Levado pra cama por uma gripe forte, tive que ser medicado com antialérgicos, antiinflamatórios, antivirais, antigripais, vitaminas e sais minerais e que tais. Para uma simples gripe (tá bom, em velho já não é tão simples assim!) uma batelada de medicamentos. Sem ter o que fazer, por impossibilidades de convalescente e meio atordoado, pelos efeitos colaterais das drogas, fiquei pensando nos remédios que tínhamos no sertão. Ao contrário de hoje em que um diagnóstico pede uma quantidade infinita de remédios, naqueles tempos um remédio era quem tinha a capacidade para promover várias curas. Eram poucos, mas milagrosos.
.E tinha deles que a gente tinha de tomar todo ano. Não sei por que cargas d’água chegava um tempo (na minha memória era por volta de maio pela lembrança dos papagaios) em que as mães resolviam aplicar um purgante aos filhos. Todas juntas. Parecia um complô de mães contra os filhos. Não adiantava a gente se esconder, elas nos encontravam debaixo da cama, em cima de árvores e com uma colher do indefectível “azeite de mamona” à mão. A mãe segurava o filho pelo nariz. Sem respirar ele abria a boca. A colher do azeite se derramava na boca e a mãe soltava o nariz, pressionando as nossas bochechas e virando nossa cara para o alto. Assim descia o azeite purgativo. Curioso, nem lembro do gosto do azeite! Mas do efeito. Em pouco tempo nossas tripas viravam pelo avesso. Era uma corrida ao banheiro desenfreada, com atropelos em casas de muitos irmãos. A que servia tal método? Tratar de todas os vermes e fazer uma limpeza por dentro. Se funcionava eu não sei. Mas a crença era tão grande que a gente acreditava também.
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Lembro da “Aguardente Alemã”. Por que diabos, uma terra com tanta cachaça boa ia buscar uma aguardente no estrangeiro? É que essa era pra cura e se tomava em colher de sopa. Também era um laxante, mas muito mais suave que a mamona e com efeitos mais sutis. Esse era para os intervalos entre as purgações com o azeite da mamona.
.Tinha o “Azeite de Pequi” para ingerir e esfregar no peito. Tiro e queda para os catarros da infância. Mais moderno tinha o “Vick vaprub”, santo remédio inalado ou friccionado soltava o catarro preso (senti falta deles na minha gripe de agora). Parecia uma latinha de brilhantina. Como remédio para minha crônica bronquite cheguei a tomar chá de diamba, como era conhecida a maconha antes de virar droga ilícita, mas não traguei. Lembram das “Pílulas de Vida do dr. Ross – pequeninas, mas resolvem”? Eram uns comprimidos miúdos, redondos e dourados. Parecia um chumbinho. Mas nos garantia a vida no sertão, isso ninguém duvida! E a Emulsão Sccot? No rótulo um pescador leva às costa um bacalhau quase do seu tamanho. E o que estava no vidro era apenas óleo de fígado do bacalhau. Lembro do gosto. De amargar! Mas era um fortificante necessário. Como vinguei raquítico, imagino que tivesse morrido se não tomasse do fígado do bacalhau.
.Tinha mais alguns remédios na farmácia do sertão. Jalapa, Biotônico, elixirparegórigo, regulador Xavier. Lembram do regulador? Era pra males da menstruação e tinham dois: número 1 para excesso; número dois, escassez. Assim dizia a musiquinha. E uma musica que me acompanha até hoje é a do Melhoral, é melhor e não faz mal.
.Mas lembro de um remédio do sertão, que acho ser o melhor deles. Podia até mesmo dispensar os demais. Era a “Pílula Contra”. Alquem aí se lembra? Um remédio que era “contra” os males de toda natureza. Precisava mais?
8 comentários:
Minha sogra pode esquecer de mandar qualquer coisa para as filhas e netos aqui de Curitiba, mas a "aguardente alemã" não perderá o voo nunca! Edmar, pode uma cachaça equilibrar a pressão do cabôco? Já vi isso. Consertou o estômago do incrédulo "pé vermêi" (cabôco do interior do PR); dizem, que também acaba com a queda de cabelo e levanta a auto-estima do "vagabundo"... Aí começa o exagero.
Pois bem, esta pinga milagrosa é proibida de ser vendida nas farmácias aqui em Curitiba sob o argumento de que não é um remédio, e sim uma bebida alcóolica como outra qualquer.
Quando minha sogra está por aqui, escondemos este precioso detalhe do conhecimento dela. E eu que já tomei porre nos bons tempos do Biotônico Fontoura!
Este artigo me fez lembrar o meu:
Remédio do Mato
Matuto busca assistência,
Quando está em fim de linha;
Enquanto tiver paciência,
Vai se vendo com a meizinha.
É um chazinho, compressa,
Um bochecho, um lambedor.
Matuto bom não tem pressa
Em procurar um doutor.
Há na flora brasileira
Cura pra muita mazela.
E a cambada estrangeira,
Não tira os olhos dela.
Pra curar o tal sapinho,
Passe o mel de uma abelha
Num pano ou com o dedinho,
Em cada mancha vermelha.
Chá de semente de alho,
Pra ameba é tiro e queda.
Se a ferida é um talho,
Pó de café arremeda.
Pomada de aroeira
Cura até bicho-de-pé.
Matuto mata bicheira
Com creolina e rapé.
No cansaço e no puxado,
Chá de folha de alecrim;
Além do peito apertado
Trata a memória ruim.
A raiz da jurubeba
Cura qualquer anemia
Resultante de ameba
E de comer porcaria.
Chá da flor do sabugueiro
O diabetes reduz,
Se você não tem dinheiro.
Evite açúcar e cuscuz.
Atar no membro lesado,
Faixa úmida, amarela,
Com emplastro escaldado,
Em caso de erisipela.
Pro casal meio esquecido
Comer testículos de boi
Dá sustança ao marido,
Basta a mulher dizer: ôi!
Há mais remédio do mato,
Na medicina popular.
Por isso digo e acato:
Se Deus deixou foi pra usar!
Este artigo me fez lembrar o meu:
Remédio do Mato
Matuto busca assistência,
Quando está em fim de linha;
Enquanto tiver paciência,
Vai se vendo com a meizinha.
É um chazinho, compressa,
Um bochecho, um lambedor.
Matuto bom não tem pressa
Em procurar um doutor.
Há na flora brasileira
Cura pra muita mazela.
E a cambada estrangeira,
Não tira os olhos dela.
Pra curar o tal sapinho,
Passe o mel de uma abelha
Num pano ou com o dedinho,
Em cada mancha vermelha.
Chá de semente de alho,
Pra ameba é tiro e queda.
Se a ferida é um talho,
Pó de café arremeda.
Pomada de aroeira
Cura até bicho-de-pé.
Matuto mata bicheira
Com creolina e rapé.
No cansaço e no puxado,
Chá de folha de alecrim;
Além do peito apertado
Trata a memória ruim.
A raiz da jurubeba
Cura qualquer anemia
Resultante de ameba
E de comer porcaria.
Chá da flor do sabugueiro
O diabetes reduz,
Se você não tem dinheiro.
Evite açúcar e cuscuz.
Atar no membro lesado,
Faixa úmida, amarela,
Com emplastro escaldado,
Em caso de erisipela.
Pro casal meio esquecido
Comer testículos de boi
Dá sustança ao marido,
Basta a mulher dizer: ôi!
Há mais remédio do mato,
Na medicina popular.
Por isso digo e acato:
Se Deus deixou foi pra usar!
Olá Edmar
Belas lembranças doutor!
Encontrei uns remédios antigos nos seguintes endereços:
1) http://mesquita.blog.br/remedios-antigos-vinho-de-cocaina
2) http://autopoeta.wordpress.com/2009/12/10/remedios-dos-nossos-avos/
3) http://www.plurall.com/forum/comunidade/papo-cabeca/31018-drogas-antigas-remedios-caseiros/
Abraço
JH
OI EDMAR,
INTERESSANTE ESTE ARTIGO. FUI PARAR LÁ EM MINAS GERAIS, QUANDO CRIANÇA DOR DE BARRIGA NÃO TINHA CONVERSA ERA CHÁ DE BOLBO.PODIA CHORAR MAS TINHA QUE TOMAR TUDO. ATÉ HOJE NÃO SINTO NENHUMA SIMPATIA PELA PLANTA.
ABRAÇOS
Batata de purga...harg. Acho q minha mãe nos dava para vermes. Era assim mesmo reunia toda a primarada nas férias e purgava todo mundo. Para dormir até hoje ela faz, bolinhos de puba (da mandioca lavada em casa e seca ao sol), faz-se o mingau com leite com os tais bolinhos. Mastruz ainda é muito usado, uma amiga culta está usando para uma costela fraturada junto com os antibióticos. Pois é ...saúde comunitária e popular.
O óleo de fígado de bacalhau é pura vitamina D, tive que tomar a bendita agora e me lembrei dele. Coisas da idade. O vick ainda existe e funciona melhor se passado na sola do pé. Não me pergunte por que. Se não tiver por aí eu arrumo pra você por aqui.
Publiquei seu poema e minha resposta no meu blog, se quiser dar uma olhada http://entremeios-angela.blogspot.com
As pessoas estão encantadas com seu poema.
Parabéns pelo poema. Além de ótimo e informativo.
Angela Togeiro
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