NEM OITO NEM OITENTA E MEIO
Para Cineas Santos
Quisera fazer um filme
Sobre um filme que eu estivesse filmando
No qual resgataria meus fantasmas:
A velha diretora do grupo escolar Barão de Gurguéia
(Que servia chocolate quente com bolacha Maria);
O louco oficial da minha cidade
(Julgando-se herói de seriado, se atirava da ponte
Vestindo a batina, que roubou no seminário.
A batina era do padre Zé Maria
Professor de latim);
O político ingênuo
(Que projetava filme de bangue-bangue
Em praça pública, numa tela transparente,
Que a gente via ao contrário – o que transformava
Os pistoleiros em atiradores canhotos)
A velha enfeitada
(Que dançava pela rua, cheia de cores e trancelins,
Argolas, miçangas, para alegria da meninada
E vergonha dos seus familiares);
O velho e raquítico ateu
(Que pregava desesperadamente a inexistência de deus,
A falsidade do céu, dos anjos e do inferno,
E ria desbragadamente da crença alheia);
O senhor de chinelos e de pijama
(Que, repentinamente, sem mais nem menos,
Sapateava e mordia os dedos nervosamente);
Na trilha: um auto-falante derramava nostalgia
Tocando valsas dolentes às seis da tarde.
(Climério Ferreira)
Um comentário:
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