Edmar Oliveira
O planeta ficou pequeno, tudo interligado, tem muita gente, pouca terra, pouca água, pouca comida e o clima ficou maluco. Li uma entrevista do Paul Roberts, autor de “O Fim da Comida”, onde ele, tal qual um José do Egito moderno, alerta para um tempo de vacas magras na escassez de alimentos no mundo. O raciocínio do profeta modernoso é simplório: contas rápidas demonstram que a população cresce de forma geométrica, enquanto a produção de alimentos cresce de forma aritmética e, pior, não tem mais pra onde crescer se não for derrubando o que resta de florestas. A inflação atual no preço dos alimentos tem causas neste aumento do consumo e diminuição da produção planetária. (E eu que sou do tempo que apenas o chuchu ou o tomate eram os responsáveis pela moeda deixar de ter valor...).
Lembro de ter olhado pela janelinha do avião, na minha última viagem de Brasília pra Teresina, e visto todo o Goiás e Maranhão, lá em baixo, cobertos de desenhos geométricos significando regiões produtoras de alimentos. Com significativa redução das florestas vistas de outras vezes. Estava a assistir uma verdadeira invasão da mata virgem pela copulação da terra feita por máquinas agrícolas. Nunca tinha atentado para o fato de que produzir na terra a devastava de tal forma. Nas roças da minha infância, mesmo as queimadas atingiam poucas árvores em necessário sacrifício para a subsistência familiar e a venda de um pequeno excedente, que se transformava em coisas que não tínhamos no interior. Mas no agro negócio a devastação é espetacular...
Para o José Moderno do Egito três fatores agravam a desproporção entre famintos e o “de comer”: fertilizantes: nitrogênio extraído do petróleo que sobe com o preço do barril (de vinte dólares inda agorinha para quase duzentos hoje); falta d’água: assistimos a uma seca nos rios e reservatórios e um aumento do consumo desenfreado na vida moderna; e as mudanças climáticas, que parece ser como a menopausa (climatério) da mãe terra em sua idade adulta. Pronto: em se mantendo a dieta ocidental, do privilégio de comer carne em demasia, a comida acaba de forma mais rápida ainda. Lembremos que para criar porcos, aves e bois consumimos em ração muito mais grãos de terras cultiváveis do que se estes grãos fossem destinados ao consumo humano. E é bom lembrar também da “Equação do Colapso Alimentar”: se cada chinês (que consome muito abaixo da média mundial) comer um frango e um quarto de porco a mais, por ano, as prateleiras dos supermercados estarão vazias. E arrisco a achar que só podemos saber disso agora pela revolução da informação que interligou tudo. Vai ver que quando se culpava o chuchu pela inflação não víamos ainda o mundo globalizado com causas e efeitos interligados e os nossos problemas se acabavam nas fronteiras nacionais. O que foi repentino foi a descoberta das causas e razões globalizadas. A devastação, provocada pelo capitalismo desenfreado, vem se arrastando desde muito... A luta contra a forma de produção capitalista predadora não é mais uma disputa ideológica para a melhor forma de organização social. Mas uma questão que tem de ser enfrentada para a sobrevivência do planeta e da humanidade.
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Publicado originalmente em "Casa de Lima Barreto, o Abrigo da Palavra"
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