quinta-feira, 1 de maio de 2008

Crônica da Lavoura

Geraldo Borges


Em nossa nova terra onde fincamos a cruz, a espada e a bandeira de Portugal, em se plantando tudo dá, nas beiras dos rios, nos vales. Dá laranja, uva, româ, figo, lima da Pérsia, pêssego, morango, rabanete, canela, pimenta do reino, noz mostarda, gravo da Índia, manga, abacaxi, abricó, banana, coco da praia, e mais o que se queira acrescentar.


Os índios pintados de urucum cobertos de penachos, por aqui não plantavam nada. A natureza era uma dádiva para eles. Pescavam, coletavam, caçavam; tinham a mão tudo que precisavam. Mas eram pagãos. Não conheciam o Papa nem a Igreja. Precisávamos salvar as suas alma para o reino de Deus, para a comunidade cristã, sedenta de ouro. Terminamos descobrindo na pratica que havia entre eles tribos que devoravam gente. Uma vez devoraram um Bispo, que tinha o nome apetitoso de sardinha.

Mas, como eu estava dizendo, em se plantando tudo dá: pêra, jaca, tamarindo, sapoti, graviola, fruta pão, jambo, maxixe, quiabo, tomate, abóbora, jerimum, mamão, carambola, abacate, e não é preciso apenas o homem plantar. Às vezes os passarinhos, os morcegos, também plantam; as cotias, e outros roedores. Dá Batata. Muita batata para os vencedores.


É uma terra, conforme disse um poeta parnasiano, patriota, republicano: jamais negou o pão a quém trabalha. Acrescento, também a quem não trabalha. Como é uma terra em que se plantando tudo dá, também dá ouro, prata, muito ferro, pedras preciosas e outros minerais. Aqui existem montanhas inteiras que estão sendo postas abaixo na desenfreada busca de um El Dourado.

Pela cobiça de nosso território, Holanda e Espanha brigaram pelos direitos do mar e nos invadiram, sem saber que o mar era das gaivotas. A França também levou a sua parte. A Inglaterra, diplomática, entrou aqui pela enseada da abertura dos Portos às nações amigas. Eufemismo. A única nação amiga de Portugal era mesmo a Inglaterra.

Mas voltando a lavoura. Os europeus estão voltando. Voltaram. E estão plantando e está dando tudo. Estamos dando tudo, o nosso solo sagrado. Até o Piauí. O diabo é que eles falam em globalização. Mas não aceitam a gente lá, de onde eles vieram. Globalização para quem, então? Pelo visto eles estão plantando também o pomo da discórdia que está nascendo como erva daninha entre nós, cobrindo os campos da nossa terra.

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Geraldo Borges, o piauinauta do pantanal, aqui dizendo que o mais perigoso que a falta de alimentos são os agentes da tal da globalização...

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