domingo, 2 de maio de 2010

Sorte Ingrata

Juarez Montenegro

.

Vou em frente, capengando,

a família a tiracolo...

Sigo o rumo dos palpites,

das cismas dos encantados;

sem farinha na sacola,

nem rapadura sem água.

Por que culpar o futuro?

Da caninha nem um gole...

Ó sede que dói e mata!

.

Vou remando, resvalando

como peixe ensaboado,

a família na jangada...

sem anzol pra pescaria,

nem isca para a peixada.

Por que falar em caneca,

se mãos em concha nos bastam?

Antes pensar em comida...

Ó fome que dói e mata!

.

Vou sofrendo, tropeçando,

a família na cancela...

os farrapos vão ficando,

com medo da sorte ingrata;

a chuva encharca, cutuca...

sopra o vento da invernada.

Mas lá deixei minha tenda...

o russo gela minh’alma...

Ó frio que dói e mata!

.

Vou tangido pela dor,

família no pensamento...

pois ela se desgarrou,

com medo da sorte ingrata.

Por que pensar em voar,

se nem vejo um teco-teco?

Vou longe, preciso ir...

para onde só Deus sabe!...

Ó Deus!... que, se doi, não mata!

Nenhum comentário: