Edmar Oliveira
Psicólogos, antropólogos, sociólogos e outros entendedores do comportamento humano, vêem mostrando preocupações com a geração criada sob intensa vigilância eletrônica. Não sei se vocês lembram, a parafernália começou com a “babá eletrônica”, um transmissor de sons instalado no quarto das crianças que “avisava” aos pais de “alguma anormalidade” no habitat dos pirralhos. Hoje já são câmaras de vídeo para a vigilância pelo computador do local de trabalho dos “responsáveis” ou celulares com GPS que localiza por satélite onde está o vigiado. Só a comunicação por celular tornou-se insuficiente.
Artigos de especialistas apontam para o fato desta geração desenvolver mecanismos paranóides e esconder sentimentos e segredos que não possam ser visualizados por câmaras e satélites.
De certo que o mundo vem mudando de forma vertiginosa. Com implicações na formação de futuras gerações. Uma das características da pós-modernidade é a instalação de novos comportamentos que parecem ter existido desde sempre. Quem sabe escrever sem o computador? Como pode alguém viver sem celular? Quem mais revela filmes fotográficos? E as tragédias transmitidas em tempo real para a casa de cada um? Claro que tem ainda muitos resistentes, e conheço vários, que se recusam a entrar no século XXI. Mas apesar do admirável esforço destes “dinossauros”, que estão em profunda coerência com um modo de vida saudável aos costumes de antes, eles são animais em extinção. Mas admiro encontrar um deles e gastar memoráveis minutos em prosa sobre um passado de que tenho saudade. No meu modo de ser, entro na pós-modernidade de forma desconfiada. É o máximo de resistência que exerço. Sei que não tenho mais idade para desenvolver mecanismos paranóicos e desconfianças que abalem minha saúde mental. Depois que a gente dobra o cabo da “boa esperança”, a calmaria nos leva à velhice. Pelo menos creio nisto. Mas as crenças não são reconhecidas na pós-modernidade, a não ser se explicadas pela ciência, da qual estou farto...
E na minha desconfiança com os inventos tecnológicos pós-modernos, gosto de comparar comportamentos de antes com os de hoje. Na copa de 70, assisti no Piauí a uma transmissão de chuviscos da TV do Ceará. Tinha que ter um rádio ligado para entender melhor o que achávamos que eram imagens de TV. Também nunca vou me esquecer que os aviões, comandados por Osama Bin Ladem, derrubaram as torres gêmeas em tempo real dentro da minha casa em imagens digital. Criei meus filhos sem ter linhas telefônicas, que eram uma raridade, e caríssimas, na década de 80, mesmo no Rio de Janeiro. Usava um orelhão instalado no meu prédio para falar com a escola deles e meu trabalho. Hoje estranhamos quando um filho não atende o celular e o nosso telefone móvel nos torna escravos, em tempo integral, de nossos patrões. Tinha uma máquina de escrever na década de 80, “eletrônica”, que conseguia apagar até cerca de vinte caracteres num texto. Invenção fenomenal pra quem sempre usou uma máquina manual. Pra mim, os processadores de textos atuais, nos computadores, são a extrema sofisticação da tecnologia moderna.
Sei que estou na transição de comportamentos e costumes, verdadeiro conflito de gerações. Lembro que meu avô dizia que o mundo sempre se preparava para a nova geração, e que um dia eu entenderia o que ele estava falando. Acho que chegou este momento. Não consigo me sentir seguro como a maioria das pessoas que lêem o cartaz: “sorria, você está sendo filmado”. Me sinto “pagando um mico” ou vítima de uma vigilância desnecessária. Não consigo compreender o futuro dos filhos do grande irmão.
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