domingo, 29 de agosto de 2010

O Pereba


1000TON


Engraçado. Ninguém mais fala da copa do mundo de futebol. Também não me empolguei muito durante. Gostei mais da briga do dunga com a globo. O nosso treinador estava mais preparado para o embate contra o mala do Galvão Bueno, do que guerrear no campo de batalha, bem representado ali pelo seu


fiel escudeiro Felipe Melo, “o botinudo”....Também pudera! O ungido *speaker* platinado global queria escolher, não só o treinador do escrete canarinho, como também os nossos jogadores, ora vá catar coquinho, meu chapa! Aqui tem *gautcho matcho*, tchê !


No embate com a globo o dunga se saiu muito bem, sabia? Gostei da mijada que ele deu na Fátima e no Teixeira, jogou mesmo um bolão, só que lá na verdejante arena ele só comeu foi grama, coitado!


Futebol, para mim, sempre foi uma coisa muito complicada. Muita gente deve saber o que é ser um *pereba,* na hermenêutica do *football*, significa aquele cara que não leva o menor jeito para o jogo da bola.


Pois bem, Eu era O pereba. Quando menino, até mais ou menos a adolescência, além de não possuir nenhum dom futebolístico, eu sofria de uma alergia braba (hoje já sofro menos), além de asmático, tinha a minha pele coberta por eczemas, feridas feias, alojadas principalmente nas juntasdos braços e pernas.


Imaginem o meu drama: pereba no corpo e pereba da bola!...Eu me sentia como se fosse uma fratura exposta ambulante, ou como um zumbi cheio de feridas repugnantes, que, não se sabe por que cargas d’ água, não havia ainda sido enterrado.


A garotada dava a vida pela bola, e eu não resistia a uma pelada, mesmo carregando as minhas sofridas mazelas. Na hora da escolha dos times eu passava por momentos horripilantes.


Os bambambãs se apresentavam e iam escolhendo seus melhores jogadores: tiravam par ou ímpar, o ganhador escolhia primeiro o seu preferido, o segundo escolhia outro, voltava o primeiro a escolher e assim por diante, até o último ser convocado.


Meu coração bumbava descompassado, cada vez mais, à medida que todos os meninos iam sendo escolhidos. Os menos habilidosos, no trato da pelota, iam ficando para o final, no meu caso, eu vivia O Juízo Final, realmente!


O último de cada lado, normalmente, já não jogava xongas, mas era incluído, quase que por pena, pelos capitães, pois, se estava ali no bolo, e era amigo da gente, merecia jogar também, por que não? Que seja assim.


Assim como? Ora, quem sobrasse - e eu, o Guga e o Preguinho sempre sobrávamos - para a gente querer jogar, só havia uma alternativa: pegar no gol. Esse era o destino inexorável dos perebas, que sequer, eram convidados para jogar na linha.


Arrasados e cabisbaixos, lá íamos os dois, eu e o Guga, para cada extremo do campo, cumprir a nossa, nada gloriosa missão, a de tentar agarrar as bolas chutadas pelos craques.


E o Preguinho? Não esqueci do Preguinho, não.Vou lhes contar: O Preguinho era muito baixinho e magrinho e nasceu com um defeito congênito: tinha o pé e a perna esquerdos menores que os do lado direito.


Ele era sempre o último a ser escolhido, e sofria ali, firme, até o fim, lado a lado com a gente, os perebas, mas era um felizardo.


Conseguia ser convocado para jogar na linha.

Um comentário:

Tomás Paoni disse...

Nessa eu degen(ERREI) acertando...