenenado. E a Saúde Mental pode ser encarcerada nos manicômios por uma insanidade do Ministro da Saúde. O Natal enlouqueceu.

Os nossos corruptos saíram das sombras e não se envergonham dos desvios de dinheiro público. Um crime de lesa pátria porque rouba recursos que podiam salvar vidas e desmerecer o irônico lema de “pátria educadora”. Um pulha, cínico, mentiroso, canalha, flagrado com cinco milhões de dinheiro público desviado em contas na Suíça preside a Câmara dos Deputados federais e ainda teve a ousadia de pedir o impedimento de uma presidenta legitimamente eleita. Uma presidenta que se abaixa, mostra os fundos, dá os anéis e os dedos para não enfrentar os canalhas. O que o Papai Noel reserva para Cunha e Dilma neste Natal? E ainda tem os que vibram com o risco que corre a nossa frágil democracia. Não se pode impedir um governo legítimo porque não se gosta, porque ela é incompetente, porque ela é burra, porque ela não tem traquejo político. Já vivemos governos piores e o nosso “fora presidente da vez” foi inconsequente. Contribuímos para tirar um ladrão, corrupto, inepto, salafrário. Mas assim mesmo ele voltou cometendo os mesmos crimes e abraçados aos poderosos de ontem, de hoje. Ganhou três carrinhos de marca em cada Natal. Mudou o Natal ou mudei eu?

Sei que estou pessimista e amargo nessa época de congratulações, harmonia, festas e votos de felicidades. Mas estou infeliz com os votos que elegeram o pior Congresso que se tem notícia. As leis retroagem. A maioridade penal cai para permitir a mortalidade de crianças por armas de fogo da polícia. Eles propõem que a noção de família seja bíblica e que as mulheres não decidam sobre seu corpo. Fazem da legislação para drogas a mais absurda e descompassada neste mundo moderno. Destroem a legislação do desarmamento. O agronegócio destrói a floresta e o cerrado. Bancadas da bala, do boi, da bíblia dominam o Congresso e fazem um estrago no avanço das leis, envergonhando a Constituição Cidadã de 88. A polícia militarizada serve de cão de guarda das elites, espancando e matando os pretos e pobres da periferia. O maior desastre ambiental do país fica sem punição, pois as mineradoras financiam a campanha política de quem deveria fiscalizá-las.

E você aí na mesa vai comer o seu peru sem culpa neste Natal? Pois eu, mesmo sendo ateu, ficarei com as preocupações do Papa Francisco: “Existem hoje guerras em toda a parte e ódio. (…) E o que resta? Ruínas, milhares de crianças sem educação, tantos mortos inocentes. E tanto dinheiro nos bolsos dos traficantes de armas (...) Estamos perto do Natal: haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios, (…) mas é tudo falso”.

Mudou o Natal ou mudou o Papa?



  


Ar podre por Dino Alves


Gervásio piscicultor:

A Traíra é um peixe carnívoro que costuma dar mordidas muito dolorosas e que sangram abundantemente. Tem marcada predileção por sombras e escuridão. Territorialista e canibal, possui dentes afiadíssimos e todo o cuidado é pouco no seu manuseio, pois além de tudo é extremamente liso e escorregadio. (Gervásio)






PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES (letra e música, por favor!)

(Edmar Oliveira)

Nise rompeu com a ditadura Vargas na espetacular libertação do inconsciente com seu trabalho com a loucura. Antes do golpe de 64, os loucos foram silenciados nos hospícios, antecipando o tempo ruim, e assim permanecendo nos longos anos de chumbo pelo sufocamento das liberdades. Quando a ditadura ainda agonizava e o país tentava voltar à normalidade democrática ouviu-se o brado “por uma sociedade sem manicômios”, que antecipava a Reforma Psiquiátrica. E novamente a liberdade do inconsciente ajudou na reconstrução do retorno da democracia. Entretanto, ela própria, a libertação do inconsciente pela Reforma Psiquiátrica, necessita da atmosfera democrática para florir. A ameaça atual à democracia trama, antecipadamente, o encarceramento da loucura outra vez.

No mundo nunca se chega à perfeição. Mesmo com espinhos entre as rosas ou a tiririca que teima em nascer no jardim, a construção da Reforma Psiquiátrica acontecia. Alguns manicômios ainda teimam em existir. Tentávamos aprofundar as práticas em saúde mental com a participação da sociedade, familiares e pacientes. Tratar com liberdade necessita de compromissos democráticos. Antevíamos um longo percurso para o jardim ficar mais bonito ainda que o temporal se aproximasse com nuvens negras no céu. O nosso otimismo não queria perceber que o ar democrático já estava rarefeito.

Não vou falar da Reforma Psiquiátrica, do duro golpe no anúncio da nomeação de um coordenador francamente contrário a estas práticas, do retrocesso no nosso campo que daí advém, embora apoie com intensidade juvenil os movimentos que estão se organizando para a resistência. E, já velho, choro pela perda, que será incomensurável.

Mas aqui quero olhar o contexto. Olhar a floresta, não o nosso jardim. O nosso amado jardim será pisoteado e talvez destruído, antes de renascer outra vez. Mas a floresta toda está ameaçada pelo o temporal com fortes ventos que já começam a soprar. O ar da democracia está ficando rarefeito. A floresta não respira, o nosso jardim murcha.

A direita arquiteta um golpe na democracia. Dilma entrega os anéis, os dedos, o corpo e o golpe não para. O antigo governo já não possui nem a alma. O golpe marcha célere. O ministro da saúde declara apoio à frágil presidenta, enquanto destrói o nosso jardim. Pisoteia apoiando Dilma. Simples assim. Adianta se queixar pra ela?


Temos que ir pra rua defender a democracia e tentar impedir o golpe. Só assim o temporal passa. E a loucura pode voltar a florescer no jardim e não tornar a ser encarcerada no manicômio. Para cultivar flores é preciso lutar e cantar. Esperar não é saber. Temos que fazer a hora. Para alguns velhos, de novo. 


No caminho com Maiakóvski



"[...]
Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

[...]"




Máximo: Temer Bento Carneiro, o vampiro brasileiro







NAURO MACHADO



Barbudo
De bar em bar
O poeta cambaleia
De copo na mão
Pelas ladeiras
Das ruas de São Luis
Do maranhão e nos diz
Um dia  serei plantado
Na Praça do Panteão
De bar em bar
O poeta barbudo
Nauro Machado
Bebeu e morreu
Não ficou mudo
Mudou de estado
E delira com sua lira
Pelas ladeiras das
Ruas de são Luis
E pela  Praça do Panteão

(Geraldo Borges)

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Nauro Machado (São Luiz 2/08/1935 - 28/11/2015): Poeta autodidata com vasto conhecimento em artes e filosofia. Comparado por alguns críticos a Fernando Pessoa, é original por ser poeta universal entre seus contemporâneos mais imediatos, como Ferreira GullarLago BurnettJosé Chagas e Bandeira Tribuzi. Se Gullar questiona a própria forma poética, Nauro Machado questiona a própria essência e destinação do ser humano, sem deixar de cultivar uma linguagem poética e uma técnica de versos exemplares. Sua obra apresenta traços de reflexão existencial angustiada e violenta que encontra poucas comparações na lírica de língua portuguesa. (Wikipédia)

Nauro Machado

POEMA DO OFÍCIO

Ocupo o espaço que não é meu, mas do universo.

Espaço do tamanho do meu corpo aqui, enchendo inúteis quilos de um metro e setenta e dois centímetros, o humano de quebra.
Vozes me dizem: eh, tu aí! E me mandam bater serviços de excrementos em papéis caídos
numa máquina Remington, ou outra qualquer.
E me mandam pro inferno, se inferno houvesse pior que este inumano existir burocrático.
E depois há o escárnio da minha província.
E a minha vida para cima e para baixo, para baixo sem cima, ponte umbilical partida, raiz viva de morta inocência.
Estranhos uns aos outros, que faço eu aqui?
E depois ninguém sabe mesmo do espaço que ocupo, desnecessário espaço de pernas e de braços preenchendo o vazio que eu sou.
E o mundo, triste bronze de um sino rachado, o mundo restará o mesmo sem minha quota de angústia e sem minha parcela de nada.

( Nauro Machado)
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enviado por Cinéas Santos






Carlos Said por Gervásio







Proposta de Natal:


Na festa de Natal deste ano (na firma, em família, com amigos) escolha seu desafeto para jogar uma taça de vinho. A ministra Kátia Abreu escolheu o José Serra. A Dilma já escolheu o Temer, o Eduardo Cunha foi escolhido por 9 entre 10 brasileiros (não esqueça que tem 10% de coxinhas que moram em São Paulo e só querem jogar o vinho e quebrar a taça para os santos ajudarem no impeachment da Dilma). Você tem o direito de escolher aquela menina que te deu o fora, o chefe que te persegue o ano todo ou o cunhado que te enche o saco em todo Natal. Cuidado para não ficar bêbado e jogar a taça na cara da sogra. Os meninos e a mulher podem reclamar e você vai ter que passar o Natal com o cachorro. Agora, aqui pra nós, tem alguma coisa pra comemorar, mesmo? Como disse uma amiga minha: "Esse ano está precisando acabar logo, rápido. Chega né?"