Cinéas Santos
Paradoxo? Isso mesmo. Mas o que seria da existência sem os paradoxos? Um pouco de paciência, e tudo se explicará. Diz que havia um cidadão que não acreditava em Deus. Ia um pouco além: negava peremptoriamente a existência do Criador. A despeito disso, sempre que lhe acontecia uma desgraça, um infortúnio, ele bradava: “Só pode ser castigo de Deus”. Para aquele pobre infeliz, Deus só existia quando o trem da vida descarrilava. A lembrança dessa história boba me ocorreu durante a realização do SALIPI. Terça-feira, o jornal Meio Norte publicou uma notinha capciosa sobre um incidente ocorrido no dia da abertura do Salão. Um dos seguranças do evento e um oficial da Polícia Militar do Piauí desentenderam-se. Por absoluta falha na comunicação, o que poderia ter sido resolvido em cinco minutos arrastou-se por dez horas consecutivas numa delegacia de polícia. Incidentes envolvendo seguranças ocorrem aqui e alhures. O jornal cumpriu a sua função ao noticiar o fato. A questão é outro: no dia seguinte, no caderno Arte&Fest, o mesmo jornal publica uma página inteira com o frei Beto, um dos convidados do Salão do Livro do Piauí.Veja como a matéria é apresentada: “Em sua passagem por Teresina, Frei Beto diz...”. Curioso, para dizer o mínimo. O incidente que foi parar numa delegacia de polícia ocorreu no SALIPI, já a presença do frei Beto em Teresina foi fruto do acaso, digamos. O Frei ia passando por Teresina e um repórter do JMN o entrevistou. Perceberam o paradoxo? Notícias ruins acontecem no SALIPI, já os autores famosos que enriquecem o evento simplesmente caem de pára-quedas nas páginas do Jornal Meio Norte. Qual é o critério utilizado pelos editores do Jornal? Isso é um desrespeito aos leitores, aos organizadores do evento, ao povo do Piauí. Se o jornal, por idiossincrasia dos proprietários, resolve ignorar o SALIPI, o problema é dele, mas tirar proveito do evento, negando-lhe a existência, é lição de mau jornalismo, para dizer o mínimo.
Curiosamente, eu, um dos coordenadores do SALIPI, durante uns cinco anos colaborei, graciosamente, no citado jornal, assinando uma coluna às quintas-feiras. Wellington Soares, outro coordenador do Salão, publica uma coluna no JMN aos domingos, ou seja, de alguma forma, fomos ou somos integrantes da “família” Meio Norte. Estranha forma de tratar os “irmãos”...
No ano passado, JMN foi um pouco além: publicou duas vezes uma matéria irresponsável sobre um livro lançado durante o 3º SLIPI, se não me trai a memória. Um infeliz, cujo nome não quero lembrar, escreveu um amontoado de sandices sobre o Piauí e, a convite de um dos livreiros que participava do evento, lançou a tal porcaria durante o Salão. Um irresponsável qualquer publicou, num dos portais da cidade, uma matéria sobre o assunto na qual afirmava, com todas as letras, que o autor fora “convidado e homenageado” pelos organizadores do SALIPI. O jornal reproduziu a matéria sem ao menos dignar-se a nos ouvir. Isso, em qualquer lugar do mundo, é prática reprovável. Não nos cabe, aqui, ministrar aulas de ética a profissionais da imprensa. O que não podemos tolerar é a política de dois pesos e duas medidas que desserve a todos, principalmente a verdade.
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