quinta-feira, 10 de julho de 2008

Lirismo Depurado

Paulo Machado


Na acertada expressão do poeta William Melo Soares, “a poesia não resolve, revolve”. Um aforismo estético para a finalidade da poesia, em contraposição às teorias finalísticas que alicerçam as teses acadêmicas.
Para os apressados, um aviso: o verbo revolver tem múltipla transitividade e vários significados. Vale lembrar que revolver pode significar investigar, examinar minuciosamente, esquadrinhar.
Desconfio que o poeta Cineas Santos apreendeu essa lição essencial, no curso de um longo convívio com as palavras, pois o lirismo depurado, característico de sua produção poética, aparentemente superficial, resulta de investigação exaustiva e reflexão demorada sobre temas criteriosamente escolhidos. Sua poesia filia-se à vertente lírica, muitas vezes desconsiderada pela crítica literária, a que estão vinculados poetas da estirpe de Manuel Bandeira, Mário Quintana, Manoel de Barros e Carlos Pena Filho.
Ressalto, por merecer especial atenção, a habilidade do poeta na construção de jogos sonoros que resultam em rimas e assonâncias surpreendentes, enriquecedoras da sua linguagem poética e definidoras da sua identidade estilística. Esta qualidade estética, identificável na concepção dos jogos sonoros, possivelmente seja a materialização do legado da poesia popular, traço cultural marcante na tradição nordestina.
Sugiro a leitura dos poemas de Cineas Santos, reunidos no livro Nada Além, àqueles que têm olhos livres e corações inquietos, porque revolver também é inquietar e instaurar novos roteiros.

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Paulo Machado, escritor e historiador piauiense, aqui homenageia o mestre Cinéas em Nada Além. São tantos elogíos que tou na inveja de não conhecer o livro ainda...

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