quinta-feira, 24 de julho de 2008

AZUL



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"A minha terra é um céu, se há um céu sobre a terra"(Da Costa e Silva)
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a cor do céu-Teresina






Edmar Oliveira

Com o sol mais perto do equador as nuvens não se seguram em cima da linha. São empurradas, feito bolinhas de algodão, para abaixo ou arriba do meio do mundo. Se elas se demoram na frente do sol ressecam feito algodão-doce e se derretem traspassadas pelos raios do sol. Raras delas se enchem d’água. Na chaleira escaldante do meio dia se destampa em vapor rumo acima no céu azul. Nuvem d’água raramente se faz chuva. Mesmo os pingos que escapam, às vezes, evaporam antes de tocar na terra. E o azul se faz intenso como nenhum outro azul de nenhum outro céu.

Vez em quando, muito raramente, as nuvens enganam o sol na linha do equador. Mas aí elas devem se ajuntar lá longe e vir baixinhas, quase rente o chão, pra deixar a terra molhadinha. E se faz corisco na chapada, relâmpago e trovão de ensurdecer. Mas a água cai quentinha aos borbotões, como se esquentada no chuveiro elétrico da natureza. O dia escurece, coberto de nuvens cinzas. O relâmpago acende o céu de eletricidade e o trovão pipoca perto num barulho de meter medo nos olhos, no estremecer de um céu perto de nuvens prenhes de água farta. Mas não se demora muito não. Logo, logo, as nuvens se atravessam por cima do rio no rumo do Maranhão. E o sol se apresenta secando o ar, as terras e as águas. E as nuvens se vão como se achegaram. E o céu se faz azul. Azul tão azul como nenhum outro azul de outro céu de qualquer lugar.

Tem o vento de maio, a fresca de Parnaíba que avança rio arriba. Ou o mormaço de outubro, novembro, no antes ou no depois de setembro, dezembro. Calor de fazer o calçamento derreter as ruas e evaporar a última água do solo quente. Ou a brisa das manhãs ventiladas das alvoradas de maio ou das auroras das fogueiras de junho nas festas de Antônio, João e Pedro. Um entardecer do vento que sopra do encontro dos rios. Muda-se o clima nas estações grosseiras do equador. Mas não se muda este azul fulminante deste céu sobre a minha cabeça de menino que não esquece o azul memória. Só quando o sol se vai e escurece. Mas o céu se ilumina no brilho das estrelas cintilantes. Só pra lembrar que o azul vem de volta na manhã, carregado pelo sol. Este azul fulminante que não existe noutro lugar... E que tem a tonalidade da memória...

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