quinta-feira, 26 de junho de 2008

O Boi do Piauí

Geraldo Borges


Meu boi nunca morreu
Nunca saiu do Piauí
Está vivo e todo dia
Pasta e rumina capim.
Meu boi de faiança
Berra e baba no sertão
Em cima do homem dança
Navega em vela e timão
Meu boi é encantado
Vira vaqueiro e gibão
Na serra e no descampado
O seu cavalo é alazão
Meu boi vai a São Luis
Faz veredas no Brasil
Deixa monjolo matriz
Debaixo do céu de anil
Meu boi esta na mesa
Com panelada e farinha
No brasão da realeza
O meu boi não sai da linha
Passarinho no seu dorso
Vai bicando carrapato
Seu chifre pente de osso
Sabe enfeitar um retrato
Careta em cima de cerca
Couro bainha de faca
Do meu boi não existe perca
Se extrai pedra cor de laca
O meu boi está no livro
Ruminando sua leitura
Nas malhas roxas do crivo
Na pirotécnica gravura
Meu boi está na vacina
No sangue de minhas veias
No relho que bate ensina
Na luz da minha candeia.
Meu boi está no sapato
Na botina do patrão
Mata cobre entra no mato
Meu boi é esfinge no chão
Meu boi é um minotauro
Dentro de meu labirinto
E eu sou o seu toureiro
Com minha espada no cinto
Meu boi é cruz no meu peito
DENOCS SUDENE a peste
Osso duro com rejeito
Pra sobejo do Nordeste.
Meu boi está no espeto
No osso de meu paletó
Come sal na minha mão
Depois levita no pó
Meu boi nunca morreu
Roda engenho por aí
Minha boiada comeu
Os sertões do Piauí
O meu boi esquartejado
No matadouro sem fim
É um boi ressuscitado
Que berra dentro de mim

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