Juarez Montenegro
.
Vou em frente, capengando,
a família a tiracolo...
Sigo o rumo dos palpites,
das cismas dos encantados;
sem farinha na sacola,
nem rapadura sem água.
Por que culpar o futuro?
Da caninha nem um gole...
Ó sede que dói e mata!
.
Vou remando, resvalando
como peixe ensaboado,
a família na jangada...
sem anzol pra pescaria,
nem isca para a peixada.
Por que falar em caneca,
se mãos em concha nos bastam?
Antes pensar em comida...
Ó fome que dói e mata!
.
Vou sofrendo, tropeçando,
a família na cancela...
os farrapos vão ficando,
com medo da sorte ingrata;
a chuva encharca, cutuca...
sopra o vento da invernada.
Mas lá deixei minha tenda...
o russo gela minh’alma...
Ó frio que dói e mata!
.
Vou tangido pela dor,
família no pensamento...
pois ela se desgarrou,
com medo da sorte ingrata.
Por que pensar em voar,
se nem vejo um teco-teco?
Vou longe, preciso ir...
para onde só Deus sabe!...
Ó Deus!... que, se doi, não mata!
Nenhum comentário:
Postar um comentário