quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Crise Americana, o Estado Mínimo e o Lobo Mau

Edmar Oliveira

Vez por outra me lembro da capa da edição de época do Leviatã, de Thomas Hobbes. Aquele rei, composto do povo, representando o Estado Absoluto me parecia assustador a gritar: “o homem é o lobo do homem”. Mas começa ali a teoria do “Grande Irmão”: o homem tem que ser contido pelo Estado. Assim o Estado aparece para manter a paz entre os homens. Depois, John Locke, o outro inglês da Teoria Política, diz que o homem deve seguir sua natureza pacífica. O Estado aparece para dirimir conflitos não previsíveis na bondade humana.

O problema é que Hobbes deu na monarquia absolutista e nos estados totalitários, entre tais, o socialismo; e Locke na República, mas também no neoliberalismo. Como que a prever, no escárnio do poeta: os sonhos do filósofo acontecem como pesadelos.

Mas só uma coisa me conduz à Teoria Política de Estado: ele só se coloca, como primeira função, para organizar a ordem. Ou porque os homens são feras, ou por haver feras entre os homens. E quando esta função já se não há, não há Estado... Mas disso trato em outra vez. Aqui, no Hobbes e no Locke me interessa outra antinomia. Confesso minha simpatia pela tese de Hobbes e seus arroubos de organização do Estado. Tanto para conter o lobo, quanto pra proteger o cordeiro. No Estado protetor dos mais fracos, das leis operárias das conquistas das abelhas, me fiz marxista, leninista, comunista, na pregação do bem-estar dos trabalhadores. Apesar das quimeras dissonantes, ainda hoje sinto saudade das utopias. O problema foi o muro, as ditaduras e a supressão de liberdade. Coisas de minha intolerância. (Hoje até acho que não gosto de ninguém no poder, o que é um desespero para minha formação política!).

Também me iludiu o Locke. Sua proposta de estado Liberal deu no liberalismo aliado à ditadura de triste memória. Mas também na democracia, como remédio dos males da encrenca política. Mas este senhor em nada é melhor que seu conterrâneo. Sob sua inspiração melódica, o neoliberalismo se fez canção. Uma canção em que os três porquinhos enfrentariam o lobo mau pela astúcia e competência. Oportunidade para todos os porquinhos. Os que estavam abaixo da linha dos porcos que se emporcalhassem na lama da concorrência. Se perdessem, babau; se ganhassem, tim-tim. Era da lei do chiqueiro.

Vida que segue, sem a minha concordância, o que não tem a menor importância. Acontece que o lobo mau não tinha mais como soprar. A crise do capitalismo americano de agora se apresentou como um vendaval numa farsa de 1929. O Estado Americano socorreu o lobo. E denunciou o estado mínimo. Não é deixar os porquinhos concorrerem, mas socorrer o lobo. É um Estado Mínimo da mínima classe dominante.

E eu só tenho pra enfrentar “seu” Locke os olhos grandes do “Leviatã”. Mas dele só me resta o medo...
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publicado originalmente no site da Casa de Lima Barreto

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