POEMA DO OFÍCIO
Ocupo o espaço que não é meu, mas do universo.
Espaço do tamanho do meu corpo aqui, enchendo inúteis quilos de um metro e setenta e dois centímetros, o humano de quebra.
Vozes me dizem: eh, tu aí! E me mandam bater serviços de excrementos em papéis caídos
numa máquina Remington, ou outra qualquer.
E me mandam pro inferno, se inferno houvesse pior que este inumano existir burocrático.
E depois há o escárnio da minha província.
E a minha vida para cima e para baixo, para baixo sem cima, ponte umbilical partida, raiz viva de morta inocência.
Estranhos uns aos outros, que faço eu aqui?
E depois ninguém sabe mesmo do espaço que ocupo, desnecessário espaço de pernas e de braços preenchendo o vazio que eu sou.
E o mundo, triste bronze de um sino rachado, o mundo restará o mesmo sem minha quota de angústia e sem minha parcela de nada.
( Nauro Machado)
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enviado por Cinéas Santos
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