domingo, 2 de maio de 2010

E NA BUNADA, NÃO VAI DINHA? ou, E NA BUMBINHA NÃO VAI NADA?

1000TON

Passado quase um mês da tragédia no morro do Bumba e aproveitando o ensejo das comemorações dos 50 anos de Brasília, cabem algumas reflexões sobre a ocupação do solo urbano do Rio de Janeiro.

Aqui será demonstrado que o estrago feito na cidade pelas últimas chuvas torrenciais, ironicamente, também partiu de moradores privilegiados da zona sul, aqueles que gozam dos melhores serviços de infraestrutura urbana, fatos esses que não são registrados pela grande podre imprensa.

De vez em quando o nosso prefeitinho mauricinho da Barra manda derrubar, aqui e acolá, algumas construções irregulares de classe média, para fazer média com essa imprensa marrom. Marrom da cor do barro e do cocô que entupiram as ruas do Rio durante e após as tempestades.

Esses mesmos moradores que acusam os mais pobres, os esquecidos, os favelados de construírem suas casas em lugares impróprios, de emporcalhar a cidade com o seu lixo, de mendigar pelas ruas, enfim de incomodar suas vidinhas, contribuem também, e muito, para enxovalhar a nossa cidade maravilhosa (ainda é?).

Falo dos bairros mais favorecidos, com a constatação da impermeabilidade cada vez maior do solo, castigado pela especulação imobiliária.

Outrora bairros com ruas de 30 casas, cercadas de jardins, pequenos que fossem, mas com muita terra em volta , possuíam um solo de alta permeabilidade.

Mais tarde, 40, 50 anos depois, essas “casinhas” foram demolidas, dando origem a edificações onde, agora, moram umas 40, 50 famílias. Na matemática urbana 30 casas x 1 família com 4 pessoas, dá 120 pessoas morando naquela rua.

Hoje muito mais famílias moram nessa rua, num prédio com 40 apartamentos, erigido no mesmo terreno da nossa mesma casa padrão do exemplo. Nosso terreno tem hoje 40 x 4 = 1.600 pessoas. E moram naquela rua, com 30 terrenos (ex-casas), 1600 x 30 = 4.800 pessoas !!!

Além do mais os terrenos tiveram seu solo coberto por calçamentos, possuindo bem poucos jardins com terra livre, exposta ao tempo. Ao contrário, agora o solo passou a ser muito pouco permeável. Resultado: as águas das chuvas ficam na superfície alagando tudo, sem ter para onde correr.

E NA BUMBINHA, NÃO VAI NADA?

Pessoas que residem nesses prédios comem, tomam banho e fazem cocô todo dia.

Necessário se faz uma boa rede de esgoto para escoar todos os detritos produzidos: sabões, detergentes, gordura, restos orgânicos, fezes, etc.

As licenças concedidas para a construção de novos prédios são muito, mas muito mais velozes, que a infraestrutura sanitária compatível com as necessidades escatológicas da população.

Resultado: o esgoto de prédios, mesmo os habitados por alta classe média, como exemplo aqui registramos a Barra da Tijuca, dejetam suas
excrescências a céu aberto, no Canal de Marapendi, quando não, lançam suas imundícies em plena Lagoa de Jacarepaguá !

E NA BUNADA, NÃO VAI DINHA?

As pessoas precisam se locomover na cidade. Falemos agora de transportes. Ao não se privilegiar o transporte de massa, especialmente o transporte sobre trilhos, bonde, trem e metrô, e o transporte aquaviário com barcas, o que acontece? Ônibus e automóveis entopem nossas ruas e avenidas,e vamos pavimentando novas vias, mais e mais asfalto, calçamento, concreto,mais e mais veículos necessitando de mais e mais pistas de rolamento...

Sabe-se que as vias para assentamento de transporte sobre trilhos exigem de um quarto até um terço menos pavimentação do solo para sua circulação, isso sem contar com a economia de energia e segurança dos cidadãos.

Mais uma vez calçamos, colocamos asfalto no solo, entupimos a terra de concreto: Olha a impermeabilidade de novo aí, gente!

E NA BUMBINDA, NÃO VAI NADA?

Daqui da minha varanda, num apartamento alugado, a exemplo daquele prédio de apartamentos que falei antes, observo duas vilas de casas. Outrora essas vilas possuíam, cada uma, fileiras de 10 ou 12 casas, todas bucolicamente iguaizinhas. As famílias foram aumentando e as áreas cobertas das moradias também, seja para abrigar os novos membros da família, filhos que cresceram e hoje têm 23, 25, ou mesmo 30 anos e não saíram da casa dos pais, seja para abrigar os que vieram nela morar, homens ou mulheres de suas filhas ou filhos, muitas vezes trazendo os netos. Os acréscimos no terreno também são feitos pelos proprietários para usufruírem do aluguel de novos espaços criados , ou para valorizarem seus imóveis.

Resultado: a área livre em torno da casa foi engolida pelos “puxadinhos”, mais calçamento, menos permeabilidade do solo. Mais um quarto aqui, mais um banheiro ali, mais uma copa, mais um tanque, mais uma cozinha, mais uma área de serviço...

Mais dejetos de toda essa vila jogados na rede pública. A mesma rede projetada para x pessoas, recebe hoje três, quatro, cinco vezes mais águas servidas do que em 20, 30 anos antes. Cai uma chuvinha e todos os dejetos afloram pelas tampas das caixas de esgoto sanitário, inundando ruas e calçadas de excrementos.

E NA BUNADA, NÃO VAI DINHA?

Invasões da classe média existem por vários bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Seja pela abertura de novos arruamentos, no peito e na raça, com o surgimento de loteamentos clandestinos de alto luxo, seja pela construção em áreas de preservação ambiental, seja pela ocupação de terras públicas. Evidentemente que não foi prevista a necessária infraestrutura de
abastecimento de água, esgoto, luz e gás. Porém logo, logo o poder público providencia uma rápida “legalização” das invasões desses bem aventurados.

E a zona oeste continua ao deus dará... Se esse dinheiro fosse lá empregado, ao invés de favorecer quem já é favorecido, o pessoal daquela área não estaria nesse perrengue até hoje.

Para quem não sabe, e é muito bom recordar: O Projac, da Globo, está implantado em terreno que era reservado para moradias populares a serem financiadas pelo antigo BNH. Num golpe sujo de astúcia, com o prestígio que gozava o falecido pulha Roberto Marinho, essa terras foram “legalizadas” em nome das Organizações Globo, que ainda, de lambuja, levaram umas terrinhas
de preservação ambiental, adjacentes à usurpada área.

E a aqui ficam as pergunta que não querem calar:

“E NA BUNADA, NÃO VAI DINHA?”

“E NA BUMBINHA, NÃO VAI NADA?”

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