Geraldo Borges
Gostaria de ter ido a Paris com o Edmar, nós sempre fomos
bons companheiros de viagem. Como isso não aconteceu, resolvi fazer a minha
viagem imaginária, metaforicamente, ao seu lado.
Saímos do rio de Janeiro. Cruzamos o oceano atlântico. Não
sei se foi esta a sua rota. Imagino. Chegamos ao aeroporto Charles de Gaulle. Pegamos um táxi e fomos para um hotel perto do Le Café de la Paix. Acho que, o café, ainda
existe. Se bem que, muitas coisas, estão desaparecendo de Paris, velhos espaços
históricos estão dando lugar a boutiques famosas. Nem todos os monumentos
históricos são respeitados.
Alojamo-nos em
quartos separados. Vizinhos. Com janelas que davam para ver os telhados de
Paris. Como estávamos cansados esperamos o outro dia para começarmos nosso passeio
pela cidade luz. Paris é uma
festa, ou melhor, já foi, na belle época, até o final da Primeira
Grande Guerra quando começou a aparecer a geração perdida. Depois foi
perdendo a sua hegemonia cultural para a metrópole New York.
Estamos em Paris. Fomos em direção ao Arc de Triomphe pelos Champs Elysées Vimos a Torre Eiffel, grande monumento construído pelo
engenheiro Gustavo Eiffel, também criador da estatua da
liberdade, presente que os franceses deram aos americanos.
Resolvemos entrar no Louvre,
ali, ficamos extasiado, diante das obras
de pintores famosos; Paul Gauguin. Henri Matisse. Vincent Van Gogh, Pablo Picasso,
Rembrandt, a lista é grande. Na parte de
escultura podemos ver a Venus de Milo, o Pensador. Quem vai a Paris e não
comparece ao Louvre perdeu a viagem. Fomos também ao velho Quartier Latin,
bairro boêmio de poetas e pintores Beiramos
Le Marché aux Puces, nome dado a Feira da Ladra, em Paris, ali, vimos
objetos de artes dos mais variados
preços.
Conheço Paris da
Leitura da Comedia Humana de Balzac, cujo o livro Illusions Perdues começa assim: "A’époque où commence cette histoire , la presse
de Stanhope et les rouleaux à distribuer l'encre ne functionaient
pas encore dans les petites imprimeries
de province". Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, encontramos pelas ruas rodando em cupês personagens perdido: raparigas em flor, Albertine. Ouvi o
sacolejo da asma de Proust, vi as oficinas de tipografia sujas de tinta das
redações onde Balzac publicava seus livros. Passeamos pela margem do Rio Sena,
garimpamos velhos sebos,e encontramos brochuras
valiosas. Vimos andando pela rua parecendo uma deusa, a
figura insinuante de Brigite Bardot conduzindo um gato no colo. Não deixamos de
visitar a Bastilha, aí me lembrei do marques de Sade, um gênio da literatura
francesa. Como o meu texto se trata de uma viagem imaginária tudo
está lá, na velha Paris de antigamente, que decapitou reis, que criou a esquerda e a direita, mudou
calendário, estações do ano, tudo para
entregar depois ao aventureiro Napoleão Bonaparte. Que depois se perdeu em Waterloo,
se finou na ilha de Santa Helena..
Não nos cansamos de ver Paris, somos os pobres de Paris, quer dizer em Paris,
calangos nordestinos. Estivemos no cemitério
Pére Lachaise, onde estão enterrados os imortais da literatura francesa.
Mon ami Edmar Oliveira
me convida para comermos uma panelada. Mas o bom mesmo de Paris deve
ser o vinho e o queijo, o pão francês, de casca crocante, a baguete. Vergonhosamente o nosso pão Frances, aqui no
Brasil, é uma lástima. Farinhento, desmancha em nossas mãos, sem nenhuma
consistência. O croissant. Ia me esquecendo, uma delicia, esse pãozinho, em forma de lua crescente.
Eu não morro sem ver Paris, estou vendo Paris. E os
pombos de Paris? E a prefeitura de Paris? Vejam o que Camus fala de Paris na
boca de Meursault , personagem central
de o Estrangeiro – C'est sale. Il y a dês
pigeons et des cours noires, Les gens ont la peau blanche.
Nunca fui a Paris de verdade, por que, com certeza, perderia
a cabeça, la Tetê. Prefiro mesmo viajar em torno de meu quarto, no meio das
cadeiras, das mesas, batucando em meio computador. Mas, sabe como é, gostei
tanto da crônica de mon ami Edmar Oliveira, o Ultimo calango em Paris, que, sem
mais nem menos, mergulhei na imaginação. E, como já disse eis me aqui em Paris,
sem cronologia, viajando fora do tempo. Navegando no Piauinauta Flanando, pelas ruas e becos da cidade, à margem do rio
Sena.Lembrei –me das minhas leituras dos
Miserables de Victor Hugo, quando Jean Valgean era perseguido, sem tréguas,
enquanto fugia, da policia, pelos
esgotos de Paris.
Rompendo a nevoa do tempo vejo figuras histórias desfilando
pelos boulevards, vi Marat, Danton, uma galeria de vultos da Revolução
Francesa; também vislumbrei personagens da Resistência, principalmente mulheres
que se recusaram a manter relações sexuais com os alemães. Lobriguei os estudantes do 1968 no auge de seus reivindicações
políticas. Paris pegava fogo. Vi Santos Dumont,
voando em seu 14 Bis, vi a cabeça de Julian Sorel tombar do cadafalso.
No meio da bruma que se descortinava apareceu na minha lembrança o vulto de
Chateaubriand ressuscitando das
suas Memórias do além tumulo. Algumas páginas das Confissões de Rousseau
esvoaçaram – se diante de meus olhos.
Por último ouvi a tosse sufocada da Dama das Camélias, e o seu lenço manchão de
sangue. Ouvi tinir de espadas, os três mosquiteiros em ação.
Agora mesmo estamos
diante do átrio da imponente
catedral de Notre Dame. Acabamos de entrar em sua nave, chegamos à sacristia, a
lá encontramos os personagem Quasimodo e Esmeralda.Se eu pudesse ficaria em
Paris, nem que fosse como morador de rua. Sou baixinho, careca, moreno, pareço
um imigrante árabe. Os nativos, gauleses, olham para nós desconfiados. Pensam
que vamos tomar os seus empregos Deixamos de ver muita coisa, esquecemos de ir
ao cabaré Moulin Rouge, cenário de Toulouse Lutrec. O tempo foi pouco para tanto encantamento. Quando menos esperamos nossa viagem tinha
acabado. Conferimos as passagens de volta. Arrumamos as bagagens com as nossas
lembranças Souvenir. Pagamos as contas. Chamamos um taxi para o aeroporto. Atravessamos o
atlântico de novo. Não demorou muito estávamos em terra firme. São e salvos.
Mais ilustrados do que nunca.Velhos
viajantes, com um pedaço glorioso da velha Europa em crise na memoria. Au revoir.
____________________________
fotos de Paris na viagem com Geraldo: Edmar
2 comentários:
A viagem virtual e a real foram excelentes. Pena que os inveterados tabagistas não deixaram nenhumazinha pedra do que foi a Bastilha. A raiva era tão grande que até hoje não se sabe direito onde era a localização exata da fortaleza paulis...(ôps!) prisão dos inimigos da realeza no que hoje chamam de Place de la Bastille...
É o Piauínauta lavando a égua e alumiano mais ainda a L'Encyclopédie.
Viagem maravilhosa, sem retoques. O lugar que melhor se conhece é aquele que se imagina. A imaginação é tudo. Chico Salles.
Postar um comentário