Edmar Oliveira
Um dos maiores amigos que tive deixou o planeta cedo
vitimado por susto, bala e vício (cumulativo e não necessariamente nessa
ordenação do poeta). O mundo moderno o assustava tanto que nunca teve talão de
cheques. O vício amoroso à poesia suspendia o meu amigo deste mundo. Mas uma
bala tirou-o do planeta ainda muito jovem. Vez por outra ele aparece nos meus
sonhos cantando “ah, sendero luminoso” com o prazer do trocadilho explícito.
Mas acordado lembro-me dele sempre que algum acontecimento (tecnológico,
político ou de opinião) me surpreende. Converso com meus botões: se Ricardinho
voltasse agora não acreditaria numa máquina que entrega dinheiro, diria que um
anão deveria estar fazendo a operação. Ou se ele voltasse agora e visse o Lula
sem barba e a esquerda atrapalhada, eu ia rir muito. Ou se ele lesse o Caetano
defendendo a blogueira cubana diria um “aí tem” na sua ironia singela. “Tão
levando ogum” seria seu queixo caído na reeleição de Renan. É claro que
Ricardinho só volta na minha imaginação.
Mas o que eu imaginava com Ricardinho aconteceu comigo sem
ser preciso morrer e voltar. Só me afastei por 15 dias. Fui à espinha dorsal da
América Latina, atravessando os Andes, e fiquei sem contato com o mundo aqui
embaixo. E vocês lembram que o Piauinauta atrasou uma semana.
Pois bem, nesse pequeno espaço de tempo o papa renunciou, um
meteorito deu um susto nos dinossauros russos caindo espalhafatosamente no
planeta e filmado pelas câmaras do Grande Irmão, como desconfiaria Ricardinho.
Uma médica matava os pacientes do SUS para aumentar as vagas aos convênios
particulares, numa despudorada ação psicopática num hospital evangélico, o que
faria o Ricardinho imaginar uma solução final para o SUS e compor uma outra
canção “nonsense”. A “perseguida” blogueira cubana está percorrendo o mundo
dizendo que o Fidel não a deixa sair da ilha (isso mesmo, ela veio fazer a
denúncia de que está presa!). E foi ciceroneada por Bolsonaro e Caiado como uma
afirmação de que a “nossa” ditadura era melhor do que a “deles”. Certamente
Ricardinho ia pedir pra voltar com o inusitado da cena explícita de imoralidade
histórica.
Pior, dizem que o Papa renunciou porque o Vaticano infringiu
o sexto e o sétimo mandamento. “Não furtarás” pegou o Banco do Vaticano lavando
dinheiro santo para o diabo. “Não fornicarás” pegou alguns cardeais com as
calças na mão numa rede de prostituição homossexual dentro da cidade de São
Pedro, o que fez enrubescer as pinturas do Da Vinci.
E eu que pensava que a NASA, como no cinema, podia evitar
que nós tivéssemos o destino dos dinossauros. Ledo engano. Ivo não viu a uva e
ficamos sabendo que a qualquer momento um meteoro pode fazer um buraco na terra
como a bomba de Hiroshima. Não só os gauleses de Asterix têm medo que o céu
lhes caia à cabeça. Agora eu também. Ainda mais com medo de que um médico pode
matar quem não pode pagar mais. E vou fazer um blog para ir pra Cuba...
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ilustração: Mea culpa para o JenipapoNews do Netto de Deus. O meteorito atigiu o Papa.
2 comentários:
Perfeita Edmar. Obrigada pelo presente. Fiquei com saudades de seu Ricardinho. Bjão
Os dinossauros eram grandes, raros e juntos. Os homens, somos pequenos, muitos e dispersos. E as formigas? Chico Salles.
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