domingo, 1 de agosto de 2010

MODERNIZA MAS NÃO ACABA!



Xico Pereira



Quando militei no movimento popular no Rio de Janeiro há uns dez anos atrás tive a oportunidade de conhecer a organização das Cooperativas Habitacionais em Montevidéu – Uruguai.Fiquei maravilhado como eles se organizaram inspirados por uma ideologia anarquista que no século passado se espalhou por todo o mundo, inclusive aqui na America do Sul.


Visitei inúmeras moradias construídas com a participação dos futuros moradores, seja na compra do terreno, construção e administração das edificações. Pena que nada disso ocorreu no Brasil, mas isto é outra história.


Essa iniciativa em Montevidéu chegou ao centro da cidade e vem recuperando dezenas de prédios abandonados pela migração que o crescimento da cidade provocou.


Recentemente tenho lido nos jornais que iniciativas semelhantes para recuperarem os centros de inúmeras cidades pelo mundo afora têm feito grande sucesso, seja com moradias, centros de gastronomia, lazer, etc.


Codó, cidade “onde a vaca não suja o mocotó”, passa pelo mesmo problema das grandes cidades no mundo. Na minha infância por lá eu a considerava uma metrópole que mais tarde perdeu o status quando conheci Teresina, onde moravam os familiares de meu pai. Localizada entre a BR 316 que liga as capitais do Piauí e Maranhão a 120 Km de Teresina e a 290 Km de São Luis, com 110 mil habitantes. Vive da agricultura, comercio expressivo e uma grande fábrica de cimento que abastece vários estados do norte e nordeste.


Foi lá que conheci o Piauinauta, história já contada por ele em uma edição do ano passado, quando recordou da minha grande desilusão ao vê-lo afirmar em uma sessão de catecismo da Capela que fica entre o prédio dos Correios e a Prefeitura, de que Papai Noel não existia, era o pai da gente que colocava o presente embaixo da nossa rêde pra nos enganar. Eu sabia deste fato mas não desejava ouvir isso de alguém muito menos daquele menino magrelo que já naquela época esboçava sua virtude pra liderança. Foi em Codó que assisti a muitos filmes no cinema da cidade, perto do “riacho da Água Fria” e da igreja de Nossa Senhora das Dores, no centro da cidade. Vivi muitas contradições neste cinema que me fascinava ao ver imagens numa tela grande e ao mesmo tempo me incomodava a divisão da sala, que através de um muro com cerca de um metro e meio de altura próximo da tela, dividia a sala do cinema. A entrada pela frente era para quem pagava ingresso num valor maior com direito a sentar numa poltrona de madeira. E ficar a uma distância normal para ver a tela. Já os mais pobres entravam por uma porta lateral do outro lado do muro onde não haviam cadeiras mas alguns bancos de madeira sem encosto e muito próximo da tela obrigando os espectadores a maioria de negros, a olharem pra cima vendo imagens distorcidas que certamente provocava torcicolo a quem ali sentava.


Pois deste cinema meu amigo Piauinauta só existem as paredes laterais. O teto caiu junto com os nossos sonhos de criança. E curioso é que ao lado das ruínas do cinema existe uma locadora de vídeos que também encerrou suas atividades. Doeu muito ver um espaço importante de lazer da cidade sucumbir aos modos dos tempos globalizados.


Quem sabe o Piauinauta consiga sensibilizar o pessoal da cultura de Codó a aderir ao programa que o Lula lançou recentemente “Cinema perto de você” com o objetivo de estimular através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a construção de 600 novas salas de cinema em todo o país para as cidades que tenham mais de 100 mil habitantes. Mas seguramente sem o muro.


O Clube “Guaraparí”, onde dei meus primeiro passos de dança com as filhas do Chico Rêgo, sócio de meu pai, também fechou suas portas acompanhado pelo Clube “União” que se transformou em igreja evangélica. Já o Clube “Operário” reduto dos negros da cidade é o único que continua funcionando. Lembro que em frente ao Clube Operário havia um terreno com uma mangueira frondosa no centro que servia para as manifestações dos negros da cidade como o “terecô” e o “tambor de crioula”. Ali os tocadores dos tambores sentavam nos mesmos, feitos de troncos de árvores e regulavam a afinação através de uma fogueira que ficava ao lado da roda de cantoría. O Clube continua lá o terreno em frente também mas não ocorrem mais as rodas de canto e dança da negrada da cidade. Tá todo mundo modernizado, Pena!


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Xico Pereira é amigo de infância. Mas que trauma! Já pedi desculpas pública aqui no Piauinauta e ele não esquece dessa história do catecismo!

Um comentário:

Luciano disse...

Amigo,

ao ver essa situação em Codó eu fico triste e desanimado..

Nossas construções estão caindo... pessoas construindo barracos de tijolos coladas nestas. outros derrubando as paredes originais e construindo e abrindo para depósitos e estacionamentos..

A velha fábrica já está com telhado, janelas e portas caidas.. agora as paredes estão ido ao chão

A história de Codó está desmoronando...

Vejo o Instituto Histórico de Codó meio parado em relação a isso..

infelizmente nem sei o que fazer como cidadão;;