quinta-feira, 1 de maio de 2008

Nel mezzo del cammin

Dante Alighieri


INFERNO



CANTO I (trecho inicial)




No meio do caminho desta vida

me vi perdido numa selva escura,

solitário, sem sol e sem saída.

Ah, como armar no ar uma figura

desta selva selvagem, dura, forte,

que, só de eu a pensar, me desfigura?

É quase tão amargo como a morte;

mas para expor o bem que encontrei,

outros dados darei da minha sorte.


Não me recordo ao certo como entrei,

tomado de uma sonolência estranha,

quando a vera vereda abandonei.

Sei que cheguei ao pé de uma montanha,

lá onde aquele vale se extinguia,

que me deixara em solidão tamanha,

e vi que o ombro do monte aparecia

vestido já dos raios do planeta

que a toda gente pela estrada guia.

Então a angústia se calou, secreta,

lá no lago do peito onde imergira

a noite que tomou minha alma inquieta;

e como náufrago, depois que aspira

o ar, abraçado à areia, redivivo,

vira-se ao mar e longamente mira,

o meu ânimo, ainda fugitivo,

voltou a contemplar aquele espaço

que nunca ultrapassou um homem vivo.(...)

_____________________
Tadução: Augusto de Campos

Inferno (recorte), Hyeronimus Bosch (1450-1516), pintor flamengo

Nenhum comentário: