Paulo José Cunha
“Lutar com palavras
É a luta mais vã
Entanto lutamos
Mal rompe a manhã”
CDA
Riscos de meteoros
sobre as mil e uma noites
do céu de Bagdá
O deserto é nítido e não sangra
Não há relatos épicos
Não há heróis
Estranha guerra,
indolor e inodora,
cômoda,
executada por homens, deuses
e joysticks
Guerra luminosa, fria,
criada em circuitos eletrônicos.
Imagens corretas, palavras precisas,
guerra cirúrgica, exata, asséptica,
(nem mancha de vergonha
a tela da TV).
?Onde a legião de aflitos,
as crianças em fuga,
as viúvas, os órfãos,
sob a chuva de napalm?
?Onde as balas, as fardas suadas,
a lama das botas?
Mas a guerra existe,
asseguram-me os repórteres da CNN
(embora não reste espaço para a lágrima
no abraço dos mísseis).
Diante da tela da TV
não sinto amor,
ódio,
compaixão,
pânico.
Não sinto nada.
Apenas o frêmito dos games
nas retinas secas.
E quando chega o tédio
desligo a guerra, ligo o videocassete
e vou comprar cigarros
na eletrônica certeza de que, na volta,
poderei assistir
aos melhores momentos
na companhia de um F-5,
sorvendo goles dourados de um scotch 12 anos
(mais velho do que muitas crianças
abatidas pelos scuds e tomahawks,
segundo o relato fiel
dos meus heróis da CNN).
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Quase tudo que um jornalista enfrenta na vida diária é largado aqui. Como um poema na beleza pura de qualquer remorso. Datado, mas o que não é pra lá de Bagdá? Salve o Cunha, poeta e jornalista candango. Brasilisnauta... E os versos do CDA são do cacetete...
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