domingo, 31 de julho de 2011

Tempo de Prorrogação


Edmar Oliveira
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Chega um tempo, na vida dos humanos que tiveram sorte de envelhecer, em que temos de gastar um bom tempo com atividades destinadas a prorrogar nossa vidas. Quer dizer, temos que perder tempo com visitas médicas e, principalmente, sermos submetidos a procedimentos diagnósticos inventados na modernidade. Já não são somente os exames de sangue em jejum, os antigos exames de fezes e urina, e nem existem mais aqueles aparelhos de raios-X simples. Os velhos ficam familiarizados, logo, logo, com as máquinas modernas de tomografia, densiometria óssea, ultra-sonográfos, endoscopias e colonoscopias, que nos viram ao avesso. Aquele velho exame corporal do médico clínico perdeu o sentido para as modernas máquinas de exames.

            Os que se aposentam, para terem uma vida dedicada ao ócio sagrado, passam a gastar o seu tempo em exposição às essas geringonças e, se não tomar cuidado, encontram nessa atividade um assunto inconveniente para as salas de espera dos consultórios e dos procedimentos diagnósticos: assustar os marinheiros de primeira viagem. “O tomógrafo é uma nave espacial que causa claustrofobia”. “O preparo para uma colonoscopia é que é terrível, você já fez?”

            Os que envelhecem sem poderem aposentar levam esses assuntos aos colegas de trabalho, no happy hour, com o mesmo entusiasmo de quando falava de mulheres e futebol.

            Mas o certo é que, cedo ou tarde, temos que gastar um tempo com o tempo de prorrogação da vida. E como é um assunto de velhos, uma doença puxa outra para emendar as expectativas de vida. O velho saudável toma remédios para pressão, diabetes, colesterol, triglicérides, osteoporose, gastrite, úlcera, varizes, constipação, insônia, esquecimento, tireóide, próstata, bronquite, artrite, e algumas doencinhas mais, coisas comuns da idade. Sorte de quem é um velho saudável. Os que têm apenas essas doenças comuns da idade e que têm nas drogas modernas a chave para morrer com saúde. Essas pequenas enfermidades são as de morrer saudável. As graves, não se pode falar sem bater na madeira, são as que tiram os velhos das ruas. E tem também a doença do Alemão que pode nos deixar no mundo da lua. Eu já me esqueci até do que estava falando... 
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desenho do Gervásio Castro

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