Gegaldo Borges
Dois pescadores no fim da tarde, à beira do Atlântico, se encontraram por acaso. Uma delas diz, olhando um navio que se aproxima do porto, aquém da linha do horizonte.
- Aquele navio de bandeira chinesa é meu. Comprei-o da um mandarim. Saiu daqui abarrotado de minério, e está voltando com zíper, alfinete, tesoura. isqueiro, sobrinha, e outros artigos de pouca monta para os camelôs da cidade. Aquele outro acolá, coreano, que começa a sair da neblina, é meu também. O mar está cheio de navios que me pertencem, sou um grande armador, tenho até uma ilha grega, e uma gringa artista de cinema..
O outra pescador respondeu.
- Pois já que você não sabe este mar que está ai, este mundão de água salgada, rugindo aos nossos pés, com suas baleias, seus golfinhos, seus lulas e polvos, tudo me pertence.
Falava muito sério ajeitando as pontas do bigode que lhe caiam pela face como dois braços de uma âncora. Assim como quem quisesse dizer: - estes navios estão aí porque eu quero.
- Todo este mar tenebroso, cheio de onda e tubarões, é teu meu camarada?.Pois eu não sabia.
- Pois fique sabendo.
- Que tal nos sermos sócio. Já que eu sou dono dos navios e o senhor é dono do mar.
- È tem sentido. Mas para isso temos de ir a um cartório, assinar um documento, com as respectivas testemunhas.
Uma das criaturas olhou para um lado e para o outro para ver se via alguém por perto; só viu areia, água e céu. E escutava apenas o marulhar das ondas cuspindo conchas na praia
- Vamos fazer o contrato de boca, com o fio de nossas barbas. Ninguém precisa saber.
- Por quê?
- Senão vão pensar que a gente está louco.
- Então negocio fechado. Somos ambos donos destes navios e destes mar salgado.
- Vamos ter de embarcar para conhecermos a extensão de nossos horizontes.
- Claro. Só nossos navios chegar entraremos a bordo.
Enquanto isso as duas criaturas ficaram olhando o mar e os navios que se aproximavam.
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Geraldo Borges, das águas do Pantanal, faz um conto à beira do Atlântico.
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