Da Costa e Silva
Na remansosa paz da rústica fazenda
À luz quente do sol e à luz fria do luar,
Vive, como a expiar uma culpa tramenda,
O engenho de madeira a gemer e a chorar.
Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda;
E, ringindo e rangendo, a cana a triturar,
Parece que tem alma, adivinha e desvenda
A ruina, a dor, o mal que vai, talvez, causar...
Movida pelos bois tardos e sonolentos,
Geme, como a exprimir, em doridos lamentos,
Que as desgraças por vir sabe-as todas de cor.
Ai! dos teus tristes ais! Ai! moenda arrependida!
- Álcool! para esquecer os tormentos da vida
E cavar, sabe Deus, um tormento maior!
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Só pra ilustrar o soneto de Geraldo Borges acima. Na minha infância o meu tormento foi decorar a moenda. Mas me lembro como um bom tormento, tanta é a beleza das letras em Da Costa e Silva. Do livro "Zodíaco", em Poesia Completa, ed. Nova Fronteira, Rio, 1985.
Um comentário:
Aprendi esse soneto aos quinze anos, na Escola Agrícola de Machado, guardo até hoje passados quase sessenta anos. Saudoso Doutor Lizipo, Juiz de Direito e grande professor.
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