domingo, 2 de maio de 2010

Álbum de Hollywood



Geraldo Borges

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Hollywood foi para mim durante o meu período de adolescência e mocidade uma ilha de fantasia O meu fraco mesmo era o cinema; vesperal, as tarde de sábado e domingo, no cine Rex e no Theatro. Caso me faltasse dinheiro no bolso para pagar a entrada, eu varava. Era uma difícil proeza, mas, as vezes, eu me ariscava. Varar era pular o muro e entrar no cinema de graça. Isto acontecia, com raridade, mas acontecia.



De tanto ver filme comecei a gostar das estrelas e dos astros. As estrelas eram as atrizes, os astros eram os atores Na parede dos cinemas os retratos das atrizes e dos atores se escancaravam em grandes cartazes, todos sorridentes. Uma vez não me contive e furtei um cartaz de Píer Angeli, que estava sorrindo para mim. Ninguém viu. Senti-me como se estivesse em Hollywood.



O importante para mim não era o nome do titulo do filme, quem dava valor ao filme era o nome do artista, e mesmo artista famoso não fazia fita ruim. Logo mais eu me esquecia o nome dos filmes. Mas os nomes dos artistas era um enxame na minha memória. Se eu via uma fita com John Wayne, quando termina a sessão eu saia de dentro do cinema com os ombros levantados e caminhando diferente e com vontade de usar botas, chapéu, esporas, montar a cavalo e sair por ai galopando com um revolver na cintura.



Mas já que falei no nome de um astro por que não nomeá-los um bom numero deles, folheando as paginas deste álbum. James Dean, que morreu na força da idade, e teve um caso com Píer Angeli, que também morreu jovem. Marlon Brando, Tony Curtis, Clark Gable Victor Mature, Frank Sinatra, Gary Cooper, Robert Taylor, Rodolfo Valentino, Tyrone Power, Glenn Ford, que recebeu uma bofetada no filme Gilda, morreu este ano Kirk Douglas, Rock Hudson, Gregory Peck, Cary Grant.



E as estrelas? Quem não lembra Ava Garden, beleza estonteante, que veio ao rio e aprontou no hotel pensando talvez que estivesse nos estúdios de Hollywood, Betty Davis, Olivia de Haviland, Liz Taylor, Grace Kelly, que se tornou princesa, e morreu em uma acidente em seu principado. Dóris Day uma verdadeira sereia dentro de uma piscina. Greta Garbo, que apareceu em Minas pela mão mágica e poética do poeta de Itabira. Kim Novak, Jane Fonda, Esther William. Rita Rayworth, Marylin Monroe, Greta Garbo, todas estas estrelas faziam parte do meu álbum de Hollywood .





Uma vez por outra caía em minhas mãos a Cinelândia e eu lia reportagens, entrevistas sobre estrelas e astros, seus casamentos, seus divórcios, seus casos. Era outro mundo que engravidava cada vez mais à minha fantasia. Mas tudo isso passou, Não é mais possível rebobinar as fitas com o mesmo entusiasmo de antanho. A face áurea do cinema morreu, pelo menos para mim com o seu ritual, com os documentários versões de Herbert Richers na introdução.



O escurinho do cinema não é mais uma frase romântica, é uma frase de museu. Se bem que no momento a cultura brasileira está sendo agraciada com centenas de cinemas pelos municípios afora. Como o bom da profecia é não se cumprir tomara que estes cinemas não virem ruínas provincianas nos cus de Judas deste Brasil.



O Cine Rex, onde o meu amigo e vizinho Cavu foi porteiro durante muito tempo, tentou sobreviver com filmes pornográficos; mas até o escândalo da carne cansa, e faliu. Fechou as portas, esvaziou o espaço cultural da Praça Pedro Segundo. O Theatro, onde a família de seu Ferreira deu o duro por muitos anos também desistiu da aventura do cinema. Quando os ventos pareciam ainda promissores começaram a construir um prédio para instalar o seu cinema num espaço próprio. Mas já era tarde. Não conseguir inaugurá-lo A ruína dos cinemas marcaram uma época em Teresina.



Depois veio a fase dos filmes em vídeo cassetes, dos DVDs. Paralelo a isso os cinéfilos sempre apreciaram filmes de arte nos cine clubes, uma minoria de pessoas privilegiadas e de bom gosto.



Parece que a fita do filme foi quebrada. Mas voltemos ao meu assunto mais intimo. Recapitulemos. Hoje eu presto mais atenção ao titulo do filme, até mesmo por que os artistas atuais já não me chamam atenção, já não me impressionam mais. Quer dizer, nem tanto. Ora por outra fico deslumbrado com o desempenho e o brilho de uma estrela chamada Julia Robert. Sei que existe como no meu tempo de mocidade uma galeria de grandes astros e estrelas no céu da Califórnia, mas eles já não conseguem enxamear a minha imaginação, piscar para mim; o que revela que a o meu filme agora é outro, sem pipoca e coca cola, preto e branco.







Um comentário:

video porteiros disse...

Brilhante! O que uma boa leitura. Isso foi um bom post - informativo, mas não demasiado pesado. Obrigado por tomar o tempo para escrevê-lo! Eu acho que a espiritualidade é também muito importante, certamente, de acordo com esse ponto. Um líder sem espiritualidade está faltando um elemento chave.