domingo, 15 de agosto de 2010

Coleiras



Ana Cecilia Salis




Não suporto as gaiolas...
a privação de ar...
ou as correntes nos pés...

Não tolero a escravidão...
a serventia voluntária
dos ouvidos sujos...

Não me submeto às coleiras...
ou à domesticação dos sentidos...

Prezo...
e rezo,
por todos os homens livres
pela exaltação das almas!
pela dignidade dos bons encontros...

é que não suporto as coleiras...
e não gosto de quem delas
faça uso...
ou de quem as ofereça!

não suporto coleiras...
e ainda menos...
a cruel deslealdade

de quem as identifique
nos desejos de quem faz
do amor cativo...
um convite sereno
ao uso simples das vontades...

Um comentário:

Sandra chaves disse...

Curioso... ou não. Fui lendo os títulos , escolhi este para ler primeiro: que grata surpresa.
Adorei, como sempre.
Fique com Prisões de Cecília também, Meireles. A ela tb preocupavam as "coleiras"

Quatrocentas mulheres
quatrocentas, digo, estão presas:
cem por ódio, cem por amor,
cem por orgulho, cem por desprezo
em celas de ferro, em celas de fogo,
em celas sem ferro nem fogo, somente de dor e silêncio,
quatrocentas mulheres, numa outra cidade,
quatrocentas, digo, estão presas.