domingo, 13 de dezembro de 2015

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES (letra e música, por favor!)

(Edmar Oliveira)

Nise rompeu com a ditadura Vargas na espetacular libertação do inconsciente com seu trabalho com a loucura. Antes do golpe de 64, os loucos foram silenciados nos hospícios, antecipando o tempo ruim, e assim permanecendo nos longos anos de chumbo pelo sufocamento das liberdades. Quando a ditadura ainda agonizava e o país tentava voltar à normalidade democrática ouviu-se o brado “por uma sociedade sem manicômios”, que antecipava a Reforma Psiquiátrica. E novamente a liberdade do inconsciente ajudou na reconstrução do retorno da democracia. Entretanto, ela própria, a libertação do inconsciente pela Reforma Psiquiátrica, necessita da atmosfera democrática para florir. A ameaça atual à democracia trama, antecipadamente, o encarceramento da loucura outra vez.

No mundo nunca se chega à perfeição. Mesmo com espinhos entre as rosas ou a tiririca que teima em nascer no jardim, a construção da Reforma Psiquiátrica acontecia. Alguns manicômios ainda teimam em existir. Tentávamos aprofundar as práticas em saúde mental com a participação da sociedade, familiares e pacientes. Tratar com liberdade necessita de compromissos democráticos. Antevíamos um longo percurso para o jardim ficar mais bonito ainda que o temporal se aproximasse com nuvens negras no céu. O nosso otimismo não queria perceber que o ar democrático já estava rarefeito.

Não vou falar da Reforma Psiquiátrica, do duro golpe no anúncio da nomeação de um coordenador francamente contrário a estas práticas, do retrocesso no nosso campo que daí advém, embora apoie com intensidade juvenil os movimentos que estão se organizando para a resistência. E, já velho, choro pela perda, que será incomensurável.

Mas aqui quero olhar o contexto. Olhar a floresta, não o nosso jardim. O nosso amado jardim será pisoteado e talvez destruído, antes de renascer outra vez. Mas a floresta toda está ameaçada pelo o temporal com fortes ventos que já começam a soprar. O ar da democracia está ficando rarefeito. A floresta não respira, o nosso jardim murcha.

A direita arquiteta um golpe na democracia. Dilma entrega os anéis, os dedos, o corpo e o golpe não para. O antigo governo já não possui nem a alma. O golpe marcha célere. O ministro da saúde declara apoio à frágil presidenta, enquanto destrói o nosso jardim. Pisoteia apoiando Dilma. Simples assim. Adianta se queixar pra ela?


Temos que ir pra rua defender a democracia e tentar impedir o golpe. Só assim o temporal passa. E a loucura pode voltar a florescer no jardim e não tornar a ser encarcerada no manicômio. Para cultivar flores é preciso lutar e cantar. Esperar não é saber. Temos que fazer a hora. Para alguns velhos, de novo. 


Nenhum comentário: