Edmar Oliveira
Os jornais trouxeram hoje uma notícia que, por me ser muito cara, primeiro me provocou uma euforia e depois, assimilando melhor a notícia, me fez triste. Explico: nos últimos dez anos, com curva exponencial maior nos últimos anos, a desnutrição infantil diminuiu em quase 50% no país e em mais de 70% no nordeste. Para nós nordestinos do século passado, que tínhamos na carne seca servida aos urubus o nosso flagelo, a importância da notícia é enorme. A euforia primeira foi estonteante. Estamos a nos livrar do mal que nos perseguiu por séculos. Quando se pergunta aos nossos conterrâneos a quantidade de irmãos, numa quase sempre prole numerosa, a resposta se fazia na contagem entre os que nasceram e os que vingaram. Vingar nas terras nordestinas era escapar das doenças da infância e da assombrosa desnutrição. Se a notícia é assim tão boa por que ficar triste depois?
São vários os fatores que contribuíram para a boa notícia: uma alimentação mais farta no mundo, uma melhora do sistema de saúde (apesar dos defeitos o SUS tem méritos), melhor saneamento básico, luz elétrica, melhor sistema de transporte, entre outros, mas, principalmente, melhor distribuição de renda. E foi em quase dez anos que começou o bolsa-escola, bolsa-isso, bolsa-aquilo, que o governo atual reuniu, sábia e espertamente, no bolsa-família. E apesar das tantas críticas, a distribuição de renda se fez refletir num índice importante.
Então os favoráveis a ensinar a pescar (que nunca forneceram o anzol) criticam o programa e seus desvios: comprar bens supérfluos, desnecessários, aumentar o consumo, entre outros absurdos. Chegou-se a criticar os 8% de aumento ao bolsa-família como sendo provocador de um impacto na inflação (são vinte reais ao mês num aumento estratosférico de sessenta centavos ao dia)!
Eu fico triste por outro raciocínio: o dinheiro do bolsa-família investido em saúde, educação, saneamento e outros programas sociais nunca daria o impacto hoje alcançado. A máquina da corrupção, da má gestão, sempre desviou parte destes recursos para os bolsos da elite que critica o bolsa-programa dos pobres. Foi preciso, para uma efetiva distribuição de renda, que o governo organizasse o capitalismo de cada um e não um programa socialista que tanto sonhamos e que fosse mais efetivo e conseqüente. É este sociocapitalismo que me deixa triste...
___________
Escrito no 04 de julho de 2008, publicado originalmente em "Casa de Lima Barreto, o Abrigo da Palavra".
Um comentário:
Nossa... isso me lembra um poema do maranhense Ferreira Gullar que me entala o peito há muitos anos, que ele repete o tempo todo o número de crianças que morrem de fome no Piauí.Me senti "vingada", quando li também algum tempo atrás que o IDH do estdao dele era bem abaixo que o do Piauí... não sei, são notícias velhas, mas sempre tive vontade de responder a esse poema um tanto "esteriotipado", que tudo no Piuí tem que ser mais ruím.
Postar um comentário