quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CARTA ÀS URNAS




Edmar Oliveira

Não tem mais tanta emoção. Quando cheguei em casa, domingo, após ter digitado meu voto na urna, o resultado já tinha sido publicado. E se eu nunca estou com a maioria, o errado sou eu. As pesquisas até anunciam com antecedência como será o resultado de uma votação que ainda vai acontecer. Se erram na véspera, acertam na boca de urna, o que traduz uma indiscrição do voto secreto.
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Muita saudade do tempo em que os institutos de pesquisas não tinham uma precisão assim tão próxima ao dedo de quem aperta a tecla. Era que a gente tinha que escrever o nome do candidato e podia mudar na hora, riscar tudo, colocar mensagens irônicas para chatear o apurador e os ficais do partido e até eleger o macaco Tião. Ou mandar todo mundo para onde bem se queria. E esses desvios da intenção do voto, que de qualquer forma traduzia a nossa manifestação democrática, foram trocados por uma urna fria, um terminal burro de computador que só aceita um número decorado. Pra votar nulo se tem de digitar um número que não corresponde a nenhum partido inscrito, o que é quase impossível fazer, pois a legislação democrática permite a inscrição de mais partidos do que a combinação de dois números. E pode ser confundido com um erro de digitação e não um protesto esculachado que fazíamos por escrito. Tiraram a possibilidade da gente poder fazer um manifesto.
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Posso até pensar que as pesquisas só acertam mais agora porque induzem o eleitor a escolher o cardápio apresentado. E vontade apontada, mais voto digital, mais apuração virtual, somam um resultado fatal. Se não houver qualquer comoção de última hora, fica parecendo que nem precisava ter eleição. A pesquisa já traduz as intenções.
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A eleição era uma festa cívica que se prorrogava por vários dias de contagem, de suspense, de tentativas de manipulação, de denúncias. Isso só traduzia a natureza humana com seus defeitos e os acertos combinados com a expressão de uma maioria. Hoje não é mais assim. Nem há tempo de raciocínio. O agraciado é anunciado de estalo. Quase ao mesmo tempo do fim da votação. Não se tem tempo nem para uma discussão.
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No dia que este sistema entrar em pane fica tudo anulado. Mas não tem problemas. Voltaremos ao voto em papel. Meu medo é a evolução tecnológica implantar um chip eleitoral na cabeça de cada um...


2 comentários:

Unknown disse...

Caraca Edmar...tenho pensado muito nisso...exatamente nisso, até a parada do chip tb pensei...eu hein...sai pra lá...kkk. Mil bj´s Viviane

garrinchapi disse...

Pois é, Edmar, bons tempos aqueles em que se escrevia na chapa "Jofre fi de uma égua" e ele brigava pelo voto dizendo que a mãe era dele.um abração garrincha.visite meu site e dê seu pitaco.