Juarez Montenegro
Não quero ser contador,
exímio contabilista...
Desejo ser um artista,
um poeta cantador!...
Um veio ao mundo, cantor,
e, quando conta vanglória,
dá a mão à palmatória...
outro só conta dinheiro...
Sendo um lorde cavalheiro,
faço do canto uma historia!...
Era uma vez um Império
onde a vida sobejava,
o sorriso debruçava
seus limites no sidéreo ...
Ao desvendar o mistério,
cultivei minha memória
para o mito e para a glória...
Nesse clima afetuoso
já nasci vitorioso...
Faço do canto uma história!...
Lá vivia uma princesa,
encantada num jasmim...
Era um cheiro para mim,
qual fascínio pra beleza...
Inspirou-me a natureza
uma façanha ilusória,
de versão encantatória –
a diva desencantei...
Assim, num sonho, fui rei...
Faço do canto uma história!...
Um belo dia chuvoso
(pro vate, a chuva é lindeza...)
encantou-se a doce Alteza,
num sono fantasioso,
deixando pra seu esposo,
numa desdita simplória,
uma baita promissória...
Mas, se foi ao Paraíso,
vale a pena o prejuízo...
Faço do canto uma história!...
A fantasia é finita,
como tudo que fascina.
Assim, também, é a sina,
seja inditosa ou bendita...
Quimera é canto pra dita,
a dita é conta irrisória...
Na verve da oratória,
a morte não é sanção,
é a própria solução...
Faço do canto uma história!...
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Trabalhei com Juarez nos anos 80. O cabra era um diretor de hospício, misto de militar e franciscano. Quem diria que era um poeta nortestino das alagoas...
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