quinta-feira, 15 de maio de 2008

O DIA EM QUE DILMA FOI TORTURADA DE NOVO

Edmar Oliveira


Chamada para depor no Senado Nacional sobre vazamento de informações sigilosas (que não deveriam sê-las), a Ministra da Casa Civil, Dilma Rousself, foi interrogada por um senadozinho de um partido que mudou de nome para negar que foi a antiga Arena dos governos militares. José Agripino Maia, o velho Agripa do feudo dos Maias que sempre apoiou a ditadura militar, insinuou que Dilma aprendeu a mentir quando foi colocada num “pau-de-arara” sob tortura. Mentindo ali, mentiria agora, propondo uma tortura parlamentar no interrogatório a que Dilma seria submetida. A diferença é que, a Ministra fez questão de evidenciar, sendo o aparato de tortura da ditadura em um regime de exceção, mentir para proteger a vida de seus companheiros foi de um heroísmo sobre-humano; enquanto na democracia o “pau-de-arara” simbólico montado podia ser destruído com os argumentos veementes que foram usados por Dilma. Ela cresceu pra cima do seu torturador parlamentar com toda a raiva que quis, por toda vida, partir pra cima dos seus torturadores do passado. Reduziu, com argumentos irrefutáveis, o senadozinho saudoso da ditadura em um montinho de merda. Grande mulher, apesar da emoção escancarada mostrou-se uma fortaleza no incidente. E a partir deste momento, a oposição ao governo atual se pareceu à situação do regime de exceção. As insinuações desqualificando a Ministra foram a tônica da oposição, da mais à direita a socialdemocracia.


O preocupante foi o noticiário da grande imprensa no dia seguinte. Não tinha nada de parecido ao que foi visto em tempo real no Senado. Reconhecia que a Ministra “se deu bem” por saber usar a palavra para responder aos senadores. Em nenhum momento ela foi tratada como vítima de seus algozes, mas como uma antiga “terrorista” que foi “beneficiada” pelos erros dos perguntadores. Não, senhores! Dilma sofreu tentativa de ser violentada por torturadores parlamentares. Senadores que não honram o nome do parlamento na democracia e sonham com o saudosismo da ditadura. E a imprensa se comportando como quando defendia a ditadura.


E aqui uma confissão: quando votei no atual governo queria que ele fosse muito mais longe como desejava nos meus sonhos. Lula percebeu que não dava. Enquanto faz uma distribuição de renda com os programas sociais também organiza e enriquece as classes dominantes. De tal forma que o velho Delfim Neto disse que foi preciso um operário para organizar o capitalismo no país. E confesso que meu entusiasmo diminuiu muito quando foi colocado frente à realidade que vivemos. Também não gosto das incontinências verbais do Presidente, nem de suas adulações a Severinos, Renans, Barbalhos, Sarneis e que tais. Nem de seus reconhecimentos aos ditadores de ontem ou frases infelizes como “ninguém segura este país”. Nem de seus arroubos populistas constantes. Nem de dar razão ao Bakunin [1] sobre a natureza humana dos companheiros diante do poder. Mas, sem poder de deixar de parodiar o humorista José Simão, gosto muito menos de quem não gosta do Lula...

______________________

[1] ...”antigos operários (...) tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão ao povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disto não conhece a natureza humana.” Michail Bakunin (1814-1876), anarquista russo.

Nenhum comentário: