quinta-feira, 29 de maio de 2008

HDobal (II)





Amigo(a),

Acabamos de perder H. Dobal, um os maiores expoentes da poesia brasileira contemporânea. Éramos amigos. Sofria de parkinson e ultimamente seu estado de saúde vinha se agravando. Prefaciou meu primeiro livro de poemas, "O Salto sem trapézio". E escreveu seu último prefácio, também para um livro meu, "Perfume de resedá", ainda inédito, a ser publicado até o final deste ano. Sempre que podia, quando ia a Teresina, no Piauí, visitava-o na companhia de amigos, nas famosas "dobalinas". Dobal era uma dessas pessoas inesquecíveis.

Há alguns dias eu vinha escrevendo alguma coisa em versos, sobre ele. Quando me chegou a notícia de sua morte, agora há pouco, apenas completei o texto que segue abaixo, juntamente com alguns dados biográficos que puxei da internet.

Outro dia escrevi, e repito agora, com uma certeza ainda mais clara:

marretadas não abolem
uma verdade maior
nenhum verso vira pó
todo verso vira pólen.

Um abraço.

Paulo José Cunha



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Um brinde ao amigo H. Dobal


PJCunha

Ergo um poema ao poeta
como se uma taça ao brinde.

Um brinde ao riso afável, honesto, verdadeiro
do operário calmo das palavras,
do mestre de desapegada vaidade
incapaz de grito ou impropério,
mas capaz de levantar
enormes e frágeis catedrais
feitas de versos.

É ler Dobal
para sentir-se em meio
ao seco das caatingas,
no largo dos sertões,
ardendo,
in vitro
à fumaça do ferro em brasa
marcando bois e homens.

É conhecê-lo
para aprender
que toda glória é vã,
além de arredia aos que a perseguem.

A alegria guardado nas retinas
e o macio da mão trêmula
distraem o sorriso de menino travesso,
que ironiza vida e fama
por saber
que os pombos sempre cagam nas estátuas.

O que fica, para além da vida,
e ele bem sabe,
é o brinde que se ergue,
além do nada,
e os versos que se cantam,
além da glória,
a um tempo de carinho e amizade.

Agora, de repente, tudo é pouco
e tão grande, apenas na memória:

A conversa amena, regada a café com bolos fritos,
umas risadas, os afagos dos velhos companheiros,
ao redor de sua cadeira preguiçosa,
nas manhãs dobalinas de domingo.

Morreu Hindemburgo Dobal Teixeira.

Viva H. Dobal!

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Hindemburgo Dobal Teixeira é de Teresina (17 de outubro de 1927). Curso secundário no antigo Liceu. Bacharelou-se em Direito na turma de 1952 da Falcudade de Direito do Piauí, tendo sido o orador. Diretor da Revista Meridiano, figura líder da geração vanguardista, tornou-se um poeta respeitado no Brasil inteiro. Fez concurso para Fiscal do Imposto de Consumo do Ministério da Fazenda; membro do Conselho de Contribuites e professor da Escola Superior de Legislação Fazendária, em Brasília. No Governo Médici fez parte da comissão que reestruturou todo o sistema tributário nacional. Posteriormente, comissionado pelo Ministéio da Fazenda, fez cursos e estágios em Londres e Berlim, sendo um dos mais brilhantes e competentes técnicos em legislação e Técnica Fazendária, no país. Membro da Academia Brasiliense de Letras.
Em 1969 Hindemburgo Dobal Teixeira ganhava, com O Dia Sem Presságios, o Prêmio Jorge de Lima (poesia) do Instituto Nacional do Livro. Mas nem sempre a obra premiada é o melhor instante do escritor. "O Tempo Consequente", editado em 1966, é ainda o melhor momento da poesia deste notável poeta.
Obras: O Tempo Consequente (1966); O Dia Sem Presságios (Premio Jorge de Lima, 1970); A Viagem Imperfeita (1973); A Província Deserta (1974); A Serra das Confusões (1978); A Cidade Substituída (1978); El Matador (folhetim, 1980); Os Signos e as Siglas (1978); Cantigas de Folhas (1989).

Conheça um pouco de sua bela obra:

Campo Maior
Bucólica
Gleba de Ausentes
Inverno
II os Dias
Pioneira Social
As Chuvas
Transeunte
I os Rios
Crepúsculo
Homo
O Destiono
Réquiem
Hunamae Vitae
Salmo do Homem Sozinho
A Morte

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