quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Cem anos Sem Machado

Chico Salles

Elevo o meu pensamento
Para o nosso Criador
Busco sua proteção
Sua benção, seu fervor
Pra colocar no papel
Esse meu novo cordel
Com as Graças do Meu Senhor.

Sei, não será nada fácil,
Falar deste brasileiro
Por tantos biografado
Talentoso e pioneiro
Mestre da literatura
Expoente da cultura
E do Rio de Janeiro.

Um Fluminense Carioca
Do Morro do Livramento
Homem de família simples
Inicio de sofrimento
Foi doceiro de escola
Tinha na sua cachola
Capacidade e talento.



Nascido em trinta e nove
Da era Imperiana
Sua saúde era frágil
Origem luso-africana
Foi gago, foi epilético
Teve um tino poético
De grandeza soberana.

Tinha o poder da escrita
Machado no sobrenome
Se alimentava de livros
Pelo saber tinha fome
Homem franzino e pequeno
Severo, astuto e sereno
Joaquim Maria o seu nome.

Eu vou falar do maior
Do Machado de Assis
Autodidata confesso
Professor e aprendiz
Jovem falava francês
Aprendeu também inglês
Deu aula para juíz.





Escreveu para o teatro
Foi tradutor e cronista
Crítico de literatura
Nosso maior romancista
Um esmerado poeta
Imaginário profeta
E incomparável contista.

Criado pela madrasta
Sua mãe morreu bem cedo
No seu primeiro poema
“Ela” foi o seu enredo
Ali já foi premiado
Passou a ser empregado
Foi um tipógrafo ledo.

Nos seus primeiros escritos
Já tinham sua grandeza
Foi descobrindo a vida
Fez das palavras riqueza
E nesse seu caminhar
Viu em José de Alencar
Um escritor de firmeza.





Dele foi se aproximando
Por ser um jovem atento
Era José de Alencar
O escritor do momento
Daí pra frente Machado
Teve o seu nome marcado
Neste nobre movimento.

Freqüentou O Fluminense
Em encontros regulares
Foi conhecendo os meandros
Respirando outros ares
Sempre se desenvolvendo
Com os sábios aprendendo
A velejar noutros mares.

Conheceu Gonçalves Dias
E o mundo literário
Trabalhando na imprensa
Amplia o vocabulário
Nesse aprende e ensina
Conheceu a Carolina
Deixou de ser solitário.





Casou-se aos trinta anos
Com Carolina Augusta
Mas, nunca tiveram filhos
E isto pouco lhes custa
Uma mulher verdadeira
Dedicada e companheira
De convivência robusta.

Muito bem conceituado
Nas letras bem sucedido
Vem sua fase romântica
Dando asas ao cupido
Escreveu “A mão e a luva”
Feito rio com a chuva
Obra de muito sentido.

“História da meia noite”
Outro texto desta fase
“Helena” e “Iaiá Garcia”
Mantendo a mesma base
Em “Os contos fluminenses”
Malabarismos circenses
Usando letras e frase.





Na fase do realismo
Amadureceu total
Criatividade aflora
De maneira genial
Acende assim “As Memórias”
Escreve “Várias Histórias”
Também o “Memorial”.

“Relíquias da Casa Velha”
Enorme realidade
“Dom Casmurro” e “Quincas Borba”
Mostra a genialidade
Para o teatro também
Escreveu como ninguém
“Desencantos”, é verdade.

Tenho que falar dos contos
Do contista Machadão
Aqui no aumentativo
Pela sua expressão
De corpo pequeno e fraco
Mas, a mente feito um taco
De enorme precisão.





“Teoria do medalhão”
Para começar a lista
Também tem “Um apóstolo”
“O enfermeiro”, “O alienista”
“O espelho”, “A cartomante”
A “Noite de Almirante”
E outras tantas na pista.

Quando já no século vinte
E em plena atividade
Já era reconhecido
Grande personalidade
Juntou-se a outros autores
Jornalistas e escritores
Membros da sociedade.

Com regulares encontros
Agradável companhia
Descrição inteligência
Bate papo e alegria
O grupo com segurança
Inspirados lá na França
Fundam nossa Academia.





A ABL surgiu
Com o Machado na frente
Pra preservar o acervo
De maneira coerente
Um lugar bem arejado
Assim foi logo indicado
O primeiro presidente.

Foi grande Servidor Público
De conceito graduado
Honrava suas funções
Competente, abnegado
Depois, na Academia
A todos sempre atendia
Mesmo o não convidado.

A morte de Carolina
Deixou-lhe bem abatido
Foram mais de trinta anos
Com ela tendo vivido
Ficou morando sozinho
Com saudades do carinho
Daquele romance bonito.





É estudado no mundo
Estrategista em xadrez
Sempre muito elogiado
Por tudo que ele fez
É considerado o melhor
Como escritor o maior
Pela sua lucidez.

Mil novecentos e oito
No Cosme Velho morreu
Foi grande a comoção
Que em todos se abateu
De lá pra cá desenganos
Agora fazem cem anos
O Mestre não se vendeu.

Se vivo fosse estaria
De certo muito zangado
Os rumos da Academia
Pra onde tem caminhado
O sistema capitalista
Lança mão de alquimista
Para o seu colegiado.





Os poderosos políticos
Tomaram conta da Casa
Vivem puxando sardinha
Cada um pra sua brasa
Bem fez Drumonnd de Andrade
Que teve a capacidade
De não voar nessa asa.

Hoje sei que não são todos
Pois existe a competência
Ta lá a nossa cultura
Também nossa inteligência
Vários são capacitados
Escudeiros abnegados
Hombridade e coerência.


Cem anos sem Machado
Sem a foice o martelo

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Ouso publicar aqui a primeira versão de Chico Salles, para o primoroso cordel que está sendo lançado na Academia Brasileira de Letras, nas comemorações dos 100 anos da morte de Machado, aqui no Rio e em Brasília. São duas edições de um cuidado fascinante e ilustrações do mago da xilogravura, Ciro Fernandes.

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