


A RESPOSTA
HDobal
Cumprir a vida
como um campo de provas.
Cumprir as duras penas
do amor
e confundido
na solidão
saber
que o desvivido tempo
não deixou
qualquer resposta.
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HDobal (17 de outubro de 1927 - 22 de maio de 2008, dia de Corpus ChristiÉ propaganda do governo. Mas é muito bom. Vejam, os que não são da terra, o encantamento... Os da terra, o orgulho...
Lula Wanderley
"Duplo Eclipse", do artista plastico Lula vanderley, é um vídeo com dois poemas: 1. Palavra Luz. 2. "Malevitch e o funeral de Chico Science". É apenas uma fase de "videopoemas" do artista.
Como toda tecnologia internética youtubiana (podemos falar assim, já?) deixe baixando, de uma primeira vez, vá lendo o blog, e depois volte. Aí você pode passar direto. Por isso este vídeo foi posto no começo do blog. Ande fundo e volte. Então você curte o belo poema... Duplo... E escuro sobre escuro, claro é a arte. Lento. Vagarosamente. Vá vendo, mas leia abaixo.
O primeiro poema se auto explica, apesar da intrincada técnica de luz interna. No segundo, tento anunciar Malevitch pra quem não conhece: pintor russo (Kazimir Malevitch, 1878-1935), vanguarda da pintura russa, foi o mentor do movimento chamado Suprematismo. Levou o Abstracionismo Geométrico à sua forma mais simples e teve influencia nas artes plásticas brasileiras, notadamente em Lígia Clark e Hélio Oiticica. Lula recupera Malevitch no funeral de Chico Science, que morreu num acidente automobilístico justamente entre Olinda e Recife. Entre o branco e o preto de Malevitch.
Depois de bocas, a beleza plástica das letras e cores (branco e preto), como as línguas, são tantas quantas, que deixo você poder olhar... Espere e veja.
Nas horas vagas, o artista plástico que mais entendeu da obra de Lígia Clark, é o melhor psiquiatra que conheço. (Edmar).
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No meio do caminho desta vida
me vi perdido numa selva escura,
solitário, sem sol e sem saída.
Ah, como armar no ar uma figura
desta selva selvagem, dura, forte,
que, só de eu a pensar, me desfigura?
É quase tão amargo como a morte;
mas para expor o bem que encontrei,
outros dados darei da minha sorte.
Não me recordo ao certo como entrei,
tomado de uma sonolência estranha,
quando a vera vereda abandonei.
Sei que cheguei ao pé de uma montanha,
lá onde aquele vale se extinguia,
que me deixara em solidão tamanha,
e vi que o ombro do monte aparecia
vestido já dos raios do planeta
que a toda gente pela estrada guia.
Então a angústia se calou, secreta,
lá no lago do peito onde imergira
a noite que tomou minha alma inquieta;
e como náufrago, depois que aspira
o ar, abraçado à areia, redivivo,
vira-se ao mar e longamente mira,
o meu ânimo, ainda fugitivo,
voltou a contemplar aquele espaço
que nunca ultrapassou um homem vivo.(...)
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Tadução: Augusto de Campos
Inferno (recorte), Hyeronimus Bosch (1450-1516), pintor flamengo