domingo, 21 de outubro de 2012

Viagem a Paris com o Edmar (Souvenir)



Geraldo Borges

Gostaria de ter ido a Paris com o Edmar, nós sempre fomos bons companheiros de viagem. Como isso não aconteceu, resolvi fazer a minha viagem imaginária, metaforicamente, ao seu lado.

Saímos do rio de Janeiro. Cruzamos o oceano atlântico. Não sei se foi esta a sua rota. Imagino. Chegamos ao aeroporto Charles de Gaulle.  Pegamos um táxi e fomos para um  hotel perto do  Le Café de la Paix. Acho que, o café, ainda existe. Se bem que, muitas coisas, estão desaparecendo de Paris, velhos espaços históricos estão dando lugar a boutiques famosas. Nem todos os monumentos históricos são respeitados.

  Alojamo-nos em quartos separados.  Vizinhos.  Com janelas que davam para ver os telhados de Paris. Como estávamos cansados esperamos o outro dia para começarmos  nosso passeio  pela cidade luz. Paris  é uma festa, ou melhor, já foi, na belle época, até o final da  Primeira  Grande Guerra quando começou a aparecer a geração perdida. Depois foi perdendo a sua hegemonia cultural  para  a metrópole New York.

Estamos em Paris. Fomos em direção ao Arc de Triomphe  pelos  Champs Elysées   Vimos a Torre Eiffel,  grande monumento construído pelo engenheiro   Gustavo Eiffel, também criador da estatua da liberdade, presente que os franceses deram aos americanos.

 Resolvemos entrar no Louvre, ali, ficamos  extasiado, diante das obras de pintores famosos; Paul Gauguin. Henri Matisse. Vincent Van Gogh, Pablo Picasso, Rembrandt,  a lista é grande. Na parte de escultura podemos ver a Venus de Milo, o Pensador. Quem vai a Paris e não comparece ao Louvre perdeu a viagem. Fomos também ao velho Quartier Latin, bairro boêmio de poetas e pintores Beiramos  Le Marché aux Puces, nome dado a Feira da Ladra, em Paris, ali, vimos objetos de artes  dos mais variados preços.

 Conheço Paris da Leitura da Comedia Humana de Balzac,  cujo o livro Illusions Perdues começa assim: "A’époque où commence cette histoire , la presse  de Stanhope  et les rouleaux  à distribuer l'encre ne  functionaient  pas encore dans les petites imprimeries  de province". Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, encontramos  pelas ruas rodando em cupês personagens  perdido: raparigas em flor, Albertine. Ouvi o sacolejo da asma de Proust, vi as oficinas de tipografia sujas de tinta das redações onde Balzac publicava seus livros. Passeamos pela margem do Rio Sena, garimpamos  velhos sebos,e encontramos  brochuras  valiosas. Vimos andando pela rua parecendo uma deusa, a figura insinuante de Brigite Bardot conduzindo um gato no colo. Não deixamos de visitar a Bastilha, aí me lembrei do marques de Sade, um gênio da literatura francesa. Como o  meu  texto se trata de uma viagem imaginária tudo está lá, na velha Paris de antigamente, que decapitou  reis, que criou a esquerda e a direita, mudou calendário,  estações do ano, tudo para entregar depois ao aventureiro Napoleão Bonaparte. Que depois se perdeu em  Waterloo,  se finou na ilha de  Santa Helena.. Não nos cansamos de ver Paris, somos os pobres de Paris, quer dizer em Paris, calangos nordestinos. Estivemos no cemitério  Pére Lachaise, onde estão enterrados os imortais da literatura francesa.

  Mon ami Edmar Oliveira me convida para  comermos  uma panelada. Mas o bom mesmo de Paris deve ser o vinho e o queijo, o pão francês, de casca crocante, a baguete.  Vergonhosamente o nosso pão Frances, aqui no Brasil, é uma lástima. Farinhento, desmancha em nossas mãos, sem nenhuma consistência. O croissant. Ia me esquecendo, uma delicia, esse  pãozinho, em forma de lua crescente.

 Eu não  morro sem ver Paris, estou vendo Paris. E os pombos de Paris? E a prefeitura de Paris? Vejam o que Camus fala de Paris na boca de  Meursault , personagem central de o Estrangeiro – C'est sale. Il y a dês  pigeons et des cours noires, Les gens ont la peau blanche.  

Nunca fui a Paris de verdade, por que, com certeza, perderia a cabeça, la Tetê. Prefiro mesmo viajar em torno de meu quarto, no meio das cadeiras, das mesas, batucando em meio computador. Mas, sabe como é, gostei tanto da crônica de mon ami Edmar Oliveira, o Ultimo calango em Paris, que, sem mais nem menos, mergulhei na imaginação. E, como já disse eis me aqui em Paris, sem cronologia, viajando fora do tempo. Navegando no Piauinauta  Flanando, pelas ruas  e becos da cidade, à margem do rio Sena.Lembrei –me das minhas leituras  dos Miserables de Victor Hugo, quando Jean Valgean era perseguido, sem tréguas, enquanto fugia, da policia,  pelos esgotos de Paris.

Rompendo a nevoa do tempo vejo figuras histórias desfilando pelos boulevards, vi Marat, Danton, uma galeria de vultos da Revolução Francesa; também vislumbrei personagens da Resistência, principalmente mulheres que se recusaram a manter relações sexuais com os alemães. Lobriguei  os estudantes do  1968 no auge de seus reivindicações políticas. Paris pegava fogo. Vi Santos Dumont,  voando em seu 14 Bis, vi a cabeça de Julian Sorel tombar do cadafalso. No meio da bruma que se descortinava apareceu na minha lembrança o vulto de Chateaubriand  ressuscitando  das  suas Memórias do além tumulo. Algumas páginas das Confissões de Rousseau esvoaçaram – se  diante de meus olhos. Por último ouvi a tosse sufocada da Dama das Camélias, e o seu lenço manchão de sangue. Ouvi tinir de espadas, os três mosquiteiros em ação.

Agora mesmo estamos  diante do átrio  da imponente catedral de Notre Dame. Acabamos de entrar em sua nave, chegamos à sacristia, a lá encontramos os personagem Quasimodo e Esmeralda.Se eu pudesse ficaria em Paris, nem que fosse como morador de rua. Sou baixinho, careca, moreno, pareço um imigrante árabe. Os nativos, gauleses, olham para nós desconfiados. Pensam que vamos tomar os seus empregos Deixamos de ver muita coisa, esquecemos de ir ao cabaré Moulin Rouge, cenário de Toulouse Lutrec. O tempo foi  pouco para tanto encantamento.  Quando menos esperamos nossa viagem tinha acabado. Conferimos as passagens de volta. Arrumamos as bagagens com as nossas lembranças Souvenir. Pagamos as contas.  Chamamos  um taxi para o aeroporto. Atravessamos o atlântico de novo. Não demorou muito estávamos em terra firme. São e salvos. Mais ilustrados  do que nunca.Velhos viajantes, com um pedaço glorioso da velha Europa em crise na memoria.  Au revoir.
____________________________
fotos de Paris na viagem com Geraldo: Edmar

2 comentários:

João Grillo disse...

A viagem virtual e a real foram excelentes. Pena que os inveterados tabagistas não deixaram nenhumazinha pedra do que foi a Bastilha. A raiva era tão grande que até hoje não se sabe direito onde era a localização exata da fortaleza paulis...(ôps!) prisão dos inimigos da realeza no que hoje chamam de Place de la Bastille...
É o Piauínauta lavando a égua e alumiano mais ainda a L'Encyclopédie.

Anônimo disse...

Viagem maravilhosa, sem retoques. O lugar que melhor se conhece é aquele que se imagina. A imaginação é tudo. Chico Salles.