quinta-feira, 24 de julho de 2008

Relicário





Do Peixe-Boi


Do peixe vivo na água
ao boi que come capim,
há um boi pintado de peixe
e um peixe pintado assim
de boi e peixe, boi-peixe,
meu peixe-boi, surubim.
Tal peixe rumina a água
e o boi bebe o seu capim,
peixe-boi fora da água
peixe-boi que vive assim
sem pasto e sol. meu boi-mudo,
peixe com voz, surubim.
Olhando dentro da água,
silêncio sobre o capim,
peixe-lerdo e boi-ligeiro,
boi-peixe amarrado assim
no curral, pei-boi-brabo,
boi na rede, surubim.
Fôlego de boi na água,
peixe no ar do capim,
boi que navega na água,
peixe que caminha assim
no seco da pedra, peixe-
boi-peixe-boi, surubim.

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Em Guriatã - um cordel para menino, de Marcus Accioly, Editora Brasil-América Ltda, RJ, 1980. Este livro foi um belo presente que minha amiga Luciane achou quando revirava seus guardados. A edição original tem uma apresentação de João Cabral de Melo Neto: "Na poesia nordestina eu acho que tem, sobretudo, Marcus Accioly, que é um poeta de primeira categoria, compreeende? (...) Mas o que me impressiona dentro da poesia posterior a minha, e sobretudo no nordeste, é o Marcus Accioly, aqui, em Pernambuco." Tamanho elogio do mestre dispensa outras apresentações. Ah, a xilogravura é de Dila, nome de primeira grandeza em Pernambuco.

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