"...Quando a gente tenta
de toda maneira
dele se guardar
sentimento ilhado,
morto e amordaçado
volta a incomodar" -
de toda maneira
dele se guardar
sentimento ilhado,
morto e amordaçado
volta a incomodar" -
Trecho de "Revelação", de Clodo e Clésio
Lá nos anos 70, quando nós ainda sabíamos caminhar sobre as nuvens, toda
vez que os meninos do Piauí iam lançar um disco levavam a fita demo pra
gente ouvir em primeira mão lá em casa. Fatinha fazia uns tira-gostos, a
gente bebia uma cachacinha e o bolachão estava batizado. Uma vez,
embriagados até o deslimite da embriaguez, vimos o fantasma de Torquato
Neto passando da sala pra cozinha. Outra vez a americana Ellen, que
morava no apartamento de cima e havia chegado, atraída pela algazarra,
resolveu provar cachaça e plantou banaeira no meio da sala até vir
abaixo, num estrondo que acordou metade da Asa Norte, enquanto ríamos de
sua falta de jeito com a bebida mais nacional do Brasil. Foi assim com
"São Piauí", o primeiro bolachão deles. E o "batismo" regado a cachaça
Mangueira e boa conversa se repetiu pelos demais discos, virou uma
espécie de ritual, uma simpatia pra que tudo desse certo. E dava. Até que
me separei da Fatinha. Até que eles se separaram, cada um com sua
carreira solo. Até que nos reencontramos, todos, na Fac-UnB, dando aulas,
tomando café nos intervalos, rindo de nós mesmos. Naquela época, num
artigo escrito sobre "São Piauí" para o Correio Braziliense eu me referia
ao Clésio como "aquele menino bom".
Lá nos anos 70, quando nós ainda sabíamos caminhar sobre as nuvens, toda
vez que os meninos do Piauí iam lançar um disco levavam a fita demo pra
gente ouvir em primeira mão lá em casa. Fatinha fazia uns tira-gostos, a
gente bebia uma cachacinha e o bolachão estava batizado. Uma vez,
embriagados até o deslimite da embriaguez, vimos o fantasma de Torquato
Neto passando da sala pra cozinha. Outra vez a americana Ellen, que
morava no apartamento de cima e havia chegado, atraída pela algazarra,
resolveu provar cachaça e plantou banaeira no meio da sala até vir
abaixo, num estrondo que acordou metade da Asa Norte, enquanto ríamos de
sua falta de jeito com a bebida mais nacional do Brasil. Foi assim com
"São Piauí", o primeiro bolachão deles. E o "batismo" regado a cachaça
Mangueira e boa conversa se repetiu pelos demais discos, virou uma
espécie de ritual, uma simpatia pra que tudo desse certo. E dava. Até que
me separei da Fatinha. Até que eles se separaram, cada um com sua
carreira solo. Até que nos reencontramos, todos, na Fac-UnB, dando aulas,
tomando café nos intervalos, rindo de nós mesmos. Naquela época, num
artigo escrito sobre "São Piauí" para o Correio Braziliense eu me referia
ao Clésio como "aquele menino bom".
E assim foi que ele se guardou em mim: um menino bom, de riso franco,
eternamente com aquele cigarrinho no canto da boca, a barba rala, os
olhos miúdos, sagazes, atrás dos óculos. E uma sensibilidade destamanho,
expressa nas letras de simplicidade marcante. E a voz do Clésio? Pequena
e claudicante, mas ele não forçava nada, mantinha-se nos limites de suas
possibilidades (como Nara Leão).
eternamente com aquele cigarrinho no canto da boca, a barba rala, os
olhos miúdos, sagazes, atrás dos óculos. E uma sensibilidade destamanho,
expressa nas letras de simplicidade marcante. E a voz do Clésio? Pequena
e claudicante, mas ele não forçava nada, mantinha-se nos limites de suas
possibilidades (como Nara Leão).
A cada encontro ou reencontro, a efusão de alegria, a festa do abraço, a
explosão do bem-querer.
explosão do bem-querer.
É.
O planeta ficou um tantinho menor, sem aquele menino bom.
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